14 maio 2009

O harém, o gato e as rezas

Como é que se consegue fechar um harém que fica situado dentro de um palácio que recebe cerca de 200 mil visitantes por dia? O que faz um gato numa zona sagrada, que marca o caminho para Meca? Por que rezam atrás dos homens as mulheres muçulmanas que se deslocam à Mesquita Azul? O dia dois da visita de Cavaco Silva àquela nação de maioria muçulmana foi fértil em curiosidades. E quase todo dedicado à cultura.
Mas vamos responder à primeira pergunta: como é que se consegue fechar um harém? Simples: basta querer. E a comitiva presidencial quis. Durante mais de dez minutos, as portas do harém situado no interior do Palácio Topakı, em Istambul, foram fechadas, impedindo o acesso do mar de gente que todos os dias desagua naquele espaço. Só "sobraram" alguns, poucos, turistas que andavam perdidos nas galerias. Sempre de mãos dadas com a primeira-dama, Cavaco Silva ficou a conhecer algumas das histórias de sultões. Tudo devidamente explicado pelo professor Ilber Ortayhi. Os seguranças da Presidência (e os gigantescos turcos que lideravam a equipa) ainda apanharam um susto, protagonizado por um desconhecido engravatado que se "colara" à comitiva. Mas foi falso alarme. Era só um turista curioso. E agora vem a pergunta seguinte: o que faz um gato numa zona sagrada e interdita? O cenário é a igreja Haya Sofia, um monumento arquitectónico ímpar que serviu de molde à edificação de várias mesquitas na Turquia. O Presidente da República e a Primeira Dama são encaminhados até uma zona em tudo semelhante a um altar, aquilo a que os muçulmanos chamam de Mihrab, marco que indica o caminho para Meca. Ora, é precisamente aí, bem atrás de um sinal de interdição, que permanece, impávido e sereno, um gato castanho, a lamber as patas. A guia, em tom sério, explica: "Não se pode aceder àquele local". Cavaco, sorrindo, admira-se: "E o gato pode estar ali?". Pelos vistos pode. O felino não só faz parte da mobília como é famoso internacionalmente. Durante a recente visita do presidente norte-americano à Turquia, Barack Obama fez, inclusive, umas "festinhas" ao bicho, que assim passou a ter honras de atracção turística. Cavaco não se atreveu. Terceira e derradeira pergunta: como se explica o facto de, na Mesquita Azul, símbolo máximo da cultura e arquitectura turcas, as mulheres serem obrigadas a ficar atrás dos homens no momento das orações? O tradutor de Cavaco Silva, Apo Çoruhlu, desvenda o mistério: "Não é porque as mulheres sejam menos importantes do que os homens mas, quando os muçulmanos rezam, vão ao chão várias vezes e, com as senhoras à frente, isso podia atrapalhar os homens...". Risos. O presidente aceita a explicação e insiste: "É uma questão de não perturbar os homens". Já no exterior da mesquita, e em passada larga, Cavaco garantiu que tal situação não significa uma menorização das mulheres na Turquia: "Não, não ficou provado. A explicação é tão sábia, tão inteligente..." Sempre ao lado do presidente andou Maria Cavaco Silva. O casal aproveitou para matar saudades de sítios que há seis anos tinham visitado com os filhos, os netos e uns amigos. E tirou algumas fotografias, como verdadeiros turistas. A uma delas, captada numa varanda com vistas para o Bósforo (estreito que liga o Mar Negro ao Mar de Mármara), Cavaco Silva quis acrescentar a legenda: "Um sorriso para a Ásia". A Europa acaba na margem onde o presidente sorriu.
(Fonte: Jornal de Notícias)

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