23 janeiro 2007

As "ofensas" de Hrant Dink à "identidade turca"



Hrant Dink escreveu uma série de artigos nos quais apelava aos Arménios da diáspora para pararem de se preocupar com os Turcos e se preocuparem em vez disso com a felicidade da Arménia, de acordo com uma jornalista do jornal "Agos". Ainda segundo a mesma fonte, Hrant Dink disse aos Arménios que a sua inimizade para com os Turcos "tem o efeito de envenenamento do seu sangue". O tribunal terá interpretado este artigo fora de contexto, assumindo erradamente que ele queria dizer que o sangue turco é venenoso.
Em 7 de Outubro de 2005, Hrant Dink foi condenado, de acordo com o artigo 301 do Código Penal turco, por "insulto à identidade turca". Dink anunciou que iria recorrer da sentença, acrescentando que abandonaria o país se a condenação não fosse anulada. Foi condenado a uma pena suspensa de seis meses, o que significa que se voltasse a repetir a ofensa seria condenado a uma pena de prisão. Dink viveu na Turquia durante toda a sua vida, e na altura da condenação apareceu na televisão em lágrimas, negando as acusações de que era alvo, e prometendo combatê-las. Nessa altura Dink disse: “Vivo juntamente com os Turcos neste país e estou em completa solidariedade com eles. Penso que não poderia viver com o facto de os ter insultado." O tribunal disse que o artigo de Dink "não era uma expressão de opinião com o objectivo de criticar, mas era considerado insultuoso e ofensivo". Dink disse que a sentença se tratava de uma tentativa para o calar. "Mas eu não me calarei," disse. "Enquanto viver aqui, continuarei a dizer a verdade, tal como sempre fiz." Dink disse que iria apelar para o Supremo Tribunal da Turquia e para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, se necessário. "Se é um dia ou seis meses ou seis anos, tudo é inaceitável para mim," disse. "Se não for capaz de ter um resultado positivo, será honroso para mim deixar este país."
Em Dezembro de 2005, um tribunal turco abriu um novo processo contra Hrant Dink pelos comentários que fez relativamente à sentença anterior que lhe foi dada pelo tribunal por ter "denegrido a identidade turca". O processo foi aberto na sequência de uma queixa apresentada ao tribunal por um grupo de advogados nacionalistas, contra Hrant Dink e três outros jornalistas também do jornal "Agos", alegando que estes “tentaram influenciar o sistema judiciário" através dos seus artigos. O caso foi enviado para o Tribunal de Recurso. A Associação dos Advogados Nacionalistas pediu ao tribunal para abrir um processo contra os quatro jornalistas, que, a serem condenados enfrentariam uma pena de nove meses a quatro anos e meio de prisão. Dink disse nessa altura que estava no seu direito de criticar o veredicto anterior, acrescentando que levaria o caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos se o Tribunal de Recurso confirmasse a decisão.
Dink foi também julgado em 2006 por declarações que proferiu numa conferência de minorias e direitos humanos em 2002, em que criticou o hino nacional turco e o juramento diário feito pelas crianças turcas nas escolas primárias, que dizem: "Feliz é aquele que se chama a si próprio Turco”. Dink disse nessa conferência que não se sentia Turco, mas sim um Arménio que por acaso é cidadão turco. Também criticou nessa altura uma frase do hino nacional turco que diz: "Sorri para a minha raça heróica", dizendo que a ênfase dada à raça era uma forma de discriminação. Hrant Dink seria condenado a três anos de prisão se fosse considerado culpado das acusações de que foi alvo. Explicando as declarações que proferiu nessa conferência, disse que se tratou de uma resposta a uma questão sobre o que sentiu quando, na escola primária, teve de dizer a frase com a qual se iniciam as aulas. O verso patriótico que todas as crianças do ensino primário têm de memorizar e recitar na Turquia, começa assim: "Eu sou Turco, sou honesto, sou trabalhador”. "Eu disse que era um cidadão turco, mas que era Arménio, e que embora fosse honesto e trabalhador, eu não era Turco, mas sim Arménio," Dink explicou. Disse que também criticou uma linha do hino nacional turco que fala sobre "a minha raça heróica". "Eu disse que não gostava de cantar essa parte, porque sou contra o uso da palavra raça, que leva à discriminação," disse Dink.

2 comentários:

EE Galdino de Castro disse...

Como bem analisou Mehmet Ali Birand, no "turkishdailynews", quem matou Hrant Dink foi o Artigo 301.

Sugestão: Lídia, você poderia transcrever o Hino da Turquia no blog? Obrigada

Anónimo disse...

É uma tristeza haver lutas entre povos que deveriam viver uma vida pacífica. Os turcos, os arménios, os curdos, devem arranjar uma ou várias soluções para resolver os problemas que são de todos. Há nações sem estado como os curdos e acho bem que pensem nisso todos aqueles que têm a ver com o assunto. Penso que deverão haver soluções. Neste momento da rodagem do nosso planeta tem de haver soluções contra os vários tipos de imperialismos. Acho que o Ventor tem razão quando começa a dissertar sobre estes problemas. Nós os gatos, por exemplo, vivemos mal, mas sem esses problemas. Bjs.