13 novembro 2006

O governo foi vaiado no funeral de Ecevit


No funeral de Bülent Ecevit, as cerca de 25 000 pessoas que se deslocaram à mesquita Kocatepe e as outras dezenas de milhar que estiveram nas ruas circundantes, demonstraram a sua admiração por Ecevit e criticaram o governo.
Ouviram-se frases como estas: “A Turquia é secular e permanecerá secular” ou “Çankaya [onde se localiza o palácio presidencial] permanecerá secular”, slogans que elogiam a linha política de Ecevit comprometida com o secularismo. Também se ouviu: “Ecevit do Povo”, o slogan com que foi eleito cinco vezes para o cargo de primeiro-ministro durante a sua longa carreira política de quase cinco décadas.
A multidão rapidamente começou a assobiar e a entoar cânticos de protesto pró-seculares quando o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Abdullah Gül, e outros ministros do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no governo) chegaram à mesquita Kocatepe por uma entrada secundária, em vez da entrada reservada ao protocolo.
A multidão vaiou Erdoğan ainda mais alto quando este abandonou a mesquita. Vários outros membros do governo, tais como o porta-voz do parlamento, Bülent Arınç, foram alvo de protestos semelhantes.
Desde que subiu ao poder em 2002, Erdoğan aumentou as preocupações seculares, insurgindo-se contra as restrições sobre o uso do véu islâmico em edifícios e escolas públicas e apoiando as escolas religiosas. Tentou também criminalizar o adultério, mas foi forçado a recuar pela União Europeia. Algumas câmaras municipais do partido do governo tentaram adoptar medidas para proibir o consumo de álcool.
O governo de Erdoğan nega ter uma agenda islâmica. Tem mostrado um compromisso com a adesão à União Europeia, promulgando reformas abrangentes que permitiram ao país iniciar as conversações de adesão no ano passado. Mas a administração de Erdoğan tem sofrido duras críticas da União Europeia por julgar jornalistas e escritores devido às leis repressivas que impedem a liberdade de expressão.
Muitos secularistas estão cada vez mais preocupados com a possibilidade de Erdoğan se tornar presidente e substituir o presidente secular Sezer quando este se retirar em Maio. O parlamento, dominado pelos deputados do AKP, irá eleger o novo presidente. Erdoğan terá de desistir do cargo de primeiro-ministro para se tornar presidente, caso tal venha a acontecer.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Lídia,
desculpe contactá-la através do seu blog, mas n descobri outra forma de o fazer. sou jornalista e parto em breve para a Turquia. pensa quer seria possível contactar consigo por mail?
obrigado.
danielrosario@hotmail.com