28 janeiro 2007

O último adeus a Hrant Dink


Na passada terça-feira realizou-se o funeral do jornalista Hrant Dink. Foi acompanhado, na sua última viagem pelas ruas de Istambul, por milhares de pessoas e por uma nuvem de pombas brancas.
Desde o princípio da manhã, muitas pessoas foram-se juntando à porta do jornal "Agos", para depositarem velas e cravos vermelhos em redor dos seus retratos, e também para escutarem as palavras da sua esposa, Rakel Dink, que, rodeada pelos três filhos do casal, leu uma carta de despedida ao marido.
Depois da cerimónia no jornal "Agos", teve início o lento cortejo com cerca de 200 000 pessoas, uma marcha de oito quilómetros até à igreja arménia da Virgem Maria. A multidão caminhou a maior parte do tempo em silêncio, e muitas pessoas empunhavam pequenos cartazes negros onde se lia "somos todos Hrant Dink", "somos todos Arménios", “assassino 301”. Muitos dos cartazes estavam escritos em Turco, mas também era visível um número significativo de cartazes escritos em Curdo e Arménio.
Às 14 horas realizou-se a cerimónia religiosa na igreja arménia da Virgem Maria, celebrada pelo arcebispo Sahan Sivaciyan, e com a participação do patriarca arménio Mesrob II, que proferiu algumas palavras muito emocionadas. O Governo esteve representado pelo ministro do Estado e vice-primeiro-ministro, Mehmet Ali Şahin, e pelo ministro do Interior Abdulkadir Aksu. O primeiro-ministro turco não compareceu, porque a cerimónia fúnebre coincidiu com a visita do primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, à Turquia. Também estiveram presentes muitos deputados do Parlamento turco e líderes de partidos políticos, nomeadamente o deputado do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no Governo) Nusret Bayraktar, o presidente do Partido da Esquerda Democrática (DSP) Zeki Sezer, e o líder do Partido Terra Mãe (ANAVATAN), Erkan Mumcu. O anterior presidente da Câmara Municipal de Istambul, Ali Müfit Gürtuna, o líder da comunidade judaica, Ishak Haleva, artistas e figuras eminentes da vida cultural turca, nomeadamente os escritores Elif Şafak e Can Dündar, também marcaram presença. Estiveram igualmente presentes várias personalidades internacionais, como foi o caso do chefe das igrejas arménias da Roménia e Bulgária, Gatağigos Karatekin II, os representantes religiosos dos Arménios na América, Diyayr Sırpazan Mardikyan e Viken Sırpazan, Claudia Roth do Partido Verde alemão, entre outros. Depois do serviço religioso, seguiu-se novo cortejo, desta vez para o cemitério arménio Balıklı, em Zeytinburnu.

2 comentários:

Pedro Baldaia disse...

Por mero acaso fiz parte desse cortejo, uma vez que tinha acabado de chegar a Istanbul nessa manhã, e não deixei de ir na marcha quando me apercebi do que se tratava.Foi realmente impressionante a massa humana presente, e o sentimento de revolta, mas também de esperança que era possível ver nas caras de quem participava no cortejo, ms também os aplausos e palavras de incentivo que vinham de quem estava nos passeios, a assistir de fora a este momento marcado pela tristeza, mas como já disse, pela esperança de que a morte de Hrant Dink não tenha sido em vão.
Pedro Baldaia

Lídia Lopes disse...

Obrigada pelo seu testemunho.
Eu assisti em directo pela televisão, uma vez que estava em Ancara.Foi tudo muito emotivo, triste e, como disse, um momento de grande esperança. Como Hrant Dink teria gostado de viver algo assim!