A Turquia quer mediar o conflito na Líbia, reconheceu o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, ao diário britânico “The Guardian”. Erdoğan assinalou que Ancara está disposta a mediar o conflito com o objectivo de se chegar a um cessar-fogo. O primeiro-ministro advertiu que um conflito prolongado poderá converter o país num “segundo Iraque” ou num “novo Afeganistão”, o que poderá ter efeitos devastadores para a Líbia e para os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) que lideram a intervenção militar. Erdoğan estabeleceu comparações recorrentes entre o Iraque e o Afeganistão, afirmando, por exemplo, que o Iraque ainda “está a pagar o preço” da primeira Guerra do Golfo, há 20 anos. “Temo que possamos assistir à emergência de um segundo Afeganistão ou Iraque. Quando as forças ocidentais entraram no Afeganistão há quase dez anos, as pessoas pensavam que aquilo estaria acabado em poucos dias, e disseram o mesmo do Iraque. Mas já morreu um milhão de pessoas e colapsaram civilizações. Não queremos ver uma imagem semelhante na Líbia,” disse. O primeiro-ministro assinalou que as conversações com o Governo do líder Muammar Khadafi e com o Conselho de Transição Nacional dos rebeldes continuam. Falando a partir de Istambul durante o fim-de-semana, Erdogan disse que Khadafi terá de dar provas no terreno acerca da sua vontade de querer pôr fim ao derramamento de sangue na Líbia. O Governo turco, que está a desempenhar um papel regional cada vez mais importante e que tem o segundo maior contingente dentro das forças da NATO, já discordou em diversas ocasiões das soluções apresentadas pelos aliados para a Líbia. Finalmente, o país concordou em desempenhar um papel "não-combativo". Entretanto, no terreno, os rebeldes líbios lançaram uma ofensiva militar durante o dia de ontem contra o exército no oeste do país. Nas últimas horas, os rebeldes têm concentrado os seus ataques na cidade natal de Khadafi, Sirte. A Turquia sempre se opôs a uma intervenção militar directa por parte dos aliados. “Opusemo-nos a acções unilaterais e não poderemos nunca aceitar apelos como os que foram feitos pelo ministro francês para uma nova cruzada,” disse Erdoğan ao jornal britânico. Apesar de reconhecer os seus compromissos com a NATO, a Turquia não irá ter um papel activo neste conflito. “Para a Turquia está fora de questão matar líbios ou lançar bombas sobre o povo líbio,” disse Erdoğan. “O papel da Turquia será o de querer uma retirada da Líbia assim que for possível” e “restaurar a unidade e a integridade do país, obedecendo aos pedidos democráticos do povo,” acrescentou. Era vital que “esta cruzada não fosse levada a cabo pelo petróleo líbio. Claro que haverá um preço por estas acções e ninguém poderá garantir que não seja a Líbia a pagar o preço,” indicou Erdoğan.
(Fonte: Público)