07 outubro 2006

Jorge Sampaio: “Continuem com as reformas”

Jorge Sampaio: “Continuem com as reformas”

O anterior presidente da república portuguesa Jorge Sampaio, disse que a Turquia “não se pode dar ao luxo da fustração”.

Jorge Sampaio, encorajou ontem a Turquia a continuar com as reformas, avisando que um abrandamento pode ter repercussões perigosas na sua adesão à União Europeia. “A Turquia não deve ignorar que existem lobbies na Europa contra a sua adesão à União Europeia”. Sampaio, que se auto-intitula apoiante de longa data da entrada da Turquia no bloco das 25 nações, disse em entrevista ao jornal Turkish Daily News: “continuem com as reformas, têm um grande potencial para o fazer, apercebam-se disso”.
As declarações de Sampaio surgem no seguimento das afirmações proferidas pelo comissário europeu para o alargamento, Olli Rehn, no início desta semana, de que a Turquia devia acelerar o seu processo de reformas para evitar a falência da sua entrada na Europa.
O comissário europeu Rehn vai divulgar um relatório a 8 de Novembro, com a avaliação do progresso da Turquia na concretização da harmonização com os padrões europeus, tendo em vista a sua eventual adesão. Espera-se que o relatório tenha um grande tom crítico relativamente aos déficits de reformas, particularmente no que diz respeito ao artigo 301 do código penal turco (TCK), à luz do qual vários intelectuais foram julgados por insultos à “identidade turca”, e a questão de Chipre.
O governo turco, que tem desenvolvido reformas políticas e económicas abrangentes desde a sua tomada de poder em 2002, para o avanço da candidatura da Turquia à UE, tem tido reacções díspares às criticas europeias, com alguns ministros a concordarem que tem havido um abrandamento, enquanto outros insistem que Ancara tem feito a sua parte.
Sampaio, conhecedor das críticas da UE, disse que um abrandamento teria efeitos negativos no processo de candidatura. “Eu não posso julgar as declarações da UE [de que a implementação de reformas tem abrandado]. Mas se o abrandamento for real, é perigoso. A Turquia é um país orgulhoso, com uma cultura rica. Não pode perder o ritmo das reformas”.
Sampaio diz que a Turquia, com o seu Estado secular e população predominantemente muçulmana, constitui um valioso bem para a UE, no que ele chamou de um “tempo muito difícil” quando a divião Este-Oeste é profunda.“A Turquia tem um papel muito importante a desempenhar no trazer a sua diferença fundamental”, disse. Mas os Turcos têm de estar preparados para altos e baixos no processo de adesão à UE e não esperar um sucesso acelerado, uma vez que a própria UE está a colocar vários problemas por si só, tais como opiniões públicas cépticas preocupadas com o aumento de emigrantes e perda de empregos para os trabalhadores estrangeiros. “O que eu digo é que devem ser pacientes enquanto operam o processo de reformas”, disse, avisando que a população turca também deve estar convencida de que o processo é lento. “Também foi lento para nós”, disse, lembrando que demorou oito anos para Portugal ser membro da UE.

“Chipre pode ser um obstáculo difícil”:

As perspectivas da entrada da Turquia na UE são também ensombradas pela disputa persistente entre Ancara e Bruxelas sobre a abertura dos portos e aeroportos turcos ao tráfego greco-cipriota. A Turquia insiste em não abrir os seus portos e aeroportos a não ser que o isolamento dos cipriotas turcos seja simultaneamente suspenso e nega a normalização de laços com a administração cipriota grega. “A minha opinião sincera é que ajudaria muito se o assunto de Chipre fosse resolvido de uma forma equitativa”, disse Sampaio. Pressionado a comentar sobre o que aconteceria se uma solução não fosse encontrada, Sampaio sugeriu que existiriam alguns dentro da UE que utilizariam o facto para bloquear o caminho da Turquia para a adesão. “E os portos e aeroportos a continuarem fechados, não está a ajudar a situação”, acrescentou.
Sampaio fez estas declarações à margem da conferência anual EuroMeSCo, que começou ontem em Istambul e terminou hoje. O tema da conferência, que junta políticos, académicos e burocratas dos países euro-mediterrânicos, é “Caminhos para a democracia e inclusão na diversidade”.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, que iria inaugurar a conferência, teve de alterar o seu programa, uma vez que recebeu ontem a chanceler alemã Angela Merkel. O ministro de Estado Mehmet Aydın leu o discurso de abertura.

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