02 outubro 2006

Aumenta a tensão com a França devido ao alegado genocídio arménio

Aumenta a tensão com a França devido ao alegado genocídio arménio

Em resposta à pergunta se a Turquia deveria reconhecer que o massacre de Arménios em 1915-1917 pelo Império Otomano se tratou de um "genocídio", Chirac respondeu: “Sinceramente, penso que sim”.

As relações ente Ancara e Paris foram perturbadas no Sábado pelas declarações que o presidente francês Jacques Chirac fez durante a visita de Estado de dois dias que realizou à Arménia, dizendo que a Turquia devia reconhecer que o massacre de Arménios durante a 1.ª Grande Guerrra foi um “genocídio”, antes da sua possível entrada na União Europeia.
"Todos os países crescem aprendendo com os seus dramas e erros", disse Chirac.
O evento ocorreu no meio dos intensos esforços que a Turquia tem estado a desenvolver para evitar que a Assembleia Nacional Francesa adopte uma resolução reconhecendo que a morte de Arménios no primeiro quarto do século passado se tratou de um “genocídio.” O voto está agendado para o dia 12 de Outubro.
Fontes diplomáticas do ministério turco dos Negócios Estrangeiros, sublinharam a importância que a Turquia atribui às relações bilaterais com a França, e exprimiram preocupação relativamente à adopção de uma medida tão controversa que poderá prejudicar as relações entre as duas nações, assim como os empresários franceses com negócios na Turquia e que negoceiam com a Turquia.
“Mesmo que essa medida seja adoptada, não é possível a Turquia aceitar uma teoria desse tipo”, revelaram as mesmas fontes, acrescentando que Ancara tem estado a contactar responsáveis franceses a todos os níveis para impedir que essa medida seja aprovada.
Os diplomatas turcos chamam a atenção para o facto de que a Arménia, fazendo com que as acusações de genocídio contra a Turquia sejam aceites por outros paises, está a tentar prejudicar as relações bilaterais entre a Turquia e outros países e a garantir benefícios políticos.
“O lobby arménio devia abandonar os jogos de bastidores, e devia apresentar argumentos concretos suportados por factos históricos”, disseram as mesmas fontes diplomáticas referindo-se à proposta que Ancara fez no ano passado para o estabelecimento de um comité conjunto de peritos arménios e turcos para o estudo das alegações de um "genocídio" arménio nos momentos finais do império otomano.
No início do mês passado, durante conversações com o seu homólogo francês, Philippe Douste-Blazy, integradas na visita a França do ministro dos Negócios Estrangeiros turco Abdullah Gül, foi sugerido que a França participasse nesse comité.
Gül disse nessa altura que outros países incluindo a França podiam integrar esse comité composto por académicos turcos e arménios para o estudo das alegações.
Enquanto Ancara emitia no Sábado uma declaração a condenar o incidente, oficiais séniores turcos, referiam que as declarações de Chirac foram “totalmente inaceitáveis” e que iriam certamente ter um sério impacto nas relações políticas e económicas entre os dois países.
No Sábado, Chirac e a sua mulher Bernadette, compareceram numa cerimónia solene no monumento arménio dedicado aos alegados massacres de Arménios de 1915-1917 pelo império otomano.
Esta é a primeira visita de um presidente francês a esta nação pobre do Cáucaso, que tem desavenças com os seus vizinhos túrquicos, Azerbaijão e Turquia.
Chirac colocou flores no monumento Tsitsernakaberd antes de ser conduzido a uma visita ao denominado "Museu do Genocídio".
A França, que tem 400 000 cidadãos originários da Arménia, reconheceu oficialmente os eventos da 1.ª Guerra Mundial como "genocidas" em 2001, arrefecendo as suas relações com a Turquia, país candidato a membro da União Europeia e seu parceiro na NATO.
Muitos países, incluindo os Estados Unidos e Israel, recusaram-se até agora a reconhecer os massacres como "genocídio".
Ancara argumenta que 300 000 Arménios e pelo menos o mesmo número de Turcos morreram num conflito interno despoletado por tentativas de Arménios adquirirem a independência relativamente ao Leste da Anatólia.
A Arménia também tem um conflito com o Azerbeijão relativamente ao enclave étnico de Nagorno Karabakh, sobre o qual ganhou controle numa guerra no início dos anos 90, mas que ainda é reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão.

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