29 abril 2007

Governo turco critica ameaça de intervenção militar

O Governo de tendência islâmica da Turquia criticou duramente a ameaça das Forças Armadas de intervir na política interna do país, e defendeu que os militares devem continuar sob o comando civil.
Segundo Cemil Çiçek, ministro e porta-voz do Governo, o primeiro-ministro Tayyip Erdoğan conversou ao telefone com o chefe do Estado-Maior general das Forças Armadas, Yaşar Büyükanıt, depois do comunicado de sexta-feira, quando os militares declararam estar prontos para agir em defesa do secularismo.
Cemil Çiçek afirmou que o comunicado foi um ataque contra o Governo e que o momento da sua divulgação foi calculado para influenciar o Tribunal Constitucional. "Os problemas da Turquia serão resolvidos dentro da lei. Não há outra maneira. As Forças Armadas devem obediência ao primeiro-ministro," afirmou o porta-voz à imprensa.
Nos últimos 50 anos, os militares derrubaram quatro governos no país. O comunicado divulgado na sexta-feira expressava a preocupação das Forças Armadas com as eleições presidenciais. No texto, os militares diziam-se prontos para actuar em defesa do Estado secular, da separação entre religião e política.
A elite secular turca, incluindo os generais e os juízes, teme que o partido do primeiro-ministro, o AKP, mine o sistema secular se também ganhar a presidência.
Çiçek, que também é ministro da Justiça, enfatizou o compromisso do Governo com os valores constitucionais, que incluem o secularismo.
O comunicado militar foi divulgado horas depois de Abdullah Gül, candidato do Governo, não ter conseguido os votos necessários no Parlamento para ser eleito presidente. A segunda volta das eleições está marcada para a próxima quarta-feira.
Partidos da oposição boicotaram a sessão de sexta-feira. Um deles, CHP, o maior partido da oposição, pediu ao Tribunal Constitucional para anular a votação porque estavam no plenário menos de dois terços dos deputados.

UE E EUA

Em Bruxelas, o responsável pelo alargamento da União Europeia, Olli Rehn, manifestou a sua preocupação com a situação turca. "Este pode ser um caso a seguir como exemplo, se as Forças Armadas turcas respeitarem o secularismo democrático e as regras democráticas de relações entre civis e militares," declarou Rehn à imprensa.
No entanto, a UE tem perdido influência na Turquia, onde a opinião pública se tem tornado céptica em relação ao bloco. Muitos Turcos sentem que a UE não quer permitir a entrada do país no bloco.
Dan Fried, vice-secretário de Estado norte-americano, diz que Washington espera que o seu aliado da NATO resolva as suas dificuldades "de uma maneira coerente com a democracia secular e com os preceitos constitucionais."
Há dez anos, os militares turcos, com o apoio popular, derrubaram o Governo islâmico do primeiro-ministro Necmettin Erbakan, governo do qual Gül fazia parte.

(Fonte: Reuters)

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