22 outubro 2006

O "debate do martelo"


Está a ser questionada a competência da equipa de segurança do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, depois de ter desmaiado dentro do seu carro e de ter sido fechado acidentalmente no seu interior, após ter sido conduzido ao hospital em virtude de um ataque de hipoglicemia.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan foi hospitalizado, depois de ter sofrido um ataque de hipoglicemia na terça-feira. Erdoğan seguia para uma reunião no parlamento, quando se sentiu mal e foi conduzido ao hospital Güven pelo seu motorista e guarda-costas. Contudo, Erdoğan foi fechado dentro do carro blindado quando o sistema automático de fecho central foi activado acidentalmente pelos seus guarda-costas que entraram em pânico. Os guardas partiram então a janela traseira com um martelo trazido de umas obras de construção que estavam a decorrer nas imediações. A forma como os guarda-costas lidaram com a indisposição de Erdoğan, levantou discussões relativas à segurança.
O evento terá sido causado por um erro dos guarda-costas? O que teria acontecido se Erdoğan não estivesse a ter um problema de hipoglicemia mas um ataque cardíaco? Como é que os guarda-costas do primeiro-ministro agem como se fossem amadores? Como é que o motorista do primeiro-ministro sai do carro deixando a chave na ignição? Porque é que não existia uma chave suplente? Será que o motorista não tem uma licença de condução para veículos blindados? Será que os guarda-costas e o motorista do primeiro-ministro podem reagir emocionalmente? Será que o motorista é familiar do primeiro-ministro? Porque é que o sistema de segurança conhecido por “código azul” não foi desactivado? Porque é que não existia uma ambulância totalmente equipada na escolta do primeiro-ministro? A escolta do primeiro-ministro, que estava muito perto do edifício do parlamento quando o incidente aconteceu, podia ter parado no centro de saúde do parlamento, localizado a cerca de 150 metros. Será que o motorista e os guarda-costas não sabiam que existia um centro de primeiros socorros totalmente equipado na área do parlamento? A Turquia tem estado à procura de respostas para estas questões desde terça-feira.
Erdoğan deixou a sua casa na terça-feira de manhã em Subayevleri, uma região de Ancara, para estar presente numa reunião do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) agendada para as 11 horas. A sua escolta seguiu para o parlamento e estava perto da entrada, em Çankaya, na avenida Atatürk. Nessa altura, algo se passou dentro do Mercedes blindado onde seguia o primeiro-ministro. Erdoğan estava acompanhado pelo seu assistente e deputado do AKP por Adana, Ömer Çelik. Os dois conversavam, mas o primeiro-ministro deixou de falar quando chegaram a Bakanlıklar (área das instituições do governo). Quando o carro estava prestes a entrar na porta do parlamento em Çankaya, ele disse ao seu motorista Harun Kandemir para abrandar. Nesse momento desmaiou. O condutor fez uma súbita inversão de marcha e dirigiu-se para o Hospital Güven, localizado na Rua Şimşek em Ayrancı. O veículo entrou pela Rua Şimşek em sentido proibido e parou em frente ao Hospital Güven. Çelik saiu do carro para procurar um médico. Ao mesmo tempo, o condutor e o chefe dos guarda-costas Halit Özgül também correram para fora do veículo, mas o Mercedes blindado fechou-se quando as duas portas bateram ao mesmo tempo. Os guarda-costas e o motorista entraram em pânico. Primeiro tentaram forçar as portas. Quando tal não resultou, tentaram partir os vidros usando varas de ferro e sinais de trânsito que estavam em frente do hospital. Quando tal não funcionou, alguns dos guarda-costas verificaram que decorriam obras de construção ao lado do hospital e pediram ajuda. O trabalhador da construção civil Hasan Alpyılmaz, de 28 anos, trouxe um martelo. Passados três minutos, os guarda-costas foram capazes de abrir um buraco e conseguiram abrir a porta. Quando abriram as portas, o primeiro-ministro foi colocado numa maca pelos paramédicos, e foi levado para a sala de emergências. Depois de um tratamento inicial, foi-lhe administrado soro. Foi-lhe diagnosticado diabetes latente depois de alguns testes iniciais. Nove horas depois teve alta. Os médicos recomendaram que evitasse cansar-se, que fizesse exercício e dieta.
O primeiro-ministro chegou ao hospital em dois minutos mas teve de esperar dez minutos em frente do hospital, sendo essa a causa da controvérsia. O incidente é apontado como o “escândalo dos guarda-costas”. Tem sido referido que Erdoğan preferiu escolher pessoas que conhece bem em deterimento do profissionalismo. Alguns disseram que o motorista é sobrinho de Erdoğan, o que se veio a verificar ser falso.

Sem comentários: