25 abril 2007

Eleições presidenciais marcadas para a próxima sexta-feira

A primeira volta das eleições presidenciais turcas realiza-se na próxima sexta-feira, de acordo com uma resolução adoptada ontem pelo Parlamento. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Abdulah Gül, é o nomeado pelo partido do Governo, tendo a eleição praticamente assegurada. A segunda volta das eleições realizar-se-á a 2 de Maio e as terceira e quarta voltas a 9 e 15 de Maio, segundo a decisão tomada pelos deputados dos partidos representados na Assembleia Nacional, que deverá eleger o 11.º presidente da República.
Uma maioria de dois terços do Parlamento, que se traduz em pelo menos 367 votos, é necessária para se ser eleito nas duas primeiras voltas, enquanto uma maioria simples, de pelo menos 276 votos, é suficiente para as seguintes. O partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, saído do movimento islamita) do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, detém uma maioria absoluta, com 353 assentos. A imprensa turca admitia ontem que Erdoğan, dado como grande favorito, poderia não se candidatar e entretanto, segundo os média turcos, o actual ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Abdulah Gül, foi nomeado candidato para as presidenciais pelo AKP. A nomeação foi decidida na reunião da Junta Executiva do AKP, referiram ainda os média turcos.
O actual chefe da diplomacia turca, Abdullah Gül, apresentado como candidato do AKP, é um homem de confiança do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan. Economista de formação, teórico pró-ocidental do AKP, de origens islamitas, Gül, de 56 anos, terá dirigido a diplomacia turca durante quatro anos quando assumir a presidência da Turquia. Gül soube manter o sorriso nos tempos mais difíceis, quando se tratou de abrir o sudeste da Turquia às tropas norte-americanas que se preparavam para invadir o Iraque em 2003 – decisão rejeitada pelo Parlamento turco – ou quando foi necessário lançar em 2005 difíceis negociações de adesão com a União Europeia. Tido como braço direito e homem de confiança de Erdoğan, assumiu a chefia do Governo na sequência das eleições legislativas de Novembro de 2002, quando a justiça decidiu que o dirigente do partido não podia ser primeiro-ministro devido a uma antiga condenação por “incitação ao ódio religioso”. Cinco meses depois, Erdoğan conseguiu recuperar um lugar no Parlamento numas eleições legislativas parciais, e assumir então a chefia do Governo. Nascido numa família modesta a 28 de Outubro de 1950 no feudo islamita de Kayseri, centro do país, onde foi eleito quatro vezes deputado desde 1991, Abdullah Gül é licenciado pela Faculdade de Ciências Económicas da Universidade de Istambul. Fluente em Inglês, frequentou posteriormente universidades no Reino Unido, onde obteve um mestrado e depois um doutoramento em Economia. Durante uma entrevista, Gül terá afirmado que preferiria viver nos Estados Unidos ou na Europa do que instalar-se no Irão ou na Líbia. Entre 1983 e 1991, trabalhou como economista no Banco de Desenvolvimento Islâmico, na sede em Jeddah, na Arábia Saudita. Em 1991, Gül regressou à Turquia para fazer campanha para as legislativas ao lado do ex-primeiro-ministro Necmettin Erbakan, pioneiro do Islão político na Turquia e cujo partido, Refah, foi proibido em 1998 por “actividades anti-laicas”.
Eleito deputado em 1991, Gül foi nomeado vice-presidente do Refah. Reeleito nas legislativas de 1995, Gül tornou-se porta-voz do primeiro Governo de coligação islamita da história da Turquia moderna, no qual ocupa o cargo de ministro de Estado encarregue pelas relações externas, incluindo o dossier cipriota. Retirado do poder em Junho de 1997 pela pressão da hierarquia laica turca, civil e militar, o Refah foi tornado ilegal no início de 1998. Ao contrário de numerosos deputados do Refah, Gül juntou-se então ao partido da Virtude (Fazilet), que também seria dissolvido pela justiça por “actividades anti-laicas” em 2001. Tido como metódico e apreciado pelos diplomatas, Gül defendeu ao lado da mulher, que usa véu, o uso do véu islâmico, proibido nas universidades e na função pública na Turquia, país muçulmano de Estado estritamente laico.

(Fonte: O Primeiro de Janeiro)

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