18 setembro 2007

A ascenção do islamismo moderado e o futuro da República turca


A ascensão de Abdullah Gül, um conservador islâmico de 56 anos, à Presidência da Turquia pode ter repercussões em todos os países muçulmanos. A escolha tem potencial para modificar a política interna da potência regional, mas terá também implicações para a Europa, a prazo, pois reforça as ambições turcas de integração na União Europeia. A Turquia é um dos principais membros da NATO e a 17.ª economia do mundo, a maior entre os países de maioria muçulmana. A eleição presidencial, por escolha parlamentar, foi difícil e durou quatro meses, devido à oposição dos partidos republicanos. O dramático acto final, a 28 de Agosto, só foi possível após eleições antecipadas, a vitória esmagadora dos conservadores islâmicos nas urnas e, mesmo assim, com alguns avisos militares. Gül conseguiu 399 votos, em 550, mas a sua mulher, que usa véu islâmico, não assistiu à tomada de posse. O mandato do novo Presidente terá a vigilância dos generais, sobretudo do chefe de Estado-Maior, Yaşar Büyükanıt. Gül tem origem no movimento político islâmico, que é visto pela élite secular turca com enorme desconfiança. Na Turquia, o sistema laico domina a justiça, os media e o exército, que derrubou (ou ajudou a derrubar) quatro governos eleitos nos últimos 50 anos. O motivo invocado foi sempre o mesmo: defender a república secular fundada por Mustafa Kemal Atatürk, em 1923. O Partido da Beneficência, a que pertencia Gül no final dos anos 90, foi vítima de uma dessas intervenções. Quando ajudou a fundar um novo partido de raiz islâmica, em 2001, o Justiça e Desenvolvimento (cuja sigla AK significa puro, em turco), o actual Presidente não podia adivinhar o êxito que teria a estratégia moderada: na altura, não tinha acesso aos media, era execrado pelos poderosos militares e ostracizado pelos partidos republicanos. O líder do partido, e actual primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan, então presidente da Câmara de Istambul, enfrentava a justiça, por ter lido um poema islamita num comício. Apenas seis anos depois, o poder do AKP não tem paralelo na história da República turca. O partido de Gül e Erdoğan venceu as eleições de 2002 e, após prometer respeitar as instituições laicas, governou durante quatro anos, produzindo uma verdadeira revolução. Gül foi primeiro-ministro durante alguns meses (enquanto Erdoğan esteve impedido) e assumiu a difícil pasta dos Negócios Estrangeiros, que incluía as negociações com a UE. Mas a ascensão ao poder do AKP por ser tão completa, inclui desafios difíceis. Em primeiro lugar, os conservadores islâmicos terão de cumprir a sua promessa de respeitarem o carácter secular da República. A questão do véu será decisiva. Há também o problema dos separatistas curdos, que o AKP tratou de forma inovadora, nos últimos quatro anos. E a questão da relação com a UE. Com um sistema democrático que cumpre os critérios de adesão, não haverá argumentos para excluir a Turquia da adesão. A economia cresce a 7% ao ano e, a manter-se o ritmo, em 2020 a Turquia terá a sexta economia da UE e a maior população.

(Fonte: DN)

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