07 janeiro 2007

Governo turco vai publicar "Dezassete Clássicos do Alevismo"

O Directorado dos Assuntos Religiosos decidiu publicar "Dezassete Clássicos do Alevismo", uma colecção de trabalhos literários alevitas. O directorado declarou que escolheu os clássicos juntamente com os líderes espirituais alevitas (dedeler).

Logo após a difusão da notícia pelos meios de comunicação social, os líderes alevitas declararam que embora tenham participado numa reunião com o directorado sobre esse assunto no final de 2005, não concordaram com a publicação dos volumes. Dizem que o directorado preparou tudo e só os consultou no final do processo para ganhar legitimidade. Referem igualmente que a maior parte dos clássicos já estavam publicados, e se mais publicações fossem necessárias, deveria ser feita pelas instituições alevitas.
Esta controvérsia tem antecedentes históricos. Os alevitas são seguidores do imame Ali, o genro do profeta Maomé. Consideram que o Directorado dos Assuntos Religiosos é uma instituição sunita que não representa a crença alevita.

A associação alevita Cem ("Cem Vakfı"), liderada por İzettin Doğan, tem mantido contactos com todos os governos no poder desde os inícios dos anos 90 para acabar com a descriminação contra os alevitas, pedindo igualdade de direitos no que diz respeito ao orçamento do directorado. O directorado recruta dezenas de milhar de imames, consigna-os às mesquitas e paga-lhes os salários. Nenhum alevita usufrui destas regalias, uma vez que não frequentam mesquitas e, por outro lado, o directorado não reconhece os alevitas. Outras actividades levadas a cabo pelo Directorado dos Assuntos Religiosos consistem na organização de peregrinações a Meca e no estabelecimento do calendário para o jejum do Ramadão. Os alevitas não participam em nenhum destes eventos, porque a sua religião não contempla a ida a Meca nem o jejum do Ramadão.
Attila Erden, da Associação Cultural Hacı Bektaş Veli refere: “Eles dizem aos alevitas para irem às mesquitas em vez de construirem casas "cem" ["cem evi", locais de culto dos alevitas]. O Directorado dos Assuntos Religiosos não atende aos pedidos dos alevitas, o que acima de tudo é desrespeitoso.”
Os líderes alevitas afirmam que o directorado desenvolve uma política no sentido de enfraquecer o Alevismo, aproximando-o do Sunismo, sendo a publicação dos volumes uma investida nesse sentido. Doğan diz que os alevitas têm sérias dúvidas quanto à selecção e autenticidade dos livros: "Trata-se de um assunto muito importante, porque em versões mais tardias dos livros, não aceites como originais, existem traços de crença sunita."
Ao que tudo indica, o directorado irá distribuir clássicos aos alevitas que não os possam comprar.
O colunista do jornal "Milliyet", Taha Akyol, disse que ficou muito feliz com a notícia inicial de que o directorado ia publicar os clássicos. "Se fossem aplicados métodos científicos de publicação, não haveriam problemas," referiu. Akyol lamenta que exista opressão à cultura alevita, pelo facto dos seus clássicos não serem bem conhecidos. Por outro lado, para Selahattin Özel, presidente da Federação das Associações Alevitas, a decisão da publicação não passa de mais um passo para o esforço histórico de assimilação. Referiu igualmente que os alevitas têm as suas próprias instituições para publicar os seus livros. Doğan mencionou o mesmo ponto, dizendo: “Nós fundámos uma organização de serviço religioso.” Referiu ainda que a publicação tem unicamente em vista o preenchimento dos requisitos impostos pela União Europeia, uma vez que no processo de adesão, os direitos dos cidadãos alevitas foram um dos tópicos mais criticados dentro da categoria dos direitos humanos.

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