01 outubro 2020

A pandemia na Turquia pode ser bem mais grave do que se sabe

O Governo turco está a ser acusado de esconder a verdadeira extensão da epidemia do novo coronavírus, após o ministro da Saúde ter revelado que os números diários divulgados refletem os doentes com sintomas e não todos os infetados. 

O ministro Fahrettin Koca reconheceu numa conferência de imprensa na noite de quarta-feira que desde 29 de julho a Turquia tem relatado o número de doentes com covid-19 atendidos nos hospitais ou tratados em casa. A contagem não inclui os casos positivos assintomáticos, disse, ignorando uma pergunta sobre o número diário de novos casos positivos de coronavírus, indicador-chave sobre a evolução da epidemia em qualquer país. "Estamos a falar de pessoas com sintomas. Estamos a divulgar isto como o número diário de doentes", disse Koca aos jornalistas. 
A revelação gerou protestos nas redes sociais e pedidos ao Governo para que revele a verdadeira extensão do novo coronavírus entre a população de 83 milhões de habitantes. A admissão do ministro ocorreu depois de um deputado da oposição, Murat Emir, ter afirmado que o número real de novas infeções diárias na Turquia é 19 vezes maior do que o divulgado pelo Governo. Emir pediu hoje a Koca para deixar de divulgar os dados diários da epidemia. "Ninguém acredita nisso. Não tem valor científico", disse. "O governo está a lutar contra os números em vez de combater a epidemia", adiantou. 

A Associação Médica Turca pediu transparência, depois de ter vindo a questionar os dados diários sobre o coronavírus desde que a 29 de julho o Governo deixou de se referir a "casos" e passou a indicar "doentes". A organização considerou que o Governo "escondeu a verdade" e "falhou em evitar a propagação" do vírus. "Temos direito à verdade", escreveu na rede social Twitter Sebnem Korur Fincanci, presidente da associação. 

O governo turco divulgou na quarta-feira 65 mortos e 1.391 novos "doentes" com covid-19, assumindo um total de 318.000 infetados, incluindo 8.195 mortos, desde o início da pandemia. Segundo especialistas, os dados divulgados em todos os países subestimam os números reais da pandemia, devido a testagem limitada, a casos falhados e à falsificação de dados por alguns governos, entre outros fatores.

05 março 2020

Portugal condena Turquia por "utilização abusiva" de refugiados

O Governo português condenou a "utilização abusiva" de refugiados por parte da Turquia na intenção de abrir fronteiras para pressionar a União Europeia, mas afastou uma intervenção militar comunitária como forma de resposta.

Neste momento, há uma utilização abusiva, por parte da Turquia, da presença no seu território de vários milhões de migrantes e, claramente, o presidente turco a dizer que abria as fronteiras para a Grécia, estava a utilizar a presença desses refugiados na Turquia como arma de arremesso e isso é completamente inaceitável", declarou, esta quinta-feira, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho

Falando à margem da reunião informal dos ministros da Defesa, que decorre na capital croata, em Zagreb, o ministro da Defesa vincou que a pressão turca "não surtirá qualquer tipo de efeito positivo". "Há que ter em conta esta realidade, de a Turquia ter quase quatro milhões de refugiados no seu território, e isso, evidentemente, merece uma atenção especial da UE, uma atenção reforçada em relação ao que tem sido o caso no passado", sustentou João Gomes Cravinho. Questionado sobre uma possível intervenção militar nas fronteiras externas da UE como forma de responder à Turquia, o responsável português rejeitou esta opção, privilegiando antes a via diplomática. "O meu colega grego [ministro da Defesa da Grécia, Nikos Panagiotopoulos], com quem tive ampla oportunidade de falar à margem nos corredores, não pede nenhum apoio militar, pede apoio político", disse João Gomes Cravinho.

Nos últimos dias, a tensão entre Ancara e Bruxelas tem vindo a intensificar-se após a Turquia ter anunciado a abertura de fronteiras para deixar passar migrantes e refugiados para a UE, ameaçando assim falhar os compromissos assumidos com o bloco comunitário. Com a medida, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pretende garantir mais apoio ocidental na questão síria, mas a intenção já foi veemente criticada por líderes de topo da UE, inclusive pela presidente do executivo comunitário.

Apesar de a Bulgária e o Chipre também serem pressionados, é sobretudo a Grécia que enfrenta esta pressão migratória nas suas fronteiras externas com a Turquia, o que levou o país a pedir, no passado domingo, que a agência europeia da guarda costeira, a Frontex, lançasse uma intervenção rápida nas fronteiras externas da Grécia no Mar Egeu. A Bulgária também solicitou apoio europeu para lidar com a chegada de migrantes e refugiados à sua fronteira.

A UE e a Turquia celebraram em 2016 um acordo no âmbito do qual Ancara se comprometia a combater a passagem clandestina de migrantes para território europeu em troca de ajuda financeira. Porém, a Turquia, que acolhe no seu território cerca de quatro milhões de refugiados, na maioria sírios, anunciou ter aberto as fronteiras com a Europa, ameaçando deixar passar migrantes e refugiados numa aparente tentativa de pressionar a Europa a assegurar-lhe um apoio ativo no conflito que a opõe à Rússia e à Síria.

João Gomes Cravinho observou, ainda, que "neste momento há um ambiente de grande tensão e alguma ambiguidade no relacionamento da Turquia com outros membros da NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte]", pelo que defendeu "mecanismos para superar" esta situação, desde logo por Ancara ser "um aliado valioso".

TSF