22 dezembro 2006

Novo embaixador de Portugal na Turquia apresentou credenciais


O novo embaixador de Portugal na Turquia, José Manuel de Carvalho Lameiras, apresentou ontem as suas credenciais ao presidente da República turca, Ahmet Necdet Sezer, no Palácio Presidencial de Çankaya, em Ancara. O novo embaixador apresentou o secretariado da embaixada ao presidente durante o encontro.

17 dezembro 2006

Behiç Aşçı em greve de fome contra o isolamento nas prisões turcas


Para protestar contra as condições de isolamento nas prisões turcas, Behiç Aşçı, um advogado que representa os prisioneiros políticos, está prestes a entrar no nono mês de uma greve de fome.
Durante 257 dias só ingeriu água com sal e açúcar para publicitar a sua oposição às denominadas prisões tipo F, introduzidas na Turquia no ano 2000 para albergarem prisioneiros ao abrigo das leis turcas anti-terrorismo.
Na Turquia, é ilegal uma ou mais pessoas pertencerem a uma organização com o objectivo de modificarem as características da República tal como estão especificadas na Constituição.

Uma jornalista do jornal diário "Turkish Daily News" entrevistou Behiç Aşçı na sua casa.

"Quando estava prestes a entrar no elevador que me levaria ao seu apartamento nos arredores de Istambul, em Şisli, a ideia de voltar para trás passou-me pela cabeça. No entanto, deparei comigo numa espaçosa sala de estar, sentada num sofá com um gato letárgico, a olhar para um placar coberto com notícias de jornal sobre a sua greve de fome. Agarrada a um urso de peluche sujo, uma criança de quatro anos com um vestido cor de rosa, corria de uma ponta à outra da sala, ao mesmo tempo que cantava. Estava a acompanhar a mãe numa visita a Aşçı. Ao mesmo tempo que esta pequena vida irradiava força pela sala, eu lia cartas dos seus apoiantes a encorajarem-no a continuar com a sua caminhada para a morte [...] e olhava para os 122 rostos afixados na parede, retratos daqueles que já se renderam na luta para alterar o "sistema F" na Turquia. Quando entrei no quarto, perguntou-me como é que eu estava. Como é que eu podia responder a uma pergunta daquelas? Seria possível sorrir e perguntar, 'como está?' Ele disse que há sete meses que não saía daquele quarto. 'A única diferença entre mim e os meus colegas, é que eu não estou no tribunal. Eu estou na cama a fazer o meu trabalho,' disse. Junto à sua cama estava uma fotografia de Fatma Koyupınar, a última oponente ao isolamento nas prisões tipo F a morrer de fome. Koyupınar era sua cliente e amiga e morreu na mesma casa após um ano de greve de fome. Behiç disse que sofria de insónias durante a noite, perda de visão no olho esquerdo, fadiga, batimento cardíaco irregular, queimamento nas mãos e baixa pressão arterial. Pesava 86 quilos antes da greve de fome. Quando entrei no seu quarto pesava 50 quilos".

O secretário-geral da Câmara dos Médicos de Istambul, Hüseyin Demirdizen, disse à revista "Tempo", que mesmo que Aşçı termine a greve de fome, já provocou danos irreversíveis no seu sistema nervoso, cérebro, músculos, ritmo cardíaco, coração e rins. Explicou que não era fácil uma tomada de posição neste confronto e que "foi um longo processo de decisão que começou em 2000". Destacou que ele estava a fazer o seu trabalho defendendo os direitos dos seus clientes, a maior parte culpados ao abrigo de leis anti-terroristas.

Na entrevista que concedeu, Aşçı pede mais condições humanitárias nas prisões de tipo F, em que as celas são para um a três prisioneiros. Disse que "o problema é os prisoneiros não terem oportunidade de interagirem com outras pessoas na prisão. A socialização é um direito humano básico." Ele também esteve numa prisão de tipo F durante 25 dias. Disse ainda que "uma pessoa sofre psicologicamente, porque a única coisa que se pode fazer é pensar. Não se tem livros, ar fresco, jornais, só o sentimento de vazio".

Os protestos com greve de fome começaram a 20 de Outubro de 2000, depois do início do plano de Estado para a transferência dos prisioneiros de grandes salas para as celas tipo F, à semelhança do que acontece nos Estados Unidos, com um ou três ocupantes. A 19 de Dezembro desse ano, para terminar com as greves de fome de centenas de prisioneiros, soldados turcos entraram nas 48 prisões de toda a Turquia. Durante essa operação, denominada pelo Governo de "Regresso à Vida”, pelo menos 31 presos e dois soldados morreram, e 426 presos ficaram feridos. Desde o ano 2000, 1005 prisioneiros foram transferidos para celas tipo F, 122 pessoas morreram em resultado de greves de fome e centenas permanecem incapacitadas em resultado das greves de fome.
O Partido/Frente Revolucionária de Libertação Popular (DHKP/C) considera a greve de fome como uma forma de activismo. De acordo com afirmações de alguns meios de comunicação social, polícia e fontes do Governo, o DHKP/C foi acusado de administrar várias das prisões tipo dormitório onde os seus "militantes” estavam alojados, tendo sido classificado como grupo terrorista pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Os defensores dos direitos humanos, os partidos de esquerda, a Associação Médica Turca (TTB), o Sindicato dos Advogados Turcos (TBB) e a Associação dos Engenheiros e Arquitectos (TMMOB), manifestaram-se contra o desenho cruel das prisões tipo F. Um relatório conjunto do TTB, TBB e TMMOB, concluiu que as prisões tipo F foram criadas para derrubar psicologicamente os prisioneiros através do isolamento.
Este sistema foi criado um ano depois da Turquia se ter tornado oficialmente um país candidato à adesão à União Europeia. Numa atitude que pareceu estar de acordo com o caminho para a adesão à União Europeia, a Turquia começou a implementar o desenho das prisões de tipo F, de acordo com os modelos da União Europeia e dos Estados Unidos. Convenientemente, talvez, a separação dos prisioneiros ajudou a resolver o desagrado do Governo relativamente a uma situação que descreviam como “prisioneiros a governarem a prisão”. Muitos alegam que se foi mais além da utilização do isolamento como um estilo ocidental de “confinamento solitário” ou instrumento de punição, tornando-se em vez disso o modelo de procedimento para os prisioneiros políticos.
Na situação actual, os prisioneiros não se opõem ao sistema tipo F, mas à ênfase dada ao isolamento. Apesar do sistema turco se basear nas prisões dos Estados Unidos e Europa, os prisioneiros das prisões tipo F turcas dizem que contrariamente à maior parte dessas prisões, não têm espaço ou tempo para se socializarem. É o grau e a qualidade da interacção que muitos dizem ser incompatível com o sistema europeu e americano.
Algumas associações de direitos humanos e alguns políticos, têm relacionado os pedidos dos prisioneiros com a fórmula “três portas, três fechaduras”. Na arquitectura turca das prisões tipo F, existem celas para três pessoas em cada corredor. Os prisioneiros e os seus apoiantes, pedem para que as portas de cada corredor permaneçam abertas durante o dia. Aşçı disse que a concordância com esta fórmula, ou qualquer outra acordada entre o Governo e os prisioneiros, acabaria com a sua greve de fome.
O jornalista do diário "Hürriyet", Ahmet Hakan, também visitou Aşçı no início da passada semana. Escreveu uma carta aberta a Aşçı na passada quinta-feira pedindo-lhe para terminar a sua greve de fome. Escreveu: “Meu amigo Behiç, tens de acabar com isso porque triunfaste.” Hakan diz que mesmo que o Governo não faça nada, Aşçı renovou uma consciência pública que tinha sido perdida. De acordo com Hakan, o facto das organizações não governamentais e de grupos de defesa dos direitos humanos se estarem a manifestar publicamente sobre este assunto, faz com que Aşçı tenha atingido o seu objectivo.
Organizações não governamentais, artistas e cidadãos anónimos, participaram numa conferência sobre as prisões tipo F, a 4 de Dezembro em Istambul. Se por um lado a consciência pública aumentou significativamente, o Ministério da Justiça e o Directorado Geral das Prisões permanece em silêncio sobre o assunto. Ece Temelkuran, jornalista e autora do livro "O Que Mais Posso Dizer", sobre as greves de fome na Turquia como forma de protesto contra as prisões tipo F, diz que não aprova as greves de fome como forma de activismo, mas acredita que as condições que levam as pessoas a usar este método são importantes. "Ignorar 122 mortes e um advogado que está a morrer é mais terrível do que as próprias greves de fome," disse. Referiu ainda que "se não fosse este tipo de activismo radical, o isolamento nunca teria feito parte da agenda".
A jornalista que entrevistou Behiç só esteve com ele durante 13 minutos porque, "senti a necesidade de limitar a nossa conversa às suas necessidades mais imediatas. Não quis gastar a sua energia, que estava visivelmente limitada." Diz que pretende juntar a sua voz à de Ahmet Hakan, felicitando-o pela sua vitória e pedindo-lhe que termine a sua greve de fome: "O sistema judicial não vai ser salvo com a sua morte, mas com a sua vida. Tem clientes para defender no tribunal."

15 dezembro 2006

Cimpor negoceia na Turquia maior aquisição dos últimos sete anos

A Cimpor está a preparar a maior aquisição dos últimos sete anos, a compra da quinta cimenteira turca. A empresa portuguesa confirmou ontem, num comunicado lacónico, que se encontra em "fase avançada de negociações com os respectivos accionistas" para a compra da cimenteira Yibitaş Lafarge Orta Anadolu Çimento Sanayi ve Ticaret (YOLAC). De acordo com o jornal turco "Huürriyet", o negócio ascende a 535 milhões de euros e poderá concretizar-se nos próximos dias. A confirmar-se este valor, a cimenteira turca será a maior transacção da Cimpor no mercado internacional dos últimos sete anos. Comparável em valor foi a compra, em 1999, da Brasileira Brennand, um investimento, à data, de 594 milhões de dólares.
A cimenteira turca tem uma capacidade de produção de dois milhões de toneladas por ano e representa cerca de sete por cento da produção do país. A Yitibaş é controlada pelo grupo francês Lafarge, um dos principais accionistas da Cimpor, com cerca de 12 por cento. Esta será, pelo menos, a terceira grande aquisição da empresa portuguesa ao parceiro estratégico francês, a quem já comprou a Portland, na África do Sul, e activos vários no mercado espanhol.
A administração da Cimpor já tinha revelado a possibilidade de realizar uma grande aquisição ainda este ano. O administrador Manuel Faria Blanc adiantou, em Setembro, que a empresa tinha como objectivo investir em média 150 milhões de euros por ano em novas aquisições, mas adiantava que a capacidade financeira da Cimpor era muito superior e podia suportar operações de maior dimensão.
Apesar de qualificaram esta operação de "estrategicamente positiva", por reforçar a presença num dos principais mercados do Mediterrâneo, analistas do BPI consideram o preço avançado pela imprensa turca muito elevado - 266 euros por tonelada -, um valor muito acima da média dos negócios concretizados naquela região.
Os mercados alvo para novas aquisições são a China, a Índia, América Latina, bacia do Mediterrâneo e Estados Unidos, uma estratégia que procura também contrariar o quinto ano consecutivo de quebra no consumo de cimento em Portugal. Em Outubro, a Cimpor anunciou a entrada na China, com a compra de uma unidade na província de Shangdong, que está a ser alvo de uma duplicação da capacidade de produção.
O ano fica também marcado por desinvestimentos por imposição: a alienação de 49 por cento da Cimangola por 74 milhões de dólares (56 milhões de euros, no quadro de um acordo para resolver um conflito com o Governo de Luanda e a venda de 26 por cento da Sul-Africana Portland, por imposição legal, negócio a realizar, em parte, até ao final do ano, com um encaixe esperado de 80,5 milhões de euros.

(Fonte: DN)

Embaixadora da Turquia em Portugal faz balanço da sua missão

A embaixadora da Turquia em Portugal considera "muito promissora" a criação de empresas mistas luso-turcas para a exploração de mercados tradicionais e preferenciais dos dois países em diferentes continentes.
Numa entrevista de balanço de quase cinco anos de missão, agora a terminar, centrada nas relações bilaterais Portugal-Turquia, a embaixadora Zergün Korutürk declarou que, se o seu país "puder beneficiar da experiência portuguesa acumulada no Brasil e em África, através de empresas mistas, estará aberto um caminho muito promissor para o reforço das relações económicas bilaterais." Simultaneamente, afirmou a embaixadora, "a Turquia tem um grande peso em mercados não só europeus, mas também no Cáucaso, Rússia e Ásia Central," o que também é do interesse dos investidores de Portugal. "É preciso que as partes se conheçam melhor e ganhem confiança," aconselhou a diplomata, lembrando que um dos êxitos da sua missão foi a criação de um conselho para iniciativas empresariais conjuntas, cujo saldo de funcionamento "é positivo". "Tem estado a funcionar bem, reunindo-se alternadamente, cada seis meses, em Istambul e em Lisboa," sublinhou.
Além do desconhecimento e natural reserva mútua, outro óbice a um melhor relacionamento empresarial é "a distância entre os dois países". Na opinião de Zergün Korutürk, o turismo seria um bom investimento, até porque, em 2005, indicou, "cerca de 20 000 portugueses visitaram a Turquia, um país com 70 milhões de habitantes que também gostam de viajar." Em 2005 foi criada uma parceria entre as companhias aéreas turca (Turkish Airlines) e portuguesa (TAP) para voos directos entre os dois países, três vezes por semana.
A diplomata reconheceu que a "situação nas relações económicas bilaterais está melhor, embora não reflicta o potencial da Turquia, um mercado imenso e muito dinâmico".
Desde 2001, o crescimento sustentado acumulado da Turquia é de 35 por cento e, nos últimos três anos, de 7,8 por cento.
Zergün Korutürk condenou "a tendência para avaliar tudo pela bitola das relações Turquia-União Europeia (UE)". "As relações económicas Portugal-Turquia não têm de passar obrigatoriamente pela esfera da UE," frisou.
Em números do ICEP-Portugal, o saldo da balança comercial portuguesa com a Turquia é amplamente deficitário, sendo as exportações para aquele país menos de metade das importações anuais, que rondam os 250 milhões de euros. As principais exportações portuguesas para a Turquia são veículos automóveis para transporte de mercadorias, hidrocarbonetos, papel, resinas e aparelhos de precisão. As importações mais significativas são ferro, cimento, algodão e televisores.
No sector do ensino, foi criado um curso de Língua e Cultura Turca na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, como cadeira optativa e com duração de quatro anos, ministrada por um professor turco enviado pelo Ministério da Educação de Ancara. Em contrapartida, a Língua e Cultura Portuguesa é ensinada por um professor destacado pelo Instituto Camões na Universidade de Ancara. Bolsas de estudo para os alunos mais distinguidos são concedidas pelos dois países para que os jovens aprofundem conhecimentos na Turquia, ou em Portugal. "O Português, língua de mais de 200 milhões de pessoas no mundo, e o Turco de outras tantas, estão a par no universo de falantes que englobam," valorizou a embaixadora.
A embaixada promoveu ainda exposições, nomeadamente de livros, em Turco e Inglês, alguns dos quais textos científicos.
Uma palavra final foi deixada por Zergün Korutürk para expressar "tristeza" ao deixar Portugal e "tantos amigos", que sempre lhe dispensaram um "caloroso acolhimento".
"Portugal é um firme defensor da adesão da Turquia à UE," congratulou-se, não deixando passar em claro que, durante a sua missão, visitaram Lisboa dois presidentes, dois chefes de Governo e vários ministros turcos.

(Fonte: RTP)

14 dezembro 2006

Presidente Sezer pediu ao Governo a realização de eleições antecipadas


O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan rejeitou ontem um pedido feito pelo presidente da República para a realização de eleições antecipadas, e insistiu que tanto as eleições presidenciais como as eleições gerais devem ser realizadas nas datas previstas. “O Parlamento actual irá eleger o presidente,” disse Erdoğan, numa reunião do seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).
As declarações de Erdoğan, surgiram depois do presidente Ahmet Necdet Sezer ter juntado a sua voz aos pedidos de eleições antecipadas que têm surgido no âmbito da tensão política crescente sobre quem irá suceder Erdoğan em Maio.
Referindo-se àqueles que pedem eleições antecipadas, mas sem mencionar nomes, Erdoğan disse: “Dizem que este Parlamento não deve ou não pode eleger o presidente. Deviam ser leais ao Parlamento e à Constituição. O que é que vos aconteceu? O nosso povo vai fazer esta pergunta. Não vamos deixar que a estabilidade seja perturbada.”
Erdoğan reiterou que as duas eleições, presidenciais e gerais, devem ser realizadas nas datas previstas.
Os partidos da oposição também pediram eleições antecipadas, alegando que o Parlamento precisa de um mandato renovado para eleger o próximo líder do Estado. O líder de um dos partidos da oposição, Mehmet Ağar do Partido do Caminho Verdadeiro (DYP), argumentou que Abril é demasiado tarde para a realização de eleições gerais.

Embaixadora da Turquia em Portugal: "Bruxelas é um instrumento nas mãos de Nicósia"


A embaixadora da Turquia em Portugal classificou de "injusta" a decisão da União Europeia (UE) de suspender parcialmente as negociações para a adesão do seu país, e afirmou que Bruxelas "é um instrumento nas mãos de Nicósia".
Zergün Korutürk, de origem cipriota grega, falava à agência Lusa no rescaldo do Conselho de Ministros da UE da passada segunda-feira, que sufragou uma proposta da Comissão Europeia de suspender oito de 35 capítulos a negociar para a adesão da Turquia. Na base dessa decisão está o incumprimento da extensão do Acordo de Livre Comércio à República de Chipre, com a qual Ancara está de relações cortadas há mais de três décadas.
"A UE está a ser muito injusta com a Turquia," declarou a diplomata, frisando que a resolução do contencioso cipriota nunca fez parte dos critérios exigidos por Bruxelas a Ancara. "Quando a candidatura turca à UE foi oficialmente aceite, na Cimeira de Helsínquia de 1999, Ancara recebeu garantias de que o contencioso cipriota não seria um critério exigido nas negociações para a adesão," realçou. Todavia, ao subscrever (Julho de 2005) a extensão do acordo aduaneiro à dezena de novos membros comunitários desde Maio de 2004, Ancara ficou obrigada a abrir os seus portos e aeroportos à República de Chipre, o que não fez desde o início das negociações oficiais para a adesão (Outubro de 2005). Como medida sancionatória, a UE decidiu suspender oito dos 35 capítulos a negociar para a adesão turca, motivo pelo qual a representante diplomática de Ancara em Portugal acusou Bruxelas de ser "um instrumento nas mãos de Nicósia".
"A República de Chipre está escudada na UE para nunca resolver o contencioso da ilha," denunciou, aludindo à divisão insular que persiste desde 1974, entre a comunidade cipriota grega, a sul, e a cipriota turca radicada na República Turca de Chipre do Norte (RTCN).
A RTCN, só reconhecida por Ancara, foi auto-proclamada independente em 1983 e está sob bloqueio internacional desde 1994.
"Mesmo que uma maioria de países comunitários esteja contra a posição do Conselho de Ministros da passada segunda-feira, nunca afectará a decisão final da UE," lamentou Zergün Korutürk. A diplomata insurgiu-se por Bruxelas só ouvir "um lado da história, na versão da República de Chipre", incumprindo a promessa de levantamento do bloqueio à RTCN feita a 26 de Abril de 2004, dois dias depois do referendo ao Plano (Kofi) Annan (secretário-geral das Nações Unidas) para a reunificação insular e adesão como um todo à UE, "chumbado" pelos Cipriotas gregos, mas aprovado pelos Cipriotas turcos.
"A promessa da UE durou cinco dias exactamente, até 1 de Maio de 2004, quando aderiu a República de Chipre, apesar do não ao Plano Annan, ficando de fora a RTCN," ironizou.
Zergün Korutürk confessou estar "céptica" em relação à causa dos Cipriotas turcos, que foram as vítimas das hostilidades dos Cipriotas gregos a partir de 1963, até à invasão militar turca da ilha em 1974, para impedir a sua anexação à Grécia e a "limpeza étnica" da população muçulmana local.. A propósito, a embaixadora perguntou quem na UE, entre políticos e opinião pública, conhece estes antecedentes para se pronunciar com razão e admitiu que "o bloqueio à RTCN persistirá se Bruxelas não se impuser para Nicósia arrepiar caminho".
"A Turquia nunca abandonará a RTCN," vincou, justificando que o seu país "não pode abdicar da política de defesa intransigente dos direitos dos cipriotas turcos".
Para a diplomata, porque "até os países pouco favoráveis à adesão turca concordam ser do interesse comunitário não deixar descarrilar o processo", a Turquia não deverá abandonar as negociações.
"O processo não passa só pelo contencioso cipriota, e a UE jamais permitiria que Ancara se retirasse," assegurou, lançando um repto: "Bruxelas deverá decidir quais são os benefícios, ou desvantagens, em ter a Turquia dentro, ou fora."
Zergün Korutürk concluiu: "No seu tratado de adesão, a República de Chipre comprometeu-se a alcançar uma solução global para o contencioso insular no quadro da ONU e a evitar qualquer atitude passível de infligir danos à economia cipriota turca. Nunca cumpriu."

(Fonte: RTP/Lusa)

13 dezembro 2006

Única revista "gay" da Turquia acusada de crime de obscenidade


O editor da revista "Kaos GL", a única revista "gay" da Turquia, foi acusado de promover a pornografia e corre o risco de ser preso.
O Artigo 226 do Código Penal turco prevê uma pena de prisão de seis meses a três anos por publicação de "imagens obscenas".
A revista tem tentado defender-se do processo desde 2005, altura em que a edição do número 28 foi confiscada. Alega que os termos da acusação não são claros e que não caracterizam exactamente em que é que consiste o crime praticado pela revista.
A revista diz que se o recurso da sentença não for atendido, vai apelar ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

10 dezembro 2006

Jornalista condenado a pagar cerca de 2500 euros por ter "insultado" o primeiro-ministro

O jornalista do jornal diário "Birgün", Erbil Tuşalp, foi considerado culpado ontem por ter "insultado" o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan. Tuşalp foi considerado culpado pelos comentários que escreveu num artigo, onde perguntava se Erdoğan teria tido febre alta em criança e usou o termo “agressivo psicótico” para o descrever. O advogado de Tuşalp argumentou que os comentários não foram insultos mas sim críticas, não tendo convencido o tribunal. Erdoğan tinha pedido uma indemnização de 10 000 YTL (cerca de 6000 euros).

09 dezembro 2006

Orhan Pamuk discursou em Estocolmo

Orhan Pamuk, o autor turco vencedor do Prémio Nobel da Literatura deste ano, num discurso proferido na quinta-feira em Estocolmo, revelou como se tornou escritor, o que sente quando escreve, e como se sentiu ao viajar com uma mala que lhe foi entregue pelo seu pai, que morreu em 2002.
O discurso, que Orhan Pamuk intitulou "A Mala do Meu Pai", incluiu as palavras que o seu pai, Gündüz Pamuk, lhe disse antes de morrer: um dia Orhan Pamuk receberia o prémio Nobel. Pamuk concluiu o seu discurso dizendo: "Gostaria tanto que o meu pai estivesse aqui entre nós neste dia."

07 dezembro 2006

As mulheres turcas conquistaram o direito de voto há 72 anos

Há 72 anos, a 5 de Dezembro de 1934, as mulheres turcas conquistaram o direito de voto e o direito de serem eleitas para cargos políticos. Na passada terça-feira, mulheres de todo o país, juntaram-se para comemorar o aniversário deste importante evento na história da Turquia.
A Assembleia do Conselho de Mulheres da cidade de Antália, iniciou as celebrações com a colocação de flores no monumento de Atatürk, na Praça da República dessa cidade. Os deputados de Antália pelo Partido Republicano do Povo (CHP), Tuncay Ercen e Hüseyin Emekçioğlu também estiveram presentes na cerimónia. A porta-voz da Assembleia das Mulheres, disse que apesar dos previlégios que lhes foram concedidos, a representação das mulheres turcas no poder local e no Parlamento é ainda insignificante. Estas mulheres pediram a introdução de uma quota de pelo menos 30 por cento na Lei dos Partidos Políticos, para facilitar a participação activa das mulheres (cerca de 51 por cenmto da população turca) na política.
Numa declaração, a deputada do CHP por Adana, Nevin Gaye Erbatur, disse: “Hoje estamos a combater uma mentalidade que tenta puxar as mulheres para casa, em vez de as integrar na sociedade.” A sua declaração destacou a representação das mulheres no Parlamento de 4,6 por cento em 1935, e de unicamente 4,4 por cento actualmente. Disse também que, apesar de 36 por cento dos professores universitários, 31 por cento dos arquitectos e mais de 50 por cento dos dentistas serem mulheres, elas parecem incapazes de aceder a posições administrativas. "Apesar de terem passado 72 anos, as mulheres ainda não têm uma posição satisfatória no Parlamento," disse Erbatur, acrescentando que a principal razão, é o facto da política ainda ser considerada como uma arena dominada por homens. Erbatur disse ainda que queria ver mulheres no CHP, não como convidadas, mas como parte do "staff" político. Em Aydın, o reitor da Universidade Adnan Menderes, Şükrü Boylu, elogiou os direitos atribuídos às mulheres em 1934, como uma conquista fundamental contra uma mentalidade regressiva e tradicionalista.
O líder do Partido da Terra Natal (ANAVATAN), Erkan Mumcu, numa reunião do seu partido na passada terça-feira, também congratulou o 72.º aniversário do sufrágio das mulheres, sublinhando que as mulheres, que correspondem a 51 por cento da população, estão escassamente representadas no Parlamento turco. Mumcu disse que representar as mulheres só com 24 deputados é injusto: “Excluir as mulheres da vida social é uma grande injustiça e também improdutivo.” Destacou também que uma discriminação deste tipo tem de terminar o mais rápido possível.
O ministro do Interior, Abdülkadir Aksu, disse que o assunto dos direitos das mulheres é “uma luta que está a decorrer em paralelo com a aceitação da democracia como um estilo de vida.” O ministro disse: “Todos os nossos esforços estão relacionados com trazer a mulher para o lugar que merece na nossa sociedade.” Estas declarações foram proferidas numa reunião organizada pelo Fundo das Nações Unidas para as Populações (UNFPA), pela Fundação Sabancı para a Educação (VAKSA) e pela Associação para a Educação e Apoio de Candidatos Femininos (KA-DER), para avaliar os resultados de um projecto das Nações Unidas para melhorar e proteger os direitos das mulheres e raparigas. No seu discurso, Aksu disse ainda: “Assegurar igualdade entre homens e mulheres é geralmente aceite como justiça social. O nosso Governo, que está consciente disso, estabeleceu como objectivo fundamental, colocar as mulheres numa posição em que possam ter responsabilidades iguais às dos homens em todas as áreas.” Sublinhou igualmente que o Governo tem introduzido um grande número de regras para melhorar o estatuto social das mulheres. Numa manifestação em Adana, para celebrar o aniversário do sufrágio e do direito de serem eleitas para cargos políticos, algumas mulheres reagiram adversamente quando o líder distrital do Partido do Movimento Nacionalista (MHP), Hasan Yaman, se juntou às comemorações, dizendo: “Este não é um lugar para políticos. É errado um político do sexo masculino participar numa actividade de mulheres.” Um grupo de mulheres da Assembleia do Conselho de Mulheres da cidade de Adana e do KA-DER, reuniram-se na Praça Uğur Mumcu e marcharam até ao Parque Atatürk, acompanhadas pela Banda Municipal Metropolitana. Yaman abandonou o local depois de ter observado as comemorações do aniversário durante algum tempo. A responsável pela filial do KA-DER em Adana, Lütfiye Görgün, disse que as mulheres não podiam celebrar com satisfação o aniversário, porque o direito de voto e de serem eleitas não estava a ser usado efectivamente, com as mulheres muito longe do objectivo estabelecido por Mustafa Kemal Atatürk, o fundador da nação. Görgün disse que "só 24 parlamentares, de um total de 550, são mulheres, o que mostra que de facto as mulheres não têm lugar na política. Temos uma grande população, mas não fazemos parte da administração do país. As mulheres que trabalham activamente nos partidos políticos não se tornam uma janela para o partido, tornam-se o seu cérebro! Nós queremos que pelo menos sete dos 14 deputados de Adana, sejam mulheres no próximo ano," disse.

04 dezembro 2006

Bento XVI: "Deixo parte do meu coração em Istambul"


O Papa Bento XVI terminou a sua visita à Turquia na passada sexta-feira, depois de ter estendido a mão aos muçulmanos e aos cristãos ortodoxos, mas mantendo no entanto uma posição firme relativamente à autoridade papal e às raízes cristãs da Europa.

Na sexta-feira de manhã, celebrou uma missa na Catedral do Espírito Santo em Istambul, onde também esteve presente o líder dos cristãos ortodoxos Bartolomeu I. Na quinta-feira, ambos tinham feito uma declaração conjunta, assumindo o compromisso de continuarem a trabalhar para unirem as suas igrejas, separadas desde o Grande Cisma de 1054.
O Papa usou também esta visita para diminuir o descontentamento dos muçulmanos, causado pelo discurso que proferiu em Setembro e que incendiou o mundo islâmico. Por essa razão, foi accionado o maior dispositivo de segurança de sempre na Turquia, mas os protestos foram escassos durante a sua visita.
O Papa pediu mais liberdade religiosa na Turquia e disse que o secularismo enfraqueceu as tradições cristãs.
Considerado pelos peritos católicos como mais conservador nos assuntos teológicos e menos interessado em criar laços com o Islão do que o seu antecessor, alguns sectores da igreja esperavam que ele adoptasse uma posição mais forte relativamente a esses assuntos.
Um dia depois de ter cumprimentado o Papa, o presidente turco, Ahmet Necdet Sezer, vetou parcialmente a Lei das Fundações, que se esperava que viesse aumentar os direitos de propriedade das minorias não muçulmanas que vivem na Turquia. Sezer vetou vários artigos da lei, vista como uma das mais significativas reformas da União Europeia.
O acontecimento mais importante da visita do Papa à Turquia, acabou por ser a sua deslocação à Mesquita de Sultanahmet (Mesquita Azul) e a sua atitude de reverência. O popular jornal diário turco "Hürriyet" escreveu: “Na Mesquita de Sultanahmet, voltou-se para Meca e rezou como um muçulmano.” Já o jornal diário "Akşam" publicou na primeira página: “A temida visita do Papa terminou com uma surpresa maravilhosa.” Os oficiais do Vaticano também caracterizaram a visita à mesquita como um gesto de reconciliação. O Papa tirou os sapatos, tal como é costume numa mesquita, e meditou silenciosamente, enquanto o mufti de Istambul rezava alto. Quando o mufti deu por terminada a oração, Bento XVI deteve-se por segundos, ainda voltado para Meca. O Papa Bento XVI tornou-se no segundo Papa da história a entrar numa mesquita, depois de João Paulo II também o ter feito numa mesquita de Damasco, em 2001. O porta-voz do Vaticano, Cardeal Roger Etchegaray, comparou a visita do Papa à mesquita, à visita de João Paulo II ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, em 2000. “Ontem, Bento XVI fez com os muçulmanos, aquilo que João Paulo II fez com os judeus.”
Minutos antes de entrar num avião especial das linhas aéreas turcas no fim da sua primeira visita a um país muçulmano, o Papa disse ao governador de Istambul, Muammer Güler: “Deixo parte do meu coração em Istambul.” Disse também, antes da sua partida, que esperava que a sua visita pudesse contribuir para um "melhor entendimento" entre religiões.

02 dezembro 2006

Embaixadora da Turquia em Portugal comenta a viagem do Papa ao seu país

A embaixadora da Turquia em Lisboa vê a visita do Papa ao seu país como um sinal de apoio à entrada da Turquia na União Europeia.
Zergün Korutürk faz uma leitura essencialmente política da viagem do Papa, avaliando também a deslocação de Bento XVI como um reconhecimento do papel do seu país no diálogo entre civilizações. A diplomata lembra que o Papa destacou a importância da Turquia como ponte entre duas civilizações e deu, também, um contributo para essa ponte.

(Fonte: Rádio Renascença)

01 dezembro 2006

O Papa Bento XVI rezou na Mesquita Azul

O Papa Bento XVI pôs termo ontem, em Istambul, a semanas de especulação na imprensa turca sobre se iria ou não rezar no Museu de Santa Sofia. Em vez de ter parado para rezar na antiga igreja bizantina, o Papa escolheu rezar na Mesquita Azul, olhando para Meca.

Após uma visita ao Museu de Santa Sofia, o Papa foi recebido na Mesquita Azul pelo mufti de Istambul, Mustafa Çagrıcı, e pelo mufti de Eminönü, Muharrem Bilgiç. Deixou os sapatos à porta, e foi acompanhado pelo mufti Mustafa Çagrıcı na sua visita ao interior da mesquita.
O mufti explicou-lhe os rituais da religião islâmica, nomeadamente as funções do mihrab (nicho das orações) e do minber (púlpito), explicou-lhe os motivos decorativos dos tectos da mesquita, e depois convidou-o a juntar-se a ele num "momento de paz", olhando para o kible que está orientado para Meca. O Papa juntou-se a Çagrıcı imitando os seus gestos, e rezou.
Esta foi uma visita histórica, cheia de significado, e a segunda visita de um Papa a uma mesquita. A ida do Papa Bento XVI à Mesquita Azul, que inicialmente não fazia parte do programa da sua visita, está a ser entendida como um gesto de reconciliação com o Islão e como um acto de respeito para com o povo muçulmano.

O Papa parece ter recuado num eventual apoio à adesão da Turquia à União Europeia

O Papa Bento XVI salientou as “raízes cristãs” da Europa e olhou para as liberdades religiosas e direitos das minorias, arrefecendo um pouco as esperanças da Turquia relativamente a um eventual apoio do Vaticano à sua adesão à União Europeia. “Na Europa, ao mesmo tempo que existe uma abertura a novas religiões e aos seus contributos culturais, devemos unir os nossos esforços para preservar as raízes cristãs e as suas tradições e valores,” disse Bento XVI numa declaração conjunta com o patriarca dos Gregos ortodoxos Bartolomeu I, no terceiro dia da sua visita histórica à Turquia.
De manhã cedo, o Papa, secundado por Bartolomeu I, depois de uma missa na Catedral de São Jorge, disse num discurso, que “o processo de secularização tem enfraquecido a manutenção da tradição cristã na Europa. Face a esta realidade, somos chamados, juntamente com todas as comunidades cristãs, a renovar a consciência da Europa relativamente às suas raízes, tradições e valores cristãos, dando-lhes nova vitalidade.”
Com a ênfase dada às raízes cristãs da Europa, o Papa parece querer enviar sinais à Turquia muçulmana, candidata à entrada na União Europeia. No entanto, o Papa conquistou os corações dos Turcos com uma série de atitudes que adoptou desde a sua chegada, principalmente com o seu apoio à entrada da Turquia na União Europeia, segundo declarações do primeiro-ministro turco. “Nós não somos políticos, mas desejamos que a Turquia entre na União Europeia,” disse Erdoğan, citando o Papa numa conferência de imprensa após o encontro de ambos em Ancara.
O apoio de Bento XVI à entrada da Turquia na União Europeia foi aplaudido na Turquia, porque o apoio do Vaticano pode ajudar a melhorar significativamente a opinião pública relativamente à aceitação da Turquia na União Europeia. No entanto, discute-se agora na imprensa turca, nomeadamente no jornal diário "Cumhüriyet", se Erdoğan terá distorcido as palavras do Papa. O mesmo jornal acrescenta que o Vaticano não gostou das palavras de Erdoğan.
Na sua declaração conjunta com Bartolomeu I, o Papa disse que o respeito pela liberdade religiosa deve ser um critério para a adesão da Turquia à União Europeia, que deve assegurar que os seus membros respeitem os direitos das suas minorias religiosas. Esta declaração veio no seguimento das queixas do Patriarcado relativamente às restrições impostas pela Turquia, nomeadamente o encerramento de um seminário teológico, e a confiscação de várias propriedades às fundações cristãs. “Nós vimos de forma positiva o processo que levou à formação da União Europeia. Aqueles que estão envolvidos neste grandioso projecto não deveriam falhar no que diz respeito a levar em consideração todos os aspectos que afectam os direitos inalienáveis da pessoa humana, especialmente a liberdade religiosa. Em todos os passos relativos à unificação, as minorias devem ser protegidas, juntamente com as suas tradições culturais e com a distinção das características da sua religião,” acrescentou.
A União Europeia quer que a Turquia assegure total liberdade religiosa às suas minorias não muçulmanas. Isso significa dar-lhes um estatuto legal, incluindo os direitos de propriedade, para assim poderem operar livremente como instituições, e permitindo que tenham as suas próprias escolas.

O Papa Bento XVI na casa da Virgem Maria e no Patriarcado Grego Ortodoxo

Depois de ter passado o primeiro dia da sua visita em Ancara, o Papa Bento XVI seguiu para a vila de Selçuk, na província de Izmir, onde celebrou uma missa na casa da Virgem Maria, para um audiência de cerca de 550 pessoas, incluindo convidados do Sri Lanka, Ilhas Virgens, Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Itália e Turquia. Depois das orações conjuntas com os crentes, o Papa fez um discurso que durou cerca de uma hora e meia, onde mencionou os seus dois antecessores que também visitaram o mesmo local: o Papa João Paulo VI e o Papa João Paulo II. Também referiu João Paulo XXIII, que antes de ser Papa, foi delegado apostólico na Turquia entre Janeiro de 1935 e Dezembro de 1944. Lembrando as boas relações do Papa João XXIII com os Turcos e a Turquia, o Papa Bento XVI citou palavras de João XXIII: "Eu amo os Turcos e admiro as suas qualidades." Também falou da importância da Turquia no mundo, como ponte entre culturas: "Constituindo uma ponte entre continentes, é vital que a paz e o bem-estar vivam em harmonia no seu solo." As úlltimas palavras do seu discurso foram em Turco: "Aziz Meryem, bizim için dua et (Virgem Maria, reza por nós)."

Depois o Papa Bento XVI rumou a Istambul para a Igreja do Patriarcado Grego Ortodoxo, a Igreja Aya Yorgi, onde participou numa celebração em sua honra. Aí, dirigindo-se a uma vasta audiência, disse: "Gostaria de dizer que gostei muito desta recepção tão fraterna por parte do Patriarcado Ecuménico, e que ficará sempre no meu coração. Agradeço a Deus termos sido abençoados com este encontro, que tem tanto significado e está cheio de boas intenções." O Papa mencionou também as relações entre a Igreja Católica e Ortodoxa e disse estar muito agradecido por estar neste momento em Istambul: "Estou muito agradecido por estar neste solo, que está tão ligado ao Cristianismo, e que foi a casa de tantas igrejas em tempos antigos."

30 novembro 2006

O Papa está a conquistar os Turcos

Ao terceiro dia, a visita do Papa Bento XVI à Turquia parece estar a ser muito mais construtiva do que o inicialmente previsto pelos comentadores mais pessimistas.
Embora o Papa tenha vindo à Turquia fundamentalmente para se encontar com o patriarca ortodoxo Bartolomeu I, tem estado igualmente disponível para construir algumas pontes com os muçulmanos. Nos meios de comunicação social turcos, as notícias e os comentários relativos à visita papal têm-se tornado cada vez mais positivos desde o momento em que o pontífice colocou os pés em solo turco.
Existem ainda círculos ressentidos com o discurso que o Papa proferiu relativamente ao Islão na Universidade de Regensburg, mas parecem ser marginais. A manifestação no passado domingo, em Istambul, sob o lema “Papa, não venhas!” foi tema de primeira página em numerosos jornais ocidentais, mas muitos deles não referiram que o partido que organizou aquela manifestação, o partido radical islâmico Saadet (Partido da Prosperidade), apenas conquistou 3 por cento dos votos nas últimas eleições.
A reconciliação do Papa com os muçulmanos começou com a recepção calorosa que recebeu por parte do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, logo à sua chegada. Erdoğan, um islamita moderado, deu uma conferência de imprensa depois do seu encontro com o Papa, na qual foi questionado sobre o discurso de Regensburg. “Sua Santidade expressou-me o seu respeito pelo Islão. Isto é de louvar, e nós olhamos para o futuro, não para o passado.”
Desde o primeiro momento, Bento XVI teve muitos outros gestos que os Turcos apreciaram. Em termos políticos, falou favoravelmente sobre duas causas importantes para a Turquia: disse que a nação muçulmana deveria ter um lugar na Europa, e que a questão de Chipre deveria ser resolvida pelas Nações Unidas, assunto que os Gregos querem que a União Europeia resolva, uma vez que estão incluídos nesse bloco, ao contrário da Turquia.
O facto do Papa estar de certa forma a apoiar a adesão da Turquia à União Europeia, cujas negociações entraram num período de abrandamento nos últimos tempos, tem sido particularmente aplaudida na imprensa turca.
Em Izmir, onde visitou a Casa da Virgem Maria, também disse palavras agradáveis à nação turca, começando o sermão com uma frase em Turco (“Meus queridos irmãos, que o Senhor esteja convosco”), e ostentou uma bandeira turca. O jornal diário conservador "Zaman", com grande número de leitores, descreveu esse acto como “Os gestos do Papa em Turco e a bandeira turca.” De acordo com outro diário turco, o "Hürriyet", o Papa tem feito “gesto após gesto.”
Relativamente ao Islão, Bento XVI tem tratado sempre esse assunto com respeito. O seu encontro e declaração conjunta com a autoridade muçulmana suprema do país, o líder do Directorado dos Assuntos Religiosos, Ali Bardakoğlu, foi um momento de reconciliação. O teólogo muçulmano declarou o Islão como sendo uma religiäo de paz e o seu convidado católico concordou.
Os estudiosos muçulmanos têm estado a debater as mensagens calorosas do Papa na televisão turca durante os últimos dias. A maioria deles destaca que utilizar frases insultuosas numa crítica ao Islão, como foi o caso do discurso de Regensburg, só contribuiu para piorar os problemas.
Num artigo intitulado "Como responder ao Papa", publicado no popular jornal diário islâmico "Yeni Şafak", o Dr. Ahmet Kızılkaya, um filósofo da Universidade de Ancara, criticou a reacção do mundo islâmico relativamente ao discurso de Regensburg: "Os muçulmanos deviam entender os argumentos filosóficos naquele importante discurso, e reponder com sabedoria, usando os instrumentos intelectuais da filosofia islâmica," argumentou.
Hüseyin Hatemi, um colunista do mesmo jornal e uma figura islâmista respeitada, escreveu um artigo intitulado “Boas vindas ao Papa!”, onde se lê que Bento XVI já se desculpou pelas suas declarações em Regensburg. “É por isso que eu agora gosto do Papa,” escreveu Hatemi, acrescentando, “ele destacou a nossa comunhão com o monoteísmo.” Hatemi terminou o seu artigo com uma saudação na linguagem do pontífıce: “Herzlich Willkommen, Bruder!"
E no encontro histórico de ontem com o patriarca ortodoxo, Bento XVI declarou a necessidade de revitalizar o Cristianismo, o que criou algumas preocupações na Turquia, devido à sua abordagem ecuménica. A declaração comum que os líderes das duas igrejas assinaram, realçou a irmandade cristã, mas também revelou a importância de “um autêntico e honesto diálogo inter-religioso.” Por outro lado, enquanto acentua a necessidade de “preservar as raízes cristãs da Europa," regista que o continente deve continuar “aberto a outras religiões e às suas contribuições culturais.”

28 novembro 2006

O mundo tem os olhos na visita do Papa à Turquia


O Papa Bento XVI chegou hoje à Turquia, às 13 horas locais, e foi recebido pelo primeiro-ministro turco no Aeroporto de Esenboğa, em Ancara. Contrariamente ao que estava previsto, pelo menos há dois dias, mas que ontem já parecia uma possibilidade, o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdoğan, recebeu o Papa Bento XVI, embora no aeroporto e com partida prevista para Riga logo de seguida.
Os dois cumprimentaram-se e reuniram-se de imediato na sala vip do aeroporto, inicialmente na presença dos jornalistas, e depois à porta fechada durante cerca de 20 minutos. Erdoğan mostrou-se muito cordial, falando no seu empenho numa Aliança das Civilizações, projecto que lidera juntamente com o primeiro-ministro espanhol Zapatero, sob a alçada das Nações Unidas, e que tem como objectivo resolver as clivagens entre o Oriente e o Ocidente. Por outro lado, o Papa apelou a um diálogo verdadeiro entre cristãos e muçulmanos. Depois, Erdoğan deu uma conferência de imprensa e partiu para Riga, na Letónia, para comparecer na cimeira da NATO. Nessa conferência de imprensa, Erdoğan revelou que o Papa afirmou que o Islão é uma religião de paz, e lhe disse que apoiava a entrada da Turquia na União Europeia.
O Papa seguiu para Anıtkabir, o Mausoléu de Atatürk, o fundador da República turca, onde depositou uma coroa de flores e escreveu no Livro de Honra. Mais tarde foi recebido com uma cerimónia de Estado pelo presidente da República turco, Ahmet Necdet Sezer, no Palácio Presidencial, em Çankaya. Sezer e o Papa Bento XVI discutiram formas para melhorar o entendimento e cooperação mútuas, e trocaram opiniões sobre alguns tópicos regionais e internacionais.
Depois de se encontrar com o ministro do Estado e vice-primeiro-ministro, Mehmet Ali Şahin, reuniu-se com Ali Bardakoğlu, o director geral dos Serviços Religiosos e o mais alto líder religioso da Turquia. Ambos falaram de tolerância e de diálogo, com o Papa a lembrar que é preciso garantir a liberdade da minoria religiosa católica no país.
No geral, as minorias religiosas têm liberdade de culto na Turquia, mas são-lhes negados alguns direitos importantes. No caso concreto do catolicismo, não existe o direito de propriedade e os sacerdotes têm alguns problemas para conseguirem vistos de permanência no país. A Turquia é um país laico, com separação entre a religião e o Estado, mas tem controlo total sobre a religião, na medida, por exemplo, em que os discursos dos imames são "fabricados" no Directorado Geral dos Assuntos Religiosos. Ou seja, um imame não pode dizer o que entende durante um sermão numa mesquita. Os imames são funcionários públicos e estão dependentes desse organismo que tutela todos os assuntos religiosos na Turquia.

O Papa fez um longo discurso em nome da Aliança das Civilizações, dizendo que a Igreja Católica respeita os muçulmanos, tem muito respeito pelos Turcos e que a Turquia constitui uma ponte entre culturas. Teceu muitos elogios ao país e aos Turcos, o que contrastou com o que tinha dito enquanto cardeal Ratzinger, quando disse ser contra a entrada da Turquia na União Europeia, alegando que "seria um erro grave contra a maré da História." Tentou aliviar a tensão latente com o mundo muçulmano, dizendo que tem de haver reciprocidade entre os dois lados da ponte.
No âmbito da sua visita oficial a Ancara, o Papa recebeu chefes de missões diplomáticas na Embaixada do Vaticano, falando-lhes da importância de um verdadeiro diálogo com o Médio Oriente.
Desde que o Papa chegou, que não tem havido contestação nas ruas. Vive-se um clima de tranquilidade e de indiferença. O Papa está a ser bem recebido, com tapete vermelho à porta do avião, com comportamentos calorosos por parte das entidades oficiais e sem contestação por parte da população.
Erdoğan foi dos primeiros líderes do mundo muçulmano a criticar as polémicas declarações que o Papa proferiu, mas cumpriu todo o protocolo, contrariamente ao que o se esperava, uma vez que até já tinha avisado a Santa Sé de que não estaria presente durante a visita papal. A Turquia recebeu o Papa com a maior operação de segurança alguma vez operada no país, sendo mesmo superior àquela que protegeu George W. Bush quando este visitou a Turquia após a guerra do Iraque. Existe um polícia a cada cinco metros e a segurança ainda é mais apertada no perímetro da Embaixada do Vaticano. O líder da Igreja Católica está a ser protegido por 22 000 elementos de segurança.
Amanhã de manhã o Papa vai deslocar-se à cidade de Izmir, onde irá realizar uma cerimónia religiosa na Igreja da Virgem Maria, localizada na vila de Selçuk, na província de Izmir. Pensa-se que Maria viveu nessa casa com o Apóstolo São João, após a morte de Cristo. Actualmente esse edifício funciona como pequena igreja e constitui um centro importante de peregrinação católica. Após a celebração religiosa na Igreja da Virgem Maria, o Papa vai viajar nesse mesmo dia para Istambul, onde é aguardado no Patriarcado Grego Ortodoxo para uma celebração religiosa em sua honra e que contará com a presença importante do seu líder, o patriarca Bartolomeu I. Bartolomeu I foi o mentor do convite feito ao Papa para visitar a Turquia, oficialmente formulado pelo presidente da República turco. Este é um encontro muito importante, o encontro do Vaticano com a Igreja Ortodoxa, uma aproximação ao fim de 1000 anos, e um dos objectivos que o Papa Bento XVI estipulou para o seu pontificado. Pensa-se que poderão acontecer algumas manifestações quando o Papa se encontrar com Bartolomeu I, uma vez que este não pode utilizar o título de Patriarca Ecuménico, e não se sabe como é que o Papa se lhe vai dirigir. A utilização do título ecuménico colide profundamente com o laicismo instaurado na Turquia pelo seu fundador Atatürk. Para o dia 30 está prevista outra cerimónia religiosa na Igreja de São Jorge para a celebração da Festa de Santo André, o padroeiro da Igreja Ortodoxa. Também está prevista uma saudação a partir da varanda do Patriarcado e a visita à Mesquita Azul e ao Museu de Santa Sofia. O que o Papa irá fazer nestes dois monumentos tão simbólicos ainda não se sabe. Vai ainda realizar uma cerimónia religiosa na Catedral do Santo Espírito em Istambul, na sexta-feira, último dia da sua visita ao país.

26 novembro 2006

Erdoğan vai estar em Riga durante a visita papal

"Não podemos cancelar o nosso programa em Riga só por causa da visita do Papa à Turquia. Um grande número de representantes de Estado e de Governo vai estar em Riga, e nós temos a oportunidade de estar com eles," disse o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdoğan na quinta-feira.
Em resposta às questões dos jornalistas durante o Fórum Económico Mundial que decorreu em Istambul, Erdoğan disse: "Existe uma disciplina estabelecida na diplomacia internacional. Atempadamente, o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros informou o Vaticano de que a visita do Papa coincidia com a reunião da NATO em Riga, e perguntou se seria possível alterar a data da visita. O vice-primeiro-ministro Mehmet Ali Şahin vai representar-me. O Papa irá ser recebido igualmente pelo presidente Ahmet Necdet Sezer e por Ali Bardakoğlu, o representante dos Assuntos Religiosos. Lamentamos que existam tentativas para corromper os nossos esforços em criar uma aliança entre as civilizações. Temos sempre defendiado a liberdade religiosa." Quando lhe perguntaram se a questão de Chipre seria discutida na reunião da NATO, Erdoğan disse que não.

Elevadas medidas de segurança durante a visita do Papa

O Departamento de Segurança turco vai adoptar elevadas medidas de segurança em Istambul, Ancara e Izmir, durante a visita do Papa Bento XVI à Turquia na próxima semana.
Numa reunião que decorreu no ministério turco dos Negócios Estrangeiros na quarta-feira, foram decididas todas as medidas de segurança a adoptar durante a visita.
As maiores medidas de segurança serão tomadas no Aeroporto de Esenboğa, em Ancara, antes e depois da aterragem do avião onde viaja o Papa, que chegará cerca das 13 horas do dia 28 de Novembro.
Todo o percurso do Papa vai ser controlado periodicamente com detectores de explosivos. Para além dos seus guarda-costas, o Papa vai ser acompanhado por equipas de segurança turcas.
O Departamento de Segurança determinou três percursos diferentes a serem utilizados pelo Papa quando viajar do aeroporto até ao centro da cidade. Um veículo equipado com dispositivos de segurança irá escoltar o automóvel que o vai transportar.
Bento XVI vai visitar primeiro o Mausoléu de Mustafa Kemal Atatürk (Anıtkabir), e depois vai encontrar-se com o presidente Ahmet Necdet Sezer e com o ministro dos Assuntos Religiosos, Ali Bardakoğlu.
A partir do momento em que a visita do Papa passou a ser considerada crítica, devido às declarações que provocaram um mal estar no mundo islâmico, o Departamento de Segurança tem levou a cabo uma série de conversações com organizações não governamentais para tentar evitar protestos. Os protestantes não serão autorizados a aproximar-se das vias incluídas no percurso do Papa.
O Papa Bento XVI vai passar a sua primeira noite na Turquia na Embaixada do Vaticano, onde serão adoptadas apertadas medidas de segurança em todo o perímetro do edifício.
Foram destacados cerca de três mil polícias para garantirem a segurança do Papa em Ancara, durante as cerca de 20 horas da sua estadia na cidade.

23 novembro 2006

O Papa não vai rezar em Santa Sofia

Enquanto a Turquia se prepara para a visita do Papa Bento XVI, agendada para os dias 28 de Novembro a 1 de Dezembro, cerca de 40 nacionalistas turcos ocuparam ontem o Museu de Santa Sofia, em protesto contra a visita do Papa.
Os ocupantes rezaram no interior de um dos mais famosos monumentos de Istambul, mostrando a sua indignação relativamente à visita algo controversa do Papa a este monumento, que já foi uma igreja e depois uma mesquita, mas que actualmente funciona como museu, estando proibido o culto religioso no seu interior.
A visita do Papa acontece num momento político delicado, em que as relações da Turquia com a União Europeia se tornaram tensas.
Entretanto, o Vaticano já adiantou que o Papa não irá rezar em Santa Sofia, um facto que poderia causar muita polémica. Prevê-se que a comunidade cristã de Istambul receba o Papa na igreja ortodoxa de Santo Andreas e na igreja arménia dos Apóstolos. Durante a sua visita, o Papa Bento XVI irá encontrar-se com o patriarca grego Bartolomeu, e com Mesrob II, o líder religioso da comunidade arménia na Turquia.

19 novembro 2006

Ağca quer cumprimentar o Papa

Mehmet Ali Ağca, o atirador turco que alvejou o papa João Paulo II, apresentou uma petição ao tribunal para sair imediatamente da prisão, alegando que os cálculos da sua detenção estão incorrectos, e que deseja encontrar-se com o novo Papa quando este visitar Istambul.
"Eu não me conformo que estarei na prisão quando o Papa vier. Eu gostava de o cumprimentar em Santa Sofia juntamente com milhões de pessoas", disse Ağca, conforme citado pelo seu advogado Mustafa Demirbağ.
A visita do papa Bento XVI à Turquia está agendada para os dias 28 de Novembro a 1 de Dezembro. O programa inclui uma visita ao Museu de Santa Sofia, em Istambul, uma igreja do seculo VI transformada em mesquita quando os Otomanos conquistaram a cidade em 1453.
Ağca, de 48 anos, tem estado preso em Istambul desde a sua extradição de Itália em 2000.
A 12 de Janeiro deste ano foi-lhe concedida uma libertação antecipada, mas voltou a ser preso oito dias depois, quando um tribunal decidiu que a redução da sua sentença, à luz de leis de amnistia e de emendas ao código penal, tinha sido mal calculada. O seu período de detenção voltou a ser calculado, estando prevista a sua libertação a 18 de Janeiro de 2010.
Demirbağ insiste que a prisão de Ağca é ilegal, dizendo que entregou uma nova moção para a libertação do seu cliente.
Ağca alvejou o papa João Paulo II a 13 de Maio de 1981 na Praça de São Pedro, em Roma, ferindo-o gravemente. Os motivos do ataque são ainda hoje um mistério. O alegado envolvimento da União Sovietica e depois da Bulgária nunca foram provados.
Ağca é visto por muitos como um demente que afirma ser o “segundo Messias”, enquanto outros acreditam que ele é um operador dissimulado.
Ağca foi membro da organização de extrema-direita Lobos Cinzentos, e também foi indiciado na Turquia pelo assassinato do jornalista Abdi İpekçi e de dois roubos à mão armada nos anos 70.

Líderes da oposição pedem eleições antecipadas

Com a aproximação das eleições presidenciais, previstas para o próximo ano, os líderes da oposição aumentaram os pedidos de eleições gerais antecipadas, numa tentativa de bloquear o acesso do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan à presidência.
O líder do Partido Republicano do Povo (CHP), Deniz Baykal, apelou na sexta-feira à realização de eleições antecipadas, invocando que a população não quer Erdoğan como presidente da república. “Este facto não pode ser negado, mesmo pelas instituições próximas do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no governo). Um parlamento prestes a sair, desgastado e no fim do mandato, não deveria eleger o presidente.”
Entretanto, o lider do grupo parlamentar do CHP, Ali Topuz, de visita ao líder do CHP em Aydın, também teceu duras críticas ao primeiro-ministro Erdoğan. Topuz deu uma conferência de imprensa na filial do partido em Aydın, dizendo que o acesso de Erdoğan à cadeira presidencial seria a última etapa das políticas que tem conduzido durante anos. Topuz avisou que os planos reais de Erdoğan incluem mudar a estrutura do tribunal constitucional de acordo com as suas ambições politicas, abusando dos poderes presidenciais. “Ele quer estruturar o Quadro da Educação Superior (YÖK) como bem entende. Ele quer resolver a disputa do véu islâmico a partir do palácio presidencial.” Acrescentou ainda que, se Erdoğan ou o porta-voz do parlamento, Bülent Arınç, forem eleitos para a presidência, a natureza da república secular e democrática vai mudar. “Todas as instituições da república vão sobreviver a isto. O presidente vai tornar-se disfuncional. Eles não podem governar o país como se fosse uma quinta. Eles não podem transformar a Turquia num Irão.”
Entretanto, o líder do Partido do Caminho Verdadeiro (DYP), Mehmet Ağar, que falou numa conferência regional do seu partido na cidade de Bursa, disse que o AKP não sobreviveu às suas promessas eleitorais, e acusou o CHP de polarizar propositadamente a sociedade em vez de desafiar o partido do governo. "A Turquia está a atravessar momentos difíceis e necessita de eleições antecipadas. O governo transformou a Turquia num país de ficções.” O líder do DYP disse que nunca se pode brincar com alguns dos valores da Turquia. “A Turquia tem certos valores que não podem fazer parte de debates eleitorais, não se pode brincar com eles. Esses valores fazem parte do regime republicano,” disse Ağar. Também referiu que as eleições gerais devem acontecer pelo menos no início de Março.

17 novembro 2006

O conflito israelo-palestiniano na agenda da Aliança das Civilizações

Segundo o plano de acção da Aliança das Civilizações, apresentado em Istambul na segunda-feira ao secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, a resolução do conflito israelo-palestiniano é a chave para a melhoria de relações entre o Islão e o ocidente.
O assunto israelo-palestiniano tornou-se o símbolo chave da divisão entre o ocidente e as sociedades muçulmanas e continua a ser uma das mais sérias ameaças à estabilidade internacional, declarou o grupo multinacional de académicos, políticos e líderes religiosos, no plano de acção da Aliança das Civilizações.
“Enquanto os Palestinianos viverem sob ocupação, expostos a uma frustração e humilhação diárias, e enquanto os Israelitas forem detonados em autocarros e em salões de baile, a ira continuará a ser inflamada por todo o lado”, disse Annan depois de receber o relatório, concordando que todos os esforços para a redução das tensões entre o Islão e o ocidente serão em vão, se não houver uma solução para esse conflito.
“O que está no centro da crescente ruptura entre o ocidente e o mundo islâmico, não são as diferenças de crença religiosa, mas a forma como os crentes se tratam uns aos outros”, disse também Annan. “Devemos começar por reafirmar e demonstrar que o problema não é o Corão ou a Torá ou a Bíblia.”
“A globalização tem propagado doenças antigas em todo o mundo, tais como a violência. Existe a necessidade de uma resposta global a essa ameaça global. A Aliança das Civilizações é essa resposta”, disse o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdoğan na segunda-feira.
Por seu turno, Jose Luis Rodríguez Zapatero disse estar confiante no sucesso da iniciativa. “Algumas pessoas vêem a Aliança das Civilizações como uma utopia [...], mas existem no mundo real alguns exemplos de coexistência pacífica entre pessoas e civilizações,” disse.

15 novembro 2006

Aliança das Civilizações em Istambul

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, e o seu homólogo espanhol, Jose Luis Rodríguez Zapatero, impulsionadores da iniciativa Aliança das Civilizações conduzida pelas Nações Unidas, participaram na segunda-feira, em Istambul, no 4.º encontro do Grupo Internacional de Alto Nível, que lidera a iniciativa, para apresentarem o plano de acção que visa aproximar o mundo islâmico e o ocidente.

Durante uma cerimónia, Erdoğan e Zapatero apresentaram o plano de acção ao secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, também presente no encontro.
Erdoğan e Zapatero irão encontrar-se com Annan uma vez mais em Nova Iorque no final deste ano. O plano de acção contém recomendações e esquemas para aumentar e desenvolver a aliança entre o mundo árabe e o mundo ocidental.
O Grupo Internacional de Alto Nível, responsável pela iniciativa conduzida pelas Nações Unidas, finalizou o plano de acção numa reunião em Istambul durante o passado fim-de-semana.
A iniciativa, proposta por Zapatero na 59.ª Assembleia Geral das Nações Unidas em 2004, e co-patrocionada por Erdoğan, tem como objectivo produzir, no final de 2006, recomendações para serem adoptadas pelos Estados-membros das Nações Unidas.
Annan disse que a iniciativa pretende responder à necessidade de um esforço e compromisso da comunidade internacional no plano institucional e civil, para anular divisões e superar preconceitos, assim como conceitos e percepções erróneos e polarizações, que ameaçam potencialmente a paz mundial. A Aliança das Civilizações terá como objectivo fomentar tratados resultantes da percepção da hostilidade que fomenta a violência, e incrementar a cooperação através da congregação de esforços no sentido de ultrapassar essas divisões.
A iniciativa resultou de um consenso entre nações, culturas e religiões, de que todas as sociedades são independentes, embora interligadas no seu desenvolvimento e segurança e no seu bem estar ambiental, económico e financeiro.
Para conduzir esta iniciativa, o secretário-geral das Nações Unidas, reuniu-se em Setembro de 2005 com os co-patrocinadores da iniciativa e com vários especialistas em relações inter-civilizacionais e inter-culturais que integram um Grupo Internacional de Alto Nível composto por 20 figuras eminentes da vida política, académicos, sociedade civil e líderes religiosos, originários de várias regiões e civilizações.
O Grupo de Alto Nível é co-presidido por Federico Mayor, antigo director geral da UNESCO e presidente da Fundação Cultura da Paz sediada em Madrid, e Mehmet Aydın, ministro turco do Estado. O grupo inclui ainda Sheikha Mozah, consorte do Emir do Estado do Qatar e presidente da Fundação do Qatar para o Desenvolvimento da Educação, Ciências e Comunidade; Mohammad Khatami, antigo presidente do Irão; Moustapha Niasse, antigo primeiro-ministro do Senegal; Andre Azoulay, vencedor do Prémio Nobel da Paz; Desmond Tutu, Nobel da Paz, arcebispo da África do Sul e conselheiro especial do rei de Marrocos; Sarajaldeen Ismael, director da Biblioteca de Alexandria no Egipto, e Hubert Vedrine, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês.
Annan pediu ao Grupo de Alto Nível para fortalecer a compreensão mútua, o respeito e a partilha de valores entre pessoas, culturas e civilizações diferentes; para combater a influência de grupos fomentadores de extremismo e para lutar contra o extremismo e a sua ameaça à paz e estabilidade mundial. Também pediu propostas de medidas direccionadas para a juventude do mundo, de forma a serem incutidos valores de moderação e cooperação e promoção da valorização da diversidade.
A Aliança das Civilizações foi recebida pelos líderes europeus e pelo mundo islâmico como uma alternativa construtiva e positiva à hipótese de Huntington do choque de civilizações.
Em Fevereiro de 2005, a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, disse numa carta ao ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Miguel Angel Moratinos, que os Estados Unidos pretendem colaborar com a proposta da Aliança das Civilizações, na esperança de que a iniciativa ajude a promover “reformas democráticas, paz, e estabilidade no Próximo Oriente”.
O Secretário Geral da Liga Árabe, Amr Moussa, também elogiou a iniciativa dizendo tratar-se de “um passo muito importante. É mais positivo discutir sobre uma aliança de civilizações do que sobre choque de civilizações.”
Na véspera da Cimeira Euro-Mediterrânea de Barcelona, em Novembro de 2005, o presidente francês, Jacques Chirac, referindo-se à Aliança das Civilizações, disse: “Trata-se de uma prioridade urgente na conjuntura em que vivemos.”
O presidente russo, Vladimir Putin, tem encorajado encontros de líderes religiosos em Moscovo, para combater aquilo a que ele chamou de “esforços para colocar cristãos e muçulmanos uns contra os outros”, e avisou que um potencial choque de civilizações pode ser desastroso.
Erdoğan também disse: “Juntos estamos a plantar a semente para que uma aliança de civilizações cresça no nosso mundo, e isso será uma ajuda para que sementes de centenas de milhar de alianças de civilizações floresçam.”

13 novembro 2006

O governo foi vaiado no funeral de Ecevit


No funeral de Bülent Ecevit, as cerca de 25 000 pessoas que se deslocaram à mesquita Kocatepe e as outras dezenas de milhar que estiveram nas ruas circundantes, demonstraram a sua admiração por Ecevit e criticaram o governo.
Ouviram-se frases como estas: “A Turquia é secular e permanecerá secular” ou “Çankaya [onde se localiza o palácio presidencial] permanecerá secular”, slogans que elogiam a linha política de Ecevit comprometida com o secularismo. Também se ouviu: “Ecevit do Povo”, o slogan com que foi eleito cinco vezes para o cargo de primeiro-ministro durante a sua longa carreira política de quase cinco décadas.
A multidão rapidamente começou a assobiar e a entoar cânticos de protesto pró-seculares quando o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Abdullah Gül, e outros ministros do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no governo) chegaram à mesquita Kocatepe por uma entrada secundária, em vez da entrada reservada ao protocolo.
A multidão vaiou Erdoğan ainda mais alto quando este abandonou a mesquita. Vários outros membros do governo, tais como o porta-voz do parlamento, Bülent Arınç, foram alvo de protestos semelhantes.
Desde que subiu ao poder em 2002, Erdoğan aumentou as preocupações seculares, insurgindo-se contra as restrições sobre o uso do véu islâmico em edifícios e escolas públicas e apoiando as escolas religiosas. Tentou também criminalizar o adultério, mas foi forçado a recuar pela União Europeia. Algumas câmaras municipais do partido do governo tentaram adoptar medidas para proibir o consumo de álcool.
O governo de Erdoğan nega ter uma agenda islâmica. Tem mostrado um compromisso com a adesão à União Europeia, promulgando reformas abrangentes que permitiram ao país iniciar as conversações de adesão no ano passado. Mas a administração de Erdoğan tem sofrido duras críticas da União Europeia por julgar jornalistas e escritores devido às leis repressivas que impedem a liberdade de expressão.
Muitos secularistas estão cada vez mais preocupados com a possibilidade de Erdoğan se tornar presidente e substituir o presidente secular Sezer quando este se retirar em Maio. O parlamento, dominado pelos deputados do AKP, irá eleger o novo presidente. Erdoğan terá de desistir do cargo de primeiro-ministro para se tornar presidente, caso tal venha a acontecer.

Uma multidão emocionada disse adeus a Ecevit

Dezenas de milhar de pessoas encheram as ruas de Ancara para a última despedida ao anterior primeiro-ministro Bülent Ecevit, muito admirado pela nação turca por uma carreira política de cinco décadas.
Na manhã de Sábado, na primeira de várias cerimónias, o corpo de Ecevit foi transportado do hospital militar onde faleceu no passado fim-de-semana, para a sede do Partido da Esquerda Democrática (DSP), que liderou até 2002.
Depois da cerimónia na sede do partido DSP, foi conduzido para o parlamento, para onde Ecevit foi eleito em 1957 como membro do Partido Republicano do Povo (CHP), o partido de Mustafa Kemal Atatürk, fundador da moderna república da Turquia. No parlamento, a guarda de honra colocou o corpo de Ecevit no carro fúnebre, na presença de oficiais de topo e de líderes políticos e dignatários estrangeiros, que assistiram a um funeral de Estado no parlamento.
Marcaram presença, o anterior presidente Süleyman Demirel, principal rival de Ecevit durante quatro décadas, e Kenan Evren, antigo general que tomou o poder com o golpe de Estado de 1980 e colocou Ecevit e Demirel na prisão.
O anterior e actual presidentes da república turca do Chipre, respectivamente Rauf Denktaş e Mehmet Ali Talat, compareceram em memória da intervenção turca em Chipre, em 1974, que Ecevit ordenou em resposta a um golpe perpetrado por Atenas e pelos Greco-cipriotas ultranacionalistas com o objectivo de unir a ilha à Grécia.
Depois, o corpo de Ecevit seguiu para a mesquita Kocatepe, a maior de Ancara, onde era aguardado por uma multidão de cerca de 25 000 pessoas, no pátio da mesquita, e por dezenas de milhar nas ruas circundantes. Entre muitas outras pessoas, esteve presente a família do juiz do Conselho de Estado, Yücel Özbilgin, assassinado por um activista islâmico que se insurgiu contra a decisão do Supremo Tribunal de banir o véu islâmico nos espaços públicos. Ecevit foi visto pela última vez no funeral de Özbilgin, na mesquita de Kocatepe a 18 de Maio. Mais tarde, nesse mesmo dia, sofreu o derrame cerebral que o fez perder a vida a 5 de Novembro.
Mineiros de Zonguldak, o seu eleitorado durante muitos anos, estiveram presentes para lembrar o seu cargo como o ministro do Trabalho, responsável pela promulgação das primeiras leis no país que permitiram o início de negociações colectivas e o direito à greve.
Pessoas anónimas, não necessariamente militantes politicos, reuniram-se para prestar a sua homenagem a um homem admirado pela sua honestidade.
Para além da representação oficial, a multidão que conseguiu congregar na hora da sua morte, reflecte também as suas muitas facetas. Escritores e artistas estiveram também entre aqueles que quiseram prestar homenagem ao seu passado como poeta, com muitos dos seus poemas transformados em letras de canções.
Ecevit é visto como o pai da social democracia na Turquia e como um homem justo, extremamente cortês e trabalhador incansável, que viveu durante anos num modesto apartamento nos subúrbios de Ancara com a sua mulher Rahşan, seu amor desde a infância e a sua companheira de sempre também na vida política.
Da mesquita de Kocatepe, o cortejo fúnebre seguiu para o cemitério de Estado, uma caminhada lenta ao longo de oito quilómetros, que a sua mulher, com 83 anos, fez questão de fazer a pé. Ao longo dessa caminhada, toda a multidão concentrada nas ruas pode despedir-se de Ecevit. O carro fúnebre ficou carregado de flores que foram sendo atiradas ao longo desse percurso final.

11 novembro 2006

A Turquia recordou Atatürk











No 68.º aniversário da sua morte, o fundador da Turquia e todo o seu legado foram recordados em toda a nação turca.
A primeira cerimónia decorreu no mausoléu de Atatürk, Anıtkabir, com dignatários liderados pelo presidente da república, Ahmet Necdet Sezer, a prestarem a sua homenagem no túmulo de Atatürk.
Às 9.05 horas, hora da morte de Atatürk, durante dois minutos, ecoaram por todo o país sons de buzinas de automóveis e sirenes de barcos e fábricas, acompanhados pela paragem dos transeuntes nas ruas e pelo silêncio no interior das instituições e edifícios. As bandeiras foram colocadas a meia haste desde as 9.05 horas até ao pôr do sol.
Sezer, juntamente com o porta-voz do parlamento, Bülent Arınç, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, o general das Forças Armadas Yaşar Büyükanıt, o líder do Partido Republicano do Povo (CHP), Deniz Baykal, representantes de outros partidos políticos, ministros e outros oficiais de topo, permaneceram em silêncio em frente do túmulo de Atatürk, antes de aí depositarem uma coroa de flores.
Depois da cerimónia em Anıtkabir, Sezer proferiu um discurso num encontro que decorreu no Centro Cultural Atatürk, no Instituto de Línguas e História, dizendo: “Tudo se baseia no secularismo. O nosso grande líder sabia que o secularismo era a chave para a civilização e para o esclarecimento. Resumindo, secularismo significa ser humano.” Também criticou o conceito de globalização, argumentando que os países imperialistas estão a usar a globalização para atingirem os seus objectivos em termos económicos. Citou Atatürk: “Existem pessoas que pensam que tudo o que se pode aprender, todos os conselhos e todos os objectivos devem vir da Europa. Contudo, como é que se pode desenvolver a independência com o conselho de estrangeiros? Isso nunca aconteceu na história.”
O primeiro-ministro Erdoğan, discursando no mesmo encontro, disse: “As principais doutrinas da república devem ser mantidas diariamente com argumentos políticos. Precisamos de usá-los, não para dividir, mas para unir o país. Essa é a única forma de criar paz social."
Decorreu também uma cerimónia no Palácio Dolmabahçe, em Istambul, onde Atatürk morreu a 10 de Novembro de 1938. Nessa cerimónia, a sua filha adoptiva, Ülkü Adatepe disse: “Eu costumava caminhar com ele nestes corredores. Atatürk vai viver para sempre. Eu nunca pensei que ele tivesse morrido. Ele ainda vive.”
Ao longo do dia acumularam-se filas de pessoas que queriam visitar o Palácio Dolmabahçe e Anıtkabir.
Atatürk nasceu em 1881 em Tessalónica, que actualmente faz parte do território grego. Ele é recordado, admirado e aclamado por ter fundado a república da Turquia, e pelas reformas modernas que instituiu no país. Contudo, como acontece com todos os líderes, essa admiração não é consensual. No entanto, o que passa para o cidadão comum que visita a Turquia é a profunda veneração que o país retribui a este homem.
Atatürk morreu a 10 de Novembro de 1938, rendendo-se à doença no fígado de que padecia. O seu corpo foi levado inicialmente para o Museu Etnográfico de Ancara, em 21 de Novembro de 1938. Quando o seu mausoléu em Anıtkabir foi concluído, foi trasladado para esse local com uma grande cerimónia, a 10 de Novembro de 1953.

06 novembro 2006

Bülent Ecevit: Uma lenda da política turca


Bülent Ecevit (1925-2006) nasceu em Istambul. O seu pai, Ahmet Fahri Ecevit nasceu em Kastamonu (norte da Turquia) e foi professor de medicina forense na universidade de Ancara. Entre 1943 e 1950, Ahmet Fahri iniciou a sua vida política como deputado do CHP (Partido Republicano do Povo) por Kastamonu. A sua mãe, Fatma Nazlı, nasceu em Istambul e era pintora.
Em 1944, Ecevit terminou o liceu no Robert College de Istambul e começou a trabalhar como tradutor na Direcção Geral de Imprensa. Foi para os Estados Unidos em meados dos anos 50 com uma bolsa de estudo, e trabalhou para dois jornais na Carolina do Norte.
Ecevit foi eleito para o parlamento turco em 1957, como deputado do Partido Republicano do Povo (CHP) pela província de Zonguldak. Em 1974, sucedeu a Ismet Inönü como líder do Partido Republicano do Povo (CHP) em coligação com o Partido da Salvação Nacional (MSP) de
Necmettin Erbakan. Foi eleito primeiro-ministro, e o feito mais notório do seu governo foi ter ordenado uma intervenção militar a 20 de Julho de 1974, para prevenir um golpe de Estado das forças gregas em Chipre, dividindo a ilha e preparando o cenário para a fundação da república turca do norte do Chipre (um Estado de facto que só é reconhecido oficialmente pela Turquia).
Bülent Ecevit revelou que soube pela primeira vez da existência do Gladio, um exército secreto da NATO, em 1974, e suspeitou da existência de uma “contra-guerrilha”, o ramo turco do Gladio. Essa "contra-guerrilha" terá sido responsável pelo massacre de 1 de Maio de 1977 na praça Taksim em Istambul, durante o qual franco-atiradores dispararam contra 500 000 cidadãos presentes num comício de protesto, matando 38 e ferindo centenas.
Depois do golpe militar de 12 de Setembro de 1980, protagonizado pelo general Kenan Evren, Ecevit foi preso e suspenso da vida política activa para sempre. Um referendo em 1987 ilibou-o e tornou-se o presidente do Partido da Esquerda Democrática (DSP) em 1989, herdando o posto da sua mulher, Rahşan Ecevit. O seu partido falhou a entrada na assembleia nacional nas várias eleições que se seguiram, mas venceu finalmente a barreira eleitoral nas eleições nacionais de 1995. Foi vice-primeiro-ministro durante o último governo de Mesut Yılmaz e depois foi por pouco tempo presidente do governo provisório na corrida às eleições gerais de 1999. Nessas eleições, o partido de Ecevit ganhou o maior número de assentos parlamentares, e Ecevit tornou-se primeiro-ministro em coligação com o Partido da Terra Mãe (Ana Vatan Partisi) de Mesut Yilmaz, e o Partido do Movimento Nacionalista (MHP) de Devlet Bahçeli. O governo de Ecevit levou a cabo várias reformas, com o objectivo de estabilizar a economia turca durante a preparação para as negociações de adesão à União Europeia. Contudo, a agonia económica despoletada pelas suas reformas, causou atritos dentro da coligação e partido, e forçou novas eleições em 2002. Ecevit, nessa altura visivelmente fragilizado, não conseguiu levar o seu partido para a assembleia nacional. Reformou-se da vida política activa em 2004.

Bülent Ecevit dedicou os últimos 49 anos da sua vida de 81 anos à política, mas foi também um poeta e escritor. Estudou Sânscrito, Bengali e Inglês e traduziu para Turco obras de Rabindranath Tagore, T. S. Eliot, e Bernard Lewis. Estudou no American Robert College, o mais prestigiado liceu de Istambul, e triunfou na via literária apesar de não possuir nenhuma licenciatura, facto que fez com que nunca se pudesse candidatar a presidente da república da Turquia. No entanto, frequentou o curso de direito, que abandonou para ingressar no curso de literatura inglesa na universidade de Ancara, que acabou por nunca concluir.
Sentiu-se mal a 17 de Maio deste ano durante o funeral do juiz Mustafa Özbilgin, assassinado no Conselho de Estado em Ancara. Quem conhecia Ecevit, disse naquele dia que ele tinha decidido ignorar a sua própria doença para ir ao funeral do juiz Özbilgin. O ataque no Conselho de Estado, organismo que sempre protegeu os valores básicos da república, era demasiado importante para ser ignorado.
Foi alvo de tentativas de assassinato em Izmir e nos Estados Unidos, onde balas que lhe eram dirigidas, só não o atingiram por escassos milímetros. Relativamente a Chipre, Ecevit foi quem tomou a decisão histórica e que a fez avançar. Em Março de 1971, abandonou a liderança do Partido Republicano do Povo (CHP) por não querer trabalhar lado a lado com o poder militar que tinha vindo para o poder através de um golpe de Estado. Adoptou uma posição ainda mais importante durante o período do 12 de Setembro de 1980, altura do golpe de Estado na Turquia. Foi o único político que protestou abertamente contra as condições extremamente limitadoras trazidas pela liderança militar no poder, e foi também a única voz intelectual que se levantou. Por essa via, Ecevit produziu a revista "Arayış" para fazer ouvir a sua voz. Foi preso duas vezes pelo que escreveu na revista e por declarações que nunca esconderam o que se estava a passar na Turquia.

Morreu o político, poeta, escritor, tradutor e jornalista Bülent Ecevit


Morreu ontem Bülent Ecevit, o político que foi primeiro-ministro da Turquia em 1974, 1977, 1978-1979 e na anterior legislatura (1999-2002). Foi também poeta, escritor, jornalista e tradutor.
Ecevit tem estado nos cuidados intensivos do hospital militar Gülhane, em Ancara, desde que sofreu um derrame cerebral a 17 de Maio deste ano. A sua morte, aos 81 anos, foi anunciada ontem à noite pelo seu médico pessoal, que disse aos jornalistas que o sistema respiratório do anterior primeiro-ministro falhou.

04 novembro 2006

Marcha pela república em Ancara


De forma a demonstrarem a sua lealdade e devoção à república, 130 organizações não governamentais organizaram hoje uma marcha de protesto em Ancara. A marcha, denominada "A marcha do povo pela nossa república", começou às 11 horas no Centro Cultural Atatürk, com milhares de pessoas a caminharem na praça Tandoğan. Depois de um comício à hora do almoço, o grupo planeia marchar até ao mausoléu onde está Atatürk (Anıtkabir), o fundador da república da Turquia.
O director da organização do evento, Şenal Sarıhan, disse na terça-feira: “Convidamos a marchar todos aqueles que são leais ao secularismo, que querem que os seus filhos cresçam com uma educação nacionalista e secular, que são contra a divisão da nação devido às diferentes etnias e religiões dos seus cidadãos, que são contra a venda das nossas empresas e terras aos interesses estrangeiros e que são contra a corrupção”. Disse ainda que a marcha foi organizada para mostrar que existe uma multidão pronta a defender a grande conquista de Atatürk, a república.
O secretário geral da Associação do Pensamento Kemalista (ADD), Mehmet Kaynak, disse que existe uma necessidade de protestar e uma necessidade de fortalecer a independência do país e da unidade nacional, argumentando que os interesses nacionais foram sendo atropelados em nome da União Europeia e da globalização. “A nossa honra nacional está ameaçada”, disse.

03 novembro 2006

Inundações no sudeste da Turquia mataram pelo menos 34 pessoas


O número de mortos em resultado das inundações que atingiram a zona pobre do sudeste da Turquia chegou aos trinta e quatro. Onze pessoas, incluindo sete crianças, morreram na vila de Batman. Há notícias de mais pessoas desaparecidas. Estas são as piores inundações que atingiram a região desde 1937, e muito mais chuva está prevista para a Turquia nos próximos dias.
Uma tromba de água inundou Batman na quarta-feira à noite, quando os rios galgaram as margens, devido a chuvas torrenciais, e invadiram ruas e edificios matando onze pessoas e accionando grandes operações de resgate. O exército juntou-se às equipas de salvamento para ajudar na evacuação de pessoas. As autoridades locais abriram edificios municipais, nomeadamente centros desportivos, para albergar famílias desalojadas pelo desastre. Pelo menos sete feridos receberam tratamento hospitalar. Também em Elaziğ, uma vila a noroeste de Batman, os moradores tiveram de ser evacuados das suas casas. Diyarbakır, a maior cidade da região, foi atingida por inundações na terça-feira à noite, quando a água aumentou a uma velocidade dramática, apanhando milhares de moradores de surpresa. Os habitantes foram resgatados das suas casas por barco ou procederam a trabalhos de limpeza ao mesmo tempo que as águas baixavam. Continuam ainda desaparecidas duas pessoas nesta cidade. Um grupo de pessoas protestaram em repartições governamentais na região de Çınar, atirando pedras e partindo janelas. Dispersaram mais tarde após pedidos de contenção. O jornal Milliyet atribui a grande causa das mortes no sudeste à má qualidade das infra-estruturas locais. As estradas que ligam Batman a Diyarbakır e a outras vilas foram cortadas ao trânsito.
A maior cidade da Turquia, Istambul, localizada 1300 quilómetros a noroeste de Dyarbakır, e as cidades mediterrânicas de Antália e Mersin, também sofreram inundações nos últimos dias.