28 outubro 2006

Durão Barroso diz que as reformas na Turquia estão a avançar muito devagar


O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, declarou ao jornal italiano ”Corriere della Serra” que antevê um caminho lento e difícil para a total adesão da Turquia à União Europeia.
Barroso disse a um jornalista italiano: "Lamento dizê-lo, mas as coisas não estão a correr bem para a Turquia. Nós estamos a atravessar um período muito crítico com a Turquia. As reformas na Turquia estão a processar-se muito devagar, e eu ainda não vejo os progressos que esperava ver. Nós esperamos que a Finlândia, que preside neste momento à União Europeia, seja capaz de evitar a paragem das negociações de adesão. Mas falando abertamente, estou preocupado."
Barroso falou sobre o debate crescente nos países membros da União Europeia sobre os imigrantes muçulmanos e como se estão a assimilar à sociedade em seu redor, dizendo: "Vou repetir novamente: não devemos olhar para os muçulmanos europeus como se eles fossem de Marte. Mas aqueles que imigram para os nossos países, também devem fazer o possível para se envolverem com as pessoas que os rodeiam."

22 outubro 2006

O martelo foi levado para o parlamento


Um objecto que dominou os debates nos últimos dias, foi o martelo que foi usado para "salvar" o primeiro-ministro.
O trabalhador da construção civil Hasan Alpyılmaz não fazia ideia de que o seu martelo era exactamente o que o primeiro-ministro precisava naquele momento. O vidro da frente do carro foi partido com o seu martelo e o primeiro-ministro foi "salvo".
Para além de todas as questões sobre a competência da equipa de segurança, que fechou o primeiro-ministro dentro do carro, não restam dúvidas da qualidade extraordinária do martelo.
O deputado do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) por Bingöl, Feyzi Berdibek, foi ao local das obras na quarta-feira e falou com os trabalhadores sobre o martelo dizendo que o queria comprar mas eles simplesmente ofereceram-lho. Berdibek trouxe o martelo para o parlamento e disse aos seus colegas que o iria guardar para sempre, a não ser que o primeiro-ministro o quisesse para si.

O "debate do martelo"


Está a ser questionada a competência da equipa de segurança do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, depois de ter desmaiado dentro do seu carro e de ter sido fechado acidentalmente no seu interior, após ter sido conduzido ao hospital em virtude de um ataque de hipoglicemia.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan foi hospitalizado, depois de ter sofrido um ataque de hipoglicemia na terça-feira. Erdoğan seguia para uma reunião no parlamento, quando se sentiu mal e foi conduzido ao hospital Güven pelo seu motorista e guarda-costas. Contudo, Erdoğan foi fechado dentro do carro blindado quando o sistema automático de fecho central foi activado acidentalmente pelos seus guarda-costas que entraram em pânico. Os guardas partiram então a janela traseira com um martelo trazido de umas obras de construção que estavam a decorrer nas imediações. A forma como os guarda-costas lidaram com a indisposição de Erdoğan, levantou discussões relativas à segurança.
O evento terá sido causado por um erro dos guarda-costas? O que teria acontecido se Erdoğan não estivesse a ter um problema de hipoglicemia mas um ataque cardíaco? Como é que os guarda-costas do primeiro-ministro agem como se fossem amadores? Como é que o motorista do primeiro-ministro sai do carro deixando a chave na ignição? Porque é que não existia uma chave suplente? Será que o motorista não tem uma licença de condução para veículos blindados? Será que os guarda-costas e o motorista do primeiro-ministro podem reagir emocionalmente? Será que o motorista é familiar do primeiro-ministro? Porque é que o sistema de segurança conhecido por “código azul” não foi desactivado? Porque é que não existia uma ambulância totalmente equipada na escolta do primeiro-ministro? A escolta do primeiro-ministro, que estava muito perto do edifício do parlamento quando o incidente aconteceu, podia ter parado no centro de saúde do parlamento, localizado a cerca de 150 metros. Será que o motorista e os guarda-costas não sabiam que existia um centro de primeiros socorros totalmente equipado na área do parlamento? A Turquia tem estado à procura de respostas para estas questões desde terça-feira.
Erdoğan deixou a sua casa na terça-feira de manhã em Subayevleri, uma região de Ancara, para estar presente numa reunião do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) agendada para as 11 horas. A sua escolta seguiu para o parlamento e estava perto da entrada, em Çankaya, na avenida Atatürk. Nessa altura, algo se passou dentro do Mercedes blindado onde seguia o primeiro-ministro. Erdoğan estava acompanhado pelo seu assistente e deputado do AKP por Adana, Ömer Çelik. Os dois conversavam, mas o primeiro-ministro deixou de falar quando chegaram a Bakanlıklar (área das instituições do governo). Quando o carro estava prestes a entrar na porta do parlamento em Çankaya, ele disse ao seu motorista Harun Kandemir para abrandar. Nesse momento desmaiou. O condutor fez uma súbita inversão de marcha e dirigiu-se para o Hospital Güven, localizado na Rua Şimşek em Ayrancı. O veículo entrou pela Rua Şimşek em sentido proibido e parou em frente ao Hospital Güven. Çelik saiu do carro para procurar um médico. Ao mesmo tempo, o condutor e o chefe dos guarda-costas Halit Özgül também correram para fora do veículo, mas o Mercedes blindado fechou-se quando as duas portas bateram ao mesmo tempo. Os guarda-costas e o motorista entraram em pânico. Primeiro tentaram forçar as portas. Quando tal não resultou, tentaram partir os vidros usando varas de ferro e sinais de trânsito que estavam em frente do hospital. Quando tal não funcionou, alguns dos guarda-costas verificaram que decorriam obras de construção ao lado do hospital e pediram ajuda. O trabalhador da construção civil Hasan Alpyılmaz, de 28 anos, trouxe um martelo. Passados três minutos, os guarda-costas foram capazes de abrir um buraco e conseguiram abrir a porta. Quando abriram as portas, o primeiro-ministro foi colocado numa maca pelos paramédicos, e foi levado para a sala de emergências. Depois de um tratamento inicial, foi-lhe administrado soro. Foi-lhe diagnosticado diabetes latente depois de alguns testes iniciais. Nove horas depois teve alta. Os médicos recomendaram que evitasse cansar-se, que fizesse exercício e dieta.
O primeiro-ministro chegou ao hospital em dois minutos mas teve de esperar dez minutos em frente do hospital, sendo essa a causa da controvérsia. O incidente é apontado como o “escândalo dos guarda-costas”. Tem sido referido que Erdoğan preferiu escolher pessoas que conhece bem em deterimento do profissionalismo. Alguns disseram que o motorista é sobrinho de Erdoğan, o que se veio a verificar ser falso.

Jornalista condenado por insultar o conselheiro especial do primeiro-ministro

İsmail Necdet Sevinç

İsmail Necdet Sevinç, antigo jornalista do jornal Yeniçağ, foi condenado a três meses e quinze dias de prisão por ter insultado Cüneyd Zapsu, conselheiro especial do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan.
Sevinç escreveu num artigo, a 6 de Janeiro de 2003, que Zapsu pertencia a “uma família de separatistas contra o império otomano e a república turca”.
Zapsu apresentou queixa contra Sevinç no departamento da procuradoria da república em Sarıyer. Zapsu reclamou que o jornalista o insultou no artigo publicado em 2003, intitulado “Senhor Cüneyd, o piloto mestre”. A queixa de Zapsu levou a procuradoria a preencher um auto civil contra Sevinç e o editor do jornal Yeniçağ. Sevinç foi declarado culpado por insultar alguém publicamente, de acordo com o artigo 480/4 do código penal turco.
O jornalista não foi autorizado a pagar fiança ou a adiar a sentença porque já tinham sido apresentadas queixas similares contra ele.

20 outubro 2006

THY aposta no turismo de fé para promover a rota Lisboa-Istambul

As linhas aéreas turcas (THY) estão a tentar revitalizar a rota Lisboa-Istambul, criada há um ano e meio, através da promoção do turismo de fé.
"Eu trabalhei em Amesterdão durante dois anos e há dois meses vim para Lisboa. O meu objectivo neste momento, é salvar a rota Lisboa-Istambul”, declarou Metin Koyuncu, representante da THY em Lisboa. Acrescentou que planeia revitalizar a rota, trazendo mais grupos religiosos para Istambul.
Koyuncu afirmou que a THY assinou um acordo com a TAP Air Portugal há três meses, que estipula que os passageiros da TAP que voem para o médio oriente, ásia central e extremo oriente efectuem escala em Istambul, enquanto que os passageiros da THY que voem para o Brasil ou África, farão escala em Lisboa.
“Com voos duas vezes por semana entre Lisboa e Istambul, estão a viajar mais Portugueses para a Turquia em férias. No passado Inverno, os voos da THY de Lisboa para Istambul, tiveram uma taxa de ocupação de 30 a 40%, e este Verão esse valor aumentou para 80% e só 20 % dos passageiros eram Turcos”, disse Koyuncu.
Falando sobre a situação actual da rota Lisboa-Istambul, Koyuncu disse que houve um aumento no número de passageiros. “Nós aumentamos a nossa quota de mercado de 55% para 30%”, disse Koyuncu, acrescentando: “Eu assumo que iremos aumentar as receitas de um millão de dólares do ano passado para dois milhões este ano”. Koyuncu também referiu que dentro de um ou dois anos espera ver o número de passageiros chegar aos cinco milhões. Em dois ou três anos Koyuncu também tem planos para acrescentar mais voos à rota Lisboa-Istambul. “Depois vamos concentrar-nos em promover outras rotas”, referiu Koyuncu. Sublinhando que a THY deseja promover a rota de Lisboa tal como fez com os voos de Madrid e Barcelona, Koyuncu também referiu que a linha Madrid-Istambul actualmente tem um volume de receitas de nove milhões de euros.

15 outubro 2006

Clima de forte tensão entre a França e a Turquia

Clima de forte tensão entre a França e a Turquia

A Turquia reagiu com fúria depois da assembleia nacional francesa ter aprovado na quinta-feira o projecto de lei que criminaliza a negação do alegado genocídio de Arménios, dizendo que essa acção provocou um forte abalo nas relações bilaterais.
“As relações turco-francesas, que têm sido meticulosamente desenvolvidas ao longo dos séculos, foram fortemente perturbadas por iniciativas irresponsáveis de alguns políticos franceses com pouca visão, baseados em alegações infundadas”, disse o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, depois dos legisladores, na assembleia nacional de 577 lugares, terem votado 106 a favor e 19 contra a aprovação do controverso projecto de lei. “Com este projecto de lei, a França está infelizmente a perder o seu estatuto privilegiado entre a população turca”, acrescentou.
A reacção turca surgiu apesar de terem sido dadas garantias pelo governo francês de que não apoia o projecto de lei e de que valoriza as relações com a Turquia. “Nós estamos muito entusiasmados com o diálogo com a Turquia, assim como com as fortes relações de amizade e cooperação que nos ligam a esse país”, disse o porta-voz do ministro francês dos Negócios Estrangeiros Jean-Baptiste Mattei. Catherine Colonna, a ministra fancesa responsável pelos Assuntos Europeus, também disse à assembleia nacional que não competia aos parlamentos “escrever a História”, e avisou que a passagem do projecto de lei poderia ser contraproducente.

Mas a tensão tem estado a fervilhar desde 2001, quando o parlamento francês votou para reconhecer as alegações de genocídio arménio. No entanto, depois da votação de quinta-feira, as críticas de Ancara atingiram o auge.
“Este projecto de lei, que ataca a liberdade de expressão de uma forma que não beneficia um regime democrático, causou indignação na nação turca, incluindo os nossos cidadãos arménios com quem temos convivido durante séculos”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros turco na sua declaração. Também referiu que o projecto de lei significa uma violação das normas europeias de liberdade de expressão, e acusou a França de aplicar padrões duplos. “É uma contradição evidente que o parlamento de um país cujos governantes dizem que reescrever a história não compete ao parlamento no que diz respeito a questionarem a sua própria história, faça um julgamento da história de outros países e se veja a si próprio com poderes para impôr sanções penais”, disse. “A credibilidade dos estados depende primeiramente da adopção dos valores que pregam”.
Espera-se que a entrada em vigor deste projecto de lei seja um processo demorado, uma vez que tem de passar antes pelo senado para outra votação, e terá de ser assinado pelo presidente antes de se tornar lei. Os observadores dizem que o governo francês pode demorar até levar o projecto de lei ao senado, e se houverem algumas mudanças no projecto de lei quando o senado proceder à votação, terá de ser sujeito a outra votação na assembleia nacional, onde o último dia de trabalho antes das eleições presidenciais e parlamentares de 2007 deverá ser por volta do final de Fevereiro de 2007.
Os governantes turcos têm prometido repetidas vezes que a sua reacção relativamente à França será contida, apesar de apelos públicos para um boicote total aos produtos franceses. Não será uma surpresa se as companhias francesas forem excluídas da maioria das propostas em numerosas áreas, incluindo a construção da primeira central nuclear turca. As relações políticas também poderão vir a ser reduzidas ao mínimo, possivelmente através da redução da representação em visitas mútuas e mesmo cancelamento de certas visitas.
O porta-voz do Parlamento, Bülent Arınç, disse que a acção da França reflectiu uma “atitude hostil” em relação à Turquia. “É uma decisão vergonhosa. É uma atitude hostil contra a nação turca [...]. É inaceitável.”
Relativamente à comunidade arménia em França, de cerca de 400 000 pessoas, disse ser “deplorável” que uma acção a ameaçar as relações francesas com a Turquia fosse entendida como uma “medida para agradar a um certo grupo étnico”, aludindo às eleições presidenciais francesas do próximo ano. “Aqueles que dizem que houve genocídio e aqueles que dizem que não devem gozar da mesma liberdade”, acrescentou. Em Bruxelas, o ministro do Estado Ali Babacan, que também é o responsável pelas negociações com a UE, disse que não se podia descartar um prejuízo para as empresas francesas. Acrescentou que era irónico que tal acção tivesse partido de um país fundador da UE e campeão da liberdade, e que foi acentuou a importância da liberdade de expressão nas suas negociações com Ancara. “O que aconteceu em França, acreditamos não estar em linha com os valores nucleares da UE”, disse.

A UE critica a votação:

A UE, que tem pressionado a Turquia para desenvolver a questão da liberdade de expressão, também criticou a aprovação do projecto de lei pelo parlamento francês, dizendo que poderá prejudicar o diálogo entre a Turquia e a Arménia. “A entrada em vigor desta lei [...] irá proibir o diálogo que é necessário para a reconciliação com o assunto”, disse a porta-voz da comissão europeia Krisztina Nagy. À questão se o projecto de lei poderia acrescentar mais um degrau para dificultar as negociações de adesão de Ancara, iniciadas há exactamente um ano, disse que o reconhecimento das mortes de 1915 como genocídio nunca foi uma pré-condição para a adesão.
“Não compete à lei escrever história. Os historiadores precisam de um debate”, disse.


Erdoğan Erdoğan: "A França manchou a liberdade de expressão"

O primeiro Ministro Recep Tayyip Erdoğan, atacou na sexta-feira a aprovação por parte do parlamento francês, da controversa lei que faz com que passe a ser um crime negar que Arménios foram objecto de genocídio às mãos do império otomano, classificando a legislação de “um ponto negro na liberdade de expressão, democracia e história”.
“Por um lado, [a França] tenta dar conselhos à Turquia relativamente ao Artigo 301 do Código Penal Turco (TCK) e, por outro lado, bloqueia a liberdade de expressão. Não é possivel entender ou explicar isto”, disse Erdoğan na cerimónia de inauguração da Avenida Turgut Özal, que constitui a ligação principal ao novo aeroporto de Ancara (aeroporto Esenboğa).
Enfrentando a crescente pressão da União Europeia para emendar ou eliminar artigos do seu código penal, que restringem a liberdade de expressão, a Turquia queixou-se de padrões duplos, dizendo que a França, um dos principais membros fundadores, bloqueou a liberdade de expressão com o projecto de lei que legislou na quinta-feira.
Erdoğan, nas suas primeiras declarações depois da aprovação do projecto de lei, disse que aqueles que pressionam a Turquia para melhorar a sua liberdade de espressão, deram um passo atrás nas liberdades. “Deviam primeiro resolver isso e depois bater à nossa porta. Nós nunca vivemos nada tão vergonhoso e nunca deixaremos que tal aconteça”, disse.
Erdoğan pediu à nação para ser moderada na sua resposta, e disse que a Turquia está a estudar medidas de retaliação contra a França. “O volume do comércio externo da Turquia com a França é de 10 biliões de dólares, e equivale a 1,5% do volume total do comércio externo francês. Nós vamos fazer os cálculos adequados e depois tomaremos as medidas necessárias”, disse.
Erdoğan não especificou, mas disse que o governo iria tomar medidas dentro e fora da Turquia. O parlamento francês votou o projecto de lei, apesar dos avisos de empresas francesas de que isso iria ter repercussões nos seus negócios na Turquia, um mercado crescente que importou 4,7 billiões de euros de mercadorias francesas em 2005.
Centenas de empresas francesas como a Renault e Carrefour têm grandes investimentos na Turquia, empregando milhares de trabalhadores turcos.
Esta semana, as associações turcas de consumidores e alguns sindicatos do comércio, apelaram a boicotes aos produtos franceses. A associação turca de consumidores, apelou aos seus membros para começarem a boicotar os produtos franceses, começando na sexta-feira com o grupo Total. “O boicote irá continuar até que a lei do denominado genocídio armenio seja anulada”, disse o presidente da associação, Bülent Deniz.
Em reacções na quinta-feira, o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Abdullah Gül, também disse que a Turquia iria considerar medidas de retaliação a adoptar contra a França. “Ninguém deveria esperar que a Turquia entendesse isto de ânimo leve”, disse. “O Parlamento vai reunir-se na terça-feira com uma agenda especial e não há dúvidas de que tomaremos medidas em todas as áreas”.
Gül irá reunir-se com legisladores sobre o processo que levou à aprovação do projecto de lei do genocídio. Mais tarde, os líderes dos partidos políticos com assento no parlamento reunir-se-ão. Espera-se que o líder do partido da oposição, Partido Republicano do Povo (CHP), Deniz Baykal, e o presidente do partido ANAVATAN, Erkan Mumcu, façam discursos. Uma declaração conjunta a condenar o parlamento francês é aguardada no final da sessão. “Os líderes dos partidos políticos, independentemente de terem ou não assento oparlamentar, irão entregar discursos. Tentaremos elaborar uma decisão parlamentar que critique o parlamento francês e que clarifique o significado da decisão aí tomada”, disse o porta-voz do parlamento, Bülent Arınç.
A comissão parlamentar da UE para a Harmonização, apelou à França na sexta-feira para rejeitar ou retirar o projecto de lei. “A nossa comissão condena esta decisão injusta, e espera que a França apele ao bom senso e corrija este erro”, foi dito em declaração.

Babacan: "Não haverá recuos nas reformas"

O ministro de Estado Ali Babacan, que também é o responsável turco pelas negociações de adesão à UE, disse que o que aconteceu em França não deveria ter impacto no processo de reformas na Turquia. “Nós nunca devemos olhar para os erros como modelo. Não devemos responder a erros com erros”, disse numa conferência de imprensa em Berlim, a sua última paragem na sua viagem pelas capitais da UE depois de Madrid e Bruxelas.
Babacan disse que o governo introduziu reformas para o bem da sua população, não só porque a UE pediu que o fizessem, e prometeu que Ancara irá continuar com as reformas políticas. Admitiu que a acção francesa poderá ter um efeito adverso no olhar dos Turcos em relação à UE, mas disse: “Talvez a Turquia venha a tornar-se um modelo para a Europa com as reformas políticas que está a desenvolver”.

Patriarca Mesrob II: "A França sabotou o diálogo"

O líder espiritual dos Arménios na Turquia, condenou o projecto de lei francês que criminaliza a negação do alegado genocídio arménio, dizendo que prejudicou o já restrito diálogo existente entre a Turquia e a Arménia sobre o assunto em questão.
“Os Franceses, que criaram várias barreiras para bloquear a entrada da Turquia na União Europeia, apagaram agora seriamente o diálogo entre a Turquia e a Arménia, que já era muito reduzido”, revelou o patriarca Mesrob II numa declaração.
A Turquia, protestando contra a ocupação arménia do território azeri de Nagorno-Karabakh e contra os esforços da diáspora arménia para ganhar o reconhecimento internacional do alegado genocídio, fechou a porta de embarque à Arménia, e não tem nenhuma relação diplomática com Yerevan.
Mesrob II disse que o projecto de lei, que prevê uma pena de até um ano de prisão e 45 000 euros de multa para aqueles que negarem o alegado genocídio, irá fortalecer os grupos ultranacionalistas e racistas tanto na sociedade turca como arménia.
“Eu considero esta medida anti-democrática, uma vez que restringe a liberdade de expressão dos indivíduos”, acrescentou.

Preocupações com a segurança

O patriarca também encorajou a uma “maior sensibilidade” relativamente à postura da comunicação social relativamente aos Arménios na Turquia, enfatizando que “eles nem são Arménios da diáspora nem cidadãos franceses”, e expressou preocupação com a segurança após a adopção da lei.
“Nós, como Arménios turcos, sentimos uma séria pressão sobre nós com esta lei”, disse, acrescentando que o patriarcado pediu ao governador de Istambul para tomar medidas relativamente à segurança das igrejas e escolas arménias.

13 outubro 2006

Orhan Pamuk recebeu o Prémio Nobel da Literatura

Orhan Pamuk
O escritor Orhan Pamuk, autor de "O Meu Nome é Vermelho", "Neve" e de meia dúzia de outros romances, ganhou ontem o Prémio Nobel da Literatura "pelo conjunto do seu trabalho, que analisa o cruzamento das culturas muçulmanas e ocidentais."
A academia sueca disse que Pamuk, "na busca da alma melancólica da sua cidade natal [Istambul], descobriu novos símbolos para o confronto e entrelaçar de culturas."
O escritor de 54 anos, para além de ser o escritor turco mais conhecido no estrangeiro, é também um rebelde político, cujas opiniões sobre a história do seu país, alertaram a comunidade internacional para a questão da liberdade de expressão no seu país.

Orhan Pamuk
"No seu país natal, Pamuk tem reputação de comentador social, mesmo apesar de se considerar principalmente um escritor de ficção sem agenda política", referiu o júri do Nobel.
As aspirações antigas da Turquia de se tornar europeia, caracterizadas por confrontos entre o islamismo e o secularismo, e entre a tradição e a modernidade, e o impacto doloroso da ocidentalização agressiva depois do colapso do império otomano, permeiam a escrita de Pamuk.
Pamuk foi o primeiro autor no mundo islâmico a condenar publicamente a fatwa (sentença de morte) em 1989 contra Salman Rushdie, e esteve ao lado do seu colega turco Yaşar Kemal quando este mais tarde foi a julgamento em 1995.

Orhan Pamuk
Ele próprio teve de enfrentar um processo judicial depois de ter declarado a um jornal suiço que 30 mil curdos e um milhão de arménios tinham sido mortos na Turquia. As queixas contra ele desencadearam protestos internacionais e foram retiradas.
Pamuk é o primeiro Turco a ganhar o prestigiante prémio, e existiam rumores de que era considerado o favorito.
Fumador compulsivo, a maior parte das vezes afastado dos olhares públicos, escreve durante muitas horas num apartamento de Istambul com vista para a ponte sobre o Bósforo que liga a Europa à Ásia.

Nasceu em 1952 numa família próspera e secular, decidido a tornar-se pintor durante a juventude. Estudou arquitectura na universidade técnica de Istambul, mas mais tarde voltou-se para a escrita, estudando jornalismo em Istambul.
Publicou o seu primeiro romance premiado "O Senhor Cevdet e os seus filhos" em 1982, uma crónica familiar onde descreve a transferência de uma família de um ambiente tradicional otomano para um estilo de vida mais ocidental.
O seu segundo romance, "A Casa do Silêncio" foi publicado na Turquia em 1983, mas foi o seu terceiro livro, "A Cidadela Branca", publicado dois anos mais tarde, que lhe deu reputação internacional. Estruturado como um romance histórico desenvolvido na cidade de Istambul do século XVII, "o seu conteúdo é primordialmente uma história sobre como o nosso ego se constrói em histórias e ficções de diversos tipos. A personalidade é mostrada como uma construção variável", revelou a academia sueca.


Em 2000, com o romance "O Meu Nome é Vermelho" - uma história de amor, assassínio misterioso e discussão sobre o papel do individualismo na arte - Pamuk explora a relação entre o oriente e ocidente, descrevendo a diferente relação de um artista com o seu trabalho em cada cultura.
O seu último livro, "Neve" foi aclamado pela crítica. A história tem lugar em Kars, uma vila fronteiriça, outrora uma cidade na fronteira entre o império otomano e o império russo.


"O romance torna-se uma história de amor e de criatividade poética, como se inteligentemente descrevesse os conflitos políticos e religiosos que caracterizam a sociedade turca dos nossos dias", comentou ainda a academia.
Pamuk receberá o Prémio Nobel no valor de 1,37 milhões de dólares e também uma medalha de ouro e um diploma, das mãos do rei sueco Carl XVI Gustaf numa cerimónia formal em Estocolmo no dia 10 de Dezembro, o aniversário da morte de Alfred Nobel, o fundador dos prémios Nobel em 1896. No ano passado a honra coube ao dramaturgo britânico Harold Pinter.
O prémio da literatura foi o quinto de seis prémios Nobel a serem entregues este mês, com os prémios da Medicina, Física, Química e Economia a irem para os Estados Unidos. O prémio Nobel da Paz foi atribuído hoje a Muhammad Yunus do Bangladesh.
Pamuk estava em Nova Iorque, onde dá aulas na Universidade de Columbia como professor visitante, quando o prémio foi anunciado.


Numa entrevista ao canal CNN-Türk no ano passado, Pamuk disse que as cerimónias de entrega de prémios e as feiras do livro fizeram com que não terminasse um romance que começou há três anos atrás. O livro chama-se "O Museu da Inocência", desenrola-se na alta sociedade de Istambul e é sobre a paixão de um homem por uma mulher. "Escrevemos o romance político, agora escrevemos a história de amor", disse. Revelou também que espera terminá-lo no final deste ano.

Pamuk: "Este Nobel é para toda a Turquia, os Turcos e a língua turca"

Numa conferência de imprensa ontem, em Nova Iorque, onde está actualmente como professor visitante na Universidade de Columbia, Orhan Pamuk disse aos jornalistas que o Prémio Nobel da Literatura não foi só atribuído a ele, mas a toda a Turquia, cultura turca e língua turca. Pamuk disse: "Hoje só gostaria de celebrar esta boa notícia. Não há nada mais que eu queira dizer ou comentar".
Pamuk disse que tinha recebido de manhã a notícia através de um telefonema da academia sueca. Explicou : "O presidente da Real Academia Sueca telefonou-me e perguntou-me se eu aceitaria o prémio. Eu disse que sim."
Pamuk disse aos jornalistas esperar que o prémio permitia desenvolver o perfil da literatura turca no mundo, e acrescentou: "Eu penso que este prémio vai fazer com que o mundo reavalie a cultura turca como uma cultura de paz e como uma mistura de culturas de oriente e ocidente. Os meus livros são a prova de que de facto a Turquia faz parte tanto do oriente como do ocidente."
Pamuk não aceitou responder a nenhumas questões sobre o controverso código penal turco, nem sobre as suas anteriores declarações sobre o "genocídio" arménio e sobre confrontos culturais.


Turquia exaltada e dividida sobre a atribuição do Nobel

Se por um lado houve uma grande exaltação na Turquia por um Turco ter recebido um prémio Nobel pela primeira vez, por outro lado, a conquista de Orhan Pamuk foi manchada por declarações de que o prémio foi um resultado directo da controvérsia em seu redor.
Pamuk, que em 1998 rejeitou o louvor do Estado turco de "Artista do Estado", foi julgado em tribunal no início deste ano, por declarações controversas que desafiaram a versão oficial dos massacres de Arménios que a Turquia diz não se tratar de um genocídio.
O caso, no qual se arriscou a uma pena de até três anos de prisão, foi encerrado em Janeiro deste ano, depois de uma única audição, perturbada por protestantes de extrema-direita que atacaram e vaiaram o autor. O julgamento foi precedido de ameaças de morte, e um governador de província ordenou a destruição dos livros de Pamuk – um movimento que o governo cancelou de imediato, receoso de que as suas credenciais democráticas fossem impugnadas aos olhos da União Europeia.

Orhan Pamuk
Alguns oponentes até alegaram que a intenção de Pamuk se trataria de um movimento calculado para reforçar a sua fama internacional e trazer o prémio Nobel para as suas mãos.
Foi ironicamente o presidente francês Jacques Chirac que se manifestou feliz por Pamuk ter recebido o prémio pela sua escrita “inteligente, forte e liberal", mesmo antes do seu homólogo turco, Ahmet Necdet Sezer, ter feito qualquer comentário sobre o assunto.
Na Turquia, o vice-secretário de Estado do Ministério da Cultura e Turismo Mustafa İsen, comentou: “Etou muito feliz e congratulo-o" acrescentando, "Só me interessa Pamuk como romancista. As suas outras acções não são do meu interesse. Eu penso que ele é um bom romancista e acredito que ele ganhou este prémio pelos seus romances."

Orhan Pamuk
Ahmet İnsel, um académico proeminente e editor na Iletişim, editora turca de Pamuk, disse que o autor mereceu inteiramente o prémio pelas suas qualidades literárias. "Nós estamos muito felizes. Pamuk é um representante importante do romance moderno no mundo". Acreditamos que ele merece inteiramente o prémio", disse İnsel ao canal de televisão turco NTV. Relativamente à controversia que rodeia o autor, İnsel disse, "se olharmos para a longa história da atribuição dos prémios Nobel da Literatura, constatamos que os autores que ganharam, fizeram declarações políticas importantes sobre o futuro dos seus países e sobre o mundo. Pamuk ganhou o prémio como romancista. Isso é uma honra para a Turquia e para a literatura turca", disse.
Metin Celal, presidente do sindicato de editores turcos, disse que o sucesso de Pamuk irá tornar a literatura turca mais popular. "Este é um dia histórico. Eu acredito que irá desempenhar um importante papel na promoção da Turquia e da literatura turca, porque os escritores de todo o mundo estão agora curiosos sobre a literatura que criou”, disse ao canal de televisão CNN-Türk.

Orhan Pamuk
Buket Uzuner, uma popular autora turca, concordou. "Estou orgulhosa por um dos meus conterrâneos ter ganho o prémio", disse. "É irónico que Pamuk tivesse recebido o prémio no mesmo dia da votação na assembleia nacional francesa. Mas o centro da questão, claro, é que ele é um bom romancista", disse.
O líder do Partido Republicano do Povo (CHP) Deniz Baykal, disse que a Turquia devia de estar orgulhosa da conquista de Pamuk, pelo menos porque ele mostrou a presença da literatura turca no palco internacional, acrescentando, “Esse é o ponto onde temos de nos concentrar hoje”.
Zülfü Livaneli, romancista, compositor, cantor, deputado e amigo de Pamuk, disse que o prémio irá colocar a literatura turca firmemente no mapa mundial. "São notícias muito boas, as de que a literatura turca recebeu um prémio Nobel", disse. "Nós não deveríamos avaliar isso na actual atmosfera política, mas olhar numa perspectiva de longo prazo. Este acontecimento vai mostrar que existe uma coisa que se chama literatura turca", disse.

10 outubro 2006

Paavo Lippopen critica o “projecto de lei do genocídio”

Paavo Lippopen critica o “projecto de lei do genocídio”

Um representante do Partido Socialista Europeu (PES), criticou ontem em Ancara o “projecto de lei do genocídio arménio”, que será votado dentro de dois dias no parlamento francês.
O representante finlandês do PES, Paavo Lippopen, encontrou-se ontem com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, e afirmou: "não achamos certos os esforços da França.”
Erdoğan também aproveitou a oportunidade para criticar uma vez mais a proposta francesa, frisando, "nós abrimos os nossos arquivos. Gostávamos que outros países envolvidos tivessem feito o mesmo. Apesar de todos os nossos bons esforços e intenções relativamente a este assunto, não vimos uma resposta apropriada." Erdoğan também classificou de erro, o facto de um terceiro país entrar numa disputa entre a Turquia e a Arménia. Acrescentou que iniciativas como o projecto de lei relativo ao "genocídio" arménio em França, só acrescentam mais dificuldade ao problema no seu todo.

A UE e a votação da França no projecto de lei de “negação do genocídio”

A UE e a votação da França no projecto de lei de “negação do genocídio”


Com o parlamento francês a preparar-se para a votação de 12 de Outubro sobre o denominado “projecto de lei da negação do genocídio arménio”, levantam-se vozes dentro da União Europeia. Olli Rehn, o comissário europeu para o alargamento, dirigiu avisos severos ao parlamento francês sobre uma lei que, a ser aprovada, condena quem negar publicamente o genocídio arménio.
Esta semana, através de uma declaração escrita, Rehn apelou aos parlamentares franceses para “assumirem responsabilidades,” e referiu que uma lei contra a negação de genocídio iria, "mais do que incrementar o diálogo entre a Turquia e a UE, afectar negativamente esse diálogo."
Entre os pontos que Rehn ressaltou nas suas declarações escritas, constava a referência a que a criação de tal lei iria "deteriorar passos adoptados para a liberdade de expressão na Turquia." Rehn disse: "nós queremos um pouco mais de liberdade de expressão na Turquia, mas a França, com as suas próprias leis, está a limitar essa liberdade em França."

Durão Barroso também avisa a França<br />Durão Barroso também avisa a França

O presidente da comissão europeia, Durão Barroso, disse ontem em Bruxelas que pensa que não devem de ser apresentados à Turquia novos critérios e condições.

Parlamento turco pondera retaliação contra a França

Parlamento turco pondera retaliação contra a França

Membros do partido do governo, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), e do maior partido da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), continuam a debater se será correcto retaliar contra a França com uma lei que penalize a negação das mortes de Algérios durante o período colonial francês, depois da França estar a tentar passar no parlamento francês uma lei semelhante, mas relativamente ao alegado genocídio arménio.
A comissão de justiça do parlamento vai debater o “genocídio” algério na quarta-feira, um dia antes do projecto de lei francês ser debatido na assembleia nacional em Paris.
Os deputados do CHP consideram incorrecto debater as propostas na comissão, argumentando que dessa forma estarão a agir como a França, enquanto que o AKP ainda não tomou uma posição.
Os representantes do AKP não têm ainda uma resposta clara sobre se irão apoiar as propostas e, ao que tudo indica, irão clarificar a sua posição depois do debate francês na assembleia nacional sobre o controverso projecto de lei, que criminaliza a negação do alegado genocídio arménio durante o império otomano.
O projecto de lei para criminalizar as negações do "genocídio", foi inicialmente proposto em Maio, mas o debate ultrapassou o tempo parlamentar antes que tivesse sido conseguido um voto.
As propostas turcas foram avançadas pelo deputado independente Mahmut Koçak, pelo partido da oposição ANAVATAN, pelos deputados Reyhan Balandı e İbrahim Özdoğan, e pelo deputado do AKP Mahmut Göksu. Três das propostas pedem o reconhecimento das mortes de Algérios sob o domínio colonial francês (1830-1962) como sendo genocídio, e a pena de prisão até três anos para aqueles que negarem esse facto. A quarta pede prisão para aqueles que afirmarem que os Arménios foram vítimas de genocídio sob o domínio otomano.
“O massacre cometido na Algéria é um assunto conhecido em todo o mundo. Eu não vejo que constitua um problema trazê-lo para a agenda do parlamento” disse o líder parlamentar do AKP, Eyüp Fatsa. Também acrescentou que os planos franceses de criminalização da negação do alegado genocídio são inaceitáveis e contraditórios para a União Europeia, e reiterou o apelo do governo para o estabelecimento de uma comissão conjunta de historiadores para debater as alegações.
O líder dos deputados do CHP, Onur Öymen, criticou o projecto de lei francês, apelando ao governo para tomar medidas antes da lei ser votada na quinta-feira, e incentivou o povo e as organizações não governamentais a organizarem protestos. Öymen esteve recentemente em Paris, juntamente com o deputado do CHP por Istambul, Şükrü Elekdağ, com o objectivo de intercederem contra o projecto de lei francês. Öymen disse que os legisladores franceses que conheceu estavam contra a lei e acusaram a Arménia de abrir o caminho para os debates na assembleia nacional. “A pequena Arménia quer aprisionar politicamente a imensa Turquia.” Comentando os planos turcos de retaliação contra a França com uma lei de “genocídio” algério, Elekdağ disse que seria um erro debater propostas na comissão parlamentar. “Se o parlamento legislar tal medida, isso significaria estarmos a agir como os países que criticamos.”
Os deputados do ANAVATAN, contudo, argumentam que as propostas turcas deveriam chegar à agenda parlamentar.

08 outubro 2006

Merkel: "O diálogo inter-religioso é uma condição para a paz"

O diálogo inter-religioso é uma condição para a paz

O diálogo inter-religioso é uma condição para a paz, disse a chanceler alemã Angela Merkel no último dia da sua visita de dois dias à Turquia. “Como políticos, temos de dialogar com pessoas de diferentes religiões. Eu acredito que o diálogo é uma condição para se viver em paz”, disse Merkel numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, depois de uma audiência na sexta-feira com os líderes religiosos de Istambul no Palácio Dolmabahçe. “O encontro mostrou o quão importante é respeitar as religiões. Estamos também a planear um encontro semelhante na Alemanha”, disse Merkel.
Depois da conferência de imprensa, Merkel e Erdoğan posaram para as câmaras, acompanhados pelo patriarca arménio Mesrob II, pelo patriarca da igrega ortodoxa grega Bartolomeu I, pelo Mufti ou líder religioso islâmico Mustafa Çağrıcı e pelo rabino Isak Haleva.

A questão de Chipre durante o encontro de Erdoğan com Angela Merkel

A questão de Chipre durante o encontro de Erdoğan com Angela Merkel

"Não é justo esperar que haja uma abertura dos portos e aeroportos turcos ao tráfego greco-cipriota por parte da Turquia, a não ser que seja levantado o isolamento dos Turcos cipriotas", disse o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, na passada quinta-feira.

Erdoğan e a chanceler alemã Angela Merkel estiveram presentes numa conferência de imprensa conjunta depois do seu encontro em Ancara. Quando Erdoğan foi questionado por um jornalista alemão se a Turquia iria permitir que os navios cipriotas gregos usassem os portos turcos, disse: "nós vamos discutir os detalhes sobre esse assunto com a chanceler alemã. Contudo, quero reiterar que o acordo de Ancara não inclui uma sanção unilateral. Pelo contrário, estão previstas sanções mútuas. Primeiro que tudo, o isolamento dos cipriotas turcos deveria ser levantado. Não é justo esperar tais coisas (abertura dos portos e aeroportos turcos ao tráfego greco-cipriota) da Turquia a não ser que o isolamento (dos Cipriotas turcos) seja liberado. Por outro lado, o norte do Chipre é uma área de terrorismo? É um centro de tráfico ilícito de drogas? Por que é que se impõe isolamento aos Cipriotas turcos? Os países membros da UE encorajaram os partidos em Chipre a realizarem um referendo em 24 de Abril de 2004. Enquanto que os Cipriotas turcos apoiaram o plano do secretário geral das Nações Unidas Kofi Annan no referendo, os Cipriotas gregos rejeitaram-no. Contudo, os Cipriotas turcos foram punidos, enquanto que os Cipriotas gregos foram galardoados com a entrada na União Europeia. Não é uma aproximação justa. Isto devia de ser corrigido primeiro. Nós agimos honestamente e aceitámos a inclusão da administração cipriota grega na união alfandegária. Nós não estamos receptivos relativamente à abertura dos portos e aeroportos turcos ao tráfego greco-cipriota, a não ser que o isolamento dos Cipriotas turcos seja liberado", frisou Erdoğan.

07 outubro 2006

Jorge Sampaio: “Continuem com as reformas”

Jorge Sampaio: “Continuem com as reformas”

O anterior presidente da república portuguesa Jorge Sampaio, disse que a Turquia “não se pode dar ao luxo da fustração”.

Jorge Sampaio, encorajou ontem a Turquia a continuar com as reformas, avisando que um abrandamento pode ter repercussões perigosas na sua adesão à União Europeia. “A Turquia não deve ignorar que existem lobbies na Europa contra a sua adesão à União Europeia”. Sampaio, que se auto-intitula apoiante de longa data da entrada da Turquia no bloco das 25 nações, disse em entrevista ao jornal Turkish Daily News: “continuem com as reformas, têm um grande potencial para o fazer, apercebam-se disso”.
As declarações de Sampaio surgem no seguimento das afirmações proferidas pelo comissário europeu para o alargamento, Olli Rehn, no início desta semana, de que a Turquia devia acelerar o seu processo de reformas para evitar a falência da sua entrada na Europa.
O comissário europeu Rehn vai divulgar um relatório a 8 de Novembro, com a avaliação do progresso da Turquia na concretização da harmonização com os padrões europeus, tendo em vista a sua eventual adesão. Espera-se que o relatório tenha um grande tom crítico relativamente aos déficits de reformas, particularmente no que diz respeito ao artigo 301 do código penal turco (TCK), à luz do qual vários intelectuais foram julgados por insultos à “identidade turca”, e a questão de Chipre.
O governo turco, que tem desenvolvido reformas políticas e económicas abrangentes desde a sua tomada de poder em 2002, para o avanço da candidatura da Turquia à UE, tem tido reacções díspares às criticas europeias, com alguns ministros a concordarem que tem havido um abrandamento, enquanto outros insistem que Ancara tem feito a sua parte.
Sampaio, conhecedor das críticas da UE, disse que um abrandamento teria efeitos negativos no processo de candidatura. “Eu não posso julgar as declarações da UE [de que a implementação de reformas tem abrandado]. Mas se o abrandamento for real, é perigoso. A Turquia é um país orgulhoso, com uma cultura rica. Não pode perder o ritmo das reformas”.
Sampaio diz que a Turquia, com o seu Estado secular e população predominantemente muçulmana, constitui um valioso bem para a UE, no que ele chamou de um “tempo muito difícil” quando a divião Este-Oeste é profunda.“A Turquia tem um papel muito importante a desempenhar no trazer a sua diferença fundamental”, disse. Mas os Turcos têm de estar preparados para altos e baixos no processo de adesão à UE e não esperar um sucesso acelerado, uma vez que a própria UE está a colocar vários problemas por si só, tais como opiniões públicas cépticas preocupadas com o aumento de emigrantes e perda de empregos para os trabalhadores estrangeiros. “O que eu digo é que devem ser pacientes enquanto operam o processo de reformas”, disse, avisando que a população turca também deve estar convencida de que o processo é lento. “Também foi lento para nós”, disse, lembrando que demorou oito anos para Portugal ser membro da UE.

“Chipre pode ser um obstáculo difícil”:

As perspectivas da entrada da Turquia na UE são também ensombradas pela disputa persistente entre Ancara e Bruxelas sobre a abertura dos portos e aeroportos turcos ao tráfego greco-cipriota. A Turquia insiste em não abrir os seus portos e aeroportos a não ser que o isolamento dos cipriotas turcos seja simultaneamente suspenso e nega a normalização de laços com a administração cipriota grega. “A minha opinião sincera é que ajudaria muito se o assunto de Chipre fosse resolvido de uma forma equitativa”, disse Sampaio. Pressionado a comentar sobre o que aconteceria se uma solução não fosse encontrada, Sampaio sugeriu que existiriam alguns dentro da UE que utilizariam o facto para bloquear o caminho da Turquia para a adesão. “E os portos e aeroportos a continuarem fechados, não está a ajudar a situação”, acrescentou.
Sampaio fez estas declarações à margem da conferência anual EuroMeSCo, que começou ontem em Istambul e terminou hoje. O tema da conferência, que junta políticos, académicos e burocratas dos países euro-mediterrânicos, é “Caminhos para a democracia e inclusão na diversidade”.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, que iria inaugurar a conferência, teve de alterar o seu programa, uma vez que recebeu ontem a chanceler alemã Angela Merkel. O ministro de Estado Mehmet Aydın leu o discurso de abertura.

06 outubro 2006

Passageiros do avião "sequestrado" não chegaram a sentir pânico

Passageiros do avião

Os passageiros do voo da Turkish Airlines que foi sequestrado na terça-feira, seguiu para Istambul na quarta-feira, com os passageiros a dizerem que não chegaram a sentir pânico. "Graças a Deus tudo terminou sem que nada de grave tivesse acontecido", disse Ergün Erköseoğlu, um passageiro que passou a maior parte do sequestro a falar com o canal de televisão turco NTV via telemóvel. "Disseram-nos que íamos aterrar em Itália devido a um problema técnico no aeroporto Atatürk em Istambul, por isso não houve muito pânico", disse. "Só quando vimos os soldados italianos no aeroporto é que nos apercebemos que algo se passava". "Alguns passageiros só souberam que o avião tinha sido sequestrado quando ligaram os telemóveis", disse Halil Demir, outro passageiro turco. "Quando aterramos, ligamos os nossos telemóveis e começamos a receber mensagens [de familiares] a dizer que tinhamos sido raptados", disse.
O raptor foi identificado como sendo Hakan Ekinci, de 28 anos de idade, um desertor que estava a ser alvo de um processo de deportação da Albânia para a Turquia, quando sequestrou o avião.
Encontrava-se desarmado, e entrou no cockpit do avião cerca de 20 minutos depois deste ter descolado de Tirana com destino a Istambul, e ameaçou os pilotos com um pacote que disse conter uma bomba.
Ekinci, um convertido ao cristianismo e objector de consciência, pediu asilo político a Itália depois de se ter rendido à polícia italiana sem ter provocado ferimentos a ninguém. Tinha escrito uma carta ao Papa em Agosto, pedindo-lhe apoio para não cumprir o serviço militar na Turquia.
"O raptor forçou a entrada no cockpit quando a hospedeira nos estava a servir. Puxou-a contra mim e eu tentei empurrá-lo mas não consegui. Ele era um homem forte", disse o piloto Mürsel Gökalp, numa conferência de imprensa no aeroporto Atatürk. "Ele disse: 'Eu não vou magoar ninguém', disse que o seu único intento era entregar uma mensagem ao Papa e que se renderia logo depois, e caso não conseguisse o que queria explodiria o avião". O piloto disse também que Ekinci deve ter feito amplas pesquisas na internet. "Ele sabia que era necessário um código. Ele até sabia se o avião seguia para Este ou Oeste”.
Erköseoğlu referiu que estava sentado na frente do avião e que viu o raptor a entrar no cockpit depois de ter empurrado a hospedeira, mas disse que os passageiros não suspeitaram de nada até o avião ter aterrado na cidade italiana de Brindisi. O raptor “pediu desculpa e desejou-nos boa noite" antes do piloto o ter levado até à polícia italiana para se render, disseram os passageiros.
Depois de se ter entregue à policia italiana, Ekinci disse: “Se estivessem mais Turcos sentados na frente do avião eu nunca teria feito isto. “Quando entrei no avião, vi que a maior parte dos passageiros eram Albaneses. Vi só alguns Turcos. Os Turcos estavam todos sentados separados uns dos outros. Se houvessem dez ou 15 Turcos sentados à frente, nunca teria tentado o sequestro. Os Turcos são loucos, paravam-me na hora”.
Os passageiros turcos e maioritariamente albaneses a bordo do avião, falaram com os média e com amigos e familiares via telemóvel durante o impasse. Num dado momento, foram ouvidos na televisão (pelo telemóvel de Erköseoğlu) enquanto aplaudiam o raptor depois deste se ter desculpado e despedido dos passageiros antes de se render. No total estavam 113 pessoas a bordo deste avião Boeing 737-400.
Hakan Ekinci permanece em Itália, não parecendo eminente a sua extradição para a Turquia, uma vez que pede asilo político e a aterragem do avião foi forçada em solo italiano. Entretanto, Ekinci disse às autoridades italianas que se converteu ao cristianismo, e que teme pela sua vida como cristão na Turquia, um facto que parece complicar ainda mais os procedimentos legais. Ekinci tem um vasto registo de actividade criminal na Turquia.

05 outubro 2006

UE: “A postura da Turquia relativamente à liberdade de expressão preocupa-nos”

UE: “A postura da Turquia relativamente à liberdade de expressão preocupa-nos”

A atmosfera esteve tensa ontem em Ancara numa reunião entre o comissário europeu responsável pelo alargamento, Olli Rehn, e membros do parlamento turco. Rehn teceu duras críticas à recente aprovação da Lei da Nova Fundação, que disse não atribuir estatuto legal aos seminários religiosos ou igrejas na Turquia, assim como ao controverso artigo 301 do código penal turco (TCK), que fez com que autores como Orhan Pamuk, Elif Şafak e dezenas de outros intelectuais, fossem julgados por insultos à “identidade turca”. Avisou igualmente que a proposta da presidência finlandesa para quebrar o impasse relativamente a Chipre, pode ser a última oportunidade para evitar que aconteça um "desastre de comboio nas negociações de adesão". Rehn discutiu ontem essa proposta, com o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan e com o ministro dos Negócios Estrangeiros Abdullah Gül.
Falando sobre o artigo 301, Rehn referiu: "Deve ser quebrado o círculo vicioso que este artigo criou. Tem de ser ou alterado ou removido do código penal. Isso é de extrema importância para a liberdade de expressão. Mesmo que os casos terminem favoravelmente para os acusados, isso não altera o facto de que nunca deveriam ter sido alvo de acusação e julgamento [...]. Tal como se discute como fazer pickles, têm de ser dados passos em frente na liberdade de expressão”.
O membro da comissão de harmonização da União Europeia, Yaşar Yakış interpelou Rehn, dizendo: "Nós somos um país que está no meio das negociações com a UE. Enquanto se fala de agricultura e se discute o tamanho de pepinos para se fazer pickles, coloca-se a questão da liberdade de expressão à nossa frente. Esses são assuntos diferentes [...]. Há aqui uma dualidade de padrões". Rehn respondeu à queixa de Yakış: "Eu nada tenho a ver com o assunto da agricultura. Isso é com outros. Mas a liberdade de expressão é um fundamento muito básico da UE, e é algo que não estamos a conseguir resolver. Enquanto outros estados membros colocam avisos sobre a liberdade de expressão na primeira página, as palavras da Turquia sobre a librerdade de expressão nem sequer aparecem até à página nove. Esta é uma situação que faz com que mesmo aqueles que apoiam a entrada da Turquia na UE, se sintam numa posição desconfortável". A tensão também aumentou quando legisladores turcos referiram uma medida controversa em França que penaliza qualquer negação de alegado genocídio. Questionaram Rehn se isso não significaria uma dualidade de actuação, uma vez que, por um lado a UE pressiona a Turquia para alterar artigos do seu código penal que restringem a liberdade de expressão, e por outro, outro país membro da UE debate uma medida que torna crime a negação de um alegado genocídio.

03 outubro 2006

Desvio de avião da Turkish Airlines não foi protesto contra a visita papal

Desvio de avião da Turkish Airlines não foi protesto contra a visita papal

Um Turco de nome Hakan Ekinci desviou um avião da Turkish Airlines proveniente de Tirana, na Albânia, com destino a Istambul durante o princípio da noite de hoje.
O homem em questão não se estava a insurgir contra a visita do papa Bento XVI à Turquia no mês de Novembro, mas sim a tentar obter asilo em Itália por não querer cumprir o serviço militar a que é obrigado na Turquia.
De acordo com testemunhos de passageiros do avião em questão, que falaram ao telefone em directo para um canal de televisão turco durante o sequestro, Hakan Ekinci não maltratou ninguém dentro do aparelho e pediu desculpa a todos os passageiros. No final, quando deixou o avião para ser interrogado pelas autoridades italianas foi aplaudido pelos passageiros. Foi esta a descrição feita ao telefone por um dos passageiros, durante o desenrolar dos últimos acontecimentos dentro do avião.
De acordo com as notícias veiculadas pelas televisões turcas, o jovem, de cerca de 30 anos, converteu-se ao cristianismo há cerca de dez anos e dizia não querer viver num país maioritariamente muçulmano como a Turquia e não querer cumprir o serviço militar a que todos os homens são obrigados no país. Hakan Ekinci já tinha escrito uma carta ao Papa pedindo-lhe apoio relativamente ao asilo político que pretende.

Elemento do PKK foi morto em Mardin

Um elemento do ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) foi morto no passado Domingo durante uma operação na província de Mardin, de acordo com a agência noticiosa Anatólia.
A morte aconteceu durante uma operação que tinha aparentemente como alvo membros do PKK que mataram um tenente na mesma região num confronto na semana passada perto do distrito de Dargeçit. Os confrontos terão começado perto do distrito de Ömerli na província de Mardin entre um grupo do PKK e forças de segurança, depois do grupo ter ignorado ordens para parar. O confronto de Domingo com o grupo do PKK aconteceu no primeiro dia de um cessar-fogo unilateral declarado pelo PKK no Sábado, depois do pedido feito pelo seu líder Abdullah Öcalan a partir da prisão onde se encontra. A Turquia não acatou o pedido de Öcalan, com o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan a dizer que um cessar-fogo era acordado entre Estados, não com organizações terroristas e sublinhou que o PKK devia depor as armas. As autoridades de segurança também disseram que as operações contra o PKK não iriam parar.
A Turquia tem ignorado todos os outros pedidos de cessar-fogo feitos pelo grupo, classificado como uma organização terrorista pela Turquia, Estados Unidos e União Europeia. O PKK, de acordo com o pedido de Öcalan, disse que só irá usar armas se for atacado pelo exército turco. Erdoğan, em conversa com os jornalistas a caminho dos Estados Unidos no Sábado, disse que o fim das operações de segurança estava fora de questão, mas acrescentou que não iriam haver operações surpresa. “Em nenhum local do mundo as forças de segurança param as suas operações, contudo, não haverá nenhuma operação fora desse âmbito”. Os confrontos de Domingo aconteceram depois de um soldado ter morrido e de outro ter sido ferido no Sábado quando pisaram uma mina que se crê ter sido colocada pelo PKK na província de Hakkari.

Turquia e Estados Unidos discutem estratégia contra o PKK

Turquia e Estados Unidos discutem estratégia contra o PKK

Erdoğan disse que discutiu com Bush uma estratégia conjunta para o combate ao terrorismo, e caminhos para a adopção de medidas concretas para lidar com o problema.

O primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdoğan reuniu-se com o presidente dos Estados Unidos George W. Bush no Domingo, para discutir uma estratégia de cooperação contra o radicalismo e extremismo e medidas contra o terrorismo.
Bush, numa conferência de imprensa conjunta com Erdoğan, depois de cerca de duas horas de reunião, revelou apoio à entrada da Turquia na União Europeia, evitando no entanto uma declaração clara relativamente às preocupações de Ancara sobre o cessar-fogo proposto pelo ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). “Eu disse claramente ao primeiro-ministro que penso que é do interesse dos Estados Unidos que a Turquia faça parte da União Europeia”, disse Bush aos jornalistas na conferência de imprensa. Disse igualmente que abordaram o extremismo e radicalismo, assim como esforços comuns para “trazer estabilidade para o médio oriente" e a situação Irão e Iraque.
Bush congratulou Erdoğan pelas reformas económicas que “permitiram que a economia turca se tivesse fortalecido para o bem da população turca”, e elogiou-o como “amigo e homem de paz”.
Outro assunto que Bush e Erdoğan discutiram foi a região problemática do Darfur, com Bush a referir que “o nosso grande desejo é melhorar as vidas daqueles que sofrem no Darfur”.
O encontro Erdoğan-Bush foi muito aguardado, principalmente no que diz respeito ao tema da luta contra o PKK. Erdoğan, em declarações antes de partir para os Estados Unidos, disse que iria pedir aos responsáveis norte-americanos para tomarem medidas para acelerar o processo de luta contra o PKK.
Erdoğan disse que discutiu com Bush todos os asuntos importantes entre dois parceiros estratégicos, com maior destaque para o combate ao terrorismo.
Numa conferência de imprensa só para jornalistas turcos, mais tarde, Erdoğan disse que ele e Bush discutiram passos conjuntos para o combate ao terrorismo, e medidas que permitam passos importantes contra o terrorismo. Declinou, contudo, fornecer uma linha cronológica de actuação relativamente a medidas contra o PKK. Disse ainda que os dois países já partilhavam da opinião de que uma plataforma global necessita de ser criada para combater o terrorismo global.
A conversa entre Erdoğan e Bush aconteceu depois do PKK ter anunciado um cessar-fogo unilateral no Sábado, de acordo com uma comunicação do líder Abdullah Öcalan a partir da prisão onde se encontra. O pedido de Öcalan foi precedido de uma declaração feita pelo presidente iraquiano Jalal Talabani, um Curdo, dizendo que o PKK iria anunciar um cessar-fogo nos próximos dias.
Os analistas dizem que a liderança curdo-iraquiana ajudou a projectar um anúncio de cessar-fogo do PKK com a instigação dos Estados Unidos.
Horas antes do encontro Erdoğan-Bush, O comandante geral das Forças Armadas, general Yaşar Büyükanıt, anulou claramente o cessar-fogo unilateral do PKK. “As Forças Armadas turcas disseram que vão manter a luta contra o terrorismo até que não exista um único terrorista armado. Não há uma única mudança na nossa posição, nem haverá”, disse num discurso na Academia Turca de Guerra em Istambul. “A única solução para os membros da organização terrorista é baixarem as armas e renderem-se à justiça turca”. As declarações de Büyükanıt pareceram ser uma resposta às propostas de uma amnistia para o PKK, no sentido de fazer descer os seus militantes das montanhas Kandil no Iraque, e fazê-los largar as armas. Relatos jornalísticos disseram antes do encontro, que os Estados Unidos queriam que a Turquia proclamasse uma amnistia para ajudar a resolver o problema, embora os responsáveis americanos nunca tenham feito declarações públicas que sugerissem isso. “É mencionado [...] um cessar-fogo como se houvessem dois países em guerra”, disse Büyükanıt sobre a declaração do PKK. “Isto foi agendado primeiro por certos indivíduos, instituições e grupos. Depois, pedidos semelhantes foram feitos por membros do parlamento europeu e alguns Estados. Na semana passada, a pessoa que ostenta o título de presidente do Iraque disse que tinha convencido a organização terrorista a cessar-fogo. E depois, a organização terrorista declarou um cessar-fogo. Isto mostra que o assunto se trata de grande plano”.
A Turquia ignorou as anteriores declarações de cessar-fogo do PKK, e os oficiais acreditam que se trata de um mero movimento táctico. Os peritos militares dizem que a chegada do Inverno nas áreas montanhosas do sudeste na fronteira com o Iraque, onde o PKK é particularmente activo, iria forçar o grupo terrorista a abrandar os seus ataques ate à proxima primavera. Büyükanıt disse que a experiência do passado demonstrou que não há outra alternativa senão manter a luta contra o PKK. “Tem-se visto que a organização terrorista arranja ramificações onde quer e até tentou pactuar com o Estado para concretizar alguns objectivos”, disse.

02 outubro 2006

Louis Michel apoia a entrada da Turquia na União Europeia

Louis Michel apoia a entrada da Turquia na União Europeia

O anterior ministro dos Negócios Estrangeiros belga e actual membro da Comissão Europeia, Louis Michel, demonstrou o seu apoio à Turquia face à pressão da União Europeia para aceitar o "genocídio" relativamente à Arménia.

Falando sobre esse assunto, Michel disse ontem em Bruxelas: "não podem ser apresentados novos critérios políticos à Turquia para a adesão à União Europeia. A Turquia tem uma grande importância para a União Europeia. Basta olhar e ver onde é que as linhas energéticas se cruzam para perceber isso".
Michel focou o papel da Turquia na região, e como estava convencido daquilo a que chama "a grande necessidade da UE relativamente à Turquia". "Basta olhar para os problemas na região. Se olharmos para os problemas no Iraque, Médio Oriente, Irão, reparamos que a Turquia é um país chave em tudo isso[...]. Existem parlamentares no Parlamento Europeu que parecem comportar-se como se a Turquia se fosse tornar membro amanhã. A entrada da Turquia ainda vai demorar algum tempo, e temos de dar tempo ao país para se preparar".

Aumenta a tensão com a França devido ao alegado genocídio arménio

Aumenta a tensão com a França devido ao alegado genocídio arménio

Em resposta à pergunta se a Turquia deveria reconhecer que o massacre de Arménios em 1915-1917 pelo Império Otomano se tratou de um "genocídio", Chirac respondeu: “Sinceramente, penso que sim”.

As relações ente Ancara e Paris foram perturbadas no Sábado pelas declarações que o presidente francês Jacques Chirac fez durante a visita de Estado de dois dias que realizou à Arménia, dizendo que a Turquia devia reconhecer que o massacre de Arménios durante a 1.ª Grande Guerrra foi um “genocídio”, antes da sua possível entrada na União Europeia.
"Todos os países crescem aprendendo com os seus dramas e erros", disse Chirac.
O evento ocorreu no meio dos intensos esforços que a Turquia tem estado a desenvolver para evitar que a Assembleia Nacional Francesa adopte uma resolução reconhecendo que a morte de Arménios no primeiro quarto do século passado se tratou de um “genocídio.” O voto está agendado para o dia 12 de Outubro.
Fontes diplomáticas do ministério turco dos Negócios Estrangeiros, sublinharam a importância que a Turquia atribui às relações bilaterais com a França, e exprimiram preocupação relativamente à adopção de uma medida tão controversa que poderá prejudicar as relações entre as duas nações, assim como os empresários franceses com negócios na Turquia e que negoceiam com a Turquia.
“Mesmo que essa medida seja adoptada, não é possível a Turquia aceitar uma teoria desse tipo”, revelaram as mesmas fontes, acrescentando que Ancara tem estado a contactar responsáveis franceses a todos os níveis para impedir que essa medida seja aprovada.
Os diplomatas turcos chamam a atenção para o facto de que a Arménia, fazendo com que as acusações de genocídio contra a Turquia sejam aceites por outros paises, está a tentar prejudicar as relações bilaterais entre a Turquia e outros países e a garantir benefícios políticos.
“O lobby arménio devia abandonar os jogos de bastidores, e devia apresentar argumentos concretos suportados por factos históricos”, disseram as mesmas fontes diplomáticas referindo-se à proposta que Ancara fez no ano passado para o estabelecimento de um comité conjunto de peritos arménios e turcos para o estudo das alegações de um "genocídio" arménio nos momentos finais do império otomano.
No início do mês passado, durante conversações com o seu homólogo francês, Philippe Douste-Blazy, integradas na visita a França do ministro dos Negócios Estrangeiros turco Abdullah Gül, foi sugerido que a França participasse nesse comité.
Gül disse nessa altura que outros países incluindo a França podiam integrar esse comité composto por académicos turcos e arménios para o estudo das alegações.
Enquanto Ancara emitia no Sábado uma declaração a condenar o incidente, oficiais séniores turcos, referiam que as declarações de Chirac foram “totalmente inaceitáveis” e que iriam certamente ter um sério impacto nas relações políticas e económicas entre os dois países.
No Sábado, Chirac e a sua mulher Bernadette, compareceram numa cerimónia solene no monumento arménio dedicado aos alegados massacres de Arménios de 1915-1917 pelo império otomano.
Esta é a primeira visita de um presidente francês a esta nação pobre do Cáucaso, que tem desavenças com os seus vizinhos túrquicos, Azerbaijão e Turquia.
Chirac colocou flores no monumento Tsitsernakaberd antes de ser conduzido a uma visita ao denominado "Museu do Genocídio".
A França, que tem 400 000 cidadãos originários da Arménia, reconheceu oficialmente os eventos da 1.ª Guerra Mundial como "genocidas" em 2001, arrefecendo as suas relações com a Turquia, país candidato a membro da União Europeia e seu parceiro na NATO.
Muitos países, incluindo os Estados Unidos e Israel, recusaram-se até agora a reconhecer os massacres como "genocídio".
Ancara argumenta que 300 000 Arménios e pelo menos o mesmo número de Turcos morreram num conflito interno despoletado por tentativas de Arménios adquirirem a independência relativamente ao Leste da Anatólia.
A Arménia também tem um conflito com o Azerbeijão relativamente ao enclave étnico de Nagorno Karabakh, sobre o qual ganhou controle numa guerra no início dos anos 90, mas que ainda é reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão.