31 maio 2010

Em Lisboa também houve protestos contra Israel

À hora marcada ainda poucas pessoas estavam junto à embaixada de Israel em Lisboa. Os polícias começavam a montar o aparato: colocavam barreiras de protecção, cortavam o trânsito nas ruas mais próximas. Pouco depois já se desenrolavam faixas e cartazes, os possíveis para um protesto convocado no próprio dia.
Tal como em várias cidades europeias, também em Lisboa houve uma manifestação motivada pelo ataque israelita ao barco que seguia com dez mil toneladas de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. Cerca de 70 pessoas acorreram à zona da embaixada. Um número considerado “positivo para uma convocatória feita em cima da hora”, avançou o Comité de Solidariedade com a Palestina.
Faixas, cartazes, lenços palestinianos e bandeiras enfeitavam as barreiras colocadas pela polícia, enquanto os manifestantes distribuíam folhas de papel com palavras de ordem. A ideia era sempre a mesma: anti-Israel e pró-Palestina. Ao lado, um membro do Colectivo Múmia Abu-Jamal, de kaffiyeh (lenço palestiniano) ao pescoço, gritava as primeiras palavras de ordem: “Israel, Assassino do Povo Palestino.”
Maria José Aragonês não pertence a nenhum dos vários movimentos que marcaram presença na manifestação. Mas ao PÚBLICO disse ter acompanhado o caso com particular interesse. “Logo que soube o que tinha acontecido, enviei um email ao Comité de Solidariedade com a Palestina a perguntar o que é que se ia fazer. Tinha de se organizar alguma coisa já para hoje”, recordou.
“Eu nunca imaginei que isto pudesse acontecer.” Referia-se ao ataque de Israel, mas a frase que tinha começado foi interrompida por gritos, novas palavras de ordem, que Maria José seguiu: “Israel, Assassino do Povo Palestino.”
A partir do primeiro apelo, feito pelo Comité de Solidariedade com a Palestina, a mensagem foi-se espalhando pelos outros movimentos de apoio aos Palestinianos, que ajudaram a organizar o protesto. Também o Partido Comunista Português (PCP) e o Bloco de Esquerda estiveram representados. E até o Sindicato dos Professores da Grande Lisboa e o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) marcaram presença.
Entre as dezenas de manifestantes, um casal francês segurava grandes bandeiras. A dele maior do que a dela. A qual dos movimentos pertencem? "Pertencemos à humanidade. É um grande movimento", apressou-se a mulher, Dine Ratapo, com um sorriso e num Português com sotaque.
O STML tinha uma carta para entregar ao embaixador de Israel. E Francisco Raposo, membro da comissão executiva, queria entregá-la em mão. A polícia não o deixou passar até à embaixada. "Não estava ninguém lá dentro", justificaram os agentes, que colocaram a carta na caixa do correio.
Durante a manifestação, criticou-se o “acto de pirataria de Israel” e o bloqueio da Faixa de Gaza. Exigiu-se o fim da “impunidade do país” e uma “tomada clara de posição por parte do governo português” e também dos partidos. E o Colectivo Múmia Abu-Jamal apelou mesmo ao boicote dos produtos israelitas.
O ministério dos Negócios estrangeiros disse, num comunicado, lamentar profundamente a perda de vidas humanas”, condenar “o uso excessivo de força contra alvos civis” e apelou à instauração de “um inquérito para apurar de forma imparcial as responsabilidades dos acontecimentos”. O governo afirmou ainda estar “preocupado com a situação humanitária de Gaza” e apelou “à total aplicação da resolução 1860 do Conselho de Segurança e ao respeito pelo Direito Humanitário internacional”.
Mas os manifestantes pediram a expulsão do embaixador israelita de Portugal. “Exigimos uma acção do governo português”, reiterou o militante do PCP Pedro Guerreiro. Vários governos retiraram os seus embaixadores de Israel ou reuniram com os embaixadores israelitas. “Não sei o que é que o embaixador de Israel está cá a fazer. Já devia ter sido expulso”, gritou o membro do Fórum para a Paz e para os Direitos Humanos, Mário Tomé. Resposta de quem ouvia: “Boa! Assassinos Para a Rua! Assassinos Para a Rua!”, exigiram, mais alto do que nunca, virados para a embaixada. “E o governo tem de sentir o repúdio do povo português. Eu sinto-me mais Palestiniano do que Português. O nosso Timor de hoje está na Palestina. É preciso mobilizar milhares e milhares”, completou Tomé.

(Fonte: Público)

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