28 outubro 2011

Exército Livre da Síria protegido por militares turcos

A Turquia, que já foi um dos mais próximos aliados da Síria, está a acolher um grupo armado da oposição, envolvido na revolta contra o Presidente Bashar al-Assad, num evidente desafio ao regime vizinho.
Um comandante do Exército Livre da Síria e várias dezenas de membros do grupo encontraram refúgio num campo protegido por militares turcos no outro lado da fronteira, de onde lançam ataques contra forças sírias, escreve o jornal “New York Times”.
O apoio dado a estes rebeldes insere-se numa campanha mais alargada de Ancara para fragilizar o Governo de Assad, continua o jornal: "é possível que o país imponha brevemente sanções à Síria, ao mesmo tempo que tem reforçado o apoio ao Conselho Nacional Sírio, um grupo político da oposição que anunciou a sua formação em Istambul."
De qualquer forma, escreve o mesmo jornal, a protecção ao grupo armado, que é composto por desertores do Exército, continua a ser o maior desafio até agora para Assad, que há 11 anos herdou o poder do seu pai. Ainda na quarta-feira, o Exército Livre da Síria reivindicou um ataque que matou nove soldados sírios no centro do país, num dia em que morreram no total 20 pessoas.
Os responsáveis turcos dizem que a sua relação com o comandante do grupo, coronel Riad al-Asaad, e com os outros 60 ou 70 membros, é puramente humanitária, e que a primeira preocupação é a protecção física dos desertores.
“Quando todas estas pessoas fugiram da Síria, não sabíamos quem era quem, não estava escrito nas suas testas 'sou um soldado' ou 'sou um membro da oposição', afirmou ao diário nova-iorquino um responsável do Ministério dos Negócios Estrangeiros que quis manter o anonimato. “Estamos a dar protecção a estas pessoas, com residência temporária segundo fundamentos humanitários, e iremos continuar.”
O Exército sírio tem assistido a cada vez mais divisões sectárias, e isso será uma maior ameaça ao regime do que meses de manifestações na rua, salientam alguns analistas à Reuters.
Diplomatas e peritos militares comentam que a coesão do Exército está a ruir e as deserções a aumentar à medida que a liderança, composta sobretudo por elementos da minoria alauíta (sub-seita do islão xiita), envia forças para esmagar a rebelião no país, cuja população de 20 milhões é maioritariamente sunita.
“A repressão parece ser cada vez mais insustentável. Assad está a perder a capacidade de contar com os oficiais sunitas. Está a custar muito dinheiro mobilizar tropas já exaustas e a sua capacidade de lançar ataques simultâneos aos centros de protesto está a diminuir,” comentou um diplomata europeu. “A reacção sunita contra ele está a crescer e iremos assistir a um cenário onde irá perder o interior” do país.
Bashar reuniu-se na quarta-feira com ministros da Liga Árabe para encontrar um caminho para terminar com meses de violência. O líder da delegação, o primeiro-ministro do Qatar, Sheikh Hamad bin Jassim al-Than, disse que as conversações tinham sido “cordiais e francas” e que uma nova reunião ficou marcada para o dia 30 deste mês, em Doha ou Damasco.
Os confrontos têm paralisado algumas partes do país. Segundo a ONU, a rebelião na Síria fez até agora cerca de três mil mortos. A China e a Rússia travaram no Conselho de Segurança uma resolução que ameaçava impor sanções a Damasco. Mas na quinta-feira Pequim apelou ao Presidente Assad que acelere as reformas e responda às aspirações do seu povo.
O emissário especial chinês para o Médio Oriente, Wu Sike, que se encontrou em Damasco com o chefe da diplomacia síria, Walid Mouallem, pediu “um fim a todos os actos de violência e ao derramamento de sangue, e a realização de reformas por meio do diálogo e da via pacífica”, cita a AFP.

(Fonte: Público)

Sem comentários: