Em Bruxelas há uma mão estendida à Sérvia e outra a acenar à Turquia. Ontem, enquanto Belgrado entregava a sua candidatura ao clube europeu, quebrando anos de isolamento, e Bruxelas abria as portas do espaço Schengen à Macedónia e ao Montenegro - dois países que ainda não iniciaram sequer os seus processos de adesão -, Ancara ficava com as migalhas. Apesar de aberto mais um capítulo na negociação da adesão turca, os decisores políticos de Ancara não escondem a ira por terem ficado fora da política de isenção de vistos concedida ao trio dos Balcãs. No domingo, a caminho de Estocolmo, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco rebentou a regra do politicamente correcto: "Um dia acabará por ser a União Europeia a pedir à Turquia que adira ao bloco, porque a Turquia não vai perder o entusiasmo por se tornar membro da União. Isto apesar do bloqueio em vários dossiês por motivos políticos", disse Ahmet Davutoglu, citado pelo diário "Today's Zaman".
Davutoglu, também conhecido como "Kissinger turco", fala directamente para o eixo franco-alemão, responsável, a par de Chipre, pela hibernação do processo de adesão: "A UE tem de fazer uma auto-crítica. Um país que atingiu o nosso nível nas negociações não deveria ter este tipo de problemas."
Apesar de ter negociações formalmente abertas desde 2004 - informalmente já duram há mais de três décadas -, o processo está para durar: a Turquia fechou apenas um de 35 capítulos. E apenas abriu negociações em 12. Na UE atiram-se as culpas para o governo de Recep Tayyip Erdogan, incapaz de levar a cabo o plano de duras reformas impostas por Bruxelas. Em Ancara atacam-se os preconceitos europeus e a falta de visão estratégica do velho continente. Resultado: o apoio da opinião pública turca à adesão está em queda livre (70% em 2004 e apenas 42% em 2008).
A frase de Herman Van Rompuy proferida em 2004, no parlamento belga, começa a fazer o seu caminho: "A Turquia não é nem nunca será parte da Europa." Recentemente eleito presidente permanente do Conselho Europeu, Rompuy deu a cara pelos "valores cristãos" da União, incompatíveis com os de um "grande país islâmico", e cavou ainda mais o fosso entre Ancara e Bruxelas.
Mesmo sendo membro da NATO desde 1952, e aliado crucial do Ocidente numa zona instável do globo, a maior potência do Islão moderado tem vindo a recalibrar a sua política externa com uma lógica de alianças que a faz olhar com mais atenção para Moscovo e para oriente. A relação com Israel foi a primeira vítima - o Estado judaico foi sempre visto como um aliado democrático numa área volátil - e a Turquia até já anunciou a criação de um Conselho de Cooperação Estratégica com a Síria, regime que Ancara acusava de financiar o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Para já, Davutoglu vai esticando a corda: "As coisas começam a atingir um ponto tal que eles vão dizer: 'Venham, tornem-se membros.' Temos um produto nacional bruto a aproximar-se do bilião de euros. Quem pode dizer não a uma Turquia como esta?"
(Fonte: ionline)
Davutoglu, também conhecido como "Kissinger turco", fala directamente para o eixo franco-alemão, responsável, a par de Chipre, pela hibernação do processo de adesão: "A UE tem de fazer uma auto-crítica. Um país que atingiu o nosso nível nas negociações não deveria ter este tipo de problemas."
Apesar de ter negociações formalmente abertas desde 2004 - informalmente já duram há mais de três décadas -, o processo está para durar: a Turquia fechou apenas um de 35 capítulos. E apenas abriu negociações em 12. Na UE atiram-se as culpas para o governo de Recep Tayyip Erdogan, incapaz de levar a cabo o plano de duras reformas impostas por Bruxelas. Em Ancara atacam-se os preconceitos europeus e a falta de visão estratégica do velho continente. Resultado: o apoio da opinião pública turca à adesão está em queda livre (70% em 2004 e apenas 42% em 2008).
A frase de Herman Van Rompuy proferida em 2004, no parlamento belga, começa a fazer o seu caminho: "A Turquia não é nem nunca será parte da Europa." Recentemente eleito presidente permanente do Conselho Europeu, Rompuy deu a cara pelos "valores cristãos" da União, incompatíveis com os de um "grande país islâmico", e cavou ainda mais o fosso entre Ancara e Bruxelas.
Mesmo sendo membro da NATO desde 1952, e aliado crucial do Ocidente numa zona instável do globo, a maior potência do Islão moderado tem vindo a recalibrar a sua política externa com uma lógica de alianças que a faz olhar com mais atenção para Moscovo e para oriente. A relação com Israel foi a primeira vítima - o Estado judaico foi sempre visto como um aliado democrático numa área volátil - e a Turquia até já anunciou a criação de um Conselho de Cooperação Estratégica com a Síria, regime que Ancara acusava de financiar o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Para já, Davutoglu vai esticando a corda: "As coisas começam a atingir um ponto tal que eles vão dizer: 'Venham, tornem-se membros.' Temos um produto nacional bruto a aproximar-se do bilião de euros. Quem pode dizer não a uma Turquia como esta?"
(Fonte: ionline)