20 fevereiro 2007

Escritor curdo Mehmet Uzun foi homenageado em Istambul



Dezasseis escritores e editores da Suécia, Noruega e Turquia, prestaram tributo ao escritor curdo Mehmet Uzun com uma conferência na Universidade Bilgi, em Istambul.
Mehmet Uzun, que é Curdo mas cidadão turco, passou 15 anos no exílio, na Suécia, onde iniciou a sua longa caminhada para a criação de uma tradição literária curda.
Durante esta conferência, que durou um dia, os oradores apontaram os problemas enfrentados pelos autores que tiveram de deixar as suas culturas e países, e destacaram o estatuto de Mehmet Uzun, como o mais importante escritor da literatura moderna curda.
O escritor Eugene Schoulgin, que foi presidente do comité internacional dos escritores presos entre 2000 e 2004, abordou as dificuldades de se ser escritor no exílio e de se ter memórias de um país natal, ao mesmo tempo que se tenta adaptar a um país novo. Schoulgin concluiu: “Para Mehmet Uzun, eu penso que a sua vida no exílio lhe deu tanto quanto lhe tirou, mas ele é a prova viva de que nada pode impedir um verdadeiro escritor de criar, desde que continue a lutar contra as barricadas, que tanto podem ser criadas por poderes intelectualmente inferiores, ou pela sua própria mente misteriosa.”
Mehmet Uzun falou no final da conferência, dizendo que não estava acostumado a presidir a encontros deste género, porque no passado as suas palavras e obras tinham sido discutidas em esquadras de polícia, gabinetes de advogados e tribunais. Destacou que escreveu sempre sobre “o vencido e o oprimido”.
Durante os 15 anos de exílio na Suécia, Uzun escreveu muitos romances e ensaios em Curdo, Turco e Sueco, mas quando os seus trabalhos começaram a ser publicados na Turquia, as autoridades turcas abriram casos na justiça contra ele. Mehmet Uzun foi absolvido de todas as acusações.
Na passada Primavera foi-lhe diagnosticado cancro, e os médicos que o acompanhavam não lhe deram mais esperanças. Contudo, quando voltou à Turquia de avião e numa maca por estar demasiado fraco, continuou o tratamento em Diyarbakır, no sudeste da Turquia, e começou a melhorar. Ele próprio apelida a sua recuperação de “milagrosa”, e realçou o facto de estar "determinado a continuar a escrever sobre os vencidos e oprimidos”.
Uzun tem estado a trabalhar num romance baseado na vida de Erich Auerbach. Antes de lhe ter sido diagnosticado cancro, revelou que tinha completado a fase preliminar do trabalho e que iria começar a escrever o livro. Auerbach, um filólogo judeu, escapou à Alemanha nazi e passou anos a ensinar na Universidade de Istambul. O seu livro mais conhecido, "Mimesis", analisa a representação da realidade na literatura ocidental. Ao longo da sua jornada tem chamado a atenção múltiplas vezes para a importância de um escritor ser livre de ideologias, governos e pontos de vista oficiais. Nesse contexto, Uzun disse que “para a salvação do homem e da humanidade, têm de existir condições de justiça, perdão, consciência, igualdade e liberdade.” Destacou igualmente que um escritor tem de confiar nesses valores.
No fim da conferência, Uzun recebeu uma grande ovação e depois autografou livros e posou para os fotógrafos.



Da vasta audiência presente nesta conferência, fizeram parte várias figuras ligadas à literatura, como escritores e académicos, de entre os quais o grande escritor turco Yaşar Kemal e a sua esposa Ayşe Semiha. Uzun chama a Kemal, que foi várias vezes nomeado para o prémio Nobel da Literatura, o seu pai espiritual. Ele próprio também já foi nomeado para o prémio Nobel da Literatura.
A conferência foi patrocinada pelo Departamento de Literatura Comparada da Universidade Bilgi e pelo Comité Sueco Mehmet Uzun, com o apoio do Consulado Geral Sueco em Istambul.
O assunto da sessão da manhã foi “escrever numa linguagem pautada por obstáculos”. Também foram analisados exemplos e contributos das obras de Mehmet Uzun, no âmbito da relação entre a linguagem e a literatura. A segunda sessão começou com a questão: “O que aconteceu ao contador de histórias?”. Foi focada a atenção nas tradições da literatura oral e no contador de histórias como o personagem básico nos romances de Uzun. Os oradores da conferência foram Eugene Schoulgin, Thorvald Steen, Necmiye Alpay, Seyhmus Diken, Asli Erdoğan, Muhsin Kizilkaya, Bjorn Linnell, Per Erik Ljung, Azar Mahloujian, Jonas Modig, Maria Modig, Jale Parla, Gellert Tamas, Belim Temo, A. Omer Turkes e Ragip Zarakolu.

1 comentário:

contradicoes disse...

Vim agradecer-lhe e retribuir a visita, tal como o link que já retribuí.É gratificante registar
uma visita de tão longínqua paragem.
Passarei por aqui mais vezes para apreciar a sua abordagem sobre uma realidade que desconheço em absoluto.
Até breve