05 novembro 2010

Embaixador da Turquia: "Turquia deve ser incluída no mecanismo de decisão da UE"

A Turquia deve ser incluída na política de segurança e defesa da União Europeia (UE) e contribuir para o seu processo de decisão, considerou em entrevista à LUSA o embaixador turco em Lisboa Ali Kaya Savut.
“A Turquia deveria ser envolvida nos mecanismos de decisão da União Europeia, algo que não acontece e não é normal para nós”, sublinhou.
Nas vésperas da cimeira da NATO em Lisboa, a relação entre a NATO e a União, incluída no novo conceito estratégico, será um dos temas em destaque e que envolve directamente Ancara. Também devido à irresolúvel questão de Chipre, que opõe este país dividido, que não integra a NATO, à Turquia, com estatuto de candidato à União. Um contencioso que tem afectado os trabalhos do conselho de segurança UE-NATO.
Ao recordar que, além de possuir o segundo exército aliado, a Turquia está envolvida em operações militares da UE, na Bósnia ou Kosovo, Ali Savut, 56 anos e em Lisboa desde Agosto após missão no Senegal, está seguro de que “as relações UE-NATO serão reforçadas durante a cimeira e isso será positivo para a Turquia”.
Numa referência ao diferendo com Nicósia, um dos factores que tem bloqueado as negociações de adesão à União, sustenta que a rejeição pelos Cipriotas gregos do “plano Annan” em Abril de 2004 e a posterior integração da república de Chipre na UE está “na origem” dos actuais problemas.
“Caso exista uma solução abrangente em Chipre, o problema da Turquia não pertencer à UE e Chipre não pertencer à NATO seriam resolvidos mais facilmente”, sublinha. E insiste que pelo facto de Chipre não desempenhar “qualquer função nas operações da NATO” não existem motivos para incluir este país nas reuniões entre os 28 membros da Aliança. “Este é o problema de se estar envolvido em organizações diferentes”, reconhece.
O actual cenário não deverá impedir a “determinação nos esforços da Turquia” em aderir à União e alcançar os “padrões europeus”. Um “objectivo final” e que “também beneficiará a UE, tornando-a mais forte e economicamente mais rica”.
No entanto, e numa referência às recentes opções da política externa turca, definidas por diversos sectores em Bruxelas como o regresso à diplomacia “neo-otomana” e à viragem para leste, Ali Savut é peremtório: “Em relação há cinco anos, e de acordo com as sondagens, a opinião pública turca está menos interessada na UE. Isto deve-se talvez à atitude populista dos líderes de alguns países europeus, e por isso a opinião pública turca está a perder o interesse”.
O reforço das relações com a Ásia central é assim considerada uma aproximação a países “com quem mantemos relações especiais e uma afinidade cultural, diria que são nossos primos”.
O embaixador sublinha que o reforço das relações políticas e económicas com estes “países turcófonos” tem sido bem sucedida, e também poderá beneficiar a UE.
“Não devemos considerar que a Turquia está a virar as costas à Europa, pelo contrário. Quando a Turquia for parte da Europa será positivo para a Turquia e UE manterem boas relações políticas e económicas com estes países da Ásia central”, considera.
Alerta, contudo, para a necessidade de abordar com atenção particular a questão do terrorismo, um tema reforçado no novo conceito estratégico que será aprovado na cimeira de Lisboa.
“Na nossa perspetiva, todo o género de terrorismo deve ser condenado com firmeza e não há diferença entre terrorismo, seja religioso, nacional, internacional, não religioso. Não há justificação para qualquer terrorismo”, conclui.

(Fonte: Correio do Minho)

Sem comentários: