20 junho 2013

A Prosperidade da Turquia

O crescimento de longo prazo deriva de políticas monetárias e orçamentais prudentes, da vontade política para regular os bancos e de uma combinação de fortes investimentos públicos e privados em infra-estruturas, habilidades e tecnologias de ponta. Uma recente visita à Turquia recordou-me do seu enorme sucesso económico durante a última década. A economia tem crescido rapidamente, a desigualdade está a diminuir e a inovação a aumentar.
As conquistas da Turquia são ainda mais notáveis quando consideramos a sua vizinhança. Os seus vizinhos no oeste, o Chipre e a Grécia, estão no epicentro da crise da Zona Euro. O sudeste é devastado pela guerra na Síria, que já levou cerca de 400 mil refugiados para a Turquia. A leste, tem o Iraque e o Irão. E a nordeste, tem a Arménia e a Geórgia. Se há uma vizinhança mais complicada no mundo, seria difícil encontrá-la. No entanto, a Turquia tem feito progressos notáveis no meio desta região em convulsão. Depois de uma acentuada quebra em 1999-2001, a economia cresceu 5% por ano, em média, de 2002 a 2012. Permaneceu em paz, apesar das guerras regionais. Os seus bancos evitaram o ciclo de altos e baixos da década anterior, tendo aprendido com o colapso do sistema bancário de 2000-2001. A desigualdade tem diminuído. E o Governo ganhou três eleições consecutivas, cada vez com uma maior percentagem do voto popular. Não há nada de chamativo na expansão da Turquia, que tem sido baseada em fundamentais económicos e não em bolhas ou descobertas de recursos. De facto, a Turquia não tem os recursos de petróleo e gás dos seus vizinhos, mas compensa esta carência com a competitividade da sua indústria e serviços. O turismo sozinho atraiu mais de 36 milhões de visitantes em 2012, fazendo da Turquia um dos principais destinos turísticos do mundo. Mesmo uma breve estadia em Ancara permite ver a força destas bases. O aeroporto, as auto-estradas e outras infra-estruturas são de primeiro nível; e uma rede ferroviária intercidades de alta velocidade liga Ancara a outras partes do país. Grande parte da engenharia avançada é de desenvolvimento local. As empresas de construção turcas são internacionalmente competitivas e ganham cada vez mais concursos no Médio Oriente e África. Também as universidades turcas estão a crescer. Ancara tornou-se um centro do ensino superior, que atrai estudantes de África e Ásia. Muitos programas de topo são em inglês, assegurando que a Turquia atrai um número cada vez maior de estudantes internacionais. E das universidades do país surgem cada vez mais empresas de alta tecnologia na aviação, tecnologia de informação e electrónica avançada, entre outras áreas. Há que destacar também que a Turquia começou a investir em força em tecnologias sustentáveis. O país é rico em energia eólica, geotérmica e outras energias renováveis e deverá tornar-se um exportador global de inovações avançadas em tecnologia ecológica. Tipicamente, as instalações de tratamento de lixo não são atracções de turistas, mas o novo sistema de gestão de lixo urbano integrado de Ancara tem atraído a atenção mundial e com razão. Até há uns anos, o lixo era despejado num aterro mal cheiroso e insalubre. Agora, com a utilização de tecnologia avançada, tornou-se numa área verde. A empresa privada de gestão de lixo ITC recebe milhares de toneladas de resíduos sólidos municipais por dia. O lixo é separado em material reciclável (plástico e metal) e lixo orgânico. O lixo orgânico é processado numa fábrica de fermentação, produzindo adubo e metano, que é usado para produzir electricidade numa fábrica de energia de 25 megawatts. A electricidade é injectada na rede de energia da cidade e o calor dos escapes é canalizado para estufas da instalação, que produzem tomates, morangos e orquídeas. A diversificada e inovadora base de indústria, construção e serviços da Turquia rende grandes benefícios num mundo em que as oportunidades de mercado estão a mudar dos Estados Unidos e Europa Ocidental para África, Europa Oriental, Médio Oriente e Ásia. A Turquia tem sido hábil em aproveitar estas novas oportunidades, com as exportações a aumentarem cada vez mais para o sul e leste para as economias emergentes, mais do que para o oeste para mercados de elevados rendimentos. Esta tendência vai continuar, com a África e a Ásia a tornarem-se importante mercados para as empresas de construção, tecnologias de informação e inovação em tecnologia ecológica da Turquia. Então, como é que a Turquia o fez? Em primeiro lugar, o primeiro-ministro Tayyip Erdoğan e a equipa económica, liderada pelo vice primeiro-ministro Ali Babacan, voltaram ao básico e adoptaram uma visão de longo prazo. Erdoğan chegou ao poder em 2003, depois de anos de instabilidade de curto prazo e de crises bancárias. O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi chamado para um resgate de emergência. Passo a passo, a estratégia de Erdoğan-Babacan foi reconstruir o sector bancário, manter o orçamento sob controlo e investir de forma intensa e consistente onde é necessário: infra-estruturas, educação, saúde e tecnologia. A diplomacia inteligente também ajudou. A Turquia manteve-se fiel a uma postura moderada numa região de extremismos. Manteve uma porta aberta e uma diplomacia equilibrada (na medida do possível) com as principais potências nas suas vizinhanças. Isso ajudou a Turquia não apenas a manter o seu equilíbrio interno, mas também a ganhar mercados e conservar os aliados, sem o peso e os riscos de divisões geo-políticas. Sem dúvida, não é garantido que a Turquia consiga manter-se sempre nesta trajectória de rápido crescimento. Qualquer combinação de crises – Zona Euro, Síria, Iraque, Irão ou o preço internacional do petróleo – pode criar instabilidade. Outra crise financeira global pode interromper os fluxos de capital de curto prazo. Uma vizinha perigosa significa riscos inevitáveis, embora a Turquia tenha demonstrado uma capacidade notável, ao longo da última década, para os superar. Além disso, o desafio de aumentar a qualidade educativa e os resultados dos estudantes, especialmente para raparigas e mulheres, continua a ser uma prioridade. Felizmente, o Governo tem reconhecido claramente o desafio da educação, o qual tem perseguido através de reformas escolares, aumento dos investimentos e introdução de novas tecnologias de informação nas salas de aulas. Os sucessos da Turquia têm raízes profundas na capacidade governamental e nas habilidades das suas gentes, reflectindo décadas de investimento e séculos de história que remontam ao tempo do Império Otomano. Outros países não podem simplesmente copiar estas realizações, mas podem aprender as principais lições que são frequentemente esquecidas num mundo de "estímulos", bolhas e pensamento de curto prazo. O crescimento de longo prazo deriva de políticas monetárias e orçamentais prudentes, da vontade política para regular os bancos e de uma combinação de fortes investimentos públicos e privados em infra-estruturas, habilidades e tecnologias de ponta. (Fonte: Jornal de Negócios/Project Syndicate)

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