03 junho 2010

Istambul recebe activistas como heróis


Foto: EPA

O governo turco recebeu esta quinta-feira, em Istambul, 488 activistas que integraram a frota humanitária atacada por comandos israelitas na aproximação à Faixa de Gaza. Com o dedo apontado ao Estado hebraico, Bulent Arınc, vice-primeiro-ministro no Executivo de Recep Tayyip Erdoğan, afirmou que os militantes “enfrentaram a barbárie” e “regressaram com orgulho”. Israel reage: “Aquilo não foi o barco do amor”.
"Deus é grande". A frase perpassou esta quinta-feira os lábios de milhares de Turcos reunidos no aeroporto de Istambul para acolher como heróis os activistas deportados por Israel na sequência da operação militar de segunda-feira. Sobrepujada por bandeiras palestinianas, a multidão entoou outras palavras de ordem. "A Turquia está orgulhosa de vós" e "abaixo Israel" foram algumas das mais ouvidas.
Três aviões equipados com material médico transportaram 488 activistas turcos integrados na "Frota da Liberdade" para Istambul. Outros 35 militantes gregos regressaram a casa a bordo de um C-130 e 31 elementos argelinos da iniciativa de apoio à Faixa de Gaza viajaram de Omã para Argel. Segundo um porta-voz das autoridades israelitas, apenas três activistas oriundos da Irlanda, Itália e Austrália ficaram no Estado hebraico por "razões técnicas".
Os activistas recebidos em Istambul foram encaminhados, momentos após a chegada, para um instituto forense, onde deverão ser submetidos a testes médicos e ouvidos pelas autoridades judiciárias. "Sentimos que era necessário", explicou aos jornalistas o vice-primeiro-ministro turco Bulent Arınç. "Podemos procurar justiça nas leis internacionais e podemos precisar de certas provas para o fazer. É possível que lhes tenham dado alguns medicamentos ou substâncias similares em Israel. Os resultados dos testes vão determiná-lo", acrescentou.

"Hipocrisia"

Na noite de quarta-feira, o primeiro-ministro israelita saiu a terreiro para rejeitar todos os apelos ao levantamento do bloqueio à Faixa de Gaza e ao governo pária do movimento radical Hamas, que administra aquele território desde o conflito fratricida de 2007 contra a Fatah e a Autoridade Palestiniana. Benjamin Netanyahu insistiu no argumento de que o embargo protege Israel de ataques com granadas de morteiro e classificou de "hipocrisia" as críticas desferidas pela comunidade internacional após os acontecimentos do início da semana.
"Aquilo não foi o barco do amor. Foi o barco do ódio. Não se tratou de uma operação pacifista. Foi uma operação terrorista. Israel é vítima de um assalto de hipocrisia internacional", afirmou o "falcão" Netanyahu.
As autoridades israelitas divulgaram um registo de vídeo que mostra um grupo de activistas a agredir os comandos que abordaram o ferry turco "Mavi Marmara", o maior dos seis navios da "Frota da Liberdade", então com 600 pessoas a bordo. O advogado Bülent Yıldırım, presidente da organização humanitária IHH, garante que se tratou de um caso de legítima defesa. E adianta que os activistas atiraram à água várias armas dos operacionais israelitas. Telavive afirma que dois dos sete soldados feridos foram atingidos a tiro.
"Mesmo que tivéssemos usado as armas, isso continuaria a ser legítima defesa", reiterou Yıldırım, citado pela Associated Press.

"Quebrar" o bloqueio "por todos os meios"

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, instou ontem o governo de Netanyahu a "levantar imediatamente" o bloqueio imposto à Faixa de Gaza, considerando a posição do Estado hebraico "contra-producente, insustentável e imoral". Mas a reacção mais áspera partiu dos países-membros da Liga Árabe, cujos ministros dos Negócios Estrangeiros se propuseram "quebrar" e "desafiar" o embargo "por todos os meios".
Ao cabo de uma reunião de cinco horas, o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, adiantou que o Conselho Ministerial da organização "saudou" também a decisão, por parte do governo egípcio, de abrir o terminal de Rafah por tempo indeterminado. Os ministros encarregaram ainda as delegações árabes na ONU de "exigir, em coordenação com a Turquia, uma reunião do Conselho de Segurança para adoptar uma resolução a obrigar Israel a levantar imediatamente o bloqueio a Gaza".
Em Washington, a administração Obama limita-se a reiterar a vontade de que o governo de Benjamin Netanyahu ponha em marcha o inquérito pedido pela ONU, defendendo que Telavive tem capacidade para fazer uma investigação "credível". "Pensamos que Israel é o melhor colocado para dirigir este inquérito. É perfeitamente capaz de inquirir sobre um caso que implicou as suas forças. Israel pode conduzir um inquérito justo, transparente e credível? A resposta é sim", declarou Philip Crowley, porta-voz do departamento de Estado norte-americano.

(Fonte: RTP)

Sem comentários: