28 agosto 2007

Alguns secularistas estão a adoptar posições mais moderadas face à eleição de Gül


Com a eleição de Abdullah Gül para a presidência da Turquia, confirmada hoje mas dada como certa há algumas semanas, tem-se verificado que muitos opositores secularistas têm adoptado uma posião mais moderada na sua atitude contra Abdullah Gül e o partido do governo AKP.
Durante meses, os secularistas convictos têm adoptado a mesma linha de oposição do Partido Republicano do Povo (CHP) veiculada pelo seu líder, Deniz Baykal, condenando a candidatura de Gül por considerarem ser um plano secreto do AKP para minar o regime secular.
Apesar de Gül e do AKP negarem esssas acusações e jurarem lealdade aos valores republicanos, o país mergulhou numa crise, e milhões de pessoas saíram à rua para protestar contra a possibilidade de terem um "ex"-islamita como presidente e cuja mulher usa véu islâmico. A situação piorou quando o exército, guardião do secularismo do país, e responsável pelo derrube de quatro governos em quatro décadas, ameaçou intervir para proteger o sistema secular.
O CHP acabou por boicotar a votação presidencial durante a primeira candidatura de Gül à presidência, provocando a falta de quórum e levando à realização de eleições presidenciais antecipadas em 22 de Julho. O AKP teve uma vitória esmagadora nessas eleições fazendo com que a eleição presidencial, que culminou hoje com a vitória de Gül, tivesse sido uma mera formalidade.
Muitos secularistas estão agora mais zangados com a liderança de Baykal do que com o facto de terem um presidente da República islamita.
Ouvem-se opiniões como esta: "Baykal e os seus amigos escolheram transformar o CHP num partido nacionalista desprovido da sua ideologia tradicional de centro-esquerda", queixou-se Zülfü Livaneli, um proeminente músico e compositor e antigo deputado, que terminou o seu mandato como independente depois de se ter desvinculado do CHP.
"As pessoas viram-se forçadas a escolher entre o AKP e uma coligação entre o CHP e os nacionalistas", disse. "Sentiram que tal coligação significaria o fim para a Turquia. O facto de Gül se tornar presidente não é problema", acrescentou Zülfü Livaneli.
"A nossa campanha só se baseou nos valores republicanos e no secularismo", disse Didem Engin, um candidato do CHP por Istambul que não conseguiu ser eleito nas últimas eleições. "Isso é muito importante, claro, mas as pesoas deviam ter também ouvido as nossas propostas relativas ao desemprego e à agricultura. Devemos agora levar a cabo uma oposição construtiva em vez de tentar provocar crises atrás de crises, ou só esperar que o governo cometa erros", disse, acrescentando que estava descontente por o CHP ter uma vez mais boicotado a eleição presidencial.
Mais à esquerda, Ufuk Uras, um deputado independente que dirige o partido da Liberdade e Solidariedade (ODP), eliminou a hipótese do AKP tentar erradicar o secularismo. "O AKP é simplesmente um partido neo-liberal, neo-conservador, típico do processo de globalização. O importante agora é verificar em que sentido é que a Turquia vai evoluir: uma república militar, uma república de medo, ou uma república de valores democráticos e sociais", disse. Uras disse ainda que vê a intervenção militar na política como uma ameaça maior do que qualquer atitude que o AKP possa tomar.
O colunista do jornal diário "Cumhurriyet", Oral Çalışlar, diz o seguinte: "o AKP está a começar a mudar pouco a pouco... e uma nova classe média conservadora está a emergir, mais próxima do secularismo. Trata-se de um sector islamita da sociedade que estava num gueto e que o AKP deixou emergir. Mas, uma oposição secular é mais importante do que nunca, para prevenir que o AKP cometa erros anti-seculares ocasionais, que se espera que cometa".

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