A mulher pede ajuda, de forma insistente.
Orhan implora à equipa para olharem para dentro daquele prédio destruído, diz que há uma luz ao fundo de um buraco, que haverá alguma forma de lá chegar e que lá estarão a sua irmã e os seus três filhos.
Há um desespero e um sentido de urgência na voz do homem, que se põe em risco e salta logo de seguida para cima de um prédio altamente danificado, tentando mostrar à equipa portuguesa onde poderá estar a sua irmã e sobrinhos.
Pouco mais tarde, Orhan, sentado numa cadeira de plástico, fuma um cigarro, de olhos molhados, enquanto observa o prédio onde estará a sua irmã, junto ao seu, também completamente destruído.
Está em choque.
Chora e conta que, a juntar à irmã e sobrinhos (de oito, dez e 15 anos de idade) que não são encontrados, soma-se agora a morte do marido da sua irmã, que Orhan encontrou morto pelo frio, na noite de sexta-feira, à frente da casa, quando lhe ia entregar uns cobertores.
Orhan Demir apenas diz que vai continuar à espera, a fazer o que tem feito todos os dias, a gritar pelos nomes da sua irmã e dos seus sobrinhos, para o caso de estarem vivos.
"Fico aqui até poder fazer o funeral dos meus sobrinhos e da minha irmã", conta à agência Lusa.
No local, a equipa portuguesa, que se divide entre membros da Proteção Civil, GNR e INEM, vai verificando ruínas, à procura de sinais de vida, com a preciosa ajuda de Red, Agra e Síria, três cães que conseguem entrar dentro dos escombros das casas e ladrar, caso encontrem alguém vivo.
Junto à equipa, uma mulher fala com o tradutor e chora.
A mulher tinha ouvido ruídos da sua casa e acreditava que o seu filho estaria vivo, preso nos escombros.
A equipa fez uma busca extensa à residência, com o recurso aos cães, tiraram fotos e tiveram uma conversa, difícil, mas necessária.
"Havia a angústia de poder estar com vida e precisar de ajuda. Agora, aquela mãe pode, ao menos, começar o processo do luto", disse à Lusa a psicóloga do INEM, Joana Anjos.
A equipa avança por entre os escombros da baixa de Antáquia, uma zona mais pobre daquela cidade de meio milhão de habitantes onde não há qualquer edifício intacto.
Logo de seguida, a equipa pára e toda a gente se cala, outros pedem silêncio.
"Se alguém está vivo, que dê um som! Se alguém está vivo, que dê um som!", gritou um homem, em turco, enquanto toda a gente permanecia calada, imóvel, na expectativa.
Nada se ouviu e a equipa seguiu para a casa onde tinha estado com a mãe. Numa das paredes, grafitaram: "Vd" - sinal de que o edifício tinha sido verificado e que não tinha sido encontrado ninguém com vida.
Noutras ruínas, espalham-se fotos de família, uma mulher feliz a segurar um bebé recém-nascido, uma turma sorridente na escola, momentos de festa familiar, ou um casal a posar para uma fotografia de casamento.
A equipa portuguesa, que trabalha num setor que ainda estava por verificar, é chamada mais à frente.
Vão sempre confirmar, sempre à procura da chance, mesmo que ínfima, de encontrar um sobrevivente, que a prioridade ainda não é desenterrar os mortos, mas encontrar possíveis vivos.
Um militar da GNR recorda à Lusa uma história de uma pessoa que foi encontrada uma hora depois de morrer por outra equipa, de outro país.
Noutra ruela daquela baixa completamente intransitável, um homem aborda a missão portuguesa, pede para encontrarem a sua tia que poderá estar viva, debaixo de uns escombros.
Os cães avançam, mas nenhum deles ladra.
Na rua ao lado, um rapaz pede uma câmara térmica para encontrar uma prima que estaria dentro de outra casa completamente destruída.
É-lhe explicado que os cães já por lá andaram e também não encontraram qualquer sinal de vida.
Passados alguns metros, novamente outro pedido.
"Três vizinhos meus moravam aí. Eu não sei se estão vivos, mas, por favor, usem o cão", pede um homem velho, a chorar.
O cão entra nos escombros, mas também não sinaliza vida.
Pelo caminho, cruzam-se com a equipa portuguesa mineiros do Mar Negro, vestidos de branco, que seguem para as ruínas com as suas picaretas.
No final da operação da manhã, uma senhora, a chorar, chega ao pé da psicóloga do INEM, Joana Anjos, e dá-lhe um abraço.
"Espero que venham, mas como turistas e que todos nós nos possamos juntar, mas já sem desgraças, sem nada destruído", diz a mulher, de nome Sevim, que morava num prédio muito afetado, na baixa de Antáquia.
(Fonte: Mundo ao Minuto/Lusa)
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