31 agosto 2007

Gül e a sua definição de secularismo no seu primeiro discurso como presidente


O novo presidente da República, Abdullah Gül, descreveu o secularismo como a regra da harmonia social e um modelo que permite diferentes estilos de vida, no seu primeiro discurso como presidente da República.
Esta declaração de Gül foi recebida por muitos como uma nova definição de secularismo, provocando críticas de alguns secularistas.
“Foi um bom discurso. Foi bom porque protegeu abertamente a democracia, uma característica secular da República,” escreveu o colunista do jornal Milliyet, Hasan Cemal.
Com essa abordagem do secularismo, Gül alarga o entendimento oficial do princípio base que é a "separação entre Estado e religião." Embora não exista nenhuma descrição de secularismo na Constituição, o artigo 24 estabelece a liberdade religiosa mas ao mesmo tempo limita o abuso da religião com fins políticos.
“Sabemos que Gül vem de um movimento islamita e que é um homem religioso. Mas há dois pontos que ele não pode subestimar,” disse Ruşen Çakır, um analista político que tem seguido de perto o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) há vários anos. “Se ele se tornou presidente, não foi só graças à democracia, mas também graças ao secularismo, que permite que pessoas religiosas acedam ao mais alto posto do Estado. O secularismo, que significa que o Estado deve ser neutro relativamente a todas as religiões, é muito mais necessário às pessoas religiosas, do que àqueles que não são muçulmanos ou que não têm uma forte relação com o Islão,” acrescentou.
No passado, os esforços de conservadores para criarem a sua própria definição do secularismo provocaram tensões internas no país. O anterior presidente do Parlamento, Bülent Arınç, disse abertamente que havia a necessidade de redefinir o secularismo. Acentuou que o secularismo assegura a liberdade de todas as actividades religiosas, numa tentativa de fazer prevalecer a ideia de liberdade de religião. O anterior presidente, Ahmet Necdet Sezer, criticou os esforços de Arınç em descrever o secularismo à sua maneira.
“A protecção do secularismo deve ser uma prioridade para Gül se ele quiser transformar esta potencial crise numa oportunidade,” disse Çakır.
Atilla Kart, um deputado do Partido Republicano do Povo (CHP) e membro da Comissão Constitucional, diz ter a impressão que Gül descreveu o secularismo em linha com o seu real propósito. Contudo, Gül devia ter focado o ponto de que a religião se tornou um instrumento de ganhos políticos e que existem esforços para impôr regras religiosas nos assuntos do Estado. Estes foram os pontos que faltam ao seu discurso,” disse Kart.
O deputado do CHP também disse que Gül tem de clarificar como é que lidaria com tal ameaça durante a sua presidência. “Este é o ponto para o qual o presidente devia dar garantias. O presidente é imparcial mas tem de estar ao lado da protecção dos princípios fundamentais e do secularismo, não só através da retórica mas com acções concretas," disse.
Entretanto, o professor de direito e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Mümtaz Soysal, diz que a descrição de Gül está incompleta. Gül não referiu o facto de que o secularismo requer uma total separação do Estado e dos assuntos religiosos. Gül e circulos com a mesma mentalidade, consideram o secularismo só como liberdade religiosa. “Não é bom para ele começar com tal descrição. Isto é preocupante para o futuro,” disse Soysal.
“Em democracia, que é um sistema de direitos e liberdades, o secularismo, um dos princípios seculares da nossa República, é não só um modelo que permite a liberdade de diferentes estilos de vida, como é também uma regra de harmonia social. O compromisso com o princípio do secularismo é também a via mais expediente para se eliminarem conflitos e elementos de altercação que de tempos a tempos se manifestam em todas as sociedades. Quando pensarmos nas realidades e sensibilidades inerentes à nossa geografia, compreenderemos melhor o significado do princípio do secularismo, que também garante a liberdade de religião e de consciência.”

28 agosto 2007

Gul: Turquia precisa trabalhar arduamente para se juntar à UE


A Turquia precisa de trabalhar arduamente no sentido de realizar reformas, com o objectivo de se juntar à União Europeia, afirmou hoje o recém-eleito presidente do país, Abdullah Gül, durante a cerimónia de posse.
"É imperativo para o nosso país que realizemos as reformas políticas e económicas para caminharmos no sentido de sermos membros da UE», disse Gül, acrescentando que a Turquia pode tomar no futuro a sua própria decisão sobre ser membro do bloco.
Gül, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros e preparou a proposta turca para a UE, foi hoje eleito presidente, na terceira ronda de votação no Parlamento, pondo termo a meses de incerteza sobre quem seria o próximo presidente do país.

(Fonte: Diário Digital)

As grandes datas da Turquia

As datas-chave desde a proclamação da República na Turquia até hoje.

O Parlamento recebeu, nesta terça-feira, Abdullah Gül, ex-islamita, como líder máximo do Estado.

1923 - Proclamação da República turca por Mustafa Kemal, eleito presidente;
1924 - Abolição do califado e votação das primeiras leis laicas;
1938 - Morte de Mustafa Kemal, apelidado de Atatürk, o "pai dos turcos";
1945 - Turquia passa para o lado dos aliados, depois de ter se mantido neutra durante a guerra;
1946 - Instauração do pluripartidarismo;
1950 - Primeiras eleições livres, vitória do Partido Democrata;
1952 - Adesão da Turquia à Aliança Atlântica;
1960 - Golpe de Estado. O primeiro-ministro Adnan Menderes é condenado e executado;
1963 - Acordo de associação com a Comunidade Económica Européia (CEE);
1971 - Novo golpe de Estado provocando a queda de Suleyman Demirel.
1974 - As forças turcas intervêm em Chipre e ocupam o norte da ilha. Em 1983, proclamam a "República Turca de Chipre do Norte" (RTCN, reconhecida apenas por Ancara);
1980 - Golpe de Estado: o Parlamento é dissolvido e os partidos políticos têm suas atividades proibidas;
1984 - Início da insurreição do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) que reivindica a independência do sudeste, maioritariamente Curdo. Nesta revolução, morreram mais de 37.000 pessoas.
1990-1991 - Durante a guerra do Golfo, a Turquia alia-a à coligação internacional que expulsou o Iraque do território do Kuwait;
1995 - Acordo de união aduaneira com a União Europeia;
1996 - O islamita Necmettin Erbakan torna-se primeiro-ministro mas deixa o poder um ano depois devido à pressão dos militares. O seu partido, o Refah, é dissolvido em 1998.
1999 - Prisão do líder do PKK, Abdullah Öcalan, por parte do comando russo no Quénia;
Terramoto em Izmit provoca 20.000 mortos;
2002 - Reformas democráticas, entre elas a abolição da pena de morte e a concessão de direitos culturais aos Curdos; vitória do AKP, oriundo do movimento islamita, nas eleições legislativas. Abdullah Gül é nomeado primeiro-ministro;
2003 - Recep Tayyip Erdoğan, líder do AKP, é nomeado primeiro-ministro; durante a ofensiva dos Estados Unidos no Iraque, Ancara não aceita o envio de tropas americanas para a Turquia, mas autoriza o sobrevoo no país; em Novembro ocorrem atentados contra sinagogas e alvos britânicos em Istambul reivindicados por uma célula da Al-Qaeda. Morreram 63 pessoas nos ataques.
2005 - Abertura das negociações de adesão à UE.
2006 - Visita do Papa Bento XVI.
2007 - Em Julho, o AKP sai vitorioso das legislativas antecipadas depois de uma crise política.

(Fonte: AFP)

Alguns secularistas estão a adoptar posições mais moderadas face à eleição de Gül


Com a eleição de Abdullah Gül para a presidência da Turquia, confirmada hoje mas dada como certa há algumas semanas, tem-se verificado que muitos opositores secularistas têm adoptado uma posião mais moderada na sua atitude contra Abdullah Gül e o partido do governo AKP.
Durante meses, os secularistas convictos têm adoptado a mesma linha de oposição do Partido Republicano do Povo (CHP) veiculada pelo seu líder, Deniz Baykal, condenando a candidatura de Gül por considerarem ser um plano secreto do AKP para minar o regime secular.
Apesar de Gül e do AKP negarem esssas acusações e jurarem lealdade aos valores republicanos, o país mergulhou numa crise, e milhões de pessoas saíram à rua para protestar contra a possibilidade de terem um "ex"-islamita como presidente e cuja mulher usa véu islâmico. A situação piorou quando o exército, guardião do secularismo do país, e responsável pelo derrube de quatro governos em quatro décadas, ameaçou intervir para proteger o sistema secular.
O CHP acabou por boicotar a votação presidencial durante a primeira candidatura de Gül à presidência, provocando a falta de quórum e levando à realização de eleições presidenciais antecipadas em 22 de Julho. O AKP teve uma vitória esmagadora nessas eleições fazendo com que a eleição presidencial, que culminou hoje com a vitória de Gül, tivesse sido uma mera formalidade.
Muitos secularistas estão agora mais zangados com a liderança de Baykal do que com o facto de terem um presidente da República islamita.
Ouvem-se opiniões como esta: "Baykal e os seus amigos escolheram transformar o CHP num partido nacionalista desprovido da sua ideologia tradicional de centro-esquerda", queixou-se Zülfü Livaneli, um proeminente músico e compositor e antigo deputado, que terminou o seu mandato como independente depois de se ter desvinculado do CHP.
"As pessoas viram-se forçadas a escolher entre o AKP e uma coligação entre o CHP e os nacionalistas", disse. "Sentiram que tal coligação significaria o fim para a Turquia. O facto de Gül se tornar presidente não é problema", acrescentou Zülfü Livaneli.
"A nossa campanha só se baseou nos valores republicanos e no secularismo", disse Didem Engin, um candidato do CHP por Istambul que não conseguiu ser eleito nas últimas eleições. "Isso é muito importante, claro, mas as pesoas deviam ter também ouvido as nossas propostas relativas ao desemprego e à agricultura. Devemos agora levar a cabo uma oposição construtiva em vez de tentar provocar crises atrás de crises, ou só esperar que o governo cometa erros", disse, acrescentando que estava descontente por o CHP ter uma vez mais boicotado a eleição presidencial.
Mais à esquerda, Ufuk Uras, um deputado independente que dirige o partido da Liberdade e Solidariedade (ODP), eliminou a hipótese do AKP tentar erradicar o secularismo. "O AKP é simplesmente um partido neo-liberal, neo-conservador, típico do processo de globalização. O importante agora é verificar em que sentido é que a Turquia vai evoluir: uma república militar, uma república de medo, ou uma república de valores democráticos e sociais", disse. Uras disse ainda que vê a intervenção militar na política como uma ameaça maior do que qualquer atitude que o AKP possa tomar.
O colunista do jornal diário "Cumhurriyet", Oral Çalışlar, diz o seguinte: "o AKP está a começar a mudar pouco a pouco... e uma nova classe média conservadora está a emergir, mais próxima do secularismo. Trata-se de um sector islamita da sociedade que estava num gueto e que o AKP deixou emergir. Mas, uma oposição secular é mais importante do que nunca, para prevenir que o AKP cometa erros anti-seculares ocasionais, que se espera que cometa".

Abdullah Gül é o novo presidente da República da Turquia


Foi eleito com 339 votos, quando 276 votos eram suficientes.
Nas ruas de Kayseri, a sua cidade natal, a população está a festejar nas ruas.
Às 18 horas será a tomada de posse.

27 agosto 2007

Sarkozy defende relançamento das negociações de adesão da Turquia à UE mas prefere associação


O Presidente francês, Nicolas Sarkozy, evocou hoje a possibilidade do relançamento das negociações de adesão da Turquia à União Europeia, reafirmando a sua preferência por uma associação entre a UE e Ancara.
Num discurso dedicado à política externa francesa, Sarkozy condicionou a sua abertura ao lançamento de uma "reflexão essencial sobre o futuro da União" por um "comité de sábios". Se for esse o caso, "a França não se irá opor a que sejam abertos nos próximos meses e anos novos capítulos da negociação entre a União Europeia e a Turquia, sob a condição de que esses capítulos sejam compatíveis com as duas visões possíveis do futuro das suas relações: seja de adesão, seja de uma associação o mais estreita possível, sem chegar a uma adesão", acrescentou. Sarkozy recordou ainda que, durante a sua campanha eleitoral, preconizou a fórmula de uma associação e acrescentou não ter mudado de ideias desde então.

(Fonte: Público)

24 agosto 2007

Gül voltou a não ser eleito na segunda volta das eleições para a presidência


O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Abdullah Gül, falhou hoje pela segunda vez a eleição para a presidência do país, ao não conseguir o apoio de dois terços dos deputados, adiando a decisão para a próxima terça-feira.
Gül, oriundo dos movimentos islamitas turcos, conseguiu hoje 337 votos, menos quatro do que na primeira votação, realizada na segunda-feira, anunciou a presidência do Parlamento. O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) aguarda agora pela votação prevista para a próxima terça-feira, já que à terceira votação basta a maioria absoluta dos deputados (276 em 550) para conseguir a eleição.Assim que for eleito, Gül deverá ser imediatamente empossado, sucedendo ao presidente cessante, Ahmet Necdet Sezer. Na votação desta tarde, os deputados do Partido Republicano do Povo (CHP), voltaram a ausentar-se do hemiciclo em protesto contra a candidatura de um islamita à mais alta magistratura da nação, cuja principal missão é garantir o respeito pela laicidade do Estado turco. As razões são as mesmas que levaram a oposição a boicotar a eleição, em Abril passado, e que viria a ser anulada por falta de quórum. O impasse levou o AKP a convocar legislativas antecipadas e a maioria absoluta obtida nas urnas deu aos islamitas a legitimidade necessária para insistir na candidatura de Gül. O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros garante que o seu partido tem evoluído para posições mais moderadas e que, se for eleito, irá defender uma rígida separação entre Estado e religião.

(Fonte: Público)

23 agosto 2007

Presidente do Instituto de História da Turquia debaixo de fogo devido a declarações sobre a origem de Alevitas e Curdos

Membros da Federação Alevi Bektaşi protestaram em frente ao Instituto de História da Turquia (TTK) contra as declarações do seu presidente, Yusuf Halaçoğlu, relativas às origens dos Alevitas e dos Curdos da Turquia.

A federação alega que o presidente dessa instituição humilhou os Curdos, Alevitas e Arménios e violou os seus direitos políticos e culturais. Avisou que aqueles que desenvolvem estudos históricos devem basear as suas descobertas em dados científicos, e enfatizou que as declarações de Halaçoğlu, longe de serem científicas, correspondem a uma "avaliação ideológica".

“Esta aproximação que tenta diminuir o conhecimento comum, a memória social colectiva e identidades culturais várias, só leva à discriminação e racismo.”

Halaçoğlu revelou que muitos Curdos têm origem turca, enquanto que os Turcos alevitas têm origem arménia.

Levantou-se de imediato um vasto círculo de protestos, provenientes de associações alevitas até deputados do partido do governo (AKP), a pedirem a destituição de Halaçoğlu.

Halaçoğlu disse que as suas declarações foram mal entendidas e que não quis dizer que não existe uma comunidade curda na Turquia.

“Actualmente, algumas famílas que se auto-definem como Curdas são de facto membros de tribos túrquicas”, disse numa conferência de imprensa. Halaçoğlu acrescentou que descobriu, enquanto pesquisava nos arquivos otomanos, que alguns membros de tribos da Anatólia estavam registados não como Curdos mas como membros de tribos túrquicas.

A polémica do "risotto" com vinho


O prato italiano "risotto" tornou-se um dos pratos mais populares na Turquia depois do ministro turco do Interior, Osman Güneş, ter censurado o ex-governador de Muğla, Temel Koçaklar, por este lhe ter servido "risotto" durante um jantar. Güneş argumentou que o Islão proibe o uso do vinho, ingrediente que faz parte da confecção do "risotto".

Donos e gerentes de restaurantes italianos na Turquia defendem que nunca tinham conhecido um cliente que não tivesse gostado do molho de vinho do seu "risotto", e que, mesmo que sirvam "risotto" com outro molho, os clientes preferem o molho de vinho.
O gerente do restaurante italiano "Il Piccolo", Atacan Şimşek, diz que “Temos cinco variedades de risotto: com cogumelos, com frango, com marisco, com vegetais e com salmão. Adicionamos o molho de acordo com a vontade do cliente. Actualmente, o "risotto" mais popular é o de marisco com vinho branco. Contudo, o vinho é usado em muitos pratos de carne nos restaurantes italianos."

O debate sobre o "risotto" começou porque Güneş terá despromovido Koçaklar depois de ter comido "risotto". Depois de ter apreciado bastante o prato, Güneş terá perguntado pela receita e não gostou quando soube que o vinho fazia parte dos ingredientes do prato. O ministro do Interior recusa as críticas de que um "risotto com vinho" tenha influenciado a mudança de posto de Koçaklar.
Entretanto, os teólogos concordam que, como o vinho adicionado à comida sofre alterações químicas devido ao processo de cozedura e se torna vinagre, o Islão permite o consumo desse prato.

22 agosto 2007

Jorge Sampaio: "Fechar a porta à Turquia é um desastre"


Entrevista a Jorge Sampaio in Diário Económico

A Turquia é um dos países patrocinadores da Aliança das Civilizações e também um candidato à UE. Como interpreta as posições da União sobre a Turquia? Há sinais contraditórios.

A Turquia preocupa-me muito. Estive lá no início de Julho. As negociações de adesão têm de continuar porque é crucial para o desenvolvimento da Turquia. A capacidade reformista interna está associada à expectativa de entrada na UE.
Mas a Europa está dividida.

Quando regressei da Turquia, escrevi uma carta a todos os chefes de Estado e de Governo da UE. Pedi-lhes para não se fechar a porta, por razões estratégicas, e no fundo de “aliança de civilizações”, mas também por causa da nossa credibilidade. É um desastre se fecharem a porta! Temos de ser capazes de demonstrar que sabemos conviver com muçulmanos, tanto mais que vivem no nosso seio minorias significativas. Há um enorme esforço reformista na Turquia, somos parceiros na NATO e no Conselho da Europa, e não podemos defraudar as expectativas. Se os sinais contraditórios continuarem, os reformistas perdem força e os que estão a favor da UE (uma maioria vastíssima) começam a diminuir. A negociação, que levará sempre muito tempo, é a possibilidade de pôr de pé um islamismo moderado num país com tradições seculares.

Como vê a posição recente da França?

Vamos ver. O facto de se ter dado continuidade ao processo negocial de adesão da Turquia à União Europeia é como uma ponte que se manteve aberta. O perigo que existia era o de paragem do processo negocial, o que seria um desastre.

(Pode ler a totalidade da entrevista aqui)

Erdoğan convida jornalista a abandonar a Turquia


Os principais jornais da Turquia criticaram hoje duramente o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan, por este ter convidado o colunista Bekir Coşkun a deixar o país.
Coşkun é uma figura proeminente do jornalismo turco cujas colunas satíricas são lidas por muitos leitores no jornal "Hürriyet". Tem criticado a candidatura à presidência da República de Abdullah Gül e no Domingo escreveu que não o reconheceria como presidente.
"Proposta fascista" (jornal "Cumhuriyet"), "Não é um primeiro-ministro, mas um agente turístico" ("Radikal"), "Bekir Coşkun enviado ao exílio" ("Milliyet"). Estas foram algumas das manchetes em alguns dos mais importantes jornais turcos.
"Há alguns que dizem que Abdullah Gül 'não pode ser meu presidente'. Infelizmente existem pessoas assim mal-educadas. Os que dizem isso deveriam abandonar primeiro a cidadania da República turca, ir para onde quiserem e eleger quem quiserem", afirmou Erdoğan sobre as críticas de Coşkun durante uma entrevista televisiva.
As declarações do primeiro-ministro provocaram reacções de diferentes sectores da sociedade.
Em resposta a Erdoğan, Coşkun escreveu hoje que ama apenas a Turquia e que não tem outro país para onde ir. "Ele trata assim todos os cidadãos? O que ele deveria fazer agora era mandar-me de camelo para a Arábia", disse o jornalista em entrevista a outra publicação.
Após a vitória do seu partido com 46,7% dos votos nas eleições gerais de Julho, Erdoğan prometeu em discurso à nação ser também o primeiro-ministro dos que não votaram nele e respeitar todos os sectores da sociedade.
O líder do principal partido de oposição, Deniz Baykal (do centro-esquerda CHP), ressaltou hoje que a declaração de Erdoğan revela a sua verdadeira face. "É por isso que somos contra a presidência de Gül", acrescentou.
O CHP tem alertado para o perigo de islamização do Estado caso Gül seja eleito.

(Fonte: EFE)

21 agosto 2007

O maior partido da oposição não manterá relações com a presidência da República se Gül for eleito


O Partido Republicano do Povo (CHP), o maior partido da oposição, disse ontem que vai boicotar qualquer evento no Palácio de Çankaya (Palácio presidencial) e que não manterá qualquer contacto com o presidente, se Abdullah Gül for eleito para o cargo.

“A nossa república secular está em perigo. Para não sermos cúmplices nesse processo, não vamos entrar no Parlamento”, referiu Deniz Baykal, o presidente do partido.

Hayrunisa Gül e a modernização do véu islâmico

Entretanto, correm rumores de que Hayrunisa Gül, a mulher de Abdullah Gül, está a receber aconselhamento de estilistas para uma utilização mais moderna do véu islâmico.

Especula-se que o novo visual poderá ser ao estilo de Sophia Loren.

Toda esta especulação foi gerada por um artigo publicado ontem no The Guardian.

Gül só deverá ser eleito na terceira volta da eleição presidencial


O candidato dos islamitas do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) à eleição presidencial da Turquia, o ministro dos Negócios Estrangeiros Abdullah Gul não conseguiu ontem, como já se esperava, ser eleito na primeira votação efectuada pelo novo Parlamento turco. Apesar de estar garantida a validade do escrutínio, com a presença de mais do que os 367 deputados requeridos pela Constituição, Gül obteve 341 votos, inviabilizando, assim, a sua eleição, uma vez que as duas primeiras rondas de votação exigem que o sucessor de Ahmet Necdet Sezer seja eleito por uma maioria de dois terços. Tal pressupõe que o candidato apoiado pelo primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, que reforçou a sua maioria absoluta nas recentes legislativas, voltará a falhar a eleição na ronda prevista para sexta-feira. Nessa altura deverá concorrer igualmente o nacionalista Sabahattin Çakmakoğlu, que alcançou 70 votos, deixando pelo caminho o candidato da extrema-esquerda Hüseyin Tayfun İcli, que só contabilizou 13. Se este cenário se confirmar, Gül deverá ser eleito à terceira votação, marcada para dia 28, altura em que lhe bastará a maioria simples dos 550 deputados para se transformar no primeiro chefe de Estado islamita da Turquia. O facto de Gül ser casado com uma mulher que usa o véu islâmico, proibido em todos os edifícios públicos do país, aumenta o nervosismo e a inquietação dos sectores laicos da Turquia, incluindo as forças armadas, de que o presidente da República é comandante-chefe, e a quem o fundador do Estado moderno turco, Kemal Atatürk, encarregou de defender e manter a laicização do país.

(Fonte: Diário de Notícias)

20 agosto 2007

Os cortes de água em Ancara foram suspensos


O presidente da Câmara de Ancara, Melih Gökçek, que tem sido muito criticado nos últimos tempos por não ter adoptado medidas preventivas em face da falta de reservas de água para o abastecimento da capital, disse ontem que se as pessoas continuarem a poupar água não haverá necessidade de continuar com os cortes de água.

No dia 1 de Agosto, o presidente da Câmara de Ancara começou a cortar água na cidade de dois em dois dias, em virtude da escassez de reservas de água nos reservatórios da cidade. Durante a segunda semana de Agosto e por um peródo de cinco dias todas as torneiras da capital secaram devido ao rebentamento de algumas condutas de abastecimento de água. Gerou-se o caos, com as pessoas a tentarem obter água em furos artesianos, por exemplo. Temeu-se o risco de epidemias. Nos hospitais a situação tornou-se preocupante com o anúncio por parte de alguns hospitais de que não poderiam receber novos doentes. Durante essa altura, e respondendo a algumas críticas, Gökçek chegou a dizer: "Não tomem banho! Lavem as cabeças!"
Por fim, o problema foi resolvido e o presidente anunciou que a água não seria cortada novamente durante um período de 10 dias. Ou seja, hoje recomeçariam os cortes de água.
Durante a semana passada o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan, criticou a situação vivida em Ancara.
Ontem, numa conferência de imprensa, Gökçek agradeceu aos habitantes de Ancara por estarem a poupar água: "Peço aos habitantes de Ancara que continuem. Se o consumo diário de água baixar para os 600,000 metros cúbicos, não haverá necessidade de cortes de água. Se tivéssemos racionado a água antes de algumas condutas terem explodido, não teria havido necessidade de cortes de água".
O problema da água em Ancara ainda se agravou mais com o rebentamento de algumas condutas de abastecimento de água, o que provocou grandes perdas de água. Especialistas disseram que o rebentamento ocorreu em grande parte devido à mudança de pressão da água num sistema composto por infraestruturas pobres.
“Peço desculpa aos habitantes de Ancara pelas explosões nas condutas. Nunca quis que tal acontecesse. Tentámos abastecer Ancara com a maior quantidade de água possível através das condutas de abastecimento”, disse.
Gökçek também agradeceu o facto da cidade estar a poupar água, o que ajudou bastante à melhoria da situação. Acrescentou que durante o dia de hoje iriam ser espalhados pela cidade cartazes de agradecimento e de consciencialização para uma maior poupança de água. “Vamos resolver este problema de mão em mão", disse.
A Câmara está a levar a cabo trabalhos para trazer água para a cidade através da barragem Kesikköprü. Gökçek disse que o projecto estará completo no dia 31 de Dezembro. Também desmentiu o facto dessa água não ser potável, dizendo: “o partido da oposição e algumas organizações civis estão constantemente a difundir propaganda contra a barragem Kesikköprü. As suas alegações não são verdadeiras. Eu bebi água destilada recentemente [da barragem de Kesikköprü] durante um programa de televisão. Ninguém deveria ter nenhuma dúvida àcerca disso. Vamos adoptar todas as medidas necessárias para tornar a água de Kesikköprü mais saudável. Não haverá mais nenhum problema em Ancara depois do projecto Kesikköprü estar completo”, disse Gökçek.
Desde que começaram os cortes de água em 1 de Agosto, Gökçek tem enfrentado pressões para deixar o poder, por alegadamente ter falhado em adoptar medidas para evitar a situação actual da falta de água. Algumas críticas dizem que ele gastou o dinheiro a embelezar a cidade, a construir parques, a criar uma equipa de futebol, sem investir nas infraestruturas da cidade. Gökçek nega as acusaçõs e culpa o aquecimento global.

19 agosto 2007

A Turquia lembrou as vítimas do violento terramoto de 1999


Na sexta-feira, dia 17, foi o 8º aniversário da pior catástrofe nacional do século XX, que matou 17.000 pessoas e desalojou centenas de milhar de pessoas.

Realizaram-se cerimónias para lembrar as vítimas e conferências sobre terramotos e medidas de prevenção contra terramotos, um pouco por todo o país.
As vítimas foram lembradas às 3.02 horas, o momento exacto do abalo que registou 7.9 na escala de Richter e que se fez sentir sobretudo no noroeste do país há oito anos.
Um grupo de pessoas juntou-se no Centro Cultural de Atatürk para um minuto de silêncio em memória das vítimas.
Também foi realizada outra cerimónia em memória das 420 tropas do Comando Naval que morreram no terramoto, junto ao monumento dos mártires do terramoto.

Bloqueado o acesso à plataforma WordPress.com na Turquia

Quem tentar aceder a qualquer blogue hospedado na plataforma WordPress.com a partir da Turquia, encontra a seguinte mensagem: “O acesso a este site foi bloqueado de acordo com a decisão no: 2007/195 do T.C. Fatih 2.Tribunal Civil de Primeira Instância.”

A razão deste bloqueio tem a ver com alegadas "difamações" de um criacionista islâmico turco, cujo nome não vou escrever sob pena de também poder ser alvo de bloqueio.
O tribunal deu razão à acusação dos seus advogados, e a plataforma wordpress.com foi totalmente bloqueada na Turquia.
Esta situação já dura desde 17 de Agosto e, a meu ver, deveria estar a causar muito mais polémica. Aqui na Turquia quase não se ouvem nos meios de comunicação social referências a este caso.

A eleição presidencial e a mulher de Gül

In Diário de Notícias

Imaginem um país em que um jornal oferece um poster de Kemal Atatürk, o fundador do regime republicano-laico sobre o qual assenta a Turquia moderna. Dá para perceber a veneração que os turcos sentem por esse político excêntrico, mulherengo e alcoólico que era Atatürk, que morreu em 1938 com 53 anos. Atatürk foi o inspirador de um avançado projecto de secularização e ocidentalização que impôs uma revolução de costumes na sociedade turca. Pôs os turcos a vestirem-se à ocidental - botas, calças e chapéu -, baniu o véu islâmico e lutou por uma Turquia livre do espírito do Islão. As mulheres que adquiriram sob o regime de Atatürk uma relativa igualdade de direitos, sabem o que lhe devem.Não admira que no centro desta eleição presidencial não estejam só Abdulah Gül e Recep Erdoğan mas também a mulher do primeiro, Hayrunisa Gül, de 42 anos, que não irá prescindir do véu se o marido se tornar presidente. No passado ela chegou a apelar ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem para poder usar o véu numa universidade turca. A oposição secularista não aceita que esta activista do véu se torne na primeira mulher de um presidente turco. O presidente em funções, Ahmet Sezer, já disse que não a tenciona convidar para a tomada de posse. E, quando Gül ainda não tinha sido confirmado pelo AKP, quer o CHP quer a oposição esquerdista do DSP anunciaram que apoiariam a candidatura do ministro do Trabalho, Murat Başesgioğlu, cuja mulher não usa véu. Hayrusina Gül parece querer modernizar o véu, com a ajuda de estilistas de moda. Mas o símbolo do véu tem servido de mote para condenar a candidatura do marido. Não por acaso, Erdoğan veio citar o exemplo da mulher do próprio Atatürk, Latife Hamas, que num período da sua vida também envergou o véu. O CHP repudiou a comparação e alguns historiadores desmentiram o primeiro-ministro: a mulher de Ataturk nunca usou o véu durante o tempo em que esteve casada, nem depois de se divorciar. Mas Erdogğn estuda cada sua intervenção com minúcia: a sua base social de apoio compõe-se de grandes proprietários islâmicos da Anatólia, mas também das classes urbanas que parecem dispostas a aceitar Gül, desde que isso não ponha em causa o secularismo do Estado turco. Um inquérito realizado há uns anos colocou a questão do véu no oitavo lugar das preocupações centrais dos turcos. Como diziam alguns comentadores, os turcos querem sobretudo estabilidade, reformas e crescimento. Para outros, Gül na presidência da Turquia até pode ser o sonho cumprido de Atatürk. Quando Gül promete manter-se fiel à Constituição e à herança secular, adopta o discurso conciliador que as circunstâncias exigem. Também aqui há a Turquia dos jornais e a Turquia das ruas.

18 agosto 2007

Sequestro de avião turco acabou com a rendição dos dois sequestradores


Dois homens que desviaram hoje de manhã um avião turco com 142 pessoas a bordo acabaram por se render às autoridades no aeroporto de Antália, na Turquia.
Segundo as autoridades turcas, a intenção dos dois sequestradores — um Turco e um Sírio — era desviar o aparelho para o Irão ou para a Síria. Os dois homens ameaçaram fazer rebentar uma bomba no aparelho da companhia aérea privada turca Atlas Jet, que fazia a ligação entre o norte de Chipre e Istambul, na Turquia.
Pouco tempo depois do avião ter aterrado no aeroporto de Antália, a maioria dos passageiros conseguiu escapar pela parte de trás do avião. "Os piratas não puderam fazer nada porque estavam na parte da frente do aparelho. Eles disseram que pertenciam à Al-Qaeda", relatou um dos passageiros ao canal NTV. As autoridades negociaram depois a libertação de um pequeno grupo de passageiros e da tripulação.
Segundo a CNN Türk, os piratas do ar exigiam que o piloto os levasse para um país do Médio Oriente, mas as autoridades turcas recusaram essa exigência e forçaram a sua rendição, o que acabou por acontecer.

Pode ver aqui o momento em que os reféns escaparam ao sequestro.

(Fonte: Público)

17 agosto 2007

Ali Ağca foi transferido para uma prisão em Ancara

O governo da Turquia transferiu hoje Mehmet Ali Ağca, o homem que tentou assassinar o Papa João Paulo II em 1981, de uma prisão de alta segurança de Istambul para outra semelhante em Ancara.

Ağca, de 49 anos, foi para a prisão de Istambul em 2000 quando foi extraditado de Itália, onde esteve preso 19 anos. Ağca tinha pedido às autoridades para o levarem para a prisão da cidade de Malatya (leste), onde vive a sua família, mas só conseguiu transferência para Ancara, a 700 quilómetros a noroeste da sua cidade natal.

Ağca já tinha processos contra si por assassinato no seu país quando atentou contra a vida do papa na praça de São Pedro em Roma no dia 13 de Maio de 1981. Os motivos do ataque ainda são considerados mistério e as hipóteses de que a União Soviética e a Bulgária estiveram por trás do atentado nunca foram comprovadas.

16 agosto 2007

Presidente da Turquia não aprovou o novo gabinete do primeiro-ministro


O presidente da Turquia recusou-se hoje a aprovar o novo gabinete do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, afirmando que o primeiro-ministro deve submeter a lista ao próximo mandatário.
Erdoğan afirmou que a atitude do presidente Ahmet Necdet Sezer foi "bastante positiva", e que a atitude deve ser encarada como uma cortesia ao sucessor.
Sezer é um secularista convicto, crítico do partido AKP, de Erdoğan, que tem raízes islamitas, tendo vetado várias vezes as suas leis e nomeações. Deverá aposentar-se quando o Parlamento turco eleger o seu sucessor, ainda durante este mês.
Erdoğan afirmou que ficou surpreso com a decisão do presidente, mas deixou claro não guardar mágoas.
O AKP obteve uma vitória decisiva nas eleições parlamentares de 22 de Julho. O primeiro-ministro deve trazer novos nomes para o gabinete, principalmente para acelerar as reformas políticas e económicas da Turquia.
A votação indirecta para o presidente da República no Parlamento começa na segunda-feira.
O AKP indicou como candidato o ministro dos Negócios Estrangeiros, Abdullah Gül, que deve conquistar a presidência no final da terceira ronda de votações, no dia 28 de Agosto, quando precisará apenas da maioria simples.
O AKP detém 341 das 550 cadeiras da Assembleia.
Tal como Erdoğan, Gül é um ex-islamita visto com desconfiança pela poderosa élite laica da Turquia, que inclui as Forças Armadas. Os militares ajudaram a atrapalhar a primeira tentativa do AKP de fazer Gül presidente, em Maio. A manobra obrigou Erdoğan a convocar eleições parlamentares meses antes do programado.
(Fonte: Reuters)

Ancara cancela visita do arcebispo de Chipre

Pela segunda vez, em quatro meses, Ancara anulou a visita do novo arcebispo greco-ortodoxo de Chipre, Chrysostomos, ao patriarca ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, prevista para 17 a 21 de Agosto.
A visita já tinha sido cancelada pelo governo turco em Maio passado.
Com essa decisão, "o governo de Ancara mostrou a sua verdadeira face", disse o arcebispo Chrysostomos, que também anunciou a sua intenção de enviar uma carta à Santa Sé e ao Conselho Mundial das Igrejas, para notificar sobre o ocorrido. Espera assim "sensibilizar a comunidade internacional sobre a não confiabilidade do governo turco em termos de direitos".

(Fonte: Rádio Vaticano)

Erdoğan apresenta hoje o novo Governo ao presidente da República

O primeiro-minsitro turco, Recep Tayyip Erdoğan, apresenta esta quinta-feira à tarde o seu novo Governo ao presidente da República, Ahmet Necdet Sezer.
Sezer encarregou Erdoğan de formar um novo Executivo após a vitória, com maioria absoluta, do partido AKP nas eleições legislativas de 22 de Julho.
Erdoğan manifestou-se convicto que o chefe de Estado não vetará nenhum dos nomes propostos, apesar de tal já ter acontecido no passado.
No centro das atenções está a pasta dos Negócios Estrangeiros, cujo anterior titular, Abdullah Gül, anunciou esta semana a sua candidatura à presidência da República.

15 agosto 2007

Gül defende o direito ao uso do véu islâmico


O candidato à Presidência turca, Abdullah Gül, afirmou esta quarta-feira não ter antecipado nenhum problema com o poderoso Exército do país por causa do véu islâmico que a sua mulher usa e insistiu que a Constituição garante a sua liberdade em usá-lo.
A elite secular turca, incluindo os generais, opõe-se à tentativa de Gül de concorrer ao posto mais alto da nação devido ao seu passado islâmico e ao fato da sua mulher, Hayrunisa, usar o véu islâmico.
O véu, visto por secularistas como uma ameaça à separação entre Estado e religião, é proibido em locais públicos e escolas, apesar de mais de metade das mulheres turcas o usar.
Questionado se o Exército pode levantar objecções sobre o véu, Gül respondeu aos jornalistas: "A Turquia é um país governado por leis [...]. A Constituição garante os direitos humanos básicos, incluindo o direito de cada um se vestir como quiser".
Gül também prometeu agir como um chefe de Estado imparcial. "O presidente deve manter distâncias iguais e observar o princípio da imparcialidade", disse Gül depois de procurar apoio para a sua candidatura entre líderes empresariais e sindicatos.
O Parlamento da Turquia vai realizar uma série de votações, com início na próxima semana, para a eleição presidencial.
Gül deve ganhar no terceiro turno, em 28 de Agosto, quando precisar de uma maioria simples entre os 550 membros do Parlamento, onde o seu partido, AKP, detém 341 assentos.

14 agosto 2007

Gül compromete-se a defender a laicidade do Estado

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Abdullah Gül, formalizou hoje a sua candidatura à presidência da República, comprometendo-se a defender a laicidade do Estado, mas a oposição já contestou a iniciativa dos islamitas.
Fortalecido pela vitória alcançada nas legislativas do mês passado, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), decidiu manter a candidatura de Gül à chefia de Estado, numa eleição prevista para o final deste mês no Parlamento de Ancara. A insistência representa um desafio à oposição laica e ao Exército, que na Primavera passada se opuseram à escolha de um islamita para a mais alta magistratura da nação. O boicote da oposição no Parlamento conseguiu mesmo evitar a eleição de Gül, por falta de quórum, o que levou o AKP a procurar nas urnas a legitimidade para enfrentar os sectores laicos. “O reforço e a defesa dos valores republicanos estipulados na Constituição serão a minha principal prioridade”, afirmou Abdullah Gül na apresentação da candidatura, antes de acrescentar: “Farei tudo o que for necessário para defender a laicidade e penso que ninguém deverá preocupar-se com esse assunto”.
Apesar de 99 por cento da sua população ser muçulmana, a Constituição da Turquia estipula a separação entre Estado e religião, atribuindo ao Exército o papel de defensor do laicismo estatal. A escolha de Gul foi por isso vista com maus olhos pela oposição, dominada pela elite laica, que não se cansa de lembrar que a mulher do antigo ministro surge em público envergando o véu islâmico, proibido nas instituições públicas e considerado um símbolo ostensivo do islamismo. Sinal desse incómodo é a recusa da liderança do principal partido da oposição, os sociais-democratas do CHP, em receber Gül, até agora o único candidato oficial à presidência. Ainda assim, o antigo ministro reuniu-se com outros dirigentes políticos, numa tentativa para conseguir apoios. Apesar de não ter dificuldades em ser eleito – o AKP detém maioria absoluta no Parlamento, o necessário para uma eleição à terceira votação – Gül sabe que necessita de um apoio mais abrangente para garantir legitimidade fora dos meios islamitas, como ficou claro em Abril e Maio, quando a oposição conseguiu reunir centenas de milhares de pessoas nas ruas em defesa da laicidade.

(Fonte: Público)

O regresso da Turquia


Discutir a possibilidade e as consequências da entrada da Turquia na União Europeia foi um tópico extremamente importante nos últimos seis anos. O 11 de Setembro foi uma grande prancha política para Ancara e para os partidários da sua entrada na União Europeia. As dúvidas e as hesitações vieram a seguir. As eleições de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy parecem ter assinalado o fim da ideia. E com 2007 veio a ideia de que, sem a União Europeia, a Turquia está destinada a ter um papel menor na política internacional. Afinal de contas ouvimos falar da Turquia apenas por causa dos seus problemas internos ou então por causa das ansiedades dos militares de Ancara em relação às actividades do PKK no Curdistão iraquiano.
Os europeus que ignoram ou desvalorizam a importância política da Turquia cometem um grave erro. Primeiro, por uma razão que é normalmente ignorada sempre que se fala do país na maior parte das capitais europeias. Longe dos nossos olhares, a economia turca tem vido a crescer consistentemente acima dos cinco por cento durante os últimos anos. Este crescimento transformou a Turquia na maior e mais dinâmica economia muçulmana e garantiu a entrada do país no grupo das vinte maiores economias mundiais. Este crescimento não está assegurado, é certo, mas a Turquia já é hoje a maior economia no Mediterrâneo oriental, Médio-Oriente e Cáucaso. A ascensão da economia turca tem sido silenciosa mas não pode continuar a ser ignorada.
Acima de tudo, e este é o segundo ponto que é crucial reter, porque um crescimento económico deste tipo não deixará de ter importantes consequências políticas no relacionamento da Turquia com os seus vizinhos. Aqui, as últimas décadas não são um bom guia para o que aí vem. O colapso do império otomano, a fundação da Turquia, a influência de ingleses e franceses no Médio-Oriente, a Guerra Fria e a ascensão regional dos EUA contribuíram para diminuir drasticamente o papel político internacional de Ancara. As importantes mudanças que estão a actualmente a decorrer no xadrez político regional são uma enorme oportunidade para a Turquia voltar a desempenhar o seu papel histórico.

Por Miguel Monjardino in Expresso

AKP mantém Gül como candidato à presidência da República


O partido de orientação islâmica no poder (AKP) esteve reunido à porta fechada durante várias horas na segunda-feira e decidiu nomear novamente o ministro dos Negócios Estrangeiros Abdullah Gül como o seu candidato à presidência da República apesar da oposição secularista e do Exército.
O Parlamento vai efectuar uma primeira volta da eleição presidencial na próxima segunda-feira, mais de três meses depois da oposição ter vetado a eleição de Gül e da crise que a sua candidatura despoletou abrindo caminho à antecipação das eleições legislativas. Nessa altura, a oposição secular acusou o governo de ter o objectivo de derrubar as tradições seculares fundadas por Atatürk e de tentar canalizar o poder para poder assim impôr o islamismo.
O partido de Erdoğan ganhou as eleições de 22 de Julho, mas não conseguiu os dois terços necessários para a aprovação do seu candidato presidencial durante as primeiras duas voltas da votação parlamentar. Contudo, o presidente pode ser eleito por maioria na terceira volta, se o Parlamento reunir o quórum necessário para as eleições presidenciais. A primeira volta da votação parlamentar terá lugar no dia 20 de Agosto, a segunda no dia 24 de Agosto e a terceira no dia 28 de Agosto.
Cihan Pacaci, um membro do Partido do Movimento Nacionalista (MHP), afirmou que o seu partido irá apoiar Gül para prevenir uma nova crise política.
Por outro lado, Deniz Baykal, líder do principal partido da oposição (CHP) disse que "Não é apropriado que o país tenha um presidente que tem problemas com a filosofia fundadora da República turca".
A função do presidente é fundamental no controlo do Estado turco. Tem o poder de vetar leis e acordos do governo. O actual presidente Ahmet Necdet Sezer, bloqueou muitas vezes as iniciativas do governo.

13 agosto 2007

Colisão de duas embarcações ao largo de Istambul


Uma colisão entre um ferry turco de transporte de passageiros e um navio de carga ucraniano ao largo de Istambul fez hoje 40 feridos.
O ferry dirigia-se para a ilha de Avşa e transportava 450 passageiros.
As autoridades dizem que o incidente não fez vítimas mortais nem feridos muito graves e que não afectou o tráfego no Estreito do Bósforo, importante ponto de passagem de petroleiros internacionais.
Foi iniciada uma investigação para determinar as causas do acidente.
O Mar de Mármara faz a ligação ao Mar Negro através do Estreito do Bósforo, a Istambul e ao Mar Egeu através do Estreito de Dardanelos.
Os dois estreitos constituem a principal rota para os navios ucranianos e russos chegarem ao Oceano Atlântico através do Mar Mediterrâneo e são as águas com maior tráfego em todo o mundo.
Os esforços da Turquia para melhor regulamentar e limitar o tráfego no Bósforo e Dardanelos, têm sido gorados ao longo dos anos devido à oposição dos países que fazem fronteira com o Mar Negro e cuja principal rota comercial é a marítima.

12 agosto 2007

Regresso

Irei publicando as notícias mais importantes que marcaram a actualidade da Turquia durante o período em que este blogue esteve de férias.
Assim sendo, e para a consulta ser mais fácil e organizada, pode encontrá-las abaixo deste post na data correspondente.

08 agosto 2007

Permanecem as dúvidas sobre o candidato presidencial do AKP


O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, deverá apresentar um candidato consensual à presidência do país para evitar novas tensões entre o novo Governo e o sector laico.
Segundo a imprensa turca, Erdoğan deseja que o último candidato por si apresentado às presidenciais turcas, o chefe da diplomacia de Ancara, Abdullah Gül, se retire da corrida presidencial para evitar de novo tensões com os laicos.
A candidatura às presidenciais de Abdullah Gül, ex-islamita cuja mulher usa véu islâmico, esteve na origem da grave crise institucional da Primavera entre o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, saído do movimento islamita) e o campo pró-laico. A crise política originou a antecipação das eleições legislativas para 22 de Julho último.
Durante a crise, o Exército turco lançou um aviso ao Governo contra qualquer tentativa de pôr em causa o secularismo do país e milhões de turcos saíram à rua para demonstrar a recusa de ter um chefe de Estado cuja mulher usa véu.
Três dias depois das eleições de 22 de Julho, nas quais o AKP obteve uma esmagadora maioria (341 dos 550 deputados da Assembleia Nacional), Gül deu a entender que se mantinha na corrida presidencial, alegando o apoio popular dado ao AKP a 22 de Julho.
"Gül presidente" foi um dos slogans da campanha do AKP. A eleição do novo chefe de Estado da Turquia deverá realizar-se no final deste mês.
Apesar de não dispor de dois terços dos votos na Assembleia Nacional
necessários para a eleição do Presidente nas primeiras duas votações, o AKP deverá eleger sem problemas o candidato que apresentar na terceira votação, durante a qual 276 votos são suficientes.

(Fonte: O Primeiro de Janeiro)

06 agosto 2007

Sezer pede a formação de novo governo

O presidente da Turquia, Necdet Ahmet Sezer, pediu hoje ao primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan, para formar um novo governo. O pedido aconteceu dois dias depois da posse do novo Parlamento. Erdoğan tem 45 dias para apresentar uma lista de ministros para a aprovação de Sezer. O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdoğan, com raízes no movimento islâmico da Turquia, conquistou 341 das 550 cadeiras do Parlamento nas últimas eleições. Erdoğan renunciou de imediato para permitir que o presidente lhe solicitasse a formação de um novo governo.

04 agosto 2007

O novo Parlamento tomou posse


Um novo Parlamento turco dominado pelo partido de orientação islâmica do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan foi empossado hoje, abrindo caminho para um novo governo que foi lembrado no discurso de abertura da sua obrigação de proteger os princípios seculares da nação.
No início da cerimónia, o presidente provisório do Parlamento, Şukru Elekdağ, do oposicionista Partido Republicano do Povo (CHP), disse que Erdoğan deveria agir com bom senso a fim de evitar a polarização política."Desenvolver uma política para proteger valores seculares e democráticos ajudará o país no seu objectivo de alcançar o nível contemporâneo de civilização", afirmou Elekdağ. O seu partido e os militares fortemente seculares do país têm sublinhado nos últimos dias que o próximo presidente, que será eleito pelo Parlamento ainda este mês, deve defender sinceramente o secularismo. O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdoğan, detém 341 das 550 cadeiras do actual parlamento, 10 a menos do que no anterior, mas ainda com uma maioria folgada. O presidente Ahmet Necdet Sezer deverá pedir na segunda-feira a Erdoğan para formar um novo governo. O partido da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), terá 99 cadeiras. O Partido do Movimento Nacionalista (MHP), de extrema direita, retornou ao parlamento com 70 deputados, depois de cinco anos de ausência. O centro-esquerdista Partido Democrático de Esquerda conquistou 13 cadeiras (DSP). Um renovado partido curdo, o Partido da Sociedade Democrática (DTP), ficou com 21 assentos. Para muitos Curdos, o novo Parlamento marca uma nova era na sua luta por mais direitos. Mas muitos Turcos temem que a agremiação curda seja influenciada pelo ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado terrorista pelos Estados Unidos e União Europeia e que luta pela formação de um Estado curdo independente. É a primeira vez que o grupo é representado no Parlamento desde a sua expulsão em 1994 por supostos laços com rebeldes separatistas curdos. Líderes do partido prometeram não provocar tumultos na cerimónia de posse, como fizeram os seus antecessores. Mas um deputado do partido, Ahmet Türk, numa entrevista à televisão turca, recusou-se a considerar o PKK uma organização terrorista, alegando que isso iria contra seu papel de procurar a paz. Todos os partidos no Parlamento recusam uma cooperaração com os deputados curdos enquanto eles não denunciarem o PKK como um grupo terrorista.

01 agosto 2007

Começaram hoje os cortes de água em Ancara


A Turquia enfrenta grandes cortes no fornecimento de água e de eletricidade em função de uma grave seca que atinge o país e que provocou a redução do nível de água dos reservatórios até níveis críticos.
Em Ancara começou hoje o racionamento de água ordenado pela Câmara Municipal, e cada freguesia da capital, de forma alternada, disporá de dois dias de água e dois dias sem água durante os próximos cinco meses.
Após a divulgação do plano, o preço do garrafão de água potável de 5 litros aumentou 40% na última semana.
O nível dos reservatórios que abastecem Ancara é de 4,8%, enquanto em Istambul é de 28%, quantidade de água que os especialistas consideram suficientes apenas para os próximos três meses.
Caso não sejam registradas chuvas, Istambul deverá adoptar as mesmas medidas de Ancara.
Os especialistas criticam a demora do Governo e Municípios nas aplicação de restrições ao uso de água, algo que atribuem às eleições legislativas realizadas em Julho.
"Não só este Governo, mas também os anteriores fracassaram ao investir no sector energético durante os últimos 20 anos e, por outro lado, perderam tempo a falar vagamente sobre a energia nuclear", criticou o membro da Câmara de Engenheiros Eléctricos de Ancara, Cengiz Göltas, em declarações ao jornal Milliyet.
Outro dos problemas enfrentados na Turquia por causa da seca é o risco de uma crise energética por causa da dependência da eletricidade de procedência hídrica e do rápido aumento no consumo.
As primeiras províncias afectadas pelo corte de electricidade foram Denizli, Isparta e Antália, situadas nas regiões Egea e Mediterrânea, todas com grande volume turístico.
A produção eléctrica das represas dos rios Tigre e Kızılırmak, dois dos maiores da Turquia, registrou um total de 49% e 20%, respectivamente, o que representa uma perda de 12% da produtividade com relação ao ano passado.
O Governo turco prometeu a construção de novas represas e recentemente aprovou uma lei que permitirá pela primeira vez a abertura de fábricas nucleares no país.
Outra das soluções estudadas é a privatização da gestão de rios e lagos por um período de 29 a 49 anos.
Os concursos para as privatizações, que estarão abertos a investidores estrangeiros, incluirão um total de 12 ou 13 rios entre os quais estão o Tigre, o Eufrates e o Kızılırmak.
O aumento global das temperaturas e um ano com poucas chuvas são apontados como razões para a grave seca, embora alguns especialistas a atribuam ao mau uso dos recursos hídricos.
"O aquecimento global implica um aumento das precipitações. Se na Turquia vivemos uma seca não é culpa do clima e sim da falta de conhecimento ao usar a água", disse o professor de Ciências do Mar da Universidade de Izmir, Doğan Yaşar, em declarações publicadas na edição de hoje do jornal Sabah.

(Fonte: EFE)