30 março 2014

Domingos Paciência: "Foi um erro ter ido para a Turquia"

O treinador português já deixou o Kayserispor depois de uma experiência para esquecer e que durou apenas sete jogos. 
Domingos Paciência reconhece que cometeu uma "precipitação" quando aceitou o convite para treinar o Kayserispor, clube turco que orientou durante dois meses e que deixou no passado dia 17. Presente esta noite no Portugal Fashion, na Alfândega do Porto, o treinador português não guarda boas recordações da sua última experiência profissional e assegura que vai "ponderar muito bem" antes de aceitar qualquer nova proposta profissional. Sobre a experiência na Turquia, resume: "Há que reconhecer, foi um erro ter ido para lá. O dinheiro por vezes leva a que as pessoas queiram exercer o poder e eu não sei trabalhar com interferências. Não havia forma de continuar."
(Fonte: O Jogo)

Como despertará a Turquia amanhã?

Deveriam ser meras eleições locais. Mas não são. “Porque estes não são tempos normais. Vamos despertar na segunda-feira com uma nova Turquia”, escreve o colunista Semih Idiz no diário Hürriyet. Que Turquia? Não sabemos.
Tayyip Erdoğan transformou estas eleições numa questão de “vida ou morte” e na luta contra uma “aliança do mal” que o quereria destruir. Pede que o eleitorado lave o seu nome das acusações de corrupção. “Mas a luta real, sejam quais forem os resultados de domingo, serão as eleições presidenciais deste ano e as legislativas previstas para o próximo ano”, conclui Idiz. A oposição aceitou a batalha de “nacionalizar” as eleições locais. Está em jogo, dizem os seus dirigentes, a escolha entre democracia e um regime autoritário.
O rastilho do confronto remonta a 17 de Dezembro, com a eclosão daquilo a que se chamou uma “guerra civil islâmica”, entre Erdoğan e a comunidade religiosa e educativa Hizmet (Serviço), de Fethullah Gülen, um pensador sufi que reside nos Estados Unidos desde 1998 e acusa o regime de ser “crescentemente autocrático”.
Um procurador de Istambul — suspeito de estar ligado a Gülen — ordenou dezenas de detenções por corrupção, atingindo personalidades próximas do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, no Governo), provocando a demissão de três ministros. A seguir, foi a vez de Erdoğan e os filhos serem postos em causa. O primeiro-ministro acusa Gülen de liderar um “golpe de estado” e de controlar um “estado paralelo”, na magistratura e na polícia.
A Justiça foi colocada sob tutela governamental. Foi cerceada a liberdade de informação. Foram “saneados” milhares de polícias e magistrados. Está em curso “uma caça às bruxas”, escreve o analista liberal Mustafa Akyol.
Erdoğan tem uma concepção “maioritária” da democracia: quem vence as eleições não deve ser limitado nem pelos direitos da minoria nem pela liberdade de imprensa, nem sequer pela separação dos poderes. Desvaloriza a legitimidade da Justiça face ao veredicto eleitoral: “Na Turquia é o povo quem decide.” Figuras do AKP, como o Presidente Abdullah Gül ou os vice-primeiros-ministros, Bülent Arinç e Ali Babacan, afirmam que a democracia é algo mais do que eleições. Divergem de Erdoğan mas temem dividir o partido. Erdoğan está em declínio, ferido na sua legitimidade, mas é quem está no comando. E é esse comando que se joga nas eleições de hoje.
Cenários
As sondagens realizadas a partir de Dezembro são confusas: o AKP obteria entre 38 e 50% dos votos. Huseyin Çelik, vice-presidente do AKP, colocou a fasquia da vitória nos 38,8% dos votos obtidos nas eleições locais de 2009. Os analistas da oposição consideram que o AKP sofrerá uma derrota se ficar abaixo dos 47% obtidos nas legislativas de 2007, para não falar nos quase 50% de 2011. As duas grandes batalhas travam-se em Ancara e, sobretudo, em Istambul.
A perda de Istambul — que é improvável — significaria o fim de Erdoğan, porque é “o seu berço e o seu trono”. Também uma votação abaixo dos 40% seria “o princípio do fim do AKP”, escreve Semih Idiz. Os dirigentes do AKP seriam forçados a pensar na mudança de líder para evitar um desastre nas legislativas.
Um estudo da Brookings Institution, realizado pelo politólogo Ali Çarkoglu (Turkey goes to the Ballot Box), constata que o apoio ao AKP desceu oito pontos nas intenções de voto desde o princípio de Dezembro: passou de cerca de 50% para 42. Um resultado de 42% permitiria a Erdoğan proclamar vitória. Esta percepção seria reforçada pela larga vantagem do AKP em relação aos partidos da oposição, estagnados e sem iniciativa. Mas não seria a vitória esmagadora que ele quer e os “gulenistas” temem.
O Hizmet de Gülen, que ousou afrontar Erdoğan e promete continuar a batalha, não é nem quer ser um partido político. Uma sondagem indica que 70% dos turcos crêem na corrupção do Governo mas não abandonam o AKP por não encontrarem alternativa credível e temerem os efeitos económicos da sua queda.
Há outro factor que cria imprevisibilidade. Os “gulenistas” apelam ao “voto útil” nos candidatos mais bem colocados para derrotar o AKP. Como reagirão os eleitores ao voto em inimigos históricos como os kemalistas do Partido Republicano do Povo? Por sua vez, em “guerra contra Gülen”, Erdoğan procurou o apoio dos militares — de má memória para as suas bases.
 
(Fonte: Público)