A adesão da Turquia à União Europeia não sai da agenda de Portugal. Cavaco Silva insistiu, esta terça-feira, em Ancara, no avanço do processo, mesmo contra a oposição dos "gigantes" Alemanha e França.
O primeiro dia da visita do presidente da República à Turquia ficou marcado pela palavra que, por estes dias, as autoridades turcas mais gostam de ouvir: adesão. Dos ganhos que aquela nação de maioria muçulmana pode obter e das vantagens que essa integração constitui para a Europa. "Eu não tenho dúvidas de que a Turquia tem argumentos [para convencer os países opositores]", considerou, ontem de manhã, Cavaco Silva, na conferência de Imprensa conjunta com o seu homólogo, Abdullah Gül. À tarde, num discurso de 22 minutos na Assembleia Nacional (privilégio que só esteve ao alcance de seis chefes de Estado nos últimos 20 anos), voltou a dramatizar a relevância da consolidação do que é, por enquanto e apenas, uma forte possibilidade. "Com a adesão da Turquia […] a UE ganha uma acrescida importância estratégica". Os deputados turcos que estavam presentes (menos de metade dos 550 que compõem o hemiciclo) rejubilaram.
Horas depois, durante o banquete com Abdullah Gül, Cavaco voltou ao assunto: "Não ignoramos que o processo é complexo e exigente. Mas não deixemos que as dificuldades nos façam perder de vista o objectivo. Isso obriga a que, perante os obstáculos, prevaleça a visão estratégica que define os construtores do futuro".
Ora, foi exactamente contra "a falta de visão" dos países opositores que o presidente turco se insurgira de manhã. "O processo de adesão já dura há alguns anos. E esses países que hoje contestam a nossa entrada também estiveram representados no momento em que nos foi reconhecido o estatuto de candidato à adesão", aventou, para rematar. "Os políticos falam, mas os políticos passam. E os políticos, às vezes, dizem coisas diferentes do que defendem por falta de visão". Recorde-se que, anteontem, Merkel e Sarkozy voltaram a manifestar-se contra a integração plena da Turquia na UE, defendendo um regime intermédio, através da constituição de uma associação privilegiada.
O presidente turco deixou, todavia, uma promessa: "Vamos continuar as nossas reformas. E até admitimos abrir alguns dossiês", afiançou, sem os nomear. Para poder juntar-se ao clube dos 27, a Turquia tem que cumprir os chamados critérios de Copenhaga, que prevêem uma série de alterações internas ao nível das reformas legislativas, constitucionais e na justiça.
Combate ao proteccionismo
Já Cavaco Silva lembrou que durante os sete anos que Portugal demorou a integrar a União Europeia também houve "algumas desconfianças" por parte de outros estados e que só resta aos turcos ser persistentes. E destacou alguns sinais positivos que estão a ser dados: a Suécia, o próximo país a assumir a presidência da UE, está ao lado dos turcos e, se tudo correr de feição, a Irlanda aprovará o Tratado de Lisboa no final do ano, o que poderá forçar os 27 a tomar uma posição comum e definitiva.
Sim, porque assinalou depois o seu homólogo, a data da adesão da Turquia "depende muito da performance" do país, mas sobretudo do "interesse" que os parceiros europeus tenham na sua real entrada para o clube. Ou seja: nós queremos muito, mas se vocês não quiserem nada podemos ter um problema.
Noutro registo, o presidente da República defendeu que "a economia de mercado é a melhor via para somar a liberdade ao progresso económico e social". Por isso apelou à necessidade de que o "Estado e as instituições competentes assumam as suas responsabilidades em matéria de regulação e de supervisão e que os valores e os princípios éticos estejam bem presentes no funcionamento dos mercados financeiros". É neste quadro, acrescentou, que devem combater-se as tentações proteccionistas: "O proteccionismo não é possível. O proteccionismo apenas conduziria a uma crise maior". Episódios da visita Salvas e gritos na parada
Na tradicional revista às tropas, destacou-se o registo barulhento com que os Turcos se expressam. Além das 21 salvas de morteiro como música de fundo dos dois hinos, a cerimónia teve outra curiosidade. A forma gutural do cumprimento entre soldados. "Merhaba asker?" (como estão soldados?), pergunta o líder. "Sağol!" (obrigado), respondem eles. Tudo isto aos berros. Paranóia securitária
Em matéria de segurança, os Turcos concentram o que de pior têm Árabes e Norte-americanos. Se por um acaso quiser entrar, fora de uma comitiva oficial, na Assembleia Nacional da Turquia, peça ajuda a Alá. Sacam-nos os documentos todos, revistam-nos, riem-se, revistam-nos de novo, riem-se e mandam-nos ficar quietos. Num Inglês que parece Turco. Depois perguntam ao chefe (que tem uma sala só para ele, o que lhe permite estender as pernas por cima da mesa) e fica tudo na mesma. Valeu a comitiva de empresários portugueses que estava a chegar. Isso sim, verdadeira diplomacia económica. Um Parlamento cor-de-laranja
Dificilmente Cavaco se sentiria melhor. Discursou na Assembleia Nacional turca, honra destinada a muitos poucos, e, ainda por cima, fê-lo num espaço decorado a cor-de-laranja. "Assim é que devia ser sempre", ironizou um deputado do PSD presente na comitiva. Mas nem metade dos 550 parlamentares (dos quais apenas 50 são mulheres) esteve no plenário para ouvir o presidente português.
O primeiro dia da visita do presidente da República à Turquia ficou marcado pela palavra que, por estes dias, as autoridades turcas mais gostam de ouvir: adesão. Dos ganhos que aquela nação de maioria muçulmana pode obter e das vantagens que essa integração constitui para a Europa. "Eu não tenho dúvidas de que a Turquia tem argumentos [para convencer os países opositores]", considerou, ontem de manhã, Cavaco Silva, na conferência de Imprensa conjunta com o seu homólogo, Abdullah Gül. À tarde, num discurso de 22 minutos na Assembleia Nacional (privilégio que só esteve ao alcance de seis chefes de Estado nos últimos 20 anos), voltou a dramatizar a relevância da consolidação do que é, por enquanto e apenas, uma forte possibilidade. "Com a adesão da Turquia […] a UE ganha uma acrescida importância estratégica". Os deputados turcos que estavam presentes (menos de metade dos 550 que compõem o hemiciclo) rejubilaram.
Horas depois, durante o banquete com Abdullah Gül, Cavaco voltou ao assunto: "Não ignoramos que o processo é complexo e exigente. Mas não deixemos que as dificuldades nos façam perder de vista o objectivo. Isso obriga a que, perante os obstáculos, prevaleça a visão estratégica que define os construtores do futuro".
Ora, foi exactamente contra "a falta de visão" dos países opositores que o presidente turco se insurgira de manhã. "O processo de adesão já dura há alguns anos. E esses países que hoje contestam a nossa entrada também estiveram representados no momento em que nos foi reconhecido o estatuto de candidato à adesão", aventou, para rematar. "Os políticos falam, mas os políticos passam. E os políticos, às vezes, dizem coisas diferentes do que defendem por falta de visão". Recorde-se que, anteontem, Merkel e Sarkozy voltaram a manifestar-se contra a integração plena da Turquia na UE, defendendo um regime intermédio, através da constituição de uma associação privilegiada.
O presidente turco deixou, todavia, uma promessa: "Vamos continuar as nossas reformas. E até admitimos abrir alguns dossiês", afiançou, sem os nomear. Para poder juntar-se ao clube dos 27, a Turquia tem que cumprir os chamados critérios de Copenhaga, que prevêem uma série de alterações internas ao nível das reformas legislativas, constitucionais e na justiça.
Combate ao proteccionismo
Já Cavaco Silva lembrou que durante os sete anos que Portugal demorou a integrar a União Europeia também houve "algumas desconfianças" por parte de outros estados e que só resta aos turcos ser persistentes. E destacou alguns sinais positivos que estão a ser dados: a Suécia, o próximo país a assumir a presidência da UE, está ao lado dos turcos e, se tudo correr de feição, a Irlanda aprovará o Tratado de Lisboa no final do ano, o que poderá forçar os 27 a tomar uma posição comum e definitiva.
Sim, porque assinalou depois o seu homólogo, a data da adesão da Turquia "depende muito da performance" do país, mas sobretudo do "interesse" que os parceiros europeus tenham na sua real entrada para o clube. Ou seja: nós queremos muito, mas se vocês não quiserem nada podemos ter um problema.
Noutro registo, o presidente da República defendeu que "a economia de mercado é a melhor via para somar a liberdade ao progresso económico e social". Por isso apelou à necessidade de que o "Estado e as instituições competentes assumam as suas responsabilidades em matéria de regulação e de supervisão e que os valores e os princípios éticos estejam bem presentes no funcionamento dos mercados financeiros". É neste quadro, acrescentou, que devem combater-se as tentações proteccionistas: "O proteccionismo não é possível. O proteccionismo apenas conduziria a uma crise maior". Episódios da visita Salvas e gritos na parada
Na tradicional revista às tropas, destacou-se o registo barulhento com que os Turcos se expressam. Além das 21 salvas de morteiro como música de fundo dos dois hinos, a cerimónia teve outra curiosidade. A forma gutural do cumprimento entre soldados. "Merhaba asker?" (como estão soldados?), pergunta o líder. "Sağol!" (obrigado), respondem eles. Tudo isto aos berros. Paranóia securitária
Em matéria de segurança, os Turcos concentram o que de pior têm Árabes e Norte-americanos. Se por um acaso quiser entrar, fora de uma comitiva oficial, na Assembleia Nacional da Turquia, peça ajuda a Alá. Sacam-nos os documentos todos, revistam-nos, riem-se, revistam-nos de novo, riem-se e mandam-nos ficar quietos. Num Inglês que parece Turco. Depois perguntam ao chefe (que tem uma sala só para ele, o que lhe permite estender as pernas por cima da mesa) e fica tudo na mesma. Valeu a comitiva de empresários portugueses que estava a chegar. Isso sim, verdadeira diplomacia económica. Um Parlamento cor-de-laranja
Dificilmente Cavaco se sentiria melhor. Discursou na Assembleia Nacional turca, honra destinada a muitos poucos, e, ainda por cima, fê-lo num espaço decorado a cor-de-laranja. "Assim é que devia ser sempre", ironizou um deputado do PSD presente na comitiva. Mas nem metade dos 550 parlamentares (dos quais apenas 50 são mulheres) esteve no plenário para ouvir o presidente português.
(Fonte: Jornal de Notícias)
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