02 março 2008

Turquia retirou tropas do norte do Iraque

As tropas do Exército turco deixaram ontem o norte do Iraque após oito dias de operação militar contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), informou o Estado-Maior das Forças Armadas em comunicado. A cadeia turca "NTV" citou o ministro dos Negócios Estrangeiros iraquiano, Hushiar Zebari, que anunciou que as "tropas turcas abandonaram o Iraque" e elogiou a decisão do país. A cúpula militar explicou que durante a incursão morreram cerca de 240 militantes do PKK, e infra-estruturas da organização armada foram destruídas. Por esse motivo, as metas impostas foram consideradas "cumpridas". Entre as forças do Exército turco, trinta pessoas morreram - seis deles paramilitares da guarda rural (formada por Curdos leais a Ancara) -, embora o PKK afirme ter matado mais de 100 soldados. O comunicado militar ressaltou que o fim da missão não era a total neutralização do PKK, mas "mostrou à organização que o norte do Iraque não é um lugar seguro para terroristas". Apesar de rumores que indicavam que a retirada aconteceu por causa de advertências dos Estados Unidos, o comunicado do Estado-Maior do Exército turco afirmou que o início e o final da operação foram decididos por eles, com base "nas razões e necessidades militares". O secretário de Defesa americano, Robert Gates, que na quinta-feira se reuniu com os líderes máximos da Turquia, já tinha avisado que os EUA acreditavam que a ofensiva deveria ser "o mais curta e precisa possível", a mesma mensagem dada pelo presidente George W. Bush. Os líderes turcos responderam que "a Turquia retornaria quando fossem cumpridas as metas estipuladas". O chefe do Estado-Maior, Yaşar Büyükanıt, afirmou que "tempo curto é um conceito relativo. Curto às vezes é um dia, às vezes é um ano"."Lutamos contra o terrorismo (do PKK) durante 24 anos. Os EUA lutam contra o terrorismo no Afeganistão há anos", explicou. O ministro da Justiça, Mehmet Ali Şahin, disse que a autorização parlamentar aprovada em Outubro que permitiu ao Governo e ao Exército realizar operações para além das fronteiras contra o PKK tem um prazo de um ano e voltará a ser utilizada "caso seja necessário". Cengiz Çandar, jornalista com experiência nas relações turco-americanas, considera que a retirada das tropas foi combinada com os EUA mediante um acordo anterior à operação. "A retirada não significa que não serão realizadas mais incursões. Pelo contrário, ao retirar as suas tropas no período acordado, a Turquia ganhou a confiança dos EUA e poderá repetir operações similares", analisou Çandar. Outros analistas, no entanto, perceberam pressão de Washington após o fim da operação." Quantas mudanças num só dia! Ontem, o enviado especial do primeiro-ministro em Bagdad dizia que a operação duraria até que a região ficasse totalmente livre do PKK", protestou Onur Öymen, vice-presidente do opositor Partido Republicano do Povo (CHP). "Como cidadão deste país sinto-me envergonhado. Ninguém pode agora convencer as pessoas de que a operação foi encerrada sem a intervenção dos EUA", queixou-se Cüneyt Ülsever, colunista do jornal "Hürriyet". Necati Özgen, general reformado que comandou a maior operação no Iraque contra o PKK durante os anos 90, disse que nestes oito dias de operação foi impossível para o Exército alcançar os objectivos propostos no norte do Iraque. "Esta era uma oportunidade para eliminar o PKK da região. A operação estava a desenvolver-se na base do grupo armado em Zap. Se o objectivo foi alcançado lá, existem ainda outros quatro ou cinco grandes acampamentos do PKK. Numa semana é impossível limpar todos eles", acrescentou Özgen. Alguns analistas afirmaram que soldados turcos poderiam permanecer no interior do Iraque e somar-se ao contingente das quatro bases que a Turquia mantém no Curdistão iraquiano desde os anos 90.

(Fonte: EFE)

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