O Português Neca está a jogar no clube da cidade de Konya, um dos mais fervorosos epicentros da religião muçulmana na Turquia.
O ex-jogador do Belenenses, V. Guimarães e Marítimo (com quem ainda tem contrato) confessa estar num sítio "onde não é fácil viver", mas assegura estar adaptado e pronto para dar o "salto" até um clube com outras dimensões.
Em estágio no sul do país, onde virou a página do ano, Neca falou sobre o país.
"Vivo numa cidade essencialmente religiosa, onde há pouco para fazer. É tudo muito parado e, quando não trabalho, estou quase sempre em casa. Por isso prefiro não ter aqui a minha família", explica o médio, que tem em José Gomes (ex-jogador do Rio Ave e Marítimo) o principal suporte nesta aventura por terras da Anatólia, uma região onde o futebol assume contornos preponderantes. "Os estádios estão sempre cheios. Em casa, por exemplo, temos sempre mais de 10 mil espectadores. E não estou num dos principais clubes". Na vertente puramente desportiva, Neca assinala diferenças curiosas. "Em todos os jogos do campeonato ouve-se o hino da Turquia, antes do pontapé de saída. É como se fosse um jogo de selecções. Penso que não acontece em mais nenhum país".
Mesmo salientando que o balanço desta experiência é positiva, há duas histórias que demonstram bem em que tipo de sociedade Neca está inserido. "Num jogo para a Taça da Turquia, disputado numa pequena localidade muito perto da fronteira com o Iraque, estivemos num verdadeiro cenário de guerra", vocifera. "Tivemos medo". Mas os nervos em franja não se resumem a este episódio. "Num dos últimos jogos da temporada anterior, fomos jogar a casa do Rizespor, que não podia perder. Se perdesse, descia de divisão". Neca estava lesionado, tentou ir apoiar os seus colegas na bancada e não conseguiu. "Os adeptos da casa e a polícia não mo permitiram. O ambiente era muito pesado e acabei por ficar barricado no balneário. Ouvi o relato num rádio a pilhas". O Rizespor não perdeu e continua na primeira divisão.
Perfeitamente adaptado ao dia-a-dia no Konyaspor, Neca sorri quando recorda os primeiros dias no clube. E se, em relação aos métodos de trabalho não encontrou grandes diferenças, já no ambiente de balneário o choque foi imediato. "Não podemos estar nus ao lado de um muçulmano. Por acaso os meus colegas brasileiros avisaram-me e estava precavido", descreve entre sorrisos. "Temos duches individuais. Entrámos para lá equipados e tomámos banho sozinhos".
De qualquer forma, Neca não pretende regressar já a Portugal. "Gostaria de voltar a jogar no meu país, mas ainda é cedo. Nesta altura, só se fosse para jogar num clube grande. Financeiramente estou muito bem e espero continuar por cá".
(Fonte: MaisFutebol)
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