Por José Cutileiro
No Domingo passado, o comissário europeu alemão, Günter Verheugen, falando à rádio no seu país disse que a União Europeia precisa mais da Turquia do que a Turquia precisa da União Europeia. "A Turquia é de importância estratégica primordial. Falo da segurança de toda a região. Imagine-se o que aconteceria se a Turquia decidisse tomar caminho diferente do de uma ancoragem firme na comunidade dos estados ocidentais. Seria um muito, muito grande risco para nós que é melhor não correr". Acrescentou que uma adesão turca à União Europeia "teria enorme vantagem para nós, ajudar-nos-ia a regularizar sem conflito as relações entre as democracias ocidentais e o mundo muçulmano do século XXI". Palavras assim, vindas de um responsável da União, são hoje raras. É de esperar que não venham tarde de mais - e que outras figuras europeias de peso digam coisas parecidas.
Porque a crise encurtou as vistas de muitos dirigentes políticos europeus e dos seus eleitores. No mesmo espírito em que se advogam medidas proteccionistas no comércio externo - o que é caminho certo para penúria geral - quer-se proibir a Turquia de entrar na União, com alguns a oferecerem-lhe em vez disso uma 'relação especial' impossível de configurar na prática - juntando assim o insulto à injúria. Sem coragem de serem politicamente incorrectos e admitirem que não querem os Turcos por estes, na sua esmagadora maioria, não serem cristãos mas muçulmanos, preferem declarar que é porque os Turcos não são europeus. Helmut Kohl dizia sempre que no mapa que tinha quando andava na escola a Anatólia era na Ásia. Esquecera entretanto a História: desde meados do século XIX até à sua extinção em 1923, muita gente, a começar pelo czar Nicolau I, chamara ao Império Otomano "o doente da Europa" - e não "o doente da Ásia".
Em Ancara e Istambul esta má vontade de chefes políticos europeus é aproveitada não só por extremistas religiosos mas também por nacionalistas laicos - interessados nas vantagens económicas de uma associação sem as obrigações morais e políticas da adesão - para reforçarem a propaganda antieuropeia no país e faz parecer a entrada da Turquia na União cada vez mais remota. Entretanto, o leque diplomático da 17.ª potência económica do mundo alarga-se para lá da pertença à NATO e da ambição europeia. As relações com a Rússia, seu principal fornecedor de energia, reforçam-se com o acordo recente com a Arménia; a solidariedade islâmica reafirma-se (cancelamento de exercícios militares com Israel por causa de Gaza; acusação de "genocídio" dos iugures por Pequim); a ambição de mediador no Médio Oriente (com a Síria, o Irão, até Israel) mantém-se.
A Turquia levará tempo a satisfazer requisitos cívicos e políticos de adesão. Mas o verdadeiro problema seria se xenofobia europeia e orgulho ferido otomano não deixassem fechar o negócio. Nesse dia Ancara continuaria a ter muito para onde se virar mas a Europa ficaria com um flanco perigosamente aberto.
No Domingo passado, o comissário europeu alemão, Günter Verheugen, falando à rádio no seu país disse que a União Europeia precisa mais da Turquia do que a Turquia precisa da União Europeia. "A Turquia é de importância estratégica primordial. Falo da segurança de toda a região. Imagine-se o que aconteceria se a Turquia decidisse tomar caminho diferente do de uma ancoragem firme na comunidade dos estados ocidentais. Seria um muito, muito grande risco para nós que é melhor não correr". Acrescentou que uma adesão turca à União Europeia "teria enorme vantagem para nós, ajudar-nos-ia a regularizar sem conflito as relações entre as democracias ocidentais e o mundo muçulmano do século XXI". Palavras assim, vindas de um responsável da União, são hoje raras. É de esperar que não venham tarde de mais - e que outras figuras europeias de peso digam coisas parecidas.
Porque a crise encurtou as vistas de muitos dirigentes políticos europeus e dos seus eleitores. No mesmo espírito em que se advogam medidas proteccionistas no comércio externo - o que é caminho certo para penúria geral - quer-se proibir a Turquia de entrar na União, com alguns a oferecerem-lhe em vez disso uma 'relação especial' impossível de configurar na prática - juntando assim o insulto à injúria. Sem coragem de serem politicamente incorrectos e admitirem que não querem os Turcos por estes, na sua esmagadora maioria, não serem cristãos mas muçulmanos, preferem declarar que é porque os Turcos não são europeus. Helmut Kohl dizia sempre que no mapa que tinha quando andava na escola a Anatólia era na Ásia. Esquecera entretanto a História: desde meados do século XIX até à sua extinção em 1923, muita gente, a começar pelo czar Nicolau I, chamara ao Império Otomano "o doente da Europa" - e não "o doente da Ásia".
Em Ancara e Istambul esta má vontade de chefes políticos europeus é aproveitada não só por extremistas religiosos mas também por nacionalistas laicos - interessados nas vantagens económicas de uma associação sem as obrigações morais e políticas da adesão - para reforçarem a propaganda antieuropeia no país e faz parecer a entrada da Turquia na União cada vez mais remota. Entretanto, o leque diplomático da 17.ª potência económica do mundo alarga-se para lá da pertença à NATO e da ambição europeia. As relações com a Rússia, seu principal fornecedor de energia, reforçam-se com o acordo recente com a Arménia; a solidariedade islâmica reafirma-se (cancelamento de exercícios militares com Israel por causa de Gaza; acusação de "genocídio" dos iugures por Pequim); a ambição de mediador no Médio Oriente (com a Síria, o Irão, até Israel) mantém-se.
A Turquia levará tempo a satisfazer requisitos cívicos e políticos de adesão. Mas o verdadeiro problema seria se xenofobia europeia e orgulho ferido otomano não deixassem fechar o negócio. Nesse dia Ancara continuaria a ter muito para onde se virar mas a Europa ficaria com um flanco perigosamente aberto.
(Fonte: Expresso)
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