21 janeiro 2007

Foi assassinado o jornalista e activista de ascendência arménia Hrant Dink


O jornalista e activista Hrant Dink, um cidadão turco de ascendência arménia, julgado em 2005 e em 2006 por “insulto à identidade turca”, foi assassinado na passada sexta-feira, em Istambul, à entrada do edifício do jornal "Agos", que dirigia desde 1996. Hrant Dink era editor-chefe e colunista do jornal "Agos", um jornal bilingue escrito em Turco e Arménio.
Foi alvejado três vezes no pescoço e cabeça e teve morte imediata. Dois suspeitos foram entretanto detidos nesse mesmo dia, e há poucas horas foi capturado o presumível assassino.
Trata-se de um adolescente, de nome Ogün Samast. Desde o princípio da tarde de ontem, que têm sido divulgadas imagens deste jovem, filmadas na altura do crime por uma câmara de vigilância localizada nas imediações do local do crime. Durante todo o dia os vários canais de televisao turcos divulgaram essas imagens e forneceram números e um endereço electrónico para contacto, numa verdadeira caça ao homem. Quando viu as imagens divulgadas na televisão, o pai do jovem dirigiu-se à polícia dando, ao que tudo indica, pistas sobre o paradeiro do filho. Há cerca de uma hora, o primeiro-ministro Erdoğan falou em directo na televisão, dizendo: “Agradeço à polícia pelo sucesso na captura do suspeito num período tão curto de tempo.”
Ogün Samast tem 17 anos, e foi capturado num autocarro na cidade de Samsun, onde seguia a caminho de Trabzon, a cidade onde vive. Foi capturado 32 horas após o crime. O governador de Istambul, Muammer Güler, referiu que Samast será levado para Istambul para ser interrogado.
Serkis Seropyan, um funcionário do jornal "Agos", disse à agência noticiosa "Anatólia" que alguém chamou Dink para se dirigir à porta do edifício do jornal. Passado pouco tempo, ouviram-se tiros e Dink caiu, de acordo com testemunhas. “Alguém disparou três tiros contra ele em frente à porta,” referiu Seropyan. Uma testemunha disse que um jovem disparou contra um homem que estava a fugir, aparentemente Dink. Foram encontradas quatro balas na cena do crime, embora as testemunhas tenham referido que só ouviram três tiros, revelou o canal de notícias "NTV". Após os disparos, o corpo de Dink permaneceu no local do crime durante algumas horas, antes de ter sido levado numa ambulância.
Um grupo de cerca de 60 pessoas protestaram, marchando na Praça Taksim, no coração de Istambul, depois do corpo de Dink ter sido levado. Durante a tarde de sexta-feira e todo o dia de sábado, sucederam-se, um pouco por toda a Turquia, numerosas manifestações de pesar e de protesto contra a morte de Hrant Dink. As manifestações repetem-se em algumas partes do mundo, nomeadamente na Alemanha, onde vive um número significativo de cidadãos turcos. No local da sua morte, à porta do jornal "Agos", mantém-se uma vigília, com fotografias suas, velas acesas e flores.
Hrant Dink estava a receber ameaças e já tinha apresentado queixa na esquadra de Şişli, referiu Erdal Doğan, um dos seus advogados, ao canal de televisão "CNN Türk". Doğan acrescentou que Dink estava particularmente preocupado com a sua segurança, mas rejeitou conselhos para abandonar a Turquia, confiante de que a sua segurança seria garantida. À pergunta se o assassínio de Dink foi um acto de provocação, Doğan disse que os actos de provocação começaram há dois anos. “Esta morte, adivinhava-se,” disse.
O primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan, deu uma conferência de imprensa a seguir ao crime. Disse que este assassínio é altamente simbólico, numa altura em que o alegado genocídio arménio está na agenda internacional. Erdoğan apresentou as suas condolências: “Este ataque é contra todos nós, contra a nossa unidade, paz e estabilidade. Foi disparada uma bala contra o pensamento livre e contra a nossa vida democrática […] Nós temos vivido juntos e em paz durante anos. Nenhum plano bárbaro irá destruir isso,” disse Erdoğan.
Hrant Dink nasceu em Malatya, na Turquia, a 15 de Setembro de 1954. Era mais conhecido como colunista e editor-chefe do jornal "Agos", um semanário publicado desde 1996 em Turco e em Arménio. Com sete anos foi viver para Istambul com a sua família. Em Istambul, os seus pais divorciaram-se e foi viver para o orfanato arménio em Gedikpaşa, em Istambul, com os seus dois irmãos. A sua educação até ao ensino secundário foi feita em escolas arménias. Logo após ter terminado o ensino secundário, casou-se com Rakel, uma amiga de infância do orfanato com quem teve três filhos. Licenciou-se em Zoologia na Faculdade de Ciências de Istambul. Para cumprir o serviço militar, esteve oito meses no Regimento de Infantaria Naval Turca em Denizli. Depois deu continuidade aos seus estudos, também na Universidade de Istambul, mas no departamento de Filosofia. Começou a publicar o semanário turco-arménio "Agos" a 5 de Abril de 1996, para estabelecer uma ponte de comunicação e de compreensão entre a maioria da população turca e a comunidade turco-arménia que ele dizia viver muito isolada. Tentou fazer do jornal "Agos" uma voz democrata e de oposição na Turquia, e também partilhar as injustiças praticadas contra a comunidade arménia. Participou em várias plataformas democráticas e em organizações da sociedade civil. Foi julgado e condenado na Turquia por "insultar a identidade turca", acusações que sempre negou.

2 comentários:

EE Galdino de Castro disse...

É muito triste constatar que ainda exista tanta intolerância contra os armênios!!!

Anónimo disse...

Acredito como psiquiatra que a morte de Dink seja um tiro na identidade nacionalista,perversa,burra e antidemocrática,de ambos os lados.
Creio,como Dink,que a verdade,a liberdade e a ética aproximará as duas nacões.
O nacionalismo é estúpido,em qualquer bandeira!
Dr Sergio Hototian