14 agosto 2007

Gül compromete-se a defender a laicidade do Estado

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Abdullah Gül, formalizou hoje a sua candidatura à presidência da República, comprometendo-se a defender a laicidade do Estado, mas a oposição já contestou a iniciativa dos islamitas.
Fortalecido pela vitória alcançada nas legislativas do mês passado, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), decidiu manter a candidatura de Gül à chefia de Estado, numa eleição prevista para o final deste mês no Parlamento de Ancara. A insistência representa um desafio à oposição laica e ao Exército, que na Primavera passada se opuseram à escolha de um islamita para a mais alta magistratura da nação. O boicote da oposição no Parlamento conseguiu mesmo evitar a eleição de Gül, por falta de quórum, o que levou o AKP a procurar nas urnas a legitimidade para enfrentar os sectores laicos. “O reforço e a defesa dos valores republicanos estipulados na Constituição serão a minha principal prioridade”, afirmou Abdullah Gül na apresentação da candidatura, antes de acrescentar: “Farei tudo o que for necessário para defender a laicidade e penso que ninguém deverá preocupar-se com esse assunto”.
Apesar de 99 por cento da sua população ser muçulmana, a Constituição da Turquia estipula a separação entre Estado e religião, atribuindo ao Exército o papel de defensor do laicismo estatal. A escolha de Gul foi por isso vista com maus olhos pela oposição, dominada pela elite laica, que não se cansa de lembrar que a mulher do antigo ministro surge em público envergando o véu islâmico, proibido nas instituições públicas e considerado um símbolo ostensivo do islamismo. Sinal desse incómodo é a recusa da liderança do principal partido da oposição, os sociais-democratas do CHP, em receber Gül, até agora o único candidato oficial à presidência. Ainda assim, o antigo ministro reuniu-se com outros dirigentes políticos, numa tentativa para conseguir apoios. Apesar de não ter dificuldades em ser eleito – o AKP detém maioria absoluta no Parlamento, o necessário para uma eleição à terceira votação – Gül sabe que necessita de um apoio mais abrangente para garantir legitimidade fora dos meios islamitas, como ficou claro em Abril e Maio, quando a oposição conseguiu reunir centenas de milhares de pessoas nas ruas em defesa da laicidade.

(Fonte: Público)

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