30 novembro 2006

O Papa está a conquistar os Turcos

Ao terceiro dia, a visita do Papa Bento XVI à Turquia parece estar a ser muito mais construtiva do que o inicialmente previsto pelos comentadores mais pessimistas.
Embora o Papa tenha vindo à Turquia fundamentalmente para se encontar com o patriarca ortodoxo Bartolomeu I, tem estado igualmente disponível para construir algumas pontes com os muçulmanos. Nos meios de comunicação social turcos, as notícias e os comentários relativos à visita papal têm-se tornado cada vez mais positivos desde o momento em que o pontífice colocou os pés em solo turco.
Existem ainda círculos ressentidos com o discurso que o Papa proferiu relativamente ao Islão na Universidade de Regensburg, mas parecem ser marginais. A manifestação no passado domingo, em Istambul, sob o lema “Papa, não venhas!” foi tema de primeira página em numerosos jornais ocidentais, mas muitos deles não referiram que o partido que organizou aquela manifestação, o partido radical islâmico Saadet (Partido da Prosperidade), apenas conquistou 3 por cento dos votos nas últimas eleições.
A reconciliação do Papa com os muçulmanos começou com a recepção calorosa que recebeu por parte do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, logo à sua chegada. Erdoğan, um islamita moderado, deu uma conferência de imprensa depois do seu encontro com o Papa, na qual foi questionado sobre o discurso de Regensburg. “Sua Santidade expressou-me o seu respeito pelo Islão. Isto é de louvar, e nós olhamos para o futuro, não para o passado.”
Desde o primeiro momento, Bento XVI teve muitos outros gestos que os Turcos apreciaram. Em termos políticos, falou favoravelmente sobre duas causas importantes para a Turquia: disse que a nação muçulmana deveria ter um lugar na Europa, e que a questão de Chipre deveria ser resolvida pelas Nações Unidas, assunto que os Gregos querem que a União Europeia resolva, uma vez que estão incluídos nesse bloco, ao contrário da Turquia.
O facto do Papa estar de certa forma a apoiar a adesão da Turquia à União Europeia, cujas negociações entraram num período de abrandamento nos últimos tempos, tem sido particularmente aplaudida na imprensa turca.
Em Izmir, onde visitou a Casa da Virgem Maria, também disse palavras agradáveis à nação turca, começando o sermão com uma frase em Turco (“Meus queridos irmãos, que o Senhor esteja convosco”), e ostentou uma bandeira turca. O jornal diário conservador "Zaman", com grande número de leitores, descreveu esse acto como “Os gestos do Papa em Turco e a bandeira turca.” De acordo com outro diário turco, o "Hürriyet", o Papa tem feito “gesto após gesto.”
Relativamente ao Islão, Bento XVI tem tratado sempre esse assunto com respeito. O seu encontro e declaração conjunta com a autoridade muçulmana suprema do país, o líder do Directorado dos Assuntos Religiosos, Ali Bardakoğlu, foi um momento de reconciliação. O teólogo muçulmano declarou o Islão como sendo uma religiäo de paz e o seu convidado católico concordou.
Os estudiosos muçulmanos têm estado a debater as mensagens calorosas do Papa na televisão turca durante os últimos dias. A maioria deles destaca que utilizar frases insultuosas numa crítica ao Islão, como foi o caso do discurso de Regensburg, só contribuiu para piorar os problemas.
Num artigo intitulado "Como responder ao Papa", publicado no popular jornal diário islâmico "Yeni Şafak", o Dr. Ahmet Kızılkaya, um filósofo da Universidade de Ancara, criticou a reacção do mundo islâmico relativamente ao discurso de Regensburg: "Os muçulmanos deviam entender os argumentos filosóficos naquele importante discurso, e reponder com sabedoria, usando os instrumentos intelectuais da filosofia islâmica," argumentou.
Hüseyin Hatemi, um colunista do mesmo jornal e uma figura islâmista respeitada, escreveu um artigo intitulado “Boas vindas ao Papa!”, onde se lê que Bento XVI já se desculpou pelas suas declarações em Regensburg. “É por isso que eu agora gosto do Papa,” escreveu Hatemi, acrescentando, “ele destacou a nossa comunhão com o monoteísmo.” Hatemi terminou o seu artigo com uma saudação na linguagem do pontífıce: “Herzlich Willkommen, Bruder!"
E no encontro histórico de ontem com o patriarca ortodoxo, Bento XVI declarou a necessidade de revitalizar o Cristianismo, o que criou algumas preocupações na Turquia, devido à sua abordagem ecuménica. A declaração comum que os líderes das duas igrejas assinaram, realçou a irmandade cristã, mas também revelou a importância de “um autêntico e honesto diálogo inter-religioso.” Por outro lado, enquanto acentua a necessidade de “preservar as raízes cristãs da Europa," regista que o continente deve continuar “aberto a outras religiões e às suas contribuições culturais.”

28 novembro 2006

O mundo tem os olhos na visita do Papa à Turquia


O Papa Bento XVI chegou hoje à Turquia, às 13 horas locais, e foi recebido pelo primeiro-ministro turco no Aeroporto de Esenboğa, em Ancara. Contrariamente ao que estava previsto, pelo menos há dois dias, mas que ontem já parecia uma possibilidade, o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdoğan, recebeu o Papa Bento XVI, embora no aeroporto e com partida prevista para Riga logo de seguida.
Os dois cumprimentaram-se e reuniram-se de imediato na sala vip do aeroporto, inicialmente na presença dos jornalistas, e depois à porta fechada durante cerca de 20 minutos. Erdoğan mostrou-se muito cordial, falando no seu empenho numa Aliança das Civilizações, projecto que lidera juntamente com o primeiro-ministro espanhol Zapatero, sob a alçada das Nações Unidas, e que tem como objectivo resolver as clivagens entre o Oriente e o Ocidente. Por outro lado, o Papa apelou a um diálogo verdadeiro entre cristãos e muçulmanos. Depois, Erdoğan deu uma conferência de imprensa e partiu para Riga, na Letónia, para comparecer na cimeira da NATO. Nessa conferência de imprensa, Erdoğan revelou que o Papa afirmou que o Islão é uma religião de paz, e lhe disse que apoiava a entrada da Turquia na União Europeia.
O Papa seguiu para Anıtkabir, o Mausoléu de Atatürk, o fundador da República turca, onde depositou uma coroa de flores e escreveu no Livro de Honra. Mais tarde foi recebido com uma cerimónia de Estado pelo presidente da República turco, Ahmet Necdet Sezer, no Palácio Presidencial, em Çankaya. Sezer e o Papa Bento XVI discutiram formas para melhorar o entendimento e cooperação mútuas, e trocaram opiniões sobre alguns tópicos regionais e internacionais.
Depois de se encontrar com o ministro do Estado e vice-primeiro-ministro, Mehmet Ali Şahin, reuniu-se com Ali Bardakoğlu, o director geral dos Serviços Religiosos e o mais alto líder religioso da Turquia. Ambos falaram de tolerância e de diálogo, com o Papa a lembrar que é preciso garantir a liberdade da minoria religiosa católica no país.
No geral, as minorias religiosas têm liberdade de culto na Turquia, mas são-lhes negados alguns direitos importantes. No caso concreto do catolicismo, não existe o direito de propriedade e os sacerdotes têm alguns problemas para conseguirem vistos de permanência no país. A Turquia é um país laico, com separação entre a religião e o Estado, mas tem controlo total sobre a religião, na medida, por exemplo, em que os discursos dos imames são "fabricados" no Directorado Geral dos Assuntos Religiosos. Ou seja, um imame não pode dizer o que entende durante um sermão numa mesquita. Os imames são funcionários públicos e estão dependentes desse organismo que tutela todos os assuntos religiosos na Turquia.

O Papa fez um longo discurso em nome da Aliança das Civilizações, dizendo que a Igreja Católica respeita os muçulmanos, tem muito respeito pelos Turcos e que a Turquia constitui uma ponte entre culturas. Teceu muitos elogios ao país e aos Turcos, o que contrastou com o que tinha dito enquanto cardeal Ratzinger, quando disse ser contra a entrada da Turquia na União Europeia, alegando que "seria um erro grave contra a maré da História." Tentou aliviar a tensão latente com o mundo muçulmano, dizendo que tem de haver reciprocidade entre os dois lados da ponte.
No âmbito da sua visita oficial a Ancara, o Papa recebeu chefes de missões diplomáticas na Embaixada do Vaticano, falando-lhes da importância de um verdadeiro diálogo com o Médio Oriente.
Desde que o Papa chegou, que não tem havido contestação nas ruas. Vive-se um clima de tranquilidade e de indiferença. O Papa está a ser bem recebido, com tapete vermelho à porta do avião, com comportamentos calorosos por parte das entidades oficiais e sem contestação por parte da população.
Erdoğan foi dos primeiros líderes do mundo muçulmano a criticar as polémicas declarações que o Papa proferiu, mas cumpriu todo o protocolo, contrariamente ao que o se esperava, uma vez que até já tinha avisado a Santa Sé de que não estaria presente durante a visita papal. A Turquia recebeu o Papa com a maior operação de segurança alguma vez operada no país, sendo mesmo superior àquela que protegeu George W. Bush quando este visitou a Turquia após a guerra do Iraque. Existe um polícia a cada cinco metros e a segurança ainda é mais apertada no perímetro da Embaixada do Vaticano. O líder da Igreja Católica está a ser protegido por 22 000 elementos de segurança.
Amanhã de manhã o Papa vai deslocar-se à cidade de Izmir, onde irá realizar uma cerimónia religiosa na Igreja da Virgem Maria, localizada na vila de Selçuk, na província de Izmir. Pensa-se que Maria viveu nessa casa com o Apóstolo São João, após a morte de Cristo. Actualmente esse edifício funciona como pequena igreja e constitui um centro importante de peregrinação católica. Após a celebração religiosa na Igreja da Virgem Maria, o Papa vai viajar nesse mesmo dia para Istambul, onde é aguardado no Patriarcado Grego Ortodoxo para uma celebração religiosa em sua honra e que contará com a presença importante do seu líder, o patriarca Bartolomeu I. Bartolomeu I foi o mentor do convite feito ao Papa para visitar a Turquia, oficialmente formulado pelo presidente da República turco. Este é um encontro muito importante, o encontro do Vaticano com a Igreja Ortodoxa, uma aproximação ao fim de 1000 anos, e um dos objectivos que o Papa Bento XVI estipulou para o seu pontificado. Pensa-se que poderão acontecer algumas manifestações quando o Papa se encontrar com Bartolomeu I, uma vez que este não pode utilizar o título de Patriarca Ecuménico, e não se sabe como é que o Papa se lhe vai dirigir. A utilização do título ecuménico colide profundamente com o laicismo instaurado na Turquia pelo seu fundador Atatürk. Para o dia 30 está prevista outra cerimónia religiosa na Igreja de São Jorge para a celebração da Festa de Santo André, o padroeiro da Igreja Ortodoxa. Também está prevista uma saudação a partir da varanda do Patriarcado e a visita à Mesquita Azul e ao Museu de Santa Sofia. O que o Papa irá fazer nestes dois monumentos tão simbólicos ainda não se sabe. Vai ainda realizar uma cerimónia religiosa na Catedral do Santo Espírito em Istambul, na sexta-feira, último dia da sua visita ao país.

26 novembro 2006

Erdoğan vai estar em Riga durante a visita papal

"Não podemos cancelar o nosso programa em Riga só por causa da visita do Papa à Turquia. Um grande número de representantes de Estado e de Governo vai estar em Riga, e nós temos a oportunidade de estar com eles," disse o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdoğan na quinta-feira.
Em resposta às questões dos jornalistas durante o Fórum Económico Mundial que decorreu em Istambul, Erdoğan disse: "Existe uma disciplina estabelecida na diplomacia internacional. Atempadamente, o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros informou o Vaticano de que a visita do Papa coincidia com a reunião da NATO em Riga, e perguntou se seria possível alterar a data da visita. O vice-primeiro-ministro Mehmet Ali Şahin vai representar-me. O Papa irá ser recebido igualmente pelo presidente Ahmet Necdet Sezer e por Ali Bardakoğlu, o representante dos Assuntos Religiosos. Lamentamos que existam tentativas para corromper os nossos esforços em criar uma aliança entre as civilizações. Temos sempre defendiado a liberdade religiosa." Quando lhe perguntaram se a questão de Chipre seria discutida na reunião da NATO, Erdoğan disse que não.

Elevadas medidas de segurança durante a visita do Papa

O Departamento de Segurança turco vai adoptar elevadas medidas de segurança em Istambul, Ancara e Izmir, durante a visita do Papa Bento XVI à Turquia na próxima semana.
Numa reunião que decorreu no ministério turco dos Negócios Estrangeiros na quarta-feira, foram decididas todas as medidas de segurança a adoptar durante a visita.
As maiores medidas de segurança serão tomadas no Aeroporto de Esenboğa, em Ancara, antes e depois da aterragem do avião onde viaja o Papa, que chegará cerca das 13 horas do dia 28 de Novembro.
Todo o percurso do Papa vai ser controlado periodicamente com detectores de explosivos. Para além dos seus guarda-costas, o Papa vai ser acompanhado por equipas de segurança turcas.
O Departamento de Segurança determinou três percursos diferentes a serem utilizados pelo Papa quando viajar do aeroporto até ao centro da cidade. Um veículo equipado com dispositivos de segurança irá escoltar o automóvel que o vai transportar.
Bento XVI vai visitar primeiro o Mausoléu de Mustafa Kemal Atatürk (Anıtkabir), e depois vai encontrar-se com o presidente Ahmet Necdet Sezer e com o ministro dos Assuntos Religiosos, Ali Bardakoğlu.
A partir do momento em que a visita do Papa passou a ser considerada crítica, devido às declarações que provocaram um mal estar no mundo islâmico, o Departamento de Segurança tem levou a cabo uma série de conversações com organizações não governamentais para tentar evitar protestos. Os protestantes não serão autorizados a aproximar-se das vias incluídas no percurso do Papa.
O Papa Bento XVI vai passar a sua primeira noite na Turquia na Embaixada do Vaticano, onde serão adoptadas apertadas medidas de segurança em todo o perímetro do edifício.
Foram destacados cerca de três mil polícias para garantirem a segurança do Papa em Ancara, durante as cerca de 20 horas da sua estadia na cidade.

23 novembro 2006

O Papa não vai rezar em Santa Sofia

Enquanto a Turquia se prepara para a visita do Papa Bento XVI, agendada para os dias 28 de Novembro a 1 de Dezembro, cerca de 40 nacionalistas turcos ocuparam ontem o Museu de Santa Sofia, em protesto contra a visita do Papa.
Os ocupantes rezaram no interior de um dos mais famosos monumentos de Istambul, mostrando a sua indignação relativamente à visita algo controversa do Papa a este monumento, que já foi uma igreja e depois uma mesquita, mas que actualmente funciona como museu, estando proibido o culto religioso no seu interior.
A visita do Papa acontece num momento político delicado, em que as relações da Turquia com a União Europeia se tornaram tensas.
Entretanto, o Vaticano já adiantou que o Papa não irá rezar em Santa Sofia, um facto que poderia causar muita polémica. Prevê-se que a comunidade cristã de Istambul receba o Papa na igreja ortodoxa de Santo Andreas e na igreja arménia dos Apóstolos. Durante a sua visita, o Papa Bento XVI irá encontrar-se com o patriarca grego Bartolomeu, e com Mesrob II, o líder religioso da comunidade arménia na Turquia.

19 novembro 2006

Ağca quer cumprimentar o Papa

Mehmet Ali Ağca, o atirador turco que alvejou o papa João Paulo II, apresentou uma petição ao tribunal para sair imediatamente da prisão, alegando que os cálculos da sua detenção estão incorrectos, e que deseja encontrar-se com o novo Papa quando este visitar Istambul.
"Eu não me conformo que estarei na prisão quando o Papa vier. Eu gostava de o cumprimentar em Santa Sofia juntamente com milhões de pessoas", disse Ağca, conforme citado pelo seu advogado Mustafa Demirbağ.
A visita do papa Bento XVI à Turquia está agendada para os dias 28 de Novembro a 1 de Dezembro. O programa inclui uma visita ao Museu de Santa Sofia, em Istambul, uma igreja do seculo VI transformada em mesquita quando os Otomanos conquistaram a cidade em 1453.
Ağca, de 48 anos, tem estado preso em Istambul desde a sua extradição de Itália em 2000.
A 12 de Janeiro deste ano foi-lhe concedida uma libertação antecipada, mas voltou a ser preso oito dias depois, quando um tribunal decidiu que a redução da sua sentença, à luz de leis de amnistia e de emendas ao código penal, tinha sido mal calculada. O seu período de detenção voltou a ser calculado, estando prevista a sua libertação a 18 de Janeiro de 2010.
Demirbağ insiste que a prisão de Ağca é ilegal, dizendo que entregou uma nova moção para a libertação do seu cliente.
Ağca alvejou o papa João Paulo II a 13 de Maio de 1981 na Praça de São Pedro, em Roma, ferindo-o gravemente. Os motivos do ataque são ainda hoje um mistério. O alegado envolvimento da União Sovietica e depois da Bulgária nunca foram provados.
Ağca é visto por muitos como um demente que afirma ser o “segundo Messias”, enquanto outros acreditam que ele é um operador dissimulado.
Ağca foi membro da organização de extrema-direita Lobos Cinzentos, e também foi indiciado na Turquia pelo assassinato do jornalista Abdi İpekçi e de dois roubos à mão armada nos anos 70.

Líderes da oposição pedem eleições antecipadas

Com a aproximação das eleições presidenciais, previstas para o próximo ano, os líderes da oposição aumentaram os pedidos de eleições gerais antecipadas, numa tentativa de bloquear o acesso do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan à presidência.
O líder do Partido Republicano do Povo (CHP), Deniz Baykal, apelou na sexta-feira à realização de eleições antecipadas, invocando que a população não quer Erdoğan como presidente da república. “Este facto não pode ser negado, mesmo pelas instituições próximas do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no governo). Um parlamento prestes a sair, desgastado e no fim do mandato, não deveria eleger o presidente.”
Entretanto, o lider do grupo parlamentar do CHP, Ali Topuz, de visita ao líder do CHP em Aydın, também teceu duras críticas ao primeiro-ministro Erdoğan. Topuz deu uma conferência de imprensa na filial do partido em Aydın, dizendo que o acesso de Erdoğan à cadeira presidencial seria a última etapa das políticas que tem conduzido durante anos. Topuz avisou que os planos reais de Erdoğan incluem mudar a estrutura do tribunal constitucional de acordo com as suas ambições politicas, abusando dos poderes presidenciais. “Ele quer estruturar o Quadro da Educação Superior (YÖK) como bem entende. Ele quer resolver a disputa do véu islâmico a partir do palácio presidencial.” Acrescentou ainda que, se Erdoğan ou o porta-voz do parlamento, Bülent Arınç, forem eleitos para a presidência, a natureza da república secular e democrática vai mudar. “Todas as instituições da república vão sobreviver a isto. O presidente vai tornar-se disfuncional. Eles não podem governar o país como se fosse uma quinta. Eles não podem transformar a Turquia num Irão.”
Entretanto, o líder do Partido do Caminho Verdadeiro (DYP), Mehmet Ağar, que falou numa conferência regional do seu partido na cidade de Bursa, disse que o AKP não sobreviveu às suas promessas eleitorais, e acusou o CHP de polarizar propositadamente a sociedade em vez de desafiar o partido do governo. "A Turquia está a atravessar momentos difíceis e necessita de eleições antecipadas. O governo transformou a Turquia num país de ficções.” O líder do DYP disse que nunca se pode brincar com alguns dos valores da Turquia. “A Turquia tem certos valores que não podem fazer parte de debates eleitorais, não se pode brincar com eles. Esses valores fazem parte do regime republicano,” disse Ağar. Também referiu que as eleições gerais devem acontecer pelo menos no início de Março.

17 novembro 2006

O conflito israelo-palestiniano na agenda da Aliança das Civilizações

Segundo o plano de acção da Aliança das Civilizações, apresentado em Istambul na segunda-feira ao secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, a resolução do conflito israelo-palestiniano é a chave para a melhoria de relações entre o Islão e o ocidente.
O assunto israelo-palestiniano tornou-se o símbolo chave da divisão entre o ocidente e as sociedades muçulmanas e continua a ser uma das mais sérias ameaças à estabilidade internacional, declarou o grupo multinacional de académicos, políticos e líderes religiosos, no plano de acção da Aliança das Civilizações.
“Enquanto os Palestinianos viverem sob ocupação, expostos a uma frustração e humilhação diárias, e enquanto os Israelitas forem detonados em autocarros e em salões de baile, a ira continuará a ser inflamada por todo o lado”, disse Annan depois de receber o relatório, concordando que todos os esforços para a redução das tensões entre o Islão e o ocidente serão em vão, se não houver uma solução para esse conflito.
“O que está no centro da crescente ruptura entre o ocidente e o mundo islâmico, não são as diferenças de crença religiosa, mas a forma como os crentes se tratam uns aos outros”, disse também Annan. “Devemos começar por reafirmar e demonstrar que o problema não é o Corão ou a Torá ou a Bíblia.”
“A globalização tem propagado doenças antigas em todo o mundo, tais como a violência. Existe a necessidade de uma resposta global a essa ameaça global. A Aliança das Civilizações é essa resposta”, disse o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdoğan na segunda-feira.
Por seu turno, Jose Luis Rodríguez Zapatero disse estar confiante no sucesso da iniciativa. “Algumas pessoas vêem a Aliança das Civilizações como uma utopia [...], mas existem no mundo real alguns exemplos de coexistência pacífica entre pessoas e civilizações,” disse.

15 novembro 2006

Aliança das Civilizações em Istambul

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, e o seu homólogo espanhol, Jose Luis Rodríguez Zapatero, impulsionadores da iniciativa Aliança das Civilizações conduzida pelas Nações Unidas, participaram na segunda-feira, em Istambul, no 4.º encontro do Grupo Internacional de Alto Nível, que lidera a iniciativa, para apresentarem o plano de acção que visa aproximar o mundo islâmico e o ocidente.

Durante uma cerimónia, Erdoğan e Zapatero apresentaram o plano de acção ao secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, também presente no encontro.
Erdoğan e Zapatero irão encontrar-se com Annan uma vez mais em Nova Iorque no final deste ano. O plano de acção contém recomendações e esquemas para aumentar e desenvolver a aliança entre o mundo árabe e o mundo ocidental.
O Grupo Internacional de Alto Nível, responsável pela iniciativa conduzida pelas Nações Unidas, finalizou o plano de acção numa reunião em Istambul durante o passado fim-de-semana.
A iniciativa, proposta por Zapatero na 59.ª Assembleia Geral das Nações Unidas em 2004, e co-patrocionada por Erdoğan, tem como objectivo produzir, no final de 2006, recomendações para serem adoptadas pelos Estados-membros das Nações Unidas.
Annan disse que a iniciativa pretende responder à necessidade de um esforço e compromisso da comunidade internacional no plano institucional e civil, para anular divisões e superar preconceitos, assim como conceitos e percepções erróneos e polarizações, que ameaçam potencialmente a paz mundial. A Aliança das Civilizações terá como objectivo fomentar tratados resultantes da percepção da hostilidade que fomenta a violência, e incrementar a cooperação através da congregação de esforços no sentido de ultrapassar essas divisões.
A iniciativa resultou de um consenso entre nações, culturas e religiões, de que todas as sociedades são independentes, embora interligadas no seu desenvolvimento e segurança e no seu bem estar ambiental, económico e financeiro.
Para conduzir esta iniciativa, o secretário-geral das Nações Unidas, reuniu-se em Setembro de 2005 com os co-patrocinadores da iniciativa e com vários especialistas em relações inter-civilizacionais e inter-culturais que integram um Grupo Internacional de Alto Nível composto por 20 figuras eminentes da vida política, académicos, sociedade civil e líderes religiosos, originários de várias regiões e civilizações.
O Grupo de Alto Nível é co-presidido por Federico Mayor, antigo director geral da UNESCO e presidente da Fundação Cultura da Paz sediada em Madrid, e Mehmet Aydın, ministro turco do Estado. O grupo inclui ainda Sheikha Mozah, consorte do Emir do Estado do Qatar e presidente da Fundação do Qatar para o Desenvolvimento da Educação, Ciências e Comunidade; Mohammad Khatami, antigo presidente do Irão; Moustapha Niasse, antigo primeiro-ministro do Senegal; Andre Azoulay, vencedor do Prémio Nobel da Paz; Desmond Tutu, Nobel da Paz, arcebispo da África do Sul e conselheiro especial do rei de Marrocos; Sarajaldeen Ismael, director da Biblioteca de Alexandria no Egipto, e Hubert Vedrine, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês.
Annan pediu ao Grupo de Alto Nível para fortalecer a compreensão mútua, o respeito e a partilha de valores entre pessoas, culturas e civilizações diferentes; para combater a influência de grupos fomentadores de extremismo e para lutar contra o extremismo e a sua ameaça à paz e estabilidade mundial. Também pediu propostas de medidas direccionadas para a juventude do mundo, de forma a serem incutidos valores de moderação e cooperação e promoção da valorização da diversidade.
A Aliança das Civilizações foi recebida pelos líderes europeus e pelo mundo islâmico como uma alternativa construtiva e positiva à hipótese de Huntington do choque de civilizações.
Em Fevereiro de 2005, a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, disse numa carta ao ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Miguel Angel Moratinos, que os Estados Unidos pretendem colaborar com a proposta da Aliança das Civilizações, na esperança de que a iniciativa ajude a promover “reformas democráticas, paz, e estabilidade no Próximo Oriente”.
O Secretário Geral da Liga Árabe, Amr Moussa, também elogiou a iniciativa dizendo tratar-se de “um passo muito importante. É mais positivo discutir sobre uma aliança de civilizações do que sobre choque de civilizações.”
Na véspera da Cimeira Euro-Mediterrânea de Barcelona, em Novembro de 2005, o presidente francês, Jacques Chirac, referindo-se à Aliança das Civilizações, disse: “Trata-se de uma prioridade urgente na conjuntura em que vivemos.”
O presidente russo, Vladimir Putin, tem encorajado encontros de líderes religiosos em Moscovo, para combater aquilo a que ele chamou de “esforços para colocar cristãos e muçulmanos uns contra os outros”, e avisou que um potencial choque de civilizações pode ser desastroso.
Erdoğan também disse: “Juntos estamos a plantar a semente para que uma aliança de civilizações cresça no nosso mundo, e isso será uma ajuda para que sementes de centenas de milhar de alianças de civilizações floresçam.”

13 novembro 2006

O governo foi vaiado no funeral de Ecevit


No funeral de Bülent Ecevit, as cerca de 25 000 pessoas que se deslocaram à mesquita Kocatepe e as outras dezenas de milhar que estiveram nas ruas circundantes, demonstraram a sua admiração por Ecevit e criticaram o governo.
Ouviram-se frases como estas: “A Turquia é secular e permanecerá secular” ou “Çankaya [onde se localiza o palácio presidencial] permanecerá secular”, slogans que elogiam a linha política de Ecevit comprometida com o secularismo. Também se ouviu: “Ecevit do Povo”, o slogan com que foi eleito cinco vezes para o cargo de primeiro-ministro durante a sua longa carreira política de quase cinco décadas.
A multidão rapidamente começou a assobiar e a entoar cânticos de protesto pró-seculares quando o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Abdullah Gül, e outros ministros do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no governo) chegaram à mesquita Kocatepe por uma entrada secundária, em vez da entrada reservada ao protocolo.
A multidão vaiou Erdoğan ainda mais alto quando este abandonou a mesquita. Vários outros membros do governo, tais como o porta-voz do parlamento, Bülent Arınç, foram alvo de protestos semelhantes.
Desde que subiu ao poder em 2002, Erdoğan aumentou as preocupações seculares, insurgindo-se contra as restrições sobre o uso do véu islâmico em edifícios e escolas públicas e apoiando as escolas religiosas. Tentou também criminalizar o adultério, mas foi forçado a recuar pela União Europeia. Algumas câmaras municipais do partido do governo tentaram adoptar medidas para proibir o consumo de álcool.
O governo de Erdoğan nega ter uma agenda islâmica. Tem mostrado um compromisso com a adesão à União Europeia, promulgando reformas abrangentes que permitiram ao país iniciar as conversações de adesão no ano passado. Mas a administração de Erdoğan tem sofrido duras críticas da União Europeia por julgar jornalistas e escritores devido às leis repressivas que impedem a liberdade de expressão.
Muitos secularistas estão cada vez mais preocupados com a possibilidade de Erdoğan se tornar presidente e substituir o presidente secular Sezer quando este se retirar em Maio. O parlamento, dominado pelos deputados do AKP, irá eleger o novo presidente. Erdoğan terá de desistir do cargo de primeiro-ministro para se tornar presidente, caso tal venha a acontecer.

Uma multidão emocionada disse adeus a Ecevit

Dezenas de milhar de pessoas encheram as ruas de Ancara para a última despedida ao anterior primeiro-ministro Bülent Ecevit, muito admirado pela nação turca por uma carreira política de cinco décadas.
Na manhã de Sábado, na primeira de várias cerimónias, o corpo de Ecevit foi transportado do hospital militar onde faleceu no passado fim-de-semana, para a sede do Partido da Esquerda Democrática (DSP), que liderou até 2002.
Depois da cerimónia na sede do partido DSP, foi conduzido para o parlamento, para onde Ecevit foi eleito em 1957 como membro do Partido Republicano do Povo (CHP), o partido de Mustafa Kemal Atatürk, fundador da moderna república da Turquia. No parlamento, a guarda de honra colocou o corpo de Ecevit no carro fúnebre, na presença de oficiais de topo e de líderes políticos e dignatários estrangeiros, que assistiram a um funeral de Estado no parlamento.
Marcaram presença, o anterior presidente Süleyman Demirel, principal rival de Ecevit durante quatro décadas, e Kenan Evren, antigo general que tomou o poder com o golpe de Estado de 1980 e colocou Ecevit e Demirel na prisão.
O anterior e actual presidentes da república turca do Chipre, respectivamente Rauf Denktaş e Mehmet Ali Talat, compareceram em memória da intervenção turca em Chipre, em 1974, que Ecevit ordenou em resposta a um golpe perpetrado por Atenas e pelos Greco-cipriotas ultranacionalistas com o objectivo de unir a ilha à Grécia.
Depois, o corpo de Ecevit seguiu para a mesquita Kocatepe, a maior de Ancara, onde era aguardado por uma multidão de cerca de 25 000 pessoas, no pátio da mesquita, e por dezenas de milhar nas ruas circundantes. Entre muitas outras pessoas, esteve presente a família do juiz do Conselho de Estado, Yücel Özbilgin, assassinado por um activista islâmico que se insurgiu contra a decisão do Supremo Tribunal de banir o véu islâmico nos espaços públicos. Ecevit foi visto pela última vez no funeral de Özbilgin, na mesquita de Kocatepe a 18 de Maio. Mais tarde, nesse mesmo dia, sofreu o derrame cerebral que o fez perder a vida a 5 de Novembro.
Mineiros de Zonguldak, o seu eleitorado durante muitos anos, estiveram presentes para lembrar o seu cargo como o ministro do Trabalho, responsável pela promulgação das primeiras leis no país que permitiram o início de negociações colectivas e o direito à greve.
Pessoas anónimas, não necessariamente militantes politicos, reuniram-se para prestar a sua homenagem a um homem admirado pela sua honestidade.
Para além da representação oficial, a multidão que conseguiu congregar na hora da sua morte, reflecte também as suas muitas facetas. Escritores e artistas estiveram também entre aqueles que quiseram prestar homenagem ao seu passado como poeta, com muitos dos seus poemas transformados em letras de canções.
Ecevit é visto como o pai da social democracia na Turquia e como um homem justo, extremamente cortês e trabalhador incansável, que viveu durante anos num modesto apartamento nos subúrbios de Ancara com a sua mulher Rahşan, seu amor desde a infância e a sua companheira de sempre também na vida política.
Da mesquita de Kocatepe, o cortejo fúnebre seguiu para o cemitério de Estado, uma caminhada lenta ao longo de oito quilómetros, que a sua mulher, com 83 anos, fez questão de fazer a pé. Ao longo dessa caminhada, toda a multidão concentrada nas ruas pode despedir-se de Ecevit. O carro fúnebre ficou carregado de flores que foram sendo atiradas ao longo desse percurso final.

11 novembro 2006

A Turquia recordou Atatürk











No 68.º aniversário da sua morte, o fundador da Turquia e todo o seu legado foram recordados em toda a nação turca.
A primeira cerimónia decorreu no mausoléu de Atatürk, Anıtkabir, com dignatários liderados pelo presidente da república, Ahmet Necdet Sezer, a prestarem a sua homenagem no túmulo de Atatürk.
Às 9.05 horas, hora da morte de Atatürk, durante dois minutos, ecoaram por todo o país sons de buzinas de automóveis e sirenes de barcos e fábricas, acompanhados pela paragem dos transeuntes nas ruas e pelo silêncio no interior das instituições e edifícios. As bandeiras foram colocadas a meia haste desde as 9.05 horas até ao pôr do sol.
Sezer, juntamente com o porta-voz do parlamento, Bülent Arınç, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, o general das Forças Armadas Yaşar Büyükanıt, o líder do Partido Republicano do Povo (CHP), Deniz Baykal, representantes de outros partidos políticos, ministros e outros oficiais de topo, permaneceram em silêncio em frente do túmulo de Atatürk, antes de aí depositarem uma coroa de flores.
Depois da cerimónia em Anıtkabir, Sezer proferiu um discurso num encontro que decorreu no Centro Cultural Atatürk, no Instituto de Línguas e História, dizendo: “Tudo se baseia no secularismo. O nosso grande líder sabia que o secularismo era a chave para a civilização e para o esclarecimento. Resumindo, secularismo significa ser humano.” Também criticou o conceito de globalização, argumentando que os países imperialistas estão a usar a globalização para atingirem os seus objectivos em termos económicos. Citou Atatürk: “Existem pessoas que pensam que tudo o que se pode aprender, todos os conselhos e todos os objectivos devem vir da Europa. Contudo, como é que se pode desenvolver a independência com o conselho de estrangeiros? Isso nunca aconteceu na história.”
O primeiro-ministro Erdoğan, discursando no mesmo encontro, disse: “As principais doutrinas da república devem ser mantidas diariamente com argumentos políticos. Precisamos de usá-los, não para dividir, mas para unir o país. Essa é a única forma de criar paz social."
Decorreu também uma cerimónia no Palácio Dolmabahçe, em Istambul, onde Atatürk morreu a 10 de Novembro de 1938. Nessa cerimónia, a sua filha adoptiva, Ülkü Adatepe disse: “Eu costumava caminhar com ele nestes corredores. Atatürk vai viver para sempre. Eu nunca pensei que ele tivesse morrido. Ele ainda vive.”
Ao longo do dia acumularam-se filas de pessoas que queriam visitar o Palácio Dolmabahçe e Anıtkabir.
Atatürk nasceu em 1881 em Tessalónica, que actualmente faz parte do território grego. Ele é recordado, admirado e aclamado por ter fundado a república da Turquia, e pelas reformas modernas que instituiu no país. Contudo, como acontece com todos os líderes, essa admiração não é consensual. No entanto, o que passa para o cidadão comum que visita a Turquia é a profunda veneração que o país retribui a este homem.
Atatürk morreu a 10 de Novembro de 1938, rendendo-se à doença no fígado de que padecia. O seu corpo foi levado inicialmente para o Museu Etnográfico de Ancara, em 21 de Novembro de 1938. Quando o seu mausoléu em Anıtkabir foi concluído, foi trasladado para esse local com uma grande cerimónia, a 10 de Novembro de 1953.

06 novembro 2006

Bülent Ecevit: Uma lenda da política turca


Bülent Ecevit (1925-2006) nasceu em Istambul. O seu pai, Ahmet Fahri Ecevit nasceu em Kastamonu (norte da Turquia) e foi professor de medicina forense na universidade de Ancara. Entre 1943 e 1950, Ahmet Fahri iniciou a sua vida política como deputado do CHP (Partido Republicano do Povo) por Kastamonu. A sua mãe, Fatma Nazlı, nasceu em Istambul e era pintora.
Em 1944, Ecevit terminou o liceu no Robert College de Istambul e começou a trabalhar como tradutor na Direcção Geral de Imprensa. Foi para os Estados Unidos em meados dos anos 50 com uma bolsa de estudo, e trabalhou para dois jornais na Carolina do Norte.
Ecevit foi eleito para o parlamento turco em 1957, como deputado do Partido Republicano do Povo (CHP) pela província de Zonguldak. Em 1974, sucedeu a Ismet Inönü como líder do Partido Republicano do Povo (CHP) em coligação com o Partido da Salvação Nacional (MSP) de
Necmettin Erbakan. Foi eleito primeiro-ministro, e o feito mais notório do seu governo foi ter ordenado uma intervenção militar a 20 de Julho de 1974, para prevenir um golpe de Estado das forças gregas em Chipre, dividindo a ilha e preparando o cenário para a fundação da república turca do norte do Chipre (um Estado de facto que só é reconhecido oficialmente pela Turquia).
Bülent Ecevit revelou que soube pela primeira vez da existência do Gladio, um exército secreto da NATO, em 1974, e suspeitou da existência de uma “contra-guerrilha”, o ramo turco do Gladio. Essa "contra-guerrilha" terá sido responsável pelo massacre de 1 de Maio de 1977 na praça Taksim em Istambul, durante o qual franco-atiradores dispararam contra 500 000 cidadãos presentes num comício de protesto, matando 38 e ferindo centenas.
Depois do golpe militar de 12 de Setembro de 1980, protagonizado pelo general Kenan Evren, Ecevit foi preso e suspenso da vida política activa para sempre. Um referendo em 1987 ilibou-o e tornou-se o presidente do Partido da Esquerda Democrática (DSP) em 1989, herdando o posto da sua mulher, Rahşan Ecevit. O seu partido falhou a entrada na assembleia nacional nas várias eleições que se seguiram, mas venceu finalmente a barreira eleitoral nas eleições nacionais de 1995. Foi vice-primeiro-ministro durante o último governo de Mesut Yılmaz e depois foi por pouco tempo presidente do governo provisório na corrida às eleições gerais de 1999. Nessas eleições, o partido de Ecevit ganhou o maior número de assentos parlamentares, e Ecevit tornou-se primeiro-ministro em coligação com o Partido da Terra Mãe (Ana Vatan Partisi) de Mesut Yilmaz, e o Partido do Movimento Nacionalista (MHP) de Devlet Bahçeli. O governo de Ecevit levou a cabo várias reformas, com o objectivo de estabilizar a economia turca durante a preparação para as negociações de adesão à União Europeia. Contudo, a agonia económica despoletada pelas suas reformas, causou atritos dentro da coligação e partido, e forçou novas eleições em 2002. Ecevit, nessa altura visivelmente fragilizado, não conseguiu levar o seu partido para a assembleia nacional. Reformou-se da vida política activa em 2004.

Bülent Ecevit dedicou os últimos 49 anos da sua vida de 81 anos à política, mas foi também um poeta e escritor. Estudou Sânscrito, Bengali e Inglês e traduziu para Turco obras de Rabindranath Tagore, T. S. Eliot, e Bernard Lewis. Estudou no American Robert College, o mais prestigiado liceu de Istambul, e triunfou na via literária apesar de não possuir nenhuma licenciatura, facto que fez com que nunca se pudesse candidatar a presidente da república da Turquia. No entanto, frequentou o curso de direito, que abandonou para ingressar no curso de literatura inglesa na universidade de Ancara, que acabou por nunca concluir.
Sentiu-se mal a 17 de Maio deste ano durante o funeral do juiz Mustafa Özbilgin, assassinado no Conselho de Estado em Ancara. Quem conhecia Ecevit, disse naquele dia que ele tinha decidido ignorar a sua própria doença para ir ao funeral do juiz Özbilgin. O ataque no Conselho de Estado, organismo que sempre protegeu os valores básicos da república, era demasiado importante para ser ignorado.
Foi alvo de tentativas de assassinato em Izmir e nos Estados Unidos, onde balas que lhe eram dirigidas, só não o atingiram por escassos milímetros. Relativamente a Chipre, Ecevit foi quem tomou a decisão histórica e que a fez avançar. Em Março de 1971, abandonou a liderança do Partido Republicano do Povo (CHP) por não querer trabalhar lado a lado com o poder militar que tinha vindo para o poder através de um golpe de Estado. Adoptou uma posição ainda mais importante durante o período do 12 de Setembro de 1980, altura do golpe de Estado na Turquia. Foi o único político que protestou abertamente contra as condições extremamente limitadoras trazidas pela liderança militar no poder, e foi também a única voz intelectual que se levantou. Por essa via, Ecevit produziu a revista "Arayış" para fazer ouvir a sua voz. Foi preso duas vezes pelo que escreveu na revista e por declarações que nunca esconderam o que se estava a passar na Turquia.

Morreu o político, poeta, escritor, tradutor e jornalista Bülent Ecevit


Morreu ontem Bülent Ecevit, o político que foi primeiro-ministro da Turquia em 1974, 1977, 1978-1979 e na anterior legislatura (1999-2002). Foi também poeta, escritor, jornalista e tradutor.
Ecevit tem estado nos cuidados intensivos do hospital militar Gülhane, em Ancara, desde que sofreu um derrame cerebral a 17 de Maio deste ano. A sua morte, aos 81 anos, foi anunciada ontem à noite pelo seu médico pessoal, que disse aos jornalistas que o sistema respiratório do anterior primeiro-ministro falhou.

04 novembro 2006

Marcha pela república em Ancara


De forma a demonstrarem a sua lealdade e devoção à república, 130 organizações não governamentais organizaram hoje uma marcha de protesto em Ancara. A marcha, denominada "A marcha do povo pela nossa república", começou às 11 horas no Centro Cultural Atatürk, com milhares de pessoas a caminharem na praça Tandoğan. Depois de um comício à hora do almoço, o grupo planeia marchar até ao mausoléu onde está Atatürk (Anıtkabir), o fundador da república da Turquia.
O director da organização do evento, Şenal Sarıhan, disse na terça-feira: “Convidamos a marchar todos aqueles que são leais ao secularismo, que querem que os seus filhos cresçam com uma educação nacionalista e secular, que são contra a divisão da nação devido às diferentes etnias e religiões dos seus cidadãos, que são contra a venda das nossas empresas e terras aos interesses estrangeiros e que são contra a corrupção”. Disse ainda que a marcha foi organizada para mostrar que existe uma multidão pronta a defender a grande conquista de Atatürk, a república.
O secretário geral da Associação do Pensamento Kemalista (ADD), Mehmet Kaynak, disse que existe uma necessidade de protestar e uma necessidade de fortalecer a independência do país e da unidade nacional, argumentando que os interesses nacionais foram sendo atropelados em nome da União Europeia e da globalização. “A nossa honra nacional está ameaçada”, disse.

03 novembro 2006

Inundações no sudeste da Turquia mataram pelo menos 34 pessoas


O número de mortos em resultado das inundações que atingiram a zona pobre do sudeste da Turquia chegou aos trinta e quatro. Onze pessoas, incluindo sete crianças, morreram na vila de Batman. Há notícias de mais pessoas desaparecidas. Estas são as piores inundações que atingiram a região desde 1937, e muito mais chuva está prevista para a Turquia nos próximos dias.
Uma tromba de água inundou Batman na quarta-feira à noite, quando os rios galgaram as margens, devido a chuvas torrenciais, e invadiram ruas e edificios matando onze pessoas e accionando grandes operações de resgate. O exército juntou-se às equipas de salvamento para ajudar na evacuação de pessoas. As autoridades locais abriram edificios municipais, nomeadamente centros desportivos, para albergar famílias desalojadas pelo desastre. Pelo menos sete feridos receberam tratamento hospitalar. Também em Elaziğ, uma vila a noroeste de Batman, os moradores tiveram de ser evacuados das suas casas. Diyarbakır, a maior cidade da região, foi atingida por inundações na terça-feira à noite, quando a água aumentou a uma velocidade dramática, apanhando milhares de moradores de surpresa. Os habitantes foram resgatados das suas casas por barco ou procederam a trabalhos de limpeza ao mesmo tempo que as águas baixavam. Continuam ainda desaparecidas duas pessoas nesta cidade. Um grupo de pessoas protestaram em repartições governamentais na região de Çınar, atirando pedras e partindo janelas. Dispersaram mais tarde após pedidos de contenção. O jornal Milliyet atribui a grande causa das mortes no sudeste à má qualidade das infra-estruturas locais. As estradas que ligam Batman a Diyarbakır e a outras vilas foram cortadas ao trânsito.
A maior cidade da Turquia, Istambul, localizada 1300 quilómetros a noroeste de Dyarbakır, e as cidades mediterrânicas de Antália e Mersin, também sofreram inundações nos últimos dias.

01 novembro 2006

Advogado vai ser julgado por alegada difamação do primeiro-ministro

O gabinete da Procuradoria de Ancara apresentou uma queixa contra o advogado Ömer Lütfü Avşar, na terça-feira, acusando-o de difamação do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan.
Avşar acusou o primeiro-ministro de ter incitado ao assassinato que ocorreu no Conselho de Estado em Maio deste ano, apresentando uma queixa contra Erdoğan no gabinete da Procuradoria para que este seja julgado. Como resultado, o advogado enfrenta agora acusações que podem culminar numa sentença de um a quatro anos de prisão.
A tentativa de assassinato à mão armada de cinco juízes, um dos quais foi morto, a 17 de Maio deste ano, causou uma grande tensão em todo o país. O homem armado alvejou os juízes, alegadamente devido à sua decisão de proibição do uso do véu islâmico.
A atitude do governo, cuja posição é a favor do uso do véu islâmico, fez com que lhe fossem dirigidas muitas críticas.
O julgamento terá início em breve no 17.º tribunal de Ancara.