In Euronews
A Euronews acaba de lançar a versão turca. Nesta ocasião especial, entrevistamos o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, e abordámos questões como as negociações de adesão à União Europeia, as relações com Israel, a questão curda e os acordos assinados com a Arménia.
Euronews: As negociações de adesão à União Europeia são lentas. Bruxelas critica a Turquia por atrasar as reformas e Ancara acusa alguns líderes europeus de barrarem o caminho à Turquia. Actualmente, estão abertos 12 capítulos das negociações, para além disso há oito que estão bloqueados pela Comissão Europeia, cinco por Paris e seis pelos Cipriotas gregos. Restam apenas quatro capítulos para abrir e negociar. O que pensa do futuro das negociações de adesão?
Recep Tayyip Erdoğan: Infelizmente, alguns Estados membros não estão a agir de forma honesta. É aqui que surge o problema. Porque é que eu digo isto? Porque estão a tentar bloquear a Turquia com condições que não existem no acervo comunitário. Isto está errado. Temos de manter em mente que nós, os líderes, somos mortais, as nações não. Uma aproximação negativa de um líder face a outro país pode influenciar negativamente a percepção que o povo desse país tem do seu líder.
Euronews: Refere-se ao presidente francês, Nicolas Sarkozy?
Erdoğan: Sim, o presidente Sarkozy provoca coisas que não são fáceis de compreender. Mas pouco importa o que fazem ou o género de obstáculos que levantam, vamos continuar a avançar com paciência. Haverá de certeza um final. Será o momento em que todos os Estados membros da União Europeia vão dizer: “Nós não aceitamos a Turquia. Não vamos parar até que digam isso. "
Euronews: Pensa que as diferenças religiosas e culturais estão na origem da posição negativa de alguns líderes europeus?
Erdoğan: A União Europeia não se deve transformar num clube cristão. A UE não deve participar numa campanha de islamofobia. Devemos avisar qualquer país que o faça. Por agora, como primeiro-ministro da Turquia, sou um líder que condena abertamente o anti-semitismo e considero-o um crime contra a humanidade. Mas também sou sensível quando se trata de islamofobia. Porque sou muçulmano e nunca poderei tolerar o anti-islamismo. Como muçulmano, vou defender a minha posição sempre que necessário. Ninguém pode associar o islão com o terrorismo. Eu, como muçulmano e primeiro-ministro da República turca, não posso dizer sim a alguém que se atreve a fazê-lo.
Euronews: O que vai acontecer se fracassarem as negociações de reunificação de Chipre? O que espera de Bruxelas e da União Europeia?
Erdoğan: Até agora, a União Europeia também não foi honesta sobre a questão de Chipre. Sessenta e cinco por cento dos Cipriotas turcos disseram sim ao plano Annan. O que é que aconteceu no sul? Setenta e cinco por cento disseram não. Agora, quem é que é honesto neste quadro? O norte de Chipre. A União Europeia tem uma grande responsabilidade no actual bloqueio em Chipre. Foi um erro histórico aceitar Chipre na União Europeia.
Gerhard Schroeder criticou duramente a política da UE ao dizer que “o norte de Chipre foi tratado de forma imoral”. Angela Merkel diz “cometemos um erro ao aceitar o sul de Chipre”. É o que dizem. Agora vemos que defendem o sul de Chipre.
Além disso, chamar Chipre ao sul de Chipre é outro erro político. Porque no norte, há um outro Estado que está em conflito com o sul. E nós, Turquia, reconhecemos o Estado do norte. Não fazemos especulações com esse Estado. Outros talvez. Não é importante para nós.
Os Estados membros da União Europeia devem lembrar-se do erro que cometeram. Vai ficar escrito assim nos livros de história.
Euronews: Pensa ver a ilha de Chipre reunificada nos próximos anos?
Erdoğan: O sul de Chipre sempre evitou uma abordagem directa. Neste ponto, a União Europeia tem de avisar o sul de Chipre. Não é um segredo que o processo de paz foi feito refém.
Euronews: Pensa que será necessário muito mais tempo para resolver a questão?
Erdoğan: Estamos a esforçar-nos para resolver a questão este ano e queremos que seja resolvida sob a égide da ONU. Podemos fazê-lo envolvendo todas as partes. As cinco. Quero dizer o norte e o sul de Chipre, a Turquia, a Grécia e o Reino Unido. Podemos resolver isto juntos.
Há alguns dias, Gordon Brown telefonou-me e perguntou-me o que é que eu queria dizer com “juntos”. Não é um problema para nós. Podemos reunir-nos e falar. O importante nesta questão é ser honesto. Se começamos o processo como Estado garantidor, temos de saber quais são essas garantias.
Esperamos que este dossiê seja resolvido este ano.
Euronews: Sobre a questão curda deu um passo histórico. Preparou um plano, um projecto, para a resolver. Actualmente, como vê esse processo?
Erdoğan: Esse é um dos pontos mais importantes da agenda nos últimos dias. Mas se lhe chamamos questão curda então estamos a minar, a enfraquecer o projecto.
O plano está ligado à unidade nacional, à amizade, não diz respeito só aos Curdos. É uma iniciativa democrática e a questão curda é apenas um dos problemas étnicos. Mas, infelizmente, fomos mal compreendidos pela sociedade ocidental.
Se considerarmos apenas a questão curda, individualmente, estamos a desrespeitar os outros grupos étnicos que fazem parte da Turquia e da nação turca. Este projecto abrange todos e estamos a trabalhar também para outros grupos étnicos.
Euronews: Como vê as relações entre a Turquia e Israel no futuro? Depois de tudo o que aconteceu, ainda pensa que a Turquia pode fazer de mediador entre Israel e a Síria e outros Estados árabes?
Erdoğan: Perder um amigo como a Turquia é algo que tem de levar Israel a reflectir. A forma como trataram o nosso embaixador não tem um equivalente na política internacional. Fizemos o nosso melhor nas relações de Israel com a Síria, mas agora vemos Benjamin Netanyahu que diz que não confia em Erdoğan, mas em Sarkozy. Temos de dar um nome a isto? Trata-se também de falta de experiência diplomática. Porque quando se diz algo do género… como é que eu posso confiar em si se você não confia em mim?
Actualmente, temos importantes acordos a avançar. Como é que seria possível manter esses acordos se há um clima de desconfiança?
Penso que Israel teria uma melhor visão das relações com os vizinhos se fosse uma potência mundial.
Euronews: Recentemente, o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Liberman, acusou-o de estar na origem das tensões entre os dois países e acusou-o de anti-semitismo. Agora, quando olha para trás, como é teria gerido este incidente? Sente que poderia tê-lo gerido de forma mais diplomática?
Erdoğan: Estou a dizer a verdade… e continuarei a fazê-lo... A Turquia é um país com muita história e temos de ter cuidado quando se fala a um tal Estado…
Quando civis inocentes são mortos de forma brutal, atingidos por bombas de fósforo, quando infra-estruturas são destruídas por bombas, quando as pessoas são forçadas a viver numa prisão ao ar livre não é possível associar tudo isto com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, simples direitos humanos. Não podemos fechar os olhos a tudo o que se passou.
Euronews: Ancara irritou-se com a interpretação feita pelo Tribunal Constitucional arménio dos protocolos turco-arménios que visam normalizar as relações entre os dois países. Face a estes desenvolvimentos, qual será o impacto da política turca em relação a estes acordos?
Erdoğan: Bem, aparentemente, o início não é o melhor. E depois o que é que estamos a negociar? O que vamos fazer? A Arménia também deve voltar a ter isso em consideração. Porque nós, Turquia, respeitamos os nossos compromissos face aos protocolos. Ambas as partes têm um roteiro. Isto vai avançar. Estamos prontos para isso. Somos sinceros e continuaremos a avançar tal como o fizemos até agora.
A Euronews acaba de lançar a versão turca. Nesta ocasião especial, entrevistamos o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, e abordámos questões como as negociações de adesão à União Europeia, as relações com Israel, a questão curda e os acordos assinados com a Arménia.
Euronews: As negociações de adesão à União Europeia são lentas. Bruxelas critica a Turquia por atrasar as reformas e Ancara acusa alguns líderes europeus de barrarem o caminho à Turquia. Actualmente, estão abertos 12 capítulos das negociações, para além disso há oito que estão bloqueados pela Comissão Europeia, cinco por Paris e seis pelos Cipriotas gregos. Restam apenas quatro capítulos para abrir e negociar. O que pensa do futuro das negociações de adesão?
Recep Tayyip Erdoğan: Infelizmente, alguns Estados membros não estão a agir de forma honesta. É aqui que surge o problema. Porque é que eu digo isto? Porque estão a tentar bloquear a Turquia com condições que não existem no acervo comunitário. Isto está errado. Temos de manter em mente que nós, os líderes, somos mortais, as nações não. Uma aproximação negativa de um líder face a outro país pode influenciar negativamente a percepção que o povo desse país tem do seu líder.
Euronews: Refere-se ao presidente francês, Nicolas Sarkozy?
Erdoğan: Sim, o presidente Sarkozy provoca coisas que não são fáceis de compreender. Mas pouco importa o que fazem ou o género de obstáculos que levantam, vamos continuar a avançar com paciência. Haverá de certeza um final. Será o momento em que todos os Estados membros da União Europeia vão dizer: “Nós não aceitamos a Turquia. Não vamos parar até que digam isso. "
Euronews: Pensa que as diferenças religiosas e culturais estão na origem da posição negativa de alguns líderes europeus?
Erdoğan: A União Europeia não se deve transformar num clube cristão. A UE não deve participar numa campanha de islamofobia. Devemos avisar qualquer país que o faça. Por agora, como primeiro-ministro da Turquia, sou um líder que condena abertamente o anti-semitismo e considero-o um crime contra a humanidade. Mas também sou sensível quando se trata de islamofobia. Porque sou muçulmano e nunca poderei tolerar o anti-islamismo. Como muçulmano, vou defender a minha posição sempre que necessário. Ninguém pode associar o islão com o terrorismo. Eu, como muçulmano e primeiro-ministro da República turca, não posso dizer sim a alguém que se atreve a fazê-lo.
Euronews: O que vai acontecer se fracassarem as negociações de reunificação de Chipre? O que espera de Bruxelas e da União Europeia?
Erdoğan: Até agora, a União Europeia também não foi honesta sobre a questão de Chipre. Sessenta e cinco por cento dos Cipriotas turcos disseram sim ao plano Annan. O que é que aconteceu no sul? Setenta e cinco por cento disseram não. Agora, quem é que é honesto neste quadro? O norte de Chipre. A União Europeia tem uma grande responsabilidade no actual bloqueio em Chipre. Foi um erro histórico aceitar Chipre na União Europeia.
Gerhard Schroeder criticou duramente a política da UE ao dizer que “o norte de Chipre foi tratado de forma imoral”. Angela Merkel diz “cometemos um erro ao aceitar o sul de Chipre”. É o que dizem. Agora vemos que defendem o sul de Chipre.
Além disso, chamar Chipre ao sul de Chipre é outro erro político. Porque no norte, há um outro Estado que está em conflito com o sul. E nós, Turquia, reconhecemos o Estado do norte. Não fazemos especulações com esse Estado. Outros talvez. Não é importante para nós.
Os Estados membros da União Europeia devem lembrar-se do erro que cometeram. Vai ficar escrito assim nos livros de história.
Euronews: Pensa ver a ilha de Chipre reunificada nos próximos anos?
Erdoğan: O sul de Chipre sempre evitou uma abordagem directa. Neste ponto, a União Europeia tem de avisar o sul de Chipre. Não é um segredo que o processo de paz foi feito refém.
Euronews: Pensa que será necessário muito mais tempo para resolver a questão?
Erdoğan: Estamos a esforçar-nos para resolver a questão este ano e queremos que seja resolvida sob a égide da ONU. Podemos fazê-lo envolvendo todas as partes. As cinco. Quero dizer o norte e o sul de Chipre, a Turquia, a Grécia e o Reino Unido. Podemos resolver isto juntos.
Há alguns dias, Gordon Brown telefonou-me e perguntou-me o que é que eu queria dizer com “juntos”. Não é um problema para nós. Podemos reunir-nos e falar. O importante nesta questão é ser honesto. Se começamos o processo como Estado garantidor, temos de saber quais são essas garantias.
Esperamos que este dossiê seja resolvido este ano.
Euronews: Sobre a questão curda deu um passo histórico. Preparou um plano, um projecto, para a resolver. Actualmente, como vê esse processo?
Erdoğan: Esse é um dos pontos mais importantes da agenda nos últimos dias. Mas se lhe chamamos questão curda então estamos a minar, a enfraquecer o projecto.
O plano está ligado à unidade nacional, à amizade, não diz respeito só aos Curdos. É uma iniciativa democrática e a questão curda é apenas um dos problemas étnicos. Mas, infelizmente, fomos mal compreendidos pela sociedade ocidental.
Se considerarmos apenas a questão curda, individualmente, estamos a desrespeitar os outros grupos étnicos que fazem parte da Turquia e da nação turca. Este projecto abrange todos e estamos a trabalhar também para outros grupos étnicos.
Euronews: Como vê as relações entre a Turquia e Israel no futuro? Depois de tudo o que aconteceu, ainda pensa que a Turquia pode fazer de mediador entre Israel e a Síria e outros Estados árabes?
Erdoğan: Perder um amigo como a Turquia é algo que tem de levar Israel a reflectir. A forma como trataram o nosso embaixador não tem um equivalente na política internacional. Fizemos o nosso melhor nas relações de Israel com a Síria, mas agora vemos Benjamin Netanyahu que diz que não confia em Erdoğan, mas em Sarkozy. Temos de dar um nome a isto? Trata-se também de falta de experiência diplomática. Porque quando se diz algo do género… como é que eu posso confiar em si se você não confia em mim?
Actualmente, temos importantes acordos a avançar. Como é que seria possível manter esses acordos se há um clima de desconfiança?
Penso que Israel teria uma melhor visão das relações com os vizinhos se fosse uma potência mundial.
Euronews: Recentemente, o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Liberman, acusou-o de estar na origem das tensões entre os dois países e acusou-o de anti-semitismo. Agora, quando olha para trás, como é teria gerido este incidente? Sente que poderia tê-lo gerido de forma mais diplomática?
Erdoğan: Estou a dizer a verdade… e continuarei a fazê-lo... A Turquia é um país com muita história e temos de ter cuidado quando se fala a um tal Estado…
Quando civis inocentes são mortos de forma brutal, atingidos por bombas de fósforo, quando infra-estruturas são destruídas por bombas, quando as pessoas são forçadas a viver numa prisão ao ar livre não é possível associar tudo isto com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, simples direitos humanos. Não podemos fechar os olhos a tudo o que se passou.
Euronews: Ancara irritou-se com a interpretação feita pelo Tribunal Constitucional arménio dos protocolos turco-arménios que visam normalizar as relações entre os dois países. Face a estes desenvolvimentos, qual será o impacto da política turca em relação a estes acordos?
Erdoğan: Bem, aparentemente, o início não é o melhor. E depois o que é que estamos a negociar? O que vamos fazer? A Arménia também deve voltar a ter isso em consideração. Porque nós, Turquia, respeitamos os nossos compromissos face aos protocolos. Ambas as partes têm um roteiro. Isto vai avançar. Estamos prontos para isso. Somos sinceros e continuaremos a avançar tal como o fizemos até agora.
Sem comentários:
Enviar um comentário