13 maio 2009

Cavaco Silva no caldeirão turco

Quando Cavaco Silva entrou no hemiciclo da Grande Assembleia Nacional, pouco depois das 16h00 locais, menos duas em Lisboa, estavam menos de metade dos deputados presentes. O momento mais aguardado da visita presidencial, até pelo facto de ser raro o convite a chefes de Estado – só os presidentes de Israel, da Autoridade Palestiniana, Bill Clinton e em Abril último Barak Obama tiveram esse privilégio –, ficou assim marcado pela ausência de um grande número de deputados. E Cavaco só conseguiu arrancar palmas ao seu discurso de 21 minutos e 51 segundos quando afirmou "que gostaria de vos ter à mesa das decisões europeias" e, já no final da intervenção, quando disse que "houve algo que sempre me tocou: as semelhanças que encontrei entre nós e que fazem com que algumas vezes me pergunte se saí realmente do meu país".
A visita de Cavaco Silva acontece num momento em que se vive uma grave crise política na Turquia. O partido islamita moderado no poder, o AKP, teve uma grande queda eleitoral nas autárquicas de Março passado, que beneficiou essencialmente o Partido Saadet, dos islamitas radicais. Outro derrotado das autárquicas foi o principal partido da oposição, o CHP, Partido Republicano do Povo, laico, fundado por Atartürk, o pai da República turca. Estes resultados deixaram marcas, e o primeiro-ministro, Erdoğan, foi obrigado a anunciar no início do mês uma profunda remodelação no seu Governo. Foi no meio deste caldeirão que Cavaco deixou Ancara a caminho de Istambul, num dia que curiosamente começou com uma homenagem a Atartürk e acabou com uma audiência ao líder do Partido Republicano do Povo, Deniz Baykal.

Maria professora de repente

Maria Cavaco Silva transforma-se quando entra numa sala de aula cheia de alunos. Deixa de ser a mulher do Presidente da República, abandona a pose protocolar, despe o casaco, levanta-se, anda entre as carteiras, conversa com rapazes e raparigas. É a partir desse momento a professora com uma longa carreira docente. Foi o que aconteceu ontem à tarde na Universidade de Ancara, depois da assinatura de um protocolo com o Instituto Camões para o desenvolvimento de estudos portugueses e apoio ao único leitor de Português da Faculdade de Línguas, História e Geografia. Maria Cavaco Silva foi assistir à aula de Português dada por Tiago Paixão, ouviu poemas da boca de estudantes turcos, falou e riu com eles e emocionou-se por estar ali, em Ancara, numa aula de Português. E ainda mais quando um jovem lhe leu na língua de Camões o poema ‘De Repente’, de um poeta turco.

(Fonte: Correio da Manhã)

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