O líder do Partido da Sociedade Democrática, ou DTP, Ahmet Türk, chocou o país esta semana, ao falar Curdo no Parlamento turco. Numa sessão parlamentar, ele lembrou que no dia 21 de Fevereiro se celebrava o "Dia Internacional da Língua Materna", e depois começou a discursar na sua língua, o Curdo. De imediato, os media reportaram o incidente como notícia de última hora. A TRT 3, o canal público que transmite em directo as sessões parlamentares, parou de imediato a emissão. O presidente do Parlamento, Köksal Toptan, frisou que era contra a Constituição a utilização de outra língua que não o Curdo no Parlamento. Os líderes da oposição criticaram não só Ahmet Türk, mas também o Governo (AKP), que vêem como um colaborador na causa pró-curda.
A opinião pública turca divide-se. Liberais, como Cengiz Çandar ou Oral Çalışlar defendem que Ahmet Türk fez bem em quebrar o tabu. Outros colunistas, tipicamente preocupados com as "fundações do regime," apresentam-se mais críticos. De acordo com Fikret Bila do diário Milliyet, o discurso de Ahmet Türk provou claramente que ele e o seu partido se dedicam a criar "dois povos" na Turquia: um Turco e outro Curdo. Segundo Bila, este foi um ataque grave ao país, que não pode ser tolerado. Esta é a posição mais bem aceite na Turquia. Identidades indesejáveis têm sido despejadas do Parlamento ocasionalmente. Para além dos golpes militares, que o fizeram totalmente, houveram dois momentos dramáticos nos anos 90. No primeiro caso, em 1994, um grupo de deputados curdos, que incluíram a controversa e famosa Leyla Zana, tentaram prestar o seu juramento em Curdo. Foram privados dos seus assentos e condenados a uma pena de prisão. Em 1999, a recém-eleita Merve Kavakçı atreveu-se a entrar no Parlamento com o véu islâmico. Centenas de deputados secularistas protestaram contra a sua presença, e esta foi levada do Parlamento. Merve Kavakçı perdeu a nacionalidade turca.
Há dois símbolos intocáveis na República turca: o secularismo, personificado pelo legado de Atatürk, e a identidade turca simbolizada pela sua língua. Com a passagem do tempo, as reacções aos "atentados" aos alicerces da República turca têm-se tornado menos intempestivas. Ahmet Türk não será "crucificado" por ter falado turco no Parlamento, o que teria sido diferente há 10 anos atrás.
A questão crucial é a seguinte: O que realmente pretende o povo curdo? Pretende fazer parte de uma Turquia democrática que respeite as suas liberdades individuais, ou está convencido de que é um povo totalmente diferente do povo turco e que precisa de um território diferente? Esta é a questão que permanece por responder e que fervilha e inquieta. O partido de Ahmet Türk, o DTP, não convence quanto ao seu real objectivo. Será que o seu plano a longo prazo é a criação de uma nação curda independente? Enquanto esse receio permenecer no ar, as reformas que podem possibilitar mais direitos ao povo curdo estão comprometidas. Talvez se no próximo discurso do DTP se ouvir falar da arte da coexistência étnica o panorama se altere.
Sem comentários:
Enviar um comentário