09 setembro 2024

Indústria de têxtil e vestuário turca em dificuldades



O aumento dos custos provocado pela inflação está a afetar as encomendas para exportação e a levar ao encerramento de muitas empresas, com a indústria têxtil e vestuário do país a pedir algum tipo de proteção.

Milhares de empresas turcas, incluindo as que produzem têxteis e vestuário para retalhistas e marcas internacionais, estão a ser pressionadas pela inflação no país, que ultrapassou 75% no início deste ano, a sobrevalorização da lira, aumentos nos preços da energia e diminuição de encomendas.

"Os pedidos estão a diminuir diariamente porque estamos a perder competitividade… e acho que vão diminuir ainda mais", afirma, à Reuters, Doğan Duman, proprietário de uma empresa de confeção no centro da Turquia, em Çorum, que produz casacos para a Zara. A empresa, com 27 anos de atividade, teve de reduzir em cerca de um terço o número de trabalhadores, empregando agora 210 pessoas, e está a trabalhar a 60% da sua capacidade. 

A Turquia é um dos cinco maiores produtores de vestuário do mundo, mas, apesar da vantagem da proximidade com a Europa, que representa o seu principal mercado, Doğan Duman indica que o aumento dos custos com a energia e mão de obra e o câmbio está a deixar o país atrás de rivais como o Vietnam e o Bangladesh. "Tendo em conta a taxa de câmbio da lira atualmente e o aumento esperado do salário mínimo no próximo ano, acho que não seremos capazes de concorrer. Estaremos no ponto de fechar", acredita.

Os negócios e as famílias turcas estão a enfrentar as consequências económicas de aumentos de uma taxa acumulada de 41,5% que começou em junho do ano passado e que começam agora a arrefecer a inflação, que caiu 52% no mês passado.

Com o crédito agora fora do alcance de muitos e a depreciação da lira muito aquém dos aumentos mensais dos preços, as empresas, especialmente as que exportam têxteis e vestuário, estão em dificuldade. Fecharam cerca de 15 mil empresas nos primeiros sete meses deste ano, um aumento de 28% em comparação com 2023, de acordo com a União das Câmaras e Bolsas de Mercadorias da Turquia (TOBB na sigla original), citada pela Reuters.

Outros dados sugerem uma subida do número de empresas em stress. A entidade de monitorização do mercado konkordatotakip.com revela que 982 empresas apresentaram pedidos de proteção judicial nos primeiros oito meses de 2024, quase o dobro do ano passado, sendo que as empresas de construção e têxteis foram as que mais recorreram a este mecanismo para suspender os pagamentos de dívida aos bancos e fornecedores para continuarem as operações e também para iniciarem os procedimentos de insolvência.

Em Çorum, cerca de 500 quilómetros a leste de Istambul, algumas fábricas têm janelas partidas e material espalhado pelo chão. Bülent Demirci, coproprietário de uma fiação com 50 trabalhadores, revela à Reuters que, devido a "uma perspetiva económica inesperada", encerrou a empresa há dois meses. "Tivemos cortes na produção de vez em quando no passado. Mas desta vez é tudo negro", justifica.

O último aumento do salário mínimo no país foi para 17.002 liras (cerca de 465 euros a câmbios atuais) em janeiro, um aumento de 100% em relação ao ano anterior e de 500% face ao final de 2021, quando uma queda histórica da lira abalou a Turquia.

Os preços do gás e da eletricidade subiram cerca de sete e três vezes, respetivamente, desde 2021 para pequenas e médias empresas.

Os custos gerais de produção da Turquia são agora quase 40% mais altos do que em países asiáticos concorrentes em termos de dólares, de acordo com entrevistas com exportadores, que também culpam as barreiras ao financiamento.

Os exportadores têm feito pressão para uma maior desvalorização da moeda, tendo em conta que, no acumulado do ano, a inflação é de 32%, enquanto a lira caiu apenas 13% em relação ao dólar.

A produtora de vestuário 3F Tekstil é uma das empresas que pediu proteção judicial contra pagamentos de dívidas, o que, segundo um responsável que pediu anonimato, ajudou a empresa a sobreviver com um total de 600 funcionários e a continuar a fornecer marcas de moda como a Mango e a H&M. "Mas os nossos fornecedores e aqueles que têm faturas a receber vão sofrer mais neste processo", o que abrange cerca de 10.000 trabalhadores de produtores subcontratados em todo o país, indicou o executivo da 3F Tekstil. "Quando as taxas de juro atingiram 60-70%, as empresas não conseguiram suportar. Não conseguem gerir as suas dívidas", evidencia. "As empresas pagaram pela inflação alta na Turquia", conclui.

(Fonte: Portugal Têxtil)