Gasoduto será passo determinante para combater a dependência extrema dos fornecedores russos.
Nabucco, rei de Babilónia, ópera verdiana, gasoduto. Ligar o Mar Cáspio à Europa, sem passar por território russo, diminui o poder ameaçador de Moscovo e dá pontos à Turquia. Mas ainda não passa do papel e levanta dúvidas.
Quatro estados-membros da União Europeia - Áustria, Bulgária, Hungria e Roménia - assinaram com a Turquia, em Ancara, o acordo que levará à construção do Nabucco, longamente esperado gasoduto de 3300 quilómetros que ligará o Cáspio à Europa através da Anatólia. Com a capacidade de debitar 31 mil milhões de metros cúbicos por ano, a estrutura traz à liça várias questões: que gás transportará e, prevendo-se que entre em funcionamento em 2014, que atitude terá, até lá, a Rússia, que assegura 30% das necessidades europeias?
Em princípio, será o Azerbaijão o principal fornecedor, mas, como há tempos avisava o gigante Gazprom (não só o maior extractor de gás do Mundo mas também a maior companhia russa), a Europa terá de tomar decisões, atendendo a que, além deles próprios, só dois outros países têm capacidade de assegurar fornecimento no longo prazo: o Qatar e o Irão. Ora, que entendimento será possível com o Irão, que fica mesmo no enfiamento do gasoduto, atendendo ao posicionamento da República Islâmica no concerto internacional? O Iraque é outro potencial fornecedor, mas também aí há problemas políticos. A complicar as coisas, também a China quer estar ligada por gasodutos ao Mar Cáspio. A completar o ramalhete, Moscovo pressiona países como o Azerbaijão, o Turquemenistão ou o Cazaquistão, antigas repúblicas soviéticas, no sentido de canalizarem o gás para norte, isto é, para a rede russa de gasodutos, em vez de o enviarem para ocidente.
Por pressão dos Estados Unidos, a criação de um corredor na Geórgia, que permita a passagem do gasoduto entre o Azerbaijão e a Turquia, estimulou os investidores. Mas os Russos não estão prontos a ceder, a a ida de Dmitri Medvedev, ontem, à região separatista da Ossétia do Sul, está claramente ligada à apresentação do Nabucco. Também dos Norte-americanos tem saído, sempre, a pressão para que a Turquia integre a União Europeia, sendo nesse contexto que o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan afirmou, ontem, estar face a "um momento histórico".
O projecto vem sendo desenvolvido ao longo dos últimos sete anos, por Turcos, Austríacos, Búlgaros, Húngaros, Romenos e pela Comissão Europeia, representada no acto de ontem por Durão Barroso. Divergências que havia entre os signatários terão sido diluídas quando o Azerbaijão, recentemente, decidiu vender à Rússia parte da sua produção de gás natural, precipitando a obtenção de um acordo.
A Rússia, recorde-se, está também a apostar em novos gasodutos para abastecer a Europa. A norte que ligará a Rússia directamente à Alemanha, pelo Mar Báltico, e a sul, ligando à Bulgária pelo Mar Negro.
(Fonte: Jornal de Notícias)
Sem comentários:
Enviar um comentário