21 junho 2013

Manifestantes em tribunal e tensão entre Ancara e Berlim

As autoridades turcas levaram a tribunal, em Ancara, 26 pessoas detidas esta sexta-feira pelo envolvimento nos protestos antigovernamentais nas últimas semanas.
No exterior do tribunal, centenas de manifestantes mostravam apoio aos detidos.
Segundos grupos de defesa dos direitos humanos, mais de três mil pessoas foram detidas desde o início da contestação. Várias dezenas continuam na prisão e pelo menos seis foram formalmente acusadas.
Alvo dos protestos populares, o primeiro-ministro reuniu 15 mil apoiantes no bastião conservador de Kayseri. Um comício de campanha para as próximas eleições municipais, mas onde Recep Tayyip Erdoğan não perdeu a oportunidade de voltar a criticar os contestatários.
No plano diplomático, a Turquia ameaça a Alemanha de represálias, enquanto o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros convocou o embaixador turco em Berlim. Tudo isto depois do ministro turco dos Assuntos Europeus ter acusado a chanceler Angela Merkel de tentar bloquear o processo de negociação da adesão de Ancara ao bloco comunitário.
 
(Fonte: Euronews)

20 junho 2013

Batalha do Silêncio

A natureza dos protestos mudou na Turquia. Depois de três semanas de confrontos, os lugares simbólicos das manifestações foram desocupados e o silêncio reina na rua, mas é um silêncio mais forte do que qualquer grito: o desejo da democracia manifesta-se de outro modo. “As pessoas só pedem liberdade. A liberdade é o bem mais precioso para um homem. Se alguém não tem liberdade, significa que não tem dignidade.”
O movimento de protesto que partiu de um punhado de militantes ecologistas no passado dia 31 de Maio ganhou, em poucos dias, uma enorme amplitude, assim como a repressão policial. Centenas de detenções, milhares de feridos, proibição de manifestações, detenções arbitrárias. O chefe do Governo turco tenta lidar com a crise, que se transformou rapidamente num protesto contra a sua política, alternando firmeza, provocação e conciliação, para, de novo, impôr a mão de ferro. Mas a receita, segundo o analista Doğu Ergil custou a Recep Tayip Erdoğan uma parte do capital político. “A popularidade de Erdoğan não mudou grande coisa, mesmo que tenha sido beliscada. A sua liderança não está em questão, é o seu Governo que mudou e as pessoas não esperavam. A sociedade turca, ou pelo menos uma parte dela, está a mostrar claramente que não quer um grande Irmão no poder.” As sondagens indicam que se houvesse eleições agora, o AKP seria eleito de novo, mas com menos votos, porque esta crise custou-lhe parte da credibilidade que tinha. E mesmo que metade do país apoie Erdoğan, a decepção é visível entre os próprios apoiantes. Uns reconhecem o desenvolvimento do país: “Há dez anos, as ruas de todas as cidades do país estavam cheias de lixo. A Turquia não era suficientemente desenvolvida. Agora estamos muito melhor e temos avançado tanto a nível internacional como a nível nacional, graças à nossa economia e às nossas relações internacionais.” Outros, queixam-se da repressão: “Estes dias tive de caminhar através do gás lacrimogénio para ir trabalhar, com os olhos a arder. Não merecemos isto. Votamos nele, mas se me pergunta agora se acho que ele merece estar onde está, eu acho que não, que não merece.”
O Governo de Erdoğan está a reagir muito mal à resistência pacífica e silenciosa em curso na Turquia, conhecida como “homem de pé”.
 
(Fonte: Euronews)

A Prosperidade da Turquia

O crescimento de longo prazo deriva de políticas monetárias e orçamentais prudentes, da vontade política para regular os bancos e de uma combinação de fortes investimentos públicos e privados em infra-estruturas, habilidades e tecnologias de ponta. Uma recente visita à Turquia recordou-me do seu enorme sucesso económico durante a última década. A economia tem crescido rapidamente, a desigualdade está a diminuir e a inovação a aumentar.
As conquistas da Turquia são ainda mais notáveis quando consideramos a sua vizinhança. Os seus vizinhos no oeste, o Chipre e a Grécia, estão no epicentro da crise da Zona Euro. O sudeste é devastado pela guerra na Síria, que já levou cerca de 400 mil refugiados para a Turquia. A leste, tem o Iraque e o Irão. E a nordeste, tem a Arménia e a Geórgia. Se há uma vizinhança mais complicada no mundo, seria difícil encontrá-la. No entanto, a Turquia tem feito progressos notáveis no meio desta região em convulsão. Depois de uma acentuada quebra em 1999-2001, a economia cresceu 5% por ano, em média, de 2002 a 2012. Permaneceu em paz, apesar das guerras regionais. Os seus bancos evitaram o ciclo de altos e baixos da década anterior, tendo aprendido com o colapso do sistema bancário de 2000-2001. A desigualdade tem diminuído. E o Governo ganhou três eleições consecutivas, cada vez com uma maior percentagem do voto popular. Não há nada de chamativo na expansão da Turquia, que tem sido baseada em fundamentais económicos e não em bolhas ou descobertas de recursos. De facto, a Turquia não tem os recursos de petróleo e gás dos seus vizinhos, mas compensa esta carência com a competitividade da sua indústria e serviços. O turismo sozinho atraiu mais de 36 milhões de visitantes em 2012, fazendo da Turquia um dos principais destinos turísticos do mundo. Mesmo uma breve estadia em Ancara permite ver a força destas bases. O aeroporto, as auto-estradas e outras infra-estruturas são de primeiro nível; e uma rede ferroviária intercidades de alta velocidade liga Ancara a outras partes do país. Grande parte da engenharia avançada é de desenvolvimento local. As empresas de construção turcas são internacionalmente competitivas e ganham cada vez mais concursos no Médio Oriente e África. Também as universidades turcas estão a crescer. Ancara tornou-se um centro do ensino superior, que atrai estudantes de África e Ásia. Muitos programas de topo são em inglês, assegurando que a Turquia atrai um número cada vez maior de estudantes internacionais. E das universidades do país surgem cada vez mais empresas de alta tecnologia na aviação, tecnologia de informação e electrónica avançada, entre outras áreas. Há que destacar também que a Turquia começou a investir em força em tecnologias sustentáveis. O país é rico em energia eólica, geotérmica e outras energias renováveis e deverá tornar-se um exportador global de inovações avançadas em tecnologia ecológica. Tipicamente, as instalações de tratamento de lixo não são atracções de turistas, mas o novo sistema de gestão de lixo urbano integrado de Ancara tem atraído a atenção mundial e com razão. Até há uns anos, o lixo era despejado num aterro mal cheiroso e insalubre. Agora, com a utilização de tecnologia avançada, tornou-se numa área verde. A empresa privada de gestão de lixo ITC recebe milhares de toneladas de resíduos sólidos municipais por dia. O lixo é separado em material reciclável (plástico e metal) e lixo orgânico. O lixo orgânico é processado numa fábrica de fermentação, produzindo adubo e metano, que é usado para produzir electricidade numa fábrica de energia de 25 megawatts. A electricidade é injectada na rede de energia da cidade e o calor dos escapes é canalizado para estufas da instalação, que produzem tomates, morangos e orquídeas. A diversificada e inovadora base de indústria, construção e serviços da Turquia rende grandes benefícios num mundo em que as oportunidades de mercado estão a mudar dos Estados Unidos e Europa Ocidental para África, Europa Oriental, Médio Oriente e Ásia. A Turquia tem sido hábil em aproveitar estas novas oportunidades, com as exportações a aumentarem cada vez mais para o sul e leste para as economias emergentes, mais do que para o oeste para mercados de elevados rendimentos. Esta tendência vai continuar, com a África e a Ásia a tornarem-se importante mercados para as empresas de construção, tecnologias de informação e inovação em tecnologia ecológica da Turquia. Então, como é que a Turquia o fez? Em primeiro lugar, o primeiro-ministro Tayyip Erdoğan e a equipa económica, liderada pelo vice primeiro-ministro Ali Babacan, voltaram ao básico e adoptaram uma visão de longo prazo. Erdoğan chegou ao poder em 2003, depois de anos de instabilidade de curto prazo e de crises bancárias. O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi chamado para um resgate de emergência. Passo a passo, a estratégia de Erdoğan-Babacan foi reconstruir o sector bancário, manter o orçamento sob controlo e investir de forma intensa e consistente onde é necessário: infra-estruturas, educação, saúde e tecnologia. A diplomacia inteligente também ajudou. A Turquia manteve-se fiel a uma postura moderada numa região de extremismos. Manteve uma porta aberta e uma diplomacia equilibrada (na medida do possível) com as principais potências nas suas vizinhanças. Isso ajudou a Turquia não apenas a manter o seu equilíbrio interno, mas também a ganhar mercados e conservar os aliados, sem o peso e os riscos de divisões geo-políticas. Sem dúvida, não é garantido que a Turquia consiga manter-se sempre nesta trajectória de rápido crescimento. Qualquer combinação de crises – Zona Euro, Síria, Iraque, Irão ou o preço internacional do petróleo – pode criar instabilidade. Outra crise financeira global pode interromper os fluxos de capital de curto prazo. Uma vizinha perigosa significa riscos inevitáveis, embora a Turquia tenha demonstrado uma capacidade notável, ao longo da última década, para os superar. Além disso, o desafio de aumentar a qualidade educativa e os resultados dos estudantes, especialmente para raparigas e mulheres, continua a ser uma prioridade. Felizmente, o Governo tem reconhecido claramente o desafio da educação, o qual tem perseguido através de reformas escolares, aumento dos investimentos e introdução de novas tecnologias de informação nas salas de aulas. Os sucessos da Turquia têm raízes profundas na capacidade governamental e nas habilidades das suas gentes, reflectindo décadas de investimento e séculos de história que remontam ao tempo do Império Otomano. Outros países não podem simplesmente copiar estas realizações, mas podem aprender as principais lições que são frequentemente esquecidas num mundo de "estímulos", bolhas e pensamento de curto prazo. O crescimento de longo prazo deriva de políticas monetárias e orçamentais prudentes, da vontade política para regular os bancos e de uma combinação de fortes investimentos públicos e privados em infra-estruturas, habilidades e tecnologias de ponta. (Fonte: Jornal de Negócios/Project Syndicate)

15 junho 2013

Polícia turca expulsou os manifestantes de Gezi

Está terminado. No parque Gezi, em lugar dos manifestantes, polícias sentam-se à porta das tendas, fumam cigarros juntos às bancas anarquistas. Não passaram mais de duas horas, desde o momento em que a força de intervenção começou o ataque e aquele em que todos os ocupantes tinham fugido. Às 11 horas da noite toda a área estava cercada, todos os acessos bloqueados. A zona de Taksim estava coberta de fumo e de silêncio. Ouvia-se apenas o som de sirenes de ambulâncias ao longe.
A polícia de intervenção lançou o ataque cerca das 9 da noite, disparando canhões de água e granadas de gás lacrimogéneo, lançando em fuga e pânico os milhares de manifestantes. De forma lenta e sistemática, avançou por entre o arvoredo, tendas e toda a “mobília” que os manifestantes deixaram para trás, após duas semanas de ocupação do parque.
O alarme foi dado às 8 da noite. Correu célere entre os manifestantes que ocupavam o parque Gezi. “Os polícias estão a levantar-se”, disseram. “Estão a preparar-se para atacar”. Os planos de emergência começaram imediatamente a ser colocados em prática. As máscaras anti-gás foram colocadas, abertos os corredores de segurança. Os vendedores de equipamento anti-gás lacrimogéneo despachavam freneticamente as últimas bugigangas.
“É falso alarme”, disse Cenolut, de 34 anos, sem colocar a máscara. “O primeiro-ministro, Erdoğan, disse num comício que limparia o parque amanhã. Portanto será amanhã, não hoje. E amanhã já não estará aqui quase ninguém”.
Muitos manifestantes estavam convencidos disto e preparavam-se para abandonar o parque amanhã, domingo.
Consideravam que a mensagem tinha sido ouvida e a sua missão cumprida. Tiveram uma surpresa.
O ataque da polícia começou pouco antes das 9 horas. Os jactos de água dos veículos blindados Toma deram o sinal. Granadas de gás foram lançadas para o interior do parque. Centenas de polícias avançaram pela praça Taksim, em direcção ao parque, como não tinham feito no ataque anterior.
Tudo se encheu de fumo, ouviram-se muitas explosões e tiros. A multidão desatou a correr em direcção ao outro extremo do parque. As granadas rebentavam junto aos seus pés. A concentração de gás pimenta tornou-se intensa, o ar irrespirável. Muitos manifestantes precisaram de assistência, outros tombaram no chão.
“Veja o que está a acontecer! Veja isto!”, gritou Yeliz, 34 anos, uma gestora de produto numa empresa privada que nos tinha dito que abandonaria o parque amanhã. “Escreva isto! Escreva! Tenho vergonha do que está a acontecer no meu país”. E desapareceu na multidão, aos tropeções.
No extremo norte do parque Gezi, os manifestantes em fuga descobriram que a polícia tinha já também tomado posições nas ruas confluentes. Os agentes envergavam os capacetes e escudos mas mantinham-se imóveis. Muitos manifestantes passaram por eles, uns aos gritos, outros entoando slogans. Os polícias deixaram-nos passar. O objectivo era esse.
Em vários pontos dos arredores de Taksim, activistas montaram barricadas, para continuar a resistência à polícia. Atiram pedras e disparam fisgas, ao que a polícia responde com gás lacrimogéneo. Toda esta zona da cidade está envolvida numa nuvem de gás tóxico.
A resistência dos activistas não tem, porém, a dimensão da que opuseram na última intervenção da polícia, terça-feira, dia 11. Nessa altura, as forças policiais ocuparam a praça Taksim, mas deixaram incólume a “zona livre” de Gezi. E era daí, do interior do parque, que chegavam as armas e os reforços para combater a polícia.
Desta vez, o parque foi evacuado, todas as ruas previamente cortadas. Sem espaço nem apoio, nenhum foco de resistência dura muito tempo.
É impossível entrar agora no parque, sob controlo da polícia. Mas segundo os testemunhos de vários activistas, a intervenção deixou muitas pessoas feridas, incluindo idosos e crianças. Os que não resistiram ao gás e às balas de borracha e ficaram em Gezi foram levados para ambulâncias, que estavam já à espera, guardadas pela polícia.
Outros feridos refugiaram-se num hotel situado no extremo norte do parque, o Hotel Divan, que abriu as portas para auxiliar os manifestantes. A polícia cercou o hotel, não permitindo entrar nem sair, mas, segundo manifestantes que estiveram lá, não entrou nem tentou deter quem ali se refugiou.
 
(Fonte: Público)

Cavaco Silva diz que confrontos na Turquia não favorecem adesão à União Europeia

O Presidente da República, Cavaco Silva, afirmou hoje que os confrontos na Turquia não favorecem "alguns capítulos que estão sobre a mesa" no processo de adesão do país à União Europeia.
"Temos de lamentar o que aconteceu nos últimos dias na Turquia, a violência da polícia em relação aos manifestantes", disse o chefe de Estado português, numa entrevista à Sic Notícias, divulgada hoje, no âmbito da sua visita esta semana ao Parlamento Europeu.
Questionado sobre os confrontos na Turquia, Aníbal Cavaco Silva elogiou as "palavras bastante sensatas" do Presidente da República da Turquia, Abdullah Gül, que disse ser "um elemento moderador", e sublinhou a importância estratégica daquele país.
"É uma ponte entre dois continentes, tem uma influência muito grande na Ásia Central, sobre o Irão e os países envolvidos no processo de paz do Médio Oriente, em países do Cáucaso e é uma possível potência económica daquela área", declarou.
No entanto, referindo-se ao processo de adesão à União Europeia, o Presidente português considerou que "negociações são negociações".
"Há que respeitar os valores e os princípios e ajustar as políticas da Turquia às políticas comuns da Europa. Portugal apoia a adesão da Turquia, reconheço que as negociações são difíceis e que aquilo que aconteceu nos últimos dias não deve ter favorecido alguns capítulos que estão sobre a mesa ou que se pensava que podiam estar sobre a mesa", disse.
Cavaco Silva reforçou que "há valores e princípios fundamentais que é preciso serem respeitados por todos os que fazem parte desta União Europeia".

(Fonte: SIC Notícias)

"Indignados" asseguram que vão continuar a resistir

Os "indignados" turcos anunciaram hoje que continuarão a "resistência" contra "todo o tipo de injustiças", embora sem especificar se isso significa manter o acampamento no parque Gezi, em Istambul, epicentro dos protestos que sacodem a Turquia há duas semanas. A posição foi divulgada em comunicado, citado pelas agências EFE e AFP.
Segundo fontes da parte dos manifestantes, a maioria dos grupos políticos retirou as suas tendas e manter-se-á apenas uma tenda da rede Solidariedade com Taksim, o movimento que actua como porta-voz dos manifestantes, bem como algumas tendas de activistas ambientalistas.
Os ocupantes do parque Gezi, de onde partiu um movimento de contestação popular sem precedentes na Turquia desde 2002, anunciaram a continuação da luta.
"Hoje somos bem mais fortes, organizados e optimistas do que há 18 dias", quando um pequeno grupo de militantes ecologistas começou a acampar para se opor a um projeto desenvolvido pelas autoridades e que previa a destruição do parque, dizem no comunicado.
O primeiro-ministro turco, Recep Erdoğan, considerou na sexta-feira que a ocupação do parque Gezi em Istambul devia acabar durante a noite, após a promessa aos manifestantes de suspender o polémico projecto urbanístico, e convocou os seus apoiantes para comícios no fim-de-semana.

(Fonte: Lusa/SIC)

12 junho 2013

Quatro televisões da Turquia multadas por transmissão dos protestos

Quatro canais da televisão turca foram multados pela entidade reguladora da rádio e televisão por transmitirem os protestos no parque Gezi e na praça Taksim, em Istambul, noticiou hoje o diário Hürriyet na sua página na internet.
O Conselho Superior da Rádio e Televisão da Turquia (RTUK) indicou ter aplicado as multas porque as emissoras "prejudicaram o desenvolvimento físico, moral e mental das crianças e jovens" ao transmitirem os protestos na zona do parque Gezi.
As televisões multadas são a Halk TV, a Ulusal TV, a Cem TV e a EM TV.
A Halk TV, em particular, registou nos últimos dias picos de audiência por ser a única a transmitir em contínuo, quase sempre em directo, as manifestações que há treze dias se registam em Istambul.
O regulador já tinha advertido antes a Halk TV por emitir um vídeo considerado "humilhante" para o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan.
O canal, segundo o Hürriyet, segue uma linha ideológica "kemalista" - relativa ao primeiro presidente da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk - e é considerado próximo do Partido Republicano do Povo (oposição).
Os grandes canais de notícias turcos têm sido criticados, sobretudo depois de, no primeiro sábado de manifestações, a CNN-Turquia emitir um documentário sobre pinguins enquanto se registavam violentos confrontos entre a polícia e manifestantes na praça Taksim.
O pequeno canal Ulusal TV, um dos multados, "respondeu" dias mais tarde interrompendo a transmissão em directo de um discurso de Erdoğan para transmitir imagens de pinguins.
Nos últimos dias, e depois das críticas, a cobertura dos protestos tem sido mais frequente e a edição digital do diário Radikal, próximo da oposição, oferece imagens em directo 24 horas da praça Taksim.
A praça, vizinha do parque Gezi, estava hoje de manhã relativamente calma, apesar de ao longo de toda a madrugada se terem registado confrontos entre a polícia e manifestantes.
Um forte dispositivo policial mantinha-se na praça, com os polícias alinhados atrás dos canhões de água estacionados frente a cada uma das ruas adjacentes.
A polícia tomou de assalto na terça-feira de manhã a praça Taksim, onde milhares de manifestantes permaneciam desde 01 de Junho. Os confrontos com a polícia prolongaram-se por várias horas, numa batalha que terminou com dezenas de feridos, alguns em estado grave. Ao princípio da noite, milhares de manifestantes regressaram à praça.
Na capital, Ancara, a polícia interveio na terça-feira à tarde para dispersar cerca de 5.000 pessoas que se manifestavam para exigir a demissão do primeiro-ministro.
Hoje de manhã, a polícia tentava dispersar várias dezenas de manifestantes que se mantinham no parque Kuğulu, no centro de Ancara.
Erdoğan tem previsto receber hoje à tarde (14:00 em Lisboa) uma delegação de duas dezenas de representantes dos manifestantes. No entanto, a lista de representantes estabelecida pelas autoridades é contestada por algumas das organizações ligadas aos protestos, nomeadamente a plataforma de 116, na origem do movimento de protesto em Istambul, que não consta da lista.
Outros movimentos, como a organização ambientalista Greenpeace, recusaram o convite em protesto contra a actuação da polícia na terça-feira e a intransigência de Erdoğan, que na terça-feira voltou a definir os manifestantes como "extremistas" e a recusar qualquer tolerância.
Segundo o mais recente balanço divulgado pelo sindicato dos médicos turcos, a vaga de protesto fez quatro mortos, três manifestantes e um polícia, e perto de 5.000 feridos, várias dezenas dos quais em estado grave.
A vaga de protestos começou depois de, a 31 de Maio, a polícia ter recorrido à força para dispersar uma manifestação contra a construção de um centro comercial no parque Gezi. Essa carga policial desencadeou uma série de grandes manifestações em toda a Turquia exigindo a demissão de Erdoğan, no poder desde 2002.
 
(Fonte: Lusa/ RTP)

Primeiro-ministro diz que protestos acabarão “em 24 horas”

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, anunciou ter dado ordens ao ministro do Interior para acabar com as manifestações que duram há 12 dias e provocaram quatro mortos: três manifestantes e um polícia.
“Isto estará acabado em 24 horas”, disse Erdoğan, afirmando que as forças de autoridade terão uma actuação diferente do que até aqui, mas que os manifestantes não devem ser magoados.
O governante esteve reunido com 11 representantes dos manifestantes, num encontro que terminou com a possibilidade de um referendo entre os habitantes de Istambul em relação ao destino do parque Gezi.
“O resultado concreto da reunião é o seguinte: podemos levar este assunto a referendo. Não para a Turquia inteira, mas perguntaremos aos cidadãos de Istambul”, resumiu Hüseyin Çelik, porta-voz do partido no poder, o AKP, citado pelo jornal turco de língua inglesa Hurriyet Daily News.
Çelik apelou ao fim dos protestos: “Dirijo-me aos meus jovens irmãos que protestam, dormem, comem e bebem no parque Gezi. Dada esta decisão sobre a possibilidade de um referendo, creio que, depois deste gesto de boa vontade, o parque Gezi deve ser esvaziado e a vida deve voltar ao normal”.
 
(Fonte: Público)

11 junho 2013

Erdoğan acusa manifestantes de golpe de Estado encapuzado

O primeiro-ministro turco acusa os manifestantes da Praça Taksim de prejudicarem “deliberadamente” a imagem e a economia da Turquia.
Recep Tayyip Erdoğan, que discursou perante o grupo parlamentar do seu partido, o AKP, vai mesmo mais longe e acusa-os de tentativa encapuzada de golpe de Estado. “Podem plantar árvores, podem fazer tudo isso, não há obstáculos. Mas apresentar a situação como se houvesse obstáculos à liberdade é uma tentativa de encontrar alternativas ao que não conseguiram fazer nas mesas de voto. As questões ambientais são usadas para diferentes acções, diferentes objectivos e mentalidade, mas também são usadas para disfarçar um levantamento ilegal contra um Governo democraticamente eleito”, afirmou Erdoğan. O discurso de Erdoğan, muito aplaudido pelo seu partido, ocorreu poucas horas depois de a polícia ter desalojado, pela força, os manifestantes que, há cerca de uma semana, assentaram arrais na praça Taksim, em Istambul.
 
(Fonte: Euronews)

08 junho 2013

As manifestações na Turquia no traço de ilustradores portugueses

 
A violência das imagens que passam nas televisões, que se vêem nas redes sociais e nas notícias online; as conversas com os amigos turcos fizeram um colectivo de ilustradores portugueses despertar para o que se está a passar na Turquia por estes dias.
Aquilo que começou por ser um protesto pacífico contra os planos de remodelação do Parque Gezi, no último dia de Maio, transformou-se num protesto diário contra o Governo de Recep Tayyip Erdoğan, em parte devido à intervenção violenta da polícia sobre os manifestantes.
Os canhões de água e o gás pimenta usado para dispersar os manifestantes têm corrido mundo em fotografias que começam a tornar-se simbólicas e que revelam a violência que se vive naquele país, acredita um grupo de ilustradores de Lisboa, Porto e Coimbra que, de forma espontânea e numa semana, expressaram no papel, através da ilustração, os dias que se vivem na Turquia.
O conjunto das ilustrações dos 13 artistas chama-se "Ilustrações para a Turquia: Pelo direito à liberdade, à justiça e à protecção do Estado". O objectivo é manifestar "através do seu trabalho, a solidariedade devida a quem, pondo em risco a própria vida, defende por estes dias na Turquia os direitos da Humanidade", escreve Pedro Rodrigues, porta-voz do colectivo de ilustradores, num texto enviado ao PÚBLICO.
Pedro Rodrigues recorda que os órgãos de comunicação social turcos não passam a informação e ignoram os acontecimentos, recorda que o acesso à Internet e às comunicações móveis foi bloqueado pelo Governo. Por isso, o colectivo criou uma página no Facebook, onde procuram passar informação. É nessa página que estas ilustrações serão publicadas. O próximo passo é editá-las num fanzine. "Queremos usar todos os meios para conseguir a maior divulgação possível, para que as pessoas em Portugal tomem consciência do que se está a passar numa sociedade democrática. É uma questão de direitos humanos, é uma questão universal", explica o porta-voz em entrevista ao PÚBLICO.
"Estes alertas são importantes para não esquecermos o que se passa à nossa volta. Se quisermos pensar em nós [portugueses], o que se está a passar na Turquia é um sinal importante. Trata-se de um Governo legitimamente eleito, em democracia, que assume atitudes de estado autoritário e ditatorial. Isto deve fazer-nos reflectir", conclui Pedro Rodrigues.
 
(Fonte: Público)

07 junho 2013

Erdoğan exige fim “imediato” dos protestos

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, regressou ao país nas primeiras horas desta sexta-feira e exigiu o fim imediato das manifestações que pedem a sua demissão. “Estes protestos que estão no limite da ilegalidade devem acabar já”, disse Erdoğan, citado pela BBC, no aeroporto de Istambul. O primeiro-ministro turco foi ainda mais longe, segundo a AFP, e afirmou que os protestos “perderam o seu carácter democrático” e cederam “ao vandalismo”. Recebido por milhares de apoiantes no aeroporto – que gritavam “Estamos prontos para morrer por ti, Tayyip" ou "Vamos lá esmagá-los todos” –, Erdoğan apelou à calma e ao bom senso. “Vão para casa pacificamente”, pediu o chefe de Governo. A recepção a Erdoğan, que esteve de visita a países do Magrebe, é a primeira manifestação de apoio ao primeiro-ministro, desde o início dos protestos há uma semana. Enquanto o primeiro-ministro regressava a casa, prosseguiam as manifestações, especialmente na Praça Taksim, em Istambul, local que esteve na origem do protesto – ali ao lado o Parque Gezi dará lugar a um centro comercial numa recriação de uma caserna militar otomana. Antes de regressar a Istambul, Erdogan já tinha dito em Tunes que não recuará nos seus planos de construir a caserna e que as manifestações são feitas por uma minoria, em que estão terroristas.
 
(Fonte: Público)

06 junho 2013

Há Portugueses a desenhar nos protestos de Istambul



Chegou à Turquia a 30 de Maio, um dia antes da onda de protestos ter rebentado, em Istambul. Luís Simões está a fazer uma viagem pelo mundo, a World Sketching Tour, e ficou surpreendido com o que viu na praça Taksim, naquela cidade. “Pelas artérias até Taksim havia muitas pessoas, ouviam-se gritos, alguns turistas bebiam cervejas tranquilamente, inconscientes do que se passava”, relata.

O que se passava era uma das várias manifestações na cidade turca. Começaram por ser contra a decisão de construção de um centro comercial no parque Gezi — um acampamento pacífico — e evoluíram para demonstrações de descontentamento com o governo de Recep Tayyip Erdoğan.

“A violência da carga policial da madrugada de 31 de Maio, recorrendo a gás-pimenta [sobre o acampamento pacífico], levou a que milhares se juntassem durante o dia para protestar contra a actuação da polícia”, relata Pedro Fernandes, a viver em Istambul desde 2012, junto a Taksim. “Decidi fazer a cobertura desenhada do que se passava para registo futuro e para partilhar com a comunidade de desenhadores Urban Sketchers.”

“O cenário de guerra está montado entre Taksim e Beşiktaş e todas as noites existem manifestações grandes nessa zona, assim como pequenos movimentos por toda a parte em Istambul”, diz Luís. Os dois portugueses — um recém-chegado, o outro já habituado à cidade — estiveram juntos a desenhar, após os confrontos com a polícia, no bairro de Beşiktaş, e ainda sofreram as consequências do gás-pimenta.

Para Luís foi “impressionante” poder registar, no papel, o que acontecia. “A minha mão tremia muito e foi difícil estar concentrado [...] Havia o medo de que a polícia voltasse a atacar a praça e corria o perigo de ficar ali preso”, descreve. “A verdade é que ainda não consegui digerir bem tudo o que está a acontecer e sempre que olho para o desenho fico incomodado.”

Um domingo (quase) normal em Gezi
Depois de sexta-feira e sábado (31 de Maio e 1 de Junho, respectivamente) terem sido dias agitados, Pedro decidiu passar pelo Parque Gezi — cuja hipótese de destruição despoletou os protestos — “para ver como estavam as coisas”, no domingo. “O ambiente era ‘piqueniqueiro’, muitas famílias tinham trazido as crianças para brincar no parque infantil”, retrata.

Enquanto isso, em Taksim, “jaziam carcaças de automóveis” e as pessoas “passavam em frente das retro-escavadoras esventradas”. “Tentei desenhar o enorme aparato policial em Beşiktaş, mas sempre com bastante prudência e discrição. Houve tantas detenções e espancamentos aleatórios nestes últimos dias... — e eu nenhuma vontade tinha em fazer parte dessa estatística”, confessa Pedro.

A reacção de quem passa e vê pessoas a desenhar “varia muito”: muitos acham “curioso” e param para olhar, outros fotografam, refere Pedro. Há quem tente conversar num misto de “turco inglês e até alemão” e quem “peça desculpa pela actuação da polícia”. Uma perguntou-lhe, ao saber que era estrangeiro, se teve medo. “Só da polícia”, respondeu.

Neste momento, diz, vive-se um impasse. “O primeiro-ministro recusa demitir-se, rejeita o recuo na construção do empreendimento de Taksim e acusa os manifestantes de serem anti-democráticos e estarem a ser manipulados pela oposição”, esclarece. Os manifestantes mantêm o cerco ao palácio de Dolmabahçe e as manifestações continuam em várias cidades turcas — as mais violentas em Istambul e Ancara.
 
(Fonte: Público)

05 junho 2013

Concentração em Lisboa solidária com protestos

Um grupo de percussionistas marcou nesta quarta-feira o ritmo de uma concentração frente à embaixada da Turquia em Lisboa sob o lema “Somos Todos Turcos”, em solidariedade com a “heróica luta e resistência do povo da Turquia”.
Cerca de 100 pessoas, sobretudo jovens e onde se incluíam diversos estudantes turcos, responderam ao fim da tarde ao apelo da Plataforma 15 de Outubro, que mobilizou o protesto através das redes sociais.
Na Avenida das Descobertas, onde se concentram diversas embaixadas, um grupo de polícias observava junto à representação turca a concentração que decorria no lado oposto da alameda, e onde se exibiam bandeiras turcas e numerosos cartazes, alguns a apelaram aos condutores para buzinarem em sinal de solidariedade.
“Apitem por Istambul”, era um dos placares exibidos por uma efusiva manifestante com um longo vestido vermelho com o crescente branco da bandeira turca, num incentivo aos condutores. Muitos aceitaram o desafio.
“Dayanisma/Solidariedade”, “A Liberdade é Laica”, “Parem a violência contra a democracia”, “Fim à censura dos media. Fim dos ataques à democracia”, os dois últimos cartazes escritos em inglês, dançavam ao ritmo dos batuques os percussionistas, com o ritmo imposto por um jovem com apito.
“O objectivo é demonstrar solidariedade (…) também estamos contra o nosso Governo tal como eles estão, e vimos prestar solidariedade, temos esse ponto em comum. Enquanto o povo turco estiver na rua a lutar heroicamente e com coragem pelos seus direitos será um exemplo para nós, e queremos mostrar-lhes que estamos solidários ”, disse à Lusa Sofia Rajado, da Plataforma 15 de Outubro. “Na sexta-feira há outro acto de solidariedade aqui, e também estaremos presentes”, acrescentou.
A concentração ocorreu seis dias após o início dos confrontos no Parque Gezi, perto da Praça Taskim em Istambul, na sequência da mobilização de diversos grupos da sociedade civil contra um controverso plano urbanístico.
De imediato, e após a violenta intervenção policial que provocou dezenas de feridos, o protesto ganhou uma dimensão política e com dimensão nacional contra o Governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, que desde 2002 lidera um Executivo islamita-conservador.
“Todos os que conheço, a minha família, namorada, amigos estão na resistência, a resistir à violência da polícia, e todos os dias são gaseados pela polícia. Estamos aqui para fazer parar esta violência da polícia e as políticas de Erdoğan”, refere com convicção Ozhan, 25 anos e que frequenta um doutoramento na Fundação Gulbenkian.
“Os protestos decorrem em todas as cidades da Turquia, são milhões em todas as ruas, mas os principais media turcos ignoram-nos. Não mostram nada, apenas belos documentários num belo contexto, enquanto milhões de pessoas estão nas ruas”, denuncia.
Ozhan recusa que a Turquia esteja agora fracturada em dois campos opostos. “São pessoas que procuram a sua liberdade, os direitos democráticos, os direitos humanos básicos, como a liberdade de expressão”, assegura.
“Não podemos falar em eleições livres se não existirem media livres no país. É verdade que Erdoğan foi eleito por 50% dos eleitores, mas isso não lhe dá o direito de oprimir a outra metade do povo. Este movimento começou contra a destruição de árvores no parque, começou verde mas agora tem todas as cores”, frisou.
Essa perspectiva era partilhada por Ali, 32 anos, que frequenta um doutoramento no Instituto Champalimaud. Natural de Ancara, considera que a repressão vai agora acentuar na capital turca.
“Existe a preocupação de que o Parlamento ou a presidência sejam atacados, mas a questão tem a ver com democracia, com escutar a opinião dos outros, porque vivemos todos no mesmo país”, declarou.
 
(Fonte: Público)

Os protestos continuam e utilizadores do Twitter são detidos



A contestação voltou à rua na Turquia, na noite de terça para quarta-feira, horas depois de o vice-primeiro-ministro, Bulent Arınç, ter pedido desculpa aos manifestantes feridos nos protestos contra as políticas islamizadoras do Governo.
Em Istambul e Ancara, a polícia usou gás lacrimogéneo e canhões de água para tentar dispersar centenas de manifestantes que, em ambas as cidades, ignorando ordens para dispersar, procuraram, segundo a AFP, chegar às instalações onde funcionam os gabinetes do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan.
Em Esmirna, a intervenção policial foi de outra natureza: 25 detenções por difusão de “informação errada” na rede social Twitter, noticiou a agência Anatólia. No domingo, Erdoğan tinha considerado o site de microblogging uma “ameaça” que estava a ser usada para espalhar “mentiras”.
Um dirigente do Partido Republicado do Povo (CHP), Ali Engin, disse que os detidos estavam a “apelar às pessoas para protestarem”.
Em Istambul, antes da intervenção policial, milhares de pessoas tinham-se concentrado na Praça Taksim, centro simbólico das manifestações em Istambul, num ambiente descrito pela BBC como de quase festa, devido ao discurso em que Arınç considerou os protestos “justos e legítimos” e lamentou o “excessivo uso da força” – embora tenha acrescentado que as manifestações foram entretanto tomadas “por elementos terroristas” e apelado ao seu fim.
Na que foi a quinta noite de protestos, houve também confrontos na cidade de Hatay, no Sudeste. A televisão privada NTV noticiou que dois polícias e três manifestantes ficaram feridos. Em Esmirna, onde ocorreram as detenções de utilizadores do Twitter, o ambiente foi de festa e a polícia manteve-se à margem, apesar de alguns jovens terem, segundo um repórter da BBC, destruído câmaras e arremessado tijolos.
A confederação sindical Disk anunciou entretanto a adesão, esta quarta-feira, a uma greve de dois dias de apoio aos manifestantes iniciada na terça-feira pela central sindical Kesk, que representa cerca de 240 mil trabalhadores do sector público.
Os protestos contra as políticas islamizadoras, o autoritarismo e a repressão já causaram dois mortos – um jovem de 22 anos morreu devido a ferimentos sofridos numa manifestação antigovernamental, em Antakya, de disparos de um atirador não identificado, e um manifestante foi atropelado, na segunda-feira, em Istambul.
A associação turca de direitos humanos calcula em mais de 2800 o número de manifestante feridos, muitos com gravidade, e 791 detenções. “Cerca de 500” detidos foram posteriormente libertados. Fontes oficiais quantificam em 300 o número de feridos que dizem serem maioritariamente elementos das forças de segurança.
Em Marrocos, em visita oficial, o primeiro-ministro disse que quando regressar “os problemas estarão resolvidos”.
 
(Fonte: Público)

04 junho 2013

Algo está a acontecer na Turquia

Na Turquia, milhares de pessoas estão nas ruas a protestar contra o Governo e contra o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan. Liberais, secularistas, islamitas, esquerdistas e nacionalistas, entre outros, todos convergem para um mesmo centro gravítico de protesto. Independentemente das filiações ou simpatias políticas, religiosas ou ideológicas, todos os que discordam das políticas de intolerância do Governo cantam nas ruas "lado a lado, contra o fascismo" ou "Governo para a rua!". Erdoğan designa-os de pequeno grupo de marginais. Contudo, para além de serem aos milhares, esta multidão inclui cidadãos comuns que querem exprimir o seu descontentamento com o Governo. Os manifestantes têm tido como resposta a violência policial desmesurada e a desconsideração dos meios de comunicação turcos. Porém, devido à partilha nas redes sociais das fotos e dos vídeos da reação violenta do Governo, mais e mais pessoas saem das suas casas para se juntarem à multidão. Apesar dos protestos terem começado em Taksim, indicado nos guias turísticos como o coração de Istambul, rapidamente se alastraram a muitas outras zonas de Istambul e da Turquia.
Os protestos em larga escala foram desencadeados pelo uso desproporcionado da força policial contra um pequeno grupo de pacifistas que se manifestavam pela preservação do parque Gezi. O parque Gezi está situado na praça de Taksim e é uma das únicas áreas verdes do centro de Istambul. Os protestos começaram na segunda-feira de 27 de Maio com um assentamento pacífico, uma tentativa para impedir um projecto imobiliário que visa substituir o parque por um centro comercial. Durante vários dias e várias noites, cerca de 50 pessoas levaram a cabo um protesto que envolvia piqueniques, música e leituras. Quando a polícia usou canhões de água e puxou fogo às tendas para dispersar os manifestantes, mais pessoas se juntaram ao protesto. E quanto maior o número de manifestantes, maior o nível de violência policial. Na sexta à noite (1 de Junho), milhares de pessoas (muitas delas nunca participaram numa manifestação) saíram de casa e encheram Taksim. E foram para Taksim mesmo sabendo que teriam que enfrentar o gás lacrimogéneo, usado de forma regular pela polícia turca nas manifestações do último mês. Como previsto, tiveram de aguentar com o gás. Enquanto a polícia cercava a zona de Taksim, e usava gás lacrimogéneo em todas as ruas daquela zona da cidade, as multidões cantavam: "venha o gás, venha o gás! Tirem os capacetes e larguem o bastão para ver quem é mais duro". Entretanto, mais pessoas começaram a encher as praças de outras cidades turcas. Nas áreas residenciais gente de todas as idades saiu para a rua a bater em tachos e panelas. No momento em que estas palavras estão a ser escritas, as manifestações, a violência policial e a negação do caráter maciço deste protesto por parte de Erdoğan continuam.
Protestos desta dimensão nunca poderiam ter como causa única a questão do parque Gezi. O descontentamento na sociedade turca tem vindo a crescer com a intensificação dos ataques a todo o tipo de oposição ao partido do governo (AKP - Partido da Justiça e do Desenvolvimento). O AKP, fundado em 2001 por membros dos partidos islamitas anteriormente ilegalizados, definiu-se como um partido conservador democrata e assegurou que seria o pioneiro da democracia e da tolerância. Em 2002 venceram as eleições com 34% dos votos e formaram um Governo de partido único. Em 2007 aumentaram a base de apoio para 43% dos votos. E em 2011 chegaram aos 50%. Este sucesso traduziu-se em grandes níveis de confiança nos membros do Governo. O líder do partido, e primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, referiu várias vezes "o meu povo votou em mim, eu tenho a autoridade popular. Não preciso de pedir autorização a ninguém para levar a cabo as minhas políticas". O sucesso eleitoral do AKP foi acompanhado por um período de estabilidade e progresso económico. Durante os seus mandatos a economia recuperou da crise turca de 2001, a Turquia tornou-se na 16.ª economia mundial e conseguiu recuperar dos efeitos da crise financeira mundial. No entanto, os resultados económicos tiveram como contrapartida o aumento da intolerância à crítica política. As prisões e as detenções generalizadas de jornalistas e estudantes que criticam o Governo foram um dos maiores exemplos de intolerância à oposição. Actualmente, existem mais de 100 jornalistas detidos/presos/condenados devido às suas opiniões, publicações e, nalguns casos, pré-publicações. Como referido num artigo dos Jornalistas sem Fronteiras, " A Turquia é neste momento a maior prisão do mundo para jornalistas, um triste paradoxo para um país que se apresenta como um modelo regional de democracia".
As restrições oficiais à celebração dos feriados nacionais na Turquia têm sido um motivo de preocupação para os secularistas republicanos. Em Outubro de 2012, a proibição governamental da caminhada, levada a cabo por cidadãos e altos-cargos oficias, ao Mausóleu de Kemal Atatürk, fundador da Republica Turca, no Dia da Republica Turca, gerou uma grande sublevação nacional. As pessoas que ainda assim decidiram visitar o túmulo de Ataturk com bandeiras da Turquia na mão, depararam-se com o bloqueio policial e com gás lacrimogéneo. O líder do maior partido da oposição o CHP (Partido Popular Republicano, conhecido como o partido de Atatürk por ter sido fundado por este) também estava entre a multidão.
O 1.º de Maio, o Dia do Trabalhador, também sofreu restrições. O governador de Istambul proibiu todo tipo de celebração ou manifestação na praça de Taksim, vista desde há muito como um local símbolo da resistência e da liberdade. Para impedir o acesso a Taksim, os transportes públicos foram suspensos e o acesso a uma ponte pedonal foi bloqueado.
Outro aspecto que alimenta a crescente revolta contra o possível desaparecimento do parque Gezi está relacionada com a política governamental continuada de destruição de monumentos históricos e culturais em Istambul. Recentemente, os históricos cinema Emek e a pastelaria Inci, reconhecidos como património de Taksim, foram demolidos apesar do desagrado da população. A polícia usou gás lacrimogéneo num pequeno grupo de manifestantes pacíficos pela salvaguarda do cinema Emek, um grupo de artistas que incluía actores e actrizes nacionais famosos. De facto, o uso excessivo de gás lacrimogéneo, canhões de água e bastões em manifestantes tem vindo a tornar-se tão usual que, ainda antes dos protestos do parque Gezi se terem iniciado, um cidadão dos EUA residente na Turquia queixou-se de ter sido sujeito a gás lacrimogéneo por três vezes numa semana enquanto se dirigia a pé para o local de trabalho em Taksim.
Outro factor de agravamento da insatisfação popular tem sido a percepção de crescente intromissão governamental no estilo de vida da população. Esta tomada de consciência foi agravada no início da semana passada quando o Parlamento turco aprovou leis para restringir o consumo de bebidas alcoólicas. Na mesma altura houve um "protesto de beijos" em Ancara contra as advertências dadas pelos maquinistas do metro para que os passageiros "agissem de acordo com as leis morais".
Por último, o silêncio dos meios de comunicação social turcos relativamente aos protestos do parque Gezi tem contribuído de forma significativa para a intensificação do mal-estar da população. No fim de semana não houve cobertura jornalística dos milhares de manifestantes atingidos em várias cidades turcas com gás lacrimogéneo, balas de borracha e jactos dos canhões de água. As redes sociais foram (e, em grande medida, continuam a ser) a única via de comunicação para os manifestantes. Quem não tem acesso à internet muitas vezes ignora o que está a ocorrer nas suas próprias cidades. Um jovem escreveu no facebook: "Eu vivo em Taksim, nos últimos dois dias a minha casa tem estado cheia de gás lacrimogéneo, e os meus pais não me ligaram uma única vez porque não fazem ideia do que se está a passar."
A mobilização de pessoas através das redes sociais não foi bem acolhida pelo primeiro-ministro. Erdoğan declarou inclusive que "as redes sociais são uma fonte de problemas", e que aqueles que estavam a protestar não passavam de um grupo de delinquentes, marginais com ideias terroristas. Chegou ainda a ameaçar os manifestantes com a pena de morte, abolida na Turquia em 2002. Afirmou também que "para cada 100 000 manifestantes, trarei para as ruas 1 000 000 do meu partido." Erdoğan assegurou que não irá recuar e que mandará até construir uma mesquita junto ao centro comercial da praça Taksim.
Apesar de tudo, os manifestantes turcos parecem contentes. Parecem acreditar numa Turquia melhor, tolerante e democrática. Parecem apreciar o crescente sentimento de tolerância. Os adeptos de clubes de futebol rivais (quem conhece a sociedade turca sabe bem a intensidade desta rivalidade), os religiosos, os liberais, os esquerdistas, os nacionalistas, os gays, as prostitutas, os curdos, os alevis, protestam lado a lado e ajudam-se mutuamente. Os cartazes erguidos pelos manifestantes com o mote"uma árvore morre, uma nação acorda" é reveladora dos sentimentos das pessoas que inundam as ruas turcas nos dias que correm.


(Fonte: Selin Turkes/Expresso)

03 junho 2013

Protestos contra o Governo alastram

O primeiro-ministro turco, Recep Tayip Erdoğan, acusou o Partido Republicano do Povo, na oposição, de estar a manipular os manifestantes que ocuparam a principal praça de Istambul. A contestação alastra e o governante disse que não há "Primavera turca".
 
Os confrontos entre manifestantes e polícia prosseguiam esta segunda-feira, cuja madrugada foi muito violenta. A insurreição turca fez, entretanto, a primeira vítima. O sindicado dos médicos turcos anunciou a morte de uma pessoa por atropelamento, numa auto-estrada perto de Istambul por onde caminhavam manifestantes. A Reuters diz que o condutor do automóvel se lançou contra os manifestantes, o El País conta que se tratou de um despiste de um taxista devido à presença de gente naquela via de circulação rápida.
Em comunicado, citado pela AFP, o sindicato atribuiu a morte do manifestante - um jovem membro de uma associação de esquerda - à "intransigência" do primeiro-ministro e à brutalidade que as forças da ordem estão a pôr na repressão dos protestos.
À medida que os protestos alastram, a repressão é maior. Em Ancara, onde também já se realizam manifestações contra Erdoğan, a polícia lançou esta tarde gás lacrimogéneo contra a população nas ruas.
Os protestos na Turquia começaram há sete dias - entram pois na segunda-semana - e a violência eclodiu há quatro. O motivo imediato desta onda de indignação popular foi o anúncio de que o parque Gezi, junto à praça central de Taksim, em Istambul, seria destruído para ser reconstruída uma caserna militar otomana com um centro comercial no interior. Isso foi apenas o gatilho que fez disparar a fúria contra as políticas conservadoras e islamizantes do Governo e o ímpeto de lançamento de projectos faraónicos em Istambul.
Erdoğan, classificando os manifestantes de "franja extremista", atacou a oposição. "O maior partido da oposição, que todos os dias apela a que se faça resistência nas ruas, está a provocar estes protestos", disse o primeiro-ministro que, no domingo, numa intervenção que passou na televisão turca, considerou as redes sociais um perigo.
Disse ainda haver suspeitas de que há "estrangeiros por detrás das manifestações, e que os serviços secretos turcos vão investigar se há "interferências de potências estrangeiras" nos protestos. "Não é possível revelar os seus nomes, mas vamos encontrar-nos com os líderes", assegurou Erdoğan, citado pelo site em Inglês do jornal turco Hurriyet.
As redes sociais estão também a ser visadas pelos dirigentes turcos: "Agora há uma ameaça chamada Twitter. E os melhores exemplos das mentiras [da oposição] estão ali. Para mim, as redes sociais são a maior ameaça à sociedade", tinha dito o primeiro-ministro no domingo à noite.
 
Claques unidas
Para acolher os que ficaram feridos durante a madrugada e já no período da manhã, mesquitas, lojas e a universidade foram, segundo a Reuters, transformadas em hospitais improvisados. O número de feridos não é exacto, mas uma associação médica disse que entre sexta-feira e a madrugada de segunda foram assistidos 484 manifestantes em hospitais de Istambul. A BBC diz que alguns hotéis também abriram as portas a estes feridos e nota que os protestos estão a criar uma unanimidade pouco habitual, com os adeptos dos clubes rivais — em Istambul não há rivalidade clubística, há ódio — a marcharem juntos.
Na origem deste descontentamento está a política de Erdoğan e algumas regras que o Governo aprovou nas últimas semanas e que, segundo os observadores, têm como finalidade islamizar a sociedade turca.
Recep Erdoğan, líder do Partido da Justiça e Desenvolvimento, é um conservador. O partido é de inspiração islâmica e está no poder há dez anos. Tem imposto uma visão moralista da sociedade que, apesar de maioritariamente muçulmana, é laica.
Recentemente, foi limitada a venda de álcool, assim como a publicidade a este produto. E numa estação de metro de Ancara foi transmitido um aviso sonoro dizendo a um grupo de adolescentes que lá se encontrava que os beijos em público são proibidos. As hospedeiras da Turkish Airlines foram proibidas de usar saias demasiado curtas e justas e baton vermelho. A revista Foreign Policy fala de uma vaga de neo-otomanismo na Turquia, de que faz parte um plano de construção de edifícios de grande envergadura, e o centro comercial da Praça Taksim fará parte desse plano.
Fontes oficiais citadas pela BBC indicam que os protestos de Istambul alastram ao resto do país. Nos últimos dias houve manifestações contra o governo em 67 cidades. Foram detidas 1700 pessoas, que na sua maior parte já foram libertadas. Imagens de televisão mostraram parte do edifício do AKP em chamas, em Izmir, mas a agência Doğan noticiou que os bombeiros dominaram o incêndio.
"Erdoğan não ouve ninguém", disse ao jornal britânico, The Guardian, Koray Calişkan, analista político de Istambul e professor na Universidade do Bósforo. "Nem sequer ouve os membros do seu partido. Mas depois destes protestos terá que aceitar que é o primeiro-ministro de um país democrático e que não pode governar sozinho".
 
Apelo da União Europeia
O risco de a violência subir de tom e de a Turquia se tornar um país em insurreição — e trata-se de um vizinho da Síria, país que está há mais de dois anos em guerra civil — levou os representantes da União Europeia e dos Estados Unidos a apelarem a Erdoğan para manter a calma e evitar a presença da polícia nas manifestações.
"Deve ser aberto um diálogo para se chegar a uma solução pacífica para o problema", disse a comissária europeia dos Negócios Estrangeiros, Catherine Ashton, citada pela Reuters. Uma porta-voz do Governo americano, Laura Lucas, fez apelo idêntico e pediu "um exercício de contenção" ao Governo turco.
Os protestos vão continuar, estando marcadas novas concentrações para esta segunda-feira. Erdoğan, por enquanto, mantém a sua agenda e nos próximos dias visitará países do Magrebe.
 
(Fonte: Público)


02 junho 2013

Erdoğan responde aos protestos com sarcasmo

No meio da maior vaga de protestos de uma década de Governo, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, respondeu este domingo aos principais partidos da oposição que o acusam de se comportar como um ditador.
“Eles arrancaram as pedras da calçada e destuiram as montras das lojas. É isso a democracia? Dizem que Tayyip Erdoğan é um ditador. Eu não tenho nada a dizer quando se chama ditador a uma pessoa que se comprometeu a servir o seu país."
As palavras do chefe do Governo foram proferidas na capital, Ancara, uma das cidades onde milhares de pessoas sairam à rua e afrontarama polícia.
As manifestações continuam este domingo sem a mesma tensão dos dois últimos dias.
Na sexta-feira e no sábado cerca de mil pessoas foram detidas em 90 manifestações por todo o país. O número de feridos ronda os dois mil.
 
(Fonte: Euronews)

01 junho 2013

Presidente turco manda a polícia retirar-se da Praça Taksim

O Presidente turco, Abdullah Gül, interveio para que a polícia se retire da praça Taksim, onde se registam violentos confrontos, com recurso a canhões de água e gás lacrimogéneo contra os manifestantes que ocupavam o parque Gezi. Os manifestantes não querem que o parque seja demolido para dar lugar à reconstrução de uma caserna dos tempos do Império Otomano e à construção de um centro comercial – um projecto caro ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, que prometeu que não recuaria nas suas intenções e, em vez de mandar a polícia retirar-se, ordenou à multidão que "parasse imediatamente com os protestos". Erdoğan acusou os manifestantes de terem motivações "ideológicas e não ambientais", ao concentrarem-se no parque. O chefe do Governo do Partido da Justiça e Desenvolvimento – uma formação política conservadora de inspiração islâmica, no poder há dez anos – garantia que não desistiria do projecto de renovação da praça Taksim. Mas o chefe de Estado, que era do partido de Erdoğan até se candidatar à presidência, divulgou uma declaração escrita em que afirma que as forças de segurança deveriam agir de forma mais cautelosa do que o habitual, deveriam ser sensatos ao lidar com os manifestantes, e não deveriam permitir que acontecessem "cenas tristes", lê-se no site em inglês do jornal turco Hürriyet. A tensão tem vindo a crescer nos últimos cinco dias – desde que começou o movimento "Occupy Gezi", ao estilo dos que desde 2011 têm surgido um pouco por todo o mundo. Os manifestantes tomaram o parque em protesto contra a sua destruição, mas na sexta-feira a polícia desalojou-os à força, o que chamou ao local políticos da oposição, artistas e intelectuais, que se solidarizaram com o movimento, num protesto contra o Governo de Erdoğan, que tem imposto cada vez mais a sua moral conservadora e uma repressão cada vez intensa a uma sociedade que, embora sendo de maioria muçulmana, é laica. Após confrontos ao princípio da noite em Istambul e noutras cidades, como Ancara, o sábado amanheceu com novos confrontos com a polícia, que tentou dispersar a manifestação com gás lacrimogéneo e canhões de água. Os confrontos espalharam-se pelas várias ruas que saem da praça. A fúria é dirigida contra Erdoğan e o seu partido, que tem aprovado medidas vistas pelos sectores mais moderados como atentados à liberdade. Na semana passada foi aprovada uma lei que torna muito difícil o consumo de bebidas alcoólicas na via pública: a lei proíbe a venda de álcool depois das 22 horas e interdita a sua venda nos arredores de escolas e mesquitas. Foi aprovada em nome da saúde dos cidadãos, segundo o Governo, mas a oposição vê-a como tendo motivos religiosos. Houve também polémica sobre uma estação de metro de Ancara, onde um casal de namorados foi impedido de se beijar. Para este fim-de-semana estão programados também "protestos de beijos" em Istambul e Ancara. A oposição viu nestes gestos um possível sinal de que o Governo e a maioria no Parlamento estão dispostos a "islamizar" a sociedade turca e acusou o partido no poder de violar as liberdades individuais. Os manifestantes usam máscaras e lenços a tapar a cara e entoam cânticos como "Unidos contra o fascismo". Pedem a demissão do Governo de Recep Tayyip Erdoğan, descreve a agência Reuters, num dos movimentos de protesto mais expressivos contra o poder desde a tomada de posse, em 2002. Também as cidades de Ancara e Esmirna foram palco de manifestações na sexta-feira contra o Governo.
 
(Fonte: Público)

Primeiro-ministro turco diz que polícia vai continuar a manter a ordem em Istambul

O primeiro-ministro turco declarou hoje que a polícia vai permanecer na praça Taksim, no centro de Istambul, para manter a ordem, no segundo dia de manifestações violentas contra o seu Governo, que se estenderam a outras cidades.
"A polícia estava lá ontem, está lá hoje e estará ainda amanhã porque a praça Taksim não pode ser um local onde os extremistas fazem o que querem", disse Recep Tayyip Erdogan, durante um discurso em Istambul, no qual pediu aos manifestantes para pararem "imediatamente" com o protesto "para evitar mais danos aos visitantes e aos comerciantes".
O governante assegurou que não vai por em causa o projeto de renovação urbana da praça Taksim, na origem das violentas manifestações pelo segundo dia consecutivo.
 
(Fonte: Destak)

Jovens turcos manifestaram-se hoje em Lisboa

Cerca de 20 jovens turcos concentraram-se hoje na Alameda Afonso Henriques, em Lisboa, para expressar solidariedade aos compatriotas que estão em protesto no seu país, acabando por integrar a manifestação europeia contra a 'troika'.
Os jovens turcos, residentes em Lisboa, foram acolhidos na manifestação do movimento "Que se lixe a 'troika'" pelas 18:30, quando o protesto chegou àquela alameda.
Feyda, uma cidadã turca a morar em Lisboa, disse à agência Lusa que estavam concentrados neste local para manifestar "apoio ao seu povo que está a lutar contra a polícia em Istambul".
A jovem, que se manifestou preocupada com a situação vivida em Istambul, considerou que o líder do país "é um corrupto" e "precisa de sair do poder".
O grupo, a maioria estudantes ao abrigo do programa Erasmus, exibia uma bandeira do país e outra portuguesa, além de vários cartazes onde se liam mensagens de apoio aos seus conterrâneos.
Milhares de pessoas ocuparam o Parque Gezi, um dos 'pulmões' de Istambul, em protesto contra um projeto urbanístico, até que na sexta-feira a polícia recorreu ao uso de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, que responderam com pedras.
A repressão da manifestação pela força anti-motim da polícia causou pelo menos 20 feridos, 12 em estado grave.
Dezenas de cidades portuguesas, incluindo Lisboa, aderiram ao protesto europeu do movimento "Povos Unidos contra a 'troika'" convocado para hoje.
Realizada em 102 cidades europeias de 18 países, a manifestação visa contestar as políticas que se têm desenvolvido nos países onde a 'troika' do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional tem intervenção.
 
(Fonte: Dinheiro Vivo)

Estudantes turcos juntam-se na Covilhã para apoiar manifestantes em Istambul

Um grupo de 15 alunos turcos da Universidade da Beira Interior, na Covilhã, juntou-se hoje no jardim público da cidade para apoiar com cartazes e palavras os manifestantes que protestam contra o Governo, na Turquia.
Milhares de pessoas ocuparam o Parque Gezi, um dos ‘pulmões' de Istambul, em protesto contra um projecto urbanístico, até que na sexta-feira a polícia recorreu ao uso de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, que responderam com pedras.
A repressão da manifestação pela força anti-motim da polícia causou pelo menos 20 feridos, 12 em estado grave.
Alguns alunos turcos com idades entre os 19 e 25 anos que estão a estudar na Covilhã até ao final do semestre têm acompanhado a situação através das redes sociais na Internet, explicou à agência Lusa uma das organizadoras da acção, Sinem Taş, 25 anos.
Depois de tomarem conhecimento dos confrontos e do envolvimento de amigos, decidiram na sexta-feira "fazer alguma coisa para os apoiar", referiu.
Assim, um grupo de 15 estudantes da Turquia reuniu-se durante a tarde de hoje numa zona do jardim público, acompanhado por amigos de outras nacionalidades, com uma bandeira turca de mão em mão, sempre à vista.
Ao mesmo tempo, ergueram cartolinas com várias mensagens em inglês, à vista de quem por ali passava, e trocaram impressões sobre a situação, como constatou a agência Lusa no local.
"Não estás sozinha Istambul" era uma das frases nos cartazes, a par de outras como "em todo o lado há resistência".
Sinem Taş receia que a repressão "seja maior" e esteja "a causar mais vítimas" do que o noticiado: "queremos mostrar-lhes [aos manifestantes] o nosso apoio, a partir de Portugal".
A aluna considera que "a polícia devia parar de atacar quem protesta, devia deixar de interferir nas manifestações", concluiu.
 
(Fonte: Lusa/SOL)

Primeiro-ministro ordena fim dos protestos na Turquia

Os manifestantes que na sexta-feira tomaram a Praça Taksim em Istambul num protesto contra o Governo de Erdoğan e o seu partido conservador de inspiração islâmica não desistiram e passaram a noite na rua desafiando a polícia anti-motim. Neste sábado, o dia amanheceu com novos confrontos com a polícia que tentou dispersar a manifestação com gás lacrimogéneo e canhões de água. O primeiro-ministro ordenou aos manifestantes que dispersassem "imediatamente". "Exijo aos manifestantes que parem imediamente com os protestos para evitar problemas aos visitantes, aos peões e aos comerciantes", declarou o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, numa postura ameaçadora. Classificou os protestos em defesa do parque Gezi e contra o abate de árvores em Istambul como "ideológicos em vez de ambientais", segundo o site em língua inglesa do jornal Hurriyet.
O motivo do protesto começou por ser a oposição ao projecto de demolição do parque Gezi, junto à Praça Taksim, para reconstruir uma antiga caserna militar otomana, e instalar ali mais um centro comercial - um plano no qual se empenhou pessoalmente Erdogğan, ex-presidente da Câmara de Istambul e que, na verdade, continua a controlar a maior cidade do país como se ainda fosse o seu autarca. A manifestação começou por ser em protesto contra o plano de remodelação do Parque Gezi na própria Praça Taksim, e assumiu nova dimensão e significado depois de ser reprimida pela polícia. O que começou por ser um "occupy Gezi", no início da semana, transformou-se num protesto mais amplo, contra o carácter cada vez mais autoritário e moralista que tem tomado a governação do Partido da Justiça e Desenvolvimento, que está há dez anos no poder. A fúria é dirigida contra Erdoğan e o seu partido, que tem aprovado medidas vistas pelos sectores mais moderados como atentados à liberdade. Na semana passada, houve a aprovação de uma lei que torna muito difícil o consumo de bebidas alcoólicas na via pública: a lei proíbe a venda de álcool durante a noite depois das 22 horas e interdita a sua venda nos arredores de escolas e mesquitas. Foi aprovada em nome da saúde dos cidadãos, segundo o Governo. Mas a oposição vê-a como sendo motivada por motivos religiosos. Houve também polémica numa estação de Metro de Ancara, onde jovens namorados foram impedidos de se beijar. Em reacção a isto, houve uma manifestação de pessoas a beijarem-se. Para este fim-de-semana estão programados também "protestos de beijos" em Istambul e Ancara.
A Turquia é um país de maioria islâmica mas laico. A oposição viu neste gesto um possível sinal de que o Governo e a maioria no Parlamento estão dispostos a "islamizar" a sociedade turca e acusou o partido no poder de violar as liberdades individuais. Os manifestantes usam máscaras e lenços a tapar a cara, e entoam cânticos como “unidos contra o fascismo”. Pedem a demissão do Governo de Recep Tayyip Erdoğan, descreve a Reuters. A AFP diz que este é um dos movimentos de protesto mais expressivos contra o poder islâmico desde a tomada de posse em 2002. Também as cidades de Ancara e Esmirna foram palco de manifestações na sexta-feira contra o Governo.
 
(Fonte: Público)