22 janeiro 2016

Joe Biden acusa Turquia de limitar liberdade de expressão

O vice-presidente dos EUA começou uma curta visita de dois dias à Turquia com um puxão de orelhas ao Governo de Ahmet Davutoglu, dizendo que o país "não está a dar o exemplo que devia dar" à região, ao "intimidar" jornalistas e ao "cercear" a liberdade na Internet. 

"Quanto mais bem-sucedida for a Turquia, mais forte será a mensagem enviada a todo o Médio Oriente e a áreas do mundo que só agora começam a lidar com a noção de liberdade", disse Joe Biden, perante personalidades da sociedade civil da Turquia e deputados. 

O vice-presidente dos EUA chegou à Turquia na noite de quinta-feira, para uma visita que se estende até sábado, depois de ter participado no Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça. Para sábado estão marcadas conversas com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e com o primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu. 

Esta sexta-feira, Joe Biden reuniu-se com representantes de organizações não-governamentais, académicos e deputados de três dos quatro partidos com representação parlamentar – o Partido da Justiça e Desenvolvimento (islamita e conservador, no poder), o Partido Democrático do Povo (esquerda e pró-curdo) e o Partido Popular Republicano (centro-esquerda). O Partido Movimento Nacionalista, da extrema-direita, recusou-se a estar presente. 

Apesar de reafirmar o apoio ao Governo turco na luta contra os ataques do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, o vice-presidente dos EUA condenou medidas como a imposição do recolher obrigatório no Sudeste do país, onde os episódios de violência são mais acentuados. "Quando os jornalistas são intimidados ou detidos por fazerem um trabalho crítico, quando a liberdade na Internet é cerceada e as redes sociais como o YouTube ou o Twitter são encerradas, e mais de mil académicos são acusados de traição apenas por terem assinado uma petição, não se está a dar o exemplo que se deveria dar", afirmou o vice-presidente dos EUA. 

Num dia em que também visitou a mulher e o filho do director do jornal Cumhuriyet, Can Dundar,  que foi detido em Novembro do ano passado, Joe Biden insistiu no puxão de orelhas: "Quando não temos capacidade para expressar a nossa opinião, para criticar as políticas, para propor ideias opostas sem medo de sermos intimidados ou punidos, estamos a tirar uma oportunidade ao nosso país."

(Fonte: Público)

15 janeiro 2016

Erdoğan declara guerra aos signatários de uma petição pela paz

O Governo turco lançou esta sexta-feira uma caça aos signatários de uma petição que pede o fim das operações controversas do Exército contra a rebelião curda, o que suscitou a ira do Presidente, Recep Tayyip Erdoğan, reavivando as críticas sobre a sua deriva autoritária. 

Por ordem da Justiça, a polícia turca deteve em Kocaeli (nordeste) 14 universitários que colocaram o seu nome por baixo deste “apelo pela paz”. Em Bolu (norte), as forças de ordem revistaram os domicílios de três outros signatários da petição. Em todo o país foram abertos inquéritos judiciais por “propaganda terrorista”, “insulto às instituições e à República turca” e “incitamento a violar a lei” contra os signatários da petição, que arriscam entre um a cinco anos de prisão. 

Segunda-feira, perto de 1200 pessoas já tinham assinado “uma iniciativa universitária pela paz”, que reclamava o fim da intervenção das forças de segurança turca contra os apoiantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), no Sudeste do país de maioria curda. O texto denuncia “um massacre deliberado e planificado em total violação das leis turcas e dos tratados internacionais assinados pela Turquia”. 

Apoiados por tanques, o exército e a polícia turca avançaram há um mês sobre as cidades de Cizre e Silopi que estão a cumprir um cessar-fogo, bem como o distrito sul de Diyarbakir, para desalojar apoiantes armados do PKK que se tinham entrincheirado em alguns bairros. Os combates provocaram a morte de inúmeros civis e o êxodo de uma parte dos habitantes. 

Esta petição, que também é assinada por intelectuais estrangeiros como o linguista americano Noam Chomsky, provocou a fúria dos dirigentes turcos. Pela terceira vez esta semana, Erdoğan acusou os signatários de serem cúmplices dos “terroristas” do PKK e justificou as acções judiciais contra eles. “Aqueles que se juntam ao campo dos cruéis são eles próprios cruéis e aqueles que apoiam os autores de massacres são cúmplices dos seus crimes”, disse o Presidente turco. 

Nas páginas do jornal Yeni Safak, um dos porta-vozes favoritos do poder, o editorialista Ibrahim Karagül apelou aos estudantes para “boicotarem as aulas daqueles que apoiam o terrorismo e se escondem por detrás da palavra paz”. Várias universidades abriram inquéritos disciplinares contra professores signatários da petição, registando-se já um caso de um professor que foi despedido em Düzce (noroeste). E nas redes sociais são muitos os estudantes que insultam os seus colegas signatários com frases como: “Traidores como tu não têm lugar no glorioso solo turco.” 

Estas operações policiais são “muito perigosas e inaceitáveis”, denunciou o Partido Republicano do Povo (oposição social-democrata). Elas “mergulham a Turquia nas trevas”, reagiu o Partido Democrático dos Povos (pró-curdo). A representante da Human Rights Watch na Turquia, Emma Sinclair Webb, escreveu no Twitter que estas detenções de universitários são “escandalosas”. “Exprimir a sua preocupação com a violência não significa apoiar o terrorismo. Criticar o Governo não é traição”, explicou o embaixador dos Estados Unidos em Ancara, John Bass. 

Depois de mais de dois anos de cessar-fogo, os combates entre as forças turcas e o PKK foram retomados no Verão passado, estilhaçando as negociações abertas no final de 2012 para tentar pôr fim a um conflito que já provocou mais de 40 mil mortos desde 1984. 

 (Fonte: Público)

13 janeiro 2016

Turquia já esperava atentados

Os serviços secretos turcos já esperavam um atentado do grupo Estado Islâmico contra turistas em Istambul e Ancara, antes do ataque suicida de terça-feira em que morreram dez alemães.

De acordo com o que é avançado esta quarta-feira pelo diário em língua inglesa Hürriyet, a polícia turca foi alertada em duas ocasiões para a possibilidade de 19 suspeitos militantes do Estado Islâmico terem entrado recentemente no país com intenções de atacar edifícios ligados a países da NATO, zonas de grande circulação e locais turísticos. O aviso mais recente foi transmitido há uma semana, no dia 4 de Janeiro, e chegou às representações da Alemanha, França e Holanda. O mais antigo data de 17 de Dezembro. Ambos designavam Ancara e Istambul como os dois locais para atentados. A polícia turca já conhecia os 19 suspeitos jihadistas nos alertas – dez homens e nove mulheres –, mas o saudita que se acredita ter executado atentado de terça-feira não se encontrava entre eles. O Governo não o confirmou ainda, mas a imprensa turca dá como certo que o bombista é Nabil Fadli, militante de 27 anos de ascendência síria. O seu nome foi registado pelos serviços de imigração turcos nos primeiros dias de Janeiro, mas não constava das listas de suspeitos jihadistas. “A avaliação de que as suas impressões digitais foram recolhidas e que existe um registo dele está certa”, confirmou o ministro turco do Interior em conferência de Imprensa, nesta quarta-feira. “Mas não fazia parte da lista de indivíduos procurados. Nem sequer nas listas de alvos que nos foram enviadas por outros países”, concluiu Efkan Ala, ao lado do seu homólogo alemão, Thomas de Maiziere. 

A polícia turca avançou sobre redes conhecidas de extremistas horas depois do atentado em Istambul e fez dezenas de detenções. Esta quarta-feira anunciou que dessas operações resultou a captura de um homem que acreditam ser cúmplice do bombista. Foram também capturados três cidadãos russos, em Antalya, no Sudoeste do país. As autoridades afirmam que o material encontrado na casa destes indivíduos indica que pertenciam a uma célula de apoio a combatentes do Estado Islâmico. 

O ministro turco do Interior assegura que “a investigação continua de forma intensiva”. O Governo tenta combater as críticas de que os recursos que dedica a grandes operações policiais e militares no Sudeste do país, em zonas de maioria curda e em combate a militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou PKK, esgotam a sua capacidade de controlar a ameaça terrorista do Estado Islâmico. Daí que Efkan Ala tenha defendido os esforços do seu Governo contra a ameaça do Estado Islâmico. Segundo ele, a polícia deteve 200 suspeitos jihadistas há apenas uma semana – as autoridades anunciaram no final de 2015 terem impedido um duplo atentado suicida para o dia de Ano Novo, em Ancara. O ministro adianta que, no total, a polícia turca fez já 3318 detenções de pessoas suspeitas de ligação ao Estado Islâmico. Destas resultaram 847 prisões, a maior parte cidadãos estrangeiros. A seu lado, Thomas de Maiziere tentava travar o receio na Alemanha de que a Turquia deixou de ser um local de turismo seguro – Berlim é a principal interessada na revitalizada aliança da União Europeia com a Turquia para diminuir o número de refugiados que atravessam o Mediterrâneo. O ministro alemão assegurou que não existem provas de que o ataque tenha atingido deliberadamente alemães – para além dos dez mortos (a informação de que havia um peruano entre os mortos foi corrigida), há nove turistas alemães feridos, dois deles nos cuidados intensivos. “Se os terroristas tentavam perturbar, destruir ou prejudicar a cooperação entre parceiros, conseguiram o oposto: Alemanha e Turquia ficaram ainda mais próximos”, prometeu.

(Fonte: Público)