02 outubro 2009

Turquia é tema obrigatório na campanha eleitoral grega

A "questão da Turquia", que gerou algumas posições de consenso entre os principais rivais políticos, constituiu tema obrigatório da campanha eleitoral para as eleições legislativas de Domingo na Grécia.
A dimensão do país vizinho e o problema da imigração, o prolongado contencioso no Mar Egeu e em Chipre ou o processo de adesão turca à União Europeia (UE) voltaram a animar o debate.
Apesar do processo de reaproximação entre Atenas e Ancara, iniciado em finais de 1999 na sequência do terramoto que atingiu a capital turca, permanecem pontos de tensão que voltaram a emergir durante a campanha.
Em 14 de Setembro, um helicóptero da Lituânia que sobrevoava o Mar Egeu recebeu uma mensagem rádio de um radar turco, que pedia para se retirar da "zona aérea turca". Os pilotos, envolvidos no programa de coordenação operacional das fronteiras externas da UE (FRONTEX), ignoraram a mensagem. Um comunicado oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros grego informou depois que o aparelho tinha localizado um barco que transportava imigrantes ilegais para a ilha grega de Farmakonisi, enquanto um navio-patrulha turco era detectado na área, em águas territoriais gregas.
Terá sido a sexta vez que a Turquia emite sinais de emergência por radar dirigidos a aparelhos que sobrevoam o Mar Egeu. E as acusações sobre frequentes violações do espaço aéreo grego, a intercepção de aviões de combate gregos por caças turcos ou as acusações de "cumplicidade" no tráfico clandestino de imigrantes implicaram, nos últimos meses, novo aumento da tensão entre Atenas e Ancara.
Esta "guerra de nervos" não tem contudo impedido o prosseguimento do diálogo bilateral. No decurso da campanha para as eleições do próximo Domingo, o líder conservador da Nova Democracia (ND) e primeiro-ministro, Costas Karamanlis, manifestou o apoio da Grécia à "orientação europeia da Turquia", numa referência ao complexo processo de negociações de adesão de Ancara à UE, iniciado oficialmente em Outubro de 2005.
Sublinhou ainda que a Turquia "deve honrar os seus compromissos" e alertou que "o ponto-chave para o prosseguimento das negociações está em Dezembro próximo", numa referência ao aguardado relatório da União sobre o estado das conversações de adesão.
O governo grego tem exigido à Turquia o respeito pelo acordo de 2001 sobre o repatriamento de imigrantes clandestinos, a aplicação do acordo europeu sobre imigração e asilo e o fim da protecção aos traficantes ilegais.
Já o líder socialista do PASOK, George Papandreou, apontado pelas sondagens como o futuro primeiro-ministro, criticou a política externa do país face à Turquia, numa referência ao contencioso fronteiriço no Mar Egeu, a violação do espaço aéreo do país ou a questão cipriota.
Contudo, o antigo ministro grego dos Negócios Estrangeiros, cargo que exerceu durante dez anos no último executivo dos socialistas, assegurou que em caso de vitória do PASOK "o governo não acenará com o seu direito de veto face à marcha europeia da Turquia".
Restam no entanto questões decisivas por solucionar, desde o eterno diferendo em torno da plataforma continental no Mar Egeu, do espaço aéreo grego, do estatuto militar das ilhas do Leste do Egeu, que necessitam de um regulamento legal e definitivo, até ao problema de Chipre. Que também envolve os dois vizinhos rivais.

(Fonte: Diário de Notícias)

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