27 abril 2010

Alemanha: Aygül Özkan é a primeira muçulmana nomeada ministra


A germano-turca Aygül Özkan tornou-se hoje, terça-feira, a primeira muçulmana a ascender a ministra, na Alemanha, apesar de ter defendido a retirada dos crucifixos das salas de aula das escolas públicas, gerando polémica no seu próprio partido, a União Democrata Cristã (CDU).
Özkan, 38 anos, prestou juramento no Parlamento Regional de Hannover, e é a nova ministra dos Assuntos Sociais do executivo da Baixa-Saxónia, liderado pelo democrata cristão Christian Wullf, em coligação com os Liberais do FDP.
O governador do mais extenso estado federado da Alemanha teve de sair em defesa de Özkan, pouco antes da cerimónia de posse, devido às polémicas declarações sobre os crucifixos nas escolas, que a nova ministra entretanto retirou com um pedido de desculpas.
Em entrevista publicada na última edição do semanário Focus, Özkan - que está sob protecção policial, depois de ter recebido ameaças de morte de neonazis - tinha afirmado que "os símbolos religiosos não têm nada que estar nas escolas públicas".
Em outra entrevista, ao magazine Der Spiegel, a nova ministra defendeu também a adesão da Turquia à União Europeia, contrariando assim abertamente o programa do partido da chanceler Angela Merkel.
As ondas de choque provocadas pelas suas declarações, que levaram alguns políticos a exigir a retirada da sua designação para ministra, só acalmaram quando Özkan pediu desculpa ao grupo parlamentar da CDU no parlamento regional da Baixa-Saxónia e de Wulff lhe ter reiterado a confiança.
O chefe do governo da Baixa-Saxónia, em declarações à televisão pública ARD, fez um apelo para que as declarações de Özkan não fossem "sobrevalorizadas", alegando que nas referidas entrevistas "ela disse 99 por cento de coisas inteligentes e só um por cento foram afirmações provocantes".
As organizações de imigrantes muçulmanos na Alemanha estão divididas quanto às afirmações iniciais da nova ministra no que se refere à retirada dos crucifixos das salas de aulas.
O presidente da comunidade turca na Alemanha, Kenan Kolat, acusou a CDU de travar uma discussão "desnecessária" alegando que Özkan se limitou a reproduzir o acórdão proferido em 1995 pelo tribunal constitucional sobre os crucifixos nas escolas públicas, em que se diz que o Estado tem de ser neutro.
Já o Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha, organização de cariz mais religioso, defendeu a manutenção dos crucifixos nos estabelecimentos de ensino alemães, alegando que "a religião deve ser visível no espaço público, o que é válido para todas as religiões".
Filha de imigrantes turcos, nascida em Hamburgo, Aygül Özkan é uma empresária formada em direito, que começou a sua carreira política na CDU há seis anos. É casada com um médico alemão, e o casal tem um filho.
Segundo a imprensa germânica, na origem da sua escolha para ministra esteve uma recomendação da própria chanceler Ângela Merkel, que a conheceu e ficou entusiasmada com o seu talento político.

(Fonte: Jornal de Notícias)

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